1 de dezembro de 2017

Fátima: Os primeiros sábados

A irmã Lúcia com a imagem que mais gostava
Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai a punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir virei pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Aparição de 13 de julho 1917

A aparição do dia 13 de julho foi sem dúvida a mais rica em conteúdos e também a mais emblemática da mensagem de Fátima. É nesta aparição que as três partes do segredo são reveladas por Maria aos pastorinhos e foi nesta aparição que Maria falou pela primeira vez na devoção dos 5 primeiros Sábados de cada mês.

Uma das razões pelas quais Lúcia ficou na terra enquanto os seus primos foram levados para o Céu logo após as aparições, foi para divulgar na terra a devoção ao Imaculado Coração de Maria e propagar a prática dos cinco primeiros Sábados de cada mês.

Modus operandi
Passados uns anos, em 1925, quando Lúcia já era irmã Doroteia, a Nossa Senhora apareceu-lhe para lhe recordar a prática dos primeiros sábados que tinha pedido em 1917. Desta vez a Virgem Santíssima relatou detalhadamente como devia ser feita. E como tivessem surgido algumas dúvidas sobre o modo de a fazer, o menino Jesus apareceu-lhe a 15 de Fevereiro no ano seguinte 1926 para lhe perguntar se já tinha espalhado a devoção à Sua santíssima mãe, e resolveu o problema dos que não pudessem confessar-se mesmo no dia de sábado podendo faze-lo qualquer dia do mês com tal de estarem em graça no sábado para fazerem a comunhão reparadora.

Olha, minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos, que os homens ingratos a todos os momentos Me cravam, com blasfémias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que todos aqueles que durante cinco meses, ao primeiro sábado, se confessarem, receberem a Sagrada Comunhão, rezarem o Terço e me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas.» Aparição de Nossa Senhora no quarto da Lúcia, em Pontevedra a 10 de dezembro de 1925

Para entender por que se deve desagravar o Coração de Maria, é preciso entender que a gravidade de uma ofensa é proporcional à dignidade da pessoa que se ofende. Não é a mesma coisa ofender uma pessoa da rua e ofender a nossa própria mãe; a ofensa pode ser a mesma, mas a gravidade é diferente quando se trata da nossa própria mãe. Sto. Tomás diz na Suma Teológica que a Virgem Maria, por ser mãe de Deus tem uma certa dignidade infinita, proveniente do bem infinito que é Deus.

As ofensas feitas a Nossa Senhora são mais graves, porque a Virgem Maria está numa ordem diferente na qual todos nós estamos; os anjos e os santos vivem na ordem da Glória, pois vêm a Deus cara a cara; nós, se vivemos em amizade com Deus, estamos na ordem da Graça. Maria por ser mãe de Jesus uma pessoa divina, ela participa de alguma maneira na união hipostática; por isso as ofensas feitas à Nossa Senhora são graves pois indiretamente são ofensas feitas ao mesmo Deus.

Quando Nossa Senhora aparece com o seu coração coroado com uma coroa de espinhos como a cabeça do seu filho, ela quer mostrar de uma forma simbólica fácil de entender quanto ela sofre as “blasfémias e ingratidões”. Se o filho sofre a mãe também sofre.

Porque é que a Nossa Senhora nos pede esta prática dos cinco primeiros sábados? Porque ela sabe do mal que nos causamos a nós mesmos quando ofendemos o coração dela. A Virgem Maria está gloriosa no Céu, ela já não pode sofrer mais; é o feedback ou as consequências das nossas ofensas feitas a ela que a preocupam. Quando um filho bate num pai ou numa mãe idosa o mal maior deste filho não é o que é feito ao pai ou à mãe, mas o que é feito a si mesmo; um mal terrível que se um dia vem a ter consciência dele os remorosos vão consumi-lo.

Quando um confessor da irmã Lúcia lhe perguntou porque cinco sábados e não 7, como numero perfeito na bíblia? A Irmã Lúcia referiu a pergunta a Nosso Senhor, que assim lhe respondeu: "Minha filha, o motivo é simples: são cinco as espécies de ofensas e blasfêmias proferidas contra o Imaculado Coração de Maria.
  1. As blasfêmias contra a Imaculada Conceição;
  2. Contra a sua virgindade;
  3. Contra a maternidade divina, recusando, ao mesmo tempo, recebê-La como Mãe dos homens;
  4. Os que procuram publicamente infundir, nos corações das crianças, a indiferença, o desprezo, e até o ódio para com esta Imaculada Mãe;
  5. Os que A ultrajam diretamente nas Suas sagradas imagens"
Aparte alguns não cristãos, são muitos os cristãos protestantes que ofendem a Maria e entre os católicos há certos países que têm o vício de blasfemar, como a Itália e a Espanha. Em Portugal ninguém, nem cristão nem ateu nem agnóstico algum blasfema contra Deus nem contra Maria.

Esta ofensas têm de ser reparadas, ou seja, a ordem natural das coisas tem de ser reposta. Para isto devemos realizar quatro atos: uma confissão com a intenção de reparar ou desagravar, a comunhão feita com a mesma intenção, a reza do Santo Rosário, e 15 minutos de meditação nos mistérios da vida de Jesus.

Confissão
Alem de ser uma confissão pessoal, dos nossos próprios pecados se os temos, e sempre os temos; esta confissão tem uma outra dimensão: é uma confissão devocional, ou seja, nós fazemo-la pelos que não a fazem, pedirmos perdão pelos pecados dos outros; mais uma vez a dimensão missionária de Fátima, a piedade não só ao serviço da nossa santificação, mas ao serviço da santificação dos outros.

A confissão deve ter uma intenção reparadora; no caso de esquecer esta intenção recorda-la na próxima; não tem de ser feita no sábado, pode ser feita noutro dia basta que no primeiro sábado a pessoa esteja em estado de Graça.

Sagrada Comunhão
Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.  João 6, 53

São muitos os cristãos que abandonaram a prática dominical; e entre os que ainda a mantêm há anos que não se consideram dignos de receber o corpo e sangue do Senhor. Fazemos esta comunhão reparadora não tanto por nós, mas por todos estes que não fazem corpo connosco, que não estão em comunhão plena com Cristo e a sua Igreja, vides não desligadas da cepa que é Cristo. (João 15, 5)

Rosário
Rezado com a intensão de reparar o coração Imaculado de Maria, rezamos o Rosário por todos aqueles que não o rezam todo os dias; os que ainda não descobriram a riqueza desta oração o tempo passado na contemplação dos mistérios de Cristo na história da nossa salvação.

15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário
Estes 15 minutos são para estar com o Senhor contemplando os seus mistérios, 15 como eram inicialmente ou 20 como são agora; como a meditação ou contemplação é ao Senhor, pode ser ante a exposição do Santíssimo, e pode também ser uma meditação da Palavra de Deus tipo Lectio divina como muitos cristão hoje fazem; o importante é que sejam 15 minutos para estar a sós com Jesus escondido sacramentalmente no sacrário, espiritualmente no nosso coração.

O valor desta Campanha
É evidente que tantos as ofensas como os atos de amor a Deus, revertem em nós. Deus não precisa do bem que lhe fazemos e o mal que lhe fazemos não o atinge.  Tanto o mal como o bem fica com quem o pratica. É fundamentalmente nós que nos fazemos mal e Deus sofre não porque sofra algum mal que lhe façamos, mas sim porque esse mal que pretensamente lhe fazemos reverter para nós; “Volta-se o feitiço contra o feiticeiro” “Quem mal quer fazer mal lhe há-de acontecer, diz o povo.

Muitas campanhas fazem-se para despertar um valor adormecido, na esperança de que uma vez despertado uma determinada pratica continue. As campanhas fazem-se para vencer a inércia do estaticismo, e uma vez em movimento a esperança é que se continue. Assim acontece nas práticas comerciais quando se anunciam novos produtos ou se quer que certos produtos voltem a ser consumidos. A mesma lógica opera nas práticas religiosas; é difícil tirar as pessoas de uma vida medíocre, do imobilismo e da apatia espiritual, do “dolce fare niente”.

Em dialogo com o menino Jesus na aparição de Tuy a 15 de fevereiro de 1926 acerca ainda da prática dos primeiros Sábados, e porque o confessor de Lúcia tinha expressado certas reservas em relação à importância desta prática:

– Mas o meu Confessor dizia na carta que esta devoção não fazia falta no mundo, porque já havia muitas almas que Vos recebiam, aos primeiros sábados, em honra de Nossa Senhora e dos 15 Mistérios do Rosário.

– É verdade, minha filha, (responde o menino Jesus) que muitas almas os começam, mas poucas os acabam; e as que os terminam, é com o fim de receberem as graças que aí estão prometidas; e Me agradam mais as que fizerem os cinco com fervor e com o fim de desagravar o Coração da tua Mãe do Céu, que os que fizerem os 15, tíbios e indiferentes…

Em todas as campanhas tem de haver um fator aliciante, para tirar as pessoas da sua inércia, é preciso prometer algo em troca; nesta é a promessa de assistência, na ora da morte com todas as graças necessárias para a salvação dos que forem fiéis nesta prática. Mas é claro que Deus, como refere o menino Jesus à irmã Lúcia, prefere aqueles que fazem a prática por puro amor e não por razões de “mercantilismo espiritual.
Pe. Jorge Amaro, IMC

1 comentário:

  1. Bom dia ,mais uma partilha riquíssima caro amigo Jorge ,desejo-lhe um mês cheio paz ,amor e esperança ,um abraço

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