tag:blogger.com,1999:blog-34836940048172391252024-03-15T13:02:06.485+00:00Missão itineranteItinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.comBlogger248125tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-53432461564987827302024-03-15T12:55:00.001+00:002024-03-15T13:01:32.107+00:00Cosmovisão e a sua expressão<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuWmhaTamBHIp5HZ87vv9LjtChN2uPZuLJAW4zf46sNHDgQzf4DSC6P3Xsb3XtbmmNvny2zhkJI2IBOqrgVQiVLK_l48GCHJvineu9F9fZa0PZW3T-x13PAVC4WGME3fazWlR1YEl2tv49k-A1jaSVccN9iu_caO7XlCsqf9Lr07egly-thwncmn7V/s1749/5.%20Cosmovis%C3%A3o%20e%20Express%C3%A3o.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1493" data-original-width="1749" height="273" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuWmhaTamBHIp5HZ87vv9LjtChN2uPZuLJAW4zf46sNHDgQzf4DSC6P3Xsb3XtbmmNvny2zhkJI2IBOqrgVQiVLK_l48GCHJvineu9F9fZa0PZW3T-x13PAVC4WGME3fazWlR1YEl2tv49k-A1jaSVccN9iu_caO7XlCsqf9Lr07egly-thwncmn7V/s320/5.%20Cosmovis%C3%A3o%20e%20Express%C3%A3o.png" width="320" /></a></div>Refletimos que a cosmovisão é como a placa-mãe de um computador à qual se agregam elementos como, mitos, lendas, contos populares, crenças, rituais, religiões, arquétipos, símbolos, normas ou regras e valores. Todos estes conteúdos são de alguma forma abstratos, virtuais e precisam de um suporte físico para se fazer ver. <br /><br />Podemos estudar a cosmovisão de povos antigos que já não existem, os seus mitos e lendas, os seus símbolos e crenças, pelos documentos que nos deixaram. Sabemos muito da cosmovisão, da maneira de viver e pensar de povos como os Vikings do norte da Europa, dos Maias e dos Aztecas da América Central <br /><br />Para descobrir a estrutura do pensamento de um povo, a sua cosmovisão e os elementos que a compõem, como os mitos e crenças, a religião, as regras e valores, precisamos de estudar os veículos onde esses elementos se encontram plasmados ou expressados. Essas formas de expressão coincidem com as sete artes clássicas. Preferimos dividi-las de uma forma mais antropomórfica, usando os nossos cinco sentidos: artes literárias, gráficas, visuais, auditivas, audiovisuais.<br /><br /><b>ARTES VISUAIS: arquitetura, escultura</b><br />As primeiras coisas que o ser humano fabricou - martelos de pedra, machados e facas de pedra lascada – foram utensílios que mais tinham a ver com a ciência que com a arte. Estes utensílios estavam ligados ao conhecimento das coisas e à sobrevivência num mundo hostil. Referimo-nos à Idade da Pedra e dos Metais, há milhares de anos, portanto. <br /><br />Imediatamente após a saída do homem de África, há cerca de 150 000 anos, as primeiras manifestações artísticas que porventura tinham também o objetivo prático de ensinar técnicas de caça, foram as pinturas rupestres, relacionadas com as artes gráficas, pois são, de alguma forma, antepassadas da escrita. <br /><br />As três construções mais antigas da humanidade pertencem à primeira civilização humana que o nosso planeta conheceu, o Crescente Fértil, hoje chamado Médio Oriente. São elas: Tell Qaramel, construída há cerca de 11 000 anos AC na Síria, 25 Km a norte de Aleppo; Göbekli Tepe, construída há 9 600 AC no sudeste da Turquia, a 12 km da cidade de Sanhurfa e a Torre de Jericó construída há 8 000 AC nesta que é a cidade mais antiga do mundo.<br /><br />Podemos estudar as diferentes cosmovisões, desde as mais antigas à mais moderna, pelo tipo de construções criadas pelo ser humano. Os antigos não faziam palácios sumptuosos com piscina e todos os luxos para habitar. <br /><br />Mais preocupados com o Além do que com o aqui e agora, verifica-se que desde as pirâmides dos egípcios, dos Maias e dos Aztecas, aos zigurates da Mesopotâmia, passando pelas catedrais góticas e pelos templos hindus e budistas, a transcendência, a religião são o principal motivo para construir, não a política nem o bem viver. <br /><br />É caso para pensar… que deixa para a posteridade este mundo materialista, consumista, utilitarista, pragmático, ateu, agnóstico? Nada ou reflexos do seu vazio interior, arranha-céus, as pinturas chamadas de modernas e contemporâneas que não são mais que quatro rabiscos que uma criança do ensino básico também podia fazer. O ser humano moderno não cria arte, por isso o turismo de hoje vive da arte criada pelos antigos há muitos, muitos anos.<br /><br /><b>ARTES GRÁFICAS: pintura, desenho, escrita</b><br />As pinturas rupestres mais antigas encontram-se na Península Ibérica e França, sendo a mais antiga de há 62 000 anos. No progresso da pintura para a escrita, o documento mais antigo do mundo vem precisamente da cultura mais antiga também, a suméria do Crescente Fértil - a escrita cuneiforme da antiga Mesopotâmia, anterior aos hieróglifos egípcios.<br /><br />As pinturas rupestres ilustram a cosmovisão do homem pré-histórico, a sua vida, os seus costumes e até os seus sentimentos. Estas gravuras ou manifestações artísticas do Paleolítico, Mesolítico e do Neolítico representam frequentemente cenas de caça, mas também danças e outras cenas da vida diária, fenómenos cósmicos, mitos religiosos, costumes, campanhas militares. <br /><br />Desde que o Homem começou a pintar, nunca mais deixou de o fazer. Muito do que sabemos das primeiras civilizações da Mesopotâmia, Egito e Grécia foi-nos transmitido por estas gravuras, imagens, desenhos, grafitis deixados por estas civilizações. <br /><br />A imagem foi a primeira forma de expressão do ser humano e foi a evolução desta forma de expressão por imagens que nos levou aos pequenos desenhos que traduziam ideias - a escrita cuneiforme da Mesopotâmia, juntamente como os hieróglifos egípcios, que foram os antecessores do alfabeto grego e romano. <br /><br />Outras línguas, como o chinês, mantiveram e mantêm até aos nossos dias uma escrita pictórica, ou seja, cada letra é uma pequena gravura ou desenho que representa um conceito, uma ideia; por isso necessitam de milhares de desenhos para se expressarem. Se considerarmos que o ser humano começou a usar imagens há 40 000 anos e que a escrita só foi inventada há 3 500 anos, a imagem pode ser considerada como a pré-história da escrita. <br /><br />Desde o início, a imagem nasceu da comunicação e para a comunicação; nasceu da necessidade de comunicarmos e também como forma de comunicação. Atingiu o seu apogeu na segunda metade do século XX, quando foi inventada a fotografia, ou seja, a fixação ou gravação da imagem em fotografia. Na nossa sociedade visual, é frequente ouvir que “uma imagem vale mais que mil palavras”.<br /><br /><b>ARTES LITERÁRIAS: literatura, provérbios, ciências humanas</b><br />Se o ser humano fosse um ser solitário como o tigre, nunca teria desenvolvido uma língua. A língua nasceu no seio da sociedade, da comunidade, como forma de os seres humanos comunicarem entre si. Esta necessidade aconteceu quando os humanos se tornaram bípedes e conseguiram olhar-se nos olhos. <br />Começou provavelmente por expressar necessidades, como acontece quando viajamos para um país estrangeiro cuja língua não falamos e procuramos comunicar as nossas necessidades por sons e gestos. Numa fase posterior, os seres humanos expressaram emoções, sentimentos, e, mais tarde, pensamentos. <br /><br />O que verdadeiramente cria um povo é uma obra literária. É impensável o povo judeu sem a Torah, sem os livros da lei e os profetas. O que define e caracteriza o povo grego são a Ilíada e a Odisseia de Homero; ex libris do povo italiano é a Divina Comédia de Dante Alighieri; o que define o carácter do povo espanhol é o Dom Quixote de la Mancha de Cervantes; a alma russa encontra-se em Dostoievski no seu livro Os Irmãos Karamazov. A alma portuguesa ou lusitana está nos Lusíadas de Camões. <br /><br />Para o rei D. Afonso Henriques, Portugal eram as suas terras, os seus domínios. Foi Camões que criou a nacionalidade; que nos deu uma pré-história, os feitos dos lusitanos, que descreveu o nosso caráter e a nossa história no decorrer da grande epopeia da nossa nação, a descoberta do caminho marítimo para a Índia. Foi fiel às raízes da nossa língua, escrevendo em verso ao estilo das cantigas de amigo, berço do português.<br /><br />O provérbio é decerto o género literário que concentra mais a cultura, a idiossincrasia e a cosmovisão em menos palavras. Fácil de recordar porque rima, frequentemente deita mão de uma metáfora ou comparação, ou seja, não usa nunca a linguagem abstrata, mas sim a narrativa e metafórica. O provérbio passa de geração em geração mais facilmente que outra forma de cultura porque é fácil de recordar; as pessoas usam-no na sua vida diária como conselho e como forma de justificar e encorajar comportamentos específicos. <br /><br /><b>ARTES AUDITIVAS: música, oratória</b><br />A palavra música é de origem grega e significa a “arte das musas”. É constituída por uma associação de sons entremeados por pausas ou curtos períodos de silêncio ao longo de um determinado tempo. A música é, de facto, a arte de combinar sons com silêncio. A história da música acompanha a par e passo o desenvolvimento da inteligência, da linguagem e da cultura humanas. Também há quem pense que a música é anterior à humanidade, se considerarmos o canto melodioso de alguns pássaros. <br /><br />É provável que na espécie humana a música tenha surgido há 40 000 anos, a julgar pelas cenas de dança que aparecem nalgumas pinturas rupestres e que sugerem um provável acompanhamento musical. Ao longo do tempo, foram aparecendo flautas primitivas e outros instrumentos, como o xilofone. Os instrumentos musicais dividem-se em três tipos: de percussão, de cordas e de sopro. A voz humana é o instrumento musical mais complexo, pois é, ao mesmo tempo, de cordas e de sopro.<br /><br />A palavra comunica o pensamento, a música comunica o sentimento, a emoção. Neste sentido, é a linguagem de comunicação universal, utilizada como forma de sensibilizar para uma causa, para fins religiosos, para protestar, para acompanhar filmes e intensificar uma mensagem ou emoção. Um filme de terror sem música que lhe é própria, não aterrorizaria ninguém. Tal como a língua, faz parte da idiossincrasia de um povo e fala da sua cultura - por isso existe a chamada música popular. Traduz atitudes, sentimentos e valores culturais de um povo. <br /><br />Oratória é a arte de falar em púbico comunicando ideias, ideologias e pensamentos com eloquência, articulação e clarividência, no intuito de ensinar ou persuadir os ouvintes e motivá-los a determinada ação. É uma arma muito importante na política e na religião, para o bem e para o mal. Tanto os grandes políticos e filósofos como os profetas foram bons oradores, como Nelson Mandela, Mahatma Ghandi, Martin Luther King. Porém, também os grandes ditadores tinham o mesmo poder de convencer, como Hitler e Estaline.<br /><br />A oratória tem o dom de unir as diferentes e dispersas vontades numa só, faz de muitas cabeças uma só; transforma os indivíduos numa comunidade ou numa massa, num rebanho, tanto para o bem como para o mal. <br /><br /><b>ARTES AUDIOVISUAIS: teatro, cinema, dança</b><br />As artes audiovisuais combinam o som e a imagem. Por isso têm mais força que o som e a imagem em separado. O teatro, o cinema e a dança são algumas das mais importantes artes que movem as multidões e também a economia. <br /><br />Antigamente, os grandes atores de cinema iniciavam a sua carreira no teatro, e o cinema era mais parecido com o teatro. Favoreciam-se aptidões como a expressividade, tanto linguística como corporal, a dicção, o timbre de voz. Hoje, o cinema é mais ação que diálogo, pelo que os dotes do ator de teatro ficam mais reservados ao teatro e menos ao cinema. O teatro está em franca decadência se o compararmos com o cinema.<br /><br />Inicialmente, o cinema pretendia comunicar valores, dentro do binómio herói/vilão, em que o herói sempre vencia. O cinema moderno, porém, já não é usado com fins pedagógicos, mas sim para mostrar a realidade tal qual ela é; por isso, vemos muitas vezes a injustiça triunfar sobre a justiça, a mentira sobre a verdade e o crime sobre a lei e a ordem. Esta situação é perigosa, pois quem vê estes filmes, sem consciência crítica, sobretudo as gerações mais jovens, pode crescer na convicção de que o ser e o dever ser são uma e a mesma coisa, de que na vida vale tudo…<br /><br />A dança sempre foi uma manifestação cultural muito importante. Culturalmente, pode dizer muito pouco o ballet ou a dança clássica; mas um tango diz muito da cultura argentina, um passo doble diz muito da cultura espanhola, e o samba representa bem a cultura brasileira. Todos os povos têm uma forma própria de bailar. Se quem canta reza duas vezes, quem dança reza três. <br /><br />“Ars lunga vita brevis”, a arte é eterna, a vida é breve. Ao cultivar uma arte, o indivíduo entra numa relação simbiótica com ela. Ele dá-lhe a sua temporalidade, elevando essa arte a um novo máximo ou record; ela dá-lhe a sua eternidade, tanto na mente da comunidade humana, humanizando-o, como na mente de Deus, fazendo-o seu filho.<br /><br /><b>Conclusão</b>: "Ars lunga vita brevis" - "As artes são eternas, a vida é curta" Usa a tua vida para cultivar artes e valores humanos e serás eterno, viverás para sempre, em Deus e na memória da humanidade.<br />Pe. Jorge Amarao, IMC<br /><br /><br /><br /><br /><p></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-12091809525749970442024-03-01T05:39:00.000+00:002024-03-01T05:39:02.535+00:00A Cosmovisão e os seus componentes<p><i></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgweXsbeLXHveURvTMM9xWKT4IEQSzPiuSPqPr7yRNFOKI47MKsWgBD3rUiskS13RBBAVLXfgYvcZEQfYKse0amMxtOIWiu61Ym9_S9u654Fu5iHkd2SnSJp8-z85GZ3zrXoz3q0s3EO1D1u4dHM_YjqlmTU2D4fVECJnBC-dV2GWDiDOnj5nj4Yq4t/s626/4.%20Cosmovis%C3%A3o%20e%20seus%20componentes.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="592" data-original-width="626" height="303" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgweXsbeLXHveURvTMM9xWKT4IEQSzPiuSPqPr7yRNFOKI47MKsWgBD3rUiskS13RBBAVLXfgYvcZEQfYKse0amMxtOIWiu61Ym9_S9u654Fu5iHkd2SnSJp8-z85GZ3zrXoz3q0s3EO1D1u4dHM_YjqlmTU2D4fVECJnBC-dV2GWDiDOnj5nj4Yq4t/s320/4.%20Cosmovis%C3%A3o%20e%20seus%20componentes.jpg" width="320" /></a></i></div><i>Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer.</i> <b>João 15, 5</b><br /><br /><i>É n’Ele, realmente, que vivemos, nos movemos e existimos,</i> <b>Atos dos Apóstolos 17, 28</b><br /><br />Para o cristão, Cristo é o Caminho a Verdade e a Vida; é a cepa à qual se conectam todos os ramos para receber a seiva da vida. Desconectados d´Ele definhamos, secamos e morremos. Como ramos enxertados em Cristo (Romanos 11, 11-24), é n´Ele que nos movemos, somos e existimos e sem Ele não poderíamos fazer nada, d´Ele recebemos a vida, a salvação. Cristo é para o cristão a placa-mãe (motherboard), o fundamento, o alicerce onde assenta a sua vida, a pedra angular que o mantém de pé (Efésios 2:20-22).<p></p><p><b>Cosmovisão, a placa-mãe da nossa mente</b><br />A placa-mãe (ou motherboard, em inglês) de um computador é uma placa normalmente em plástico verde rígido, que tem impresso em cobre ou alumínio um circuito elétrico que permite interligar todos os componentes de um computador - o processador, a memória, a CPU, a placa de vídeo, a placa de rede, a placa de áudio, as portas de comunicação do computador com o exterior que permitem a sua ligação a outros dispositivos. <br /><br />A placa-mãe de um computador serve-nos perfeitamente como alegoria ou metáfora do que é uma cosmovisão e de como esta é composta por elementos que individualmente são diferentes entre si, com uma função diferente, mas que assentam numa mesma placa, com base na qual interagem harmonicamente. Vejamos quais são estes elementos e qual a sua função ou contributo para a cosmovisão. <br /><br />A cosmovisão, como sistema ou alicerce do nosso pensamento e da nossa vida, é um conjunto ordenado de muitos elementos. Tal como o nosso ADN ou código genético é composto por muitos genes, assim uma cosmovisão é composta por muitos elementos. Alguns desses elementos são: <br /><br /><b>O mito</b><br />Na linguagem dos nossos dias, a maior parte das vezes que ouvimos a palavra “mito” é em referência a algo que não é verdadeiro. Quando dizemos ou ouvimos “isso é um mito”, quer dizer, hoje em dia, “isso é falso”. Na realidade, um mito pode não ser ou, melhor dizendo, nunca é histórico, mas também nunca é falso. Histórico e verdadeiro não são sempre sinónimos. Histórico significa que aconteceu; os mitos são relatos que descrevem realidades e como tal nunca aconteceram, porém, o que dizem dessas realidades é completamente verdadeiro no tempo e nas sociedades onde eles nasceram.<br /><br />No contexto da antropologia cultural, o mito é uma explicação pré-científica da realidade, um relato fantástico e fantasmagórico de tradição oral, geralmente protagonizado por deuses que encarnam e representam as forças da natureza, assim como aspetos gerais da condição humana. <br /><br />Dentro da antropologia cultural, os mitos pertencem a uma disciplina chamada cosmogonia, que se compõe de relatos sobre a origem, a natureza e a função de tudo o que existe e que o ser humano não compreende. Como conjunto de mitos, a mitologia é uma forma de dar sentido à existência humana. As suas diversas histórias nasceram para saciar a curiosidade humana acerca de questões fundamentais como "de onde viemos?", "para onde vamos?" ou "por que motivo num dia chove e no outro faz sol?".<br /><br /><b><i>Exemplos de mitos</i></b><br /><u>O mito de Cronos</u> – Cronos era o deus do tempo, daí as palavras cronologia, cronómetro, para medir o tempo. Na Grécia antiga, a realidade do tempo era explicada pela existência de um deus que era o senhor do tempo; este senhor paria filhos e depois de os parir comia-os. É claro que não é histórico, mas é verdadeiro. <br /><br />Ou seja, numa mentalidade primitiva serve perfeitamente para explicar o tempo. Cada dia em que acordo e me levanto pelo fato de estar vivo, tenho um dia a mais na minha existência, um dia para viver; ao fim deste, quando me deito, tenho um dia comido, consumado e consumido, um dia a menos na minha existência. <br /><br /><u>O mito de Andrógino</u> – Na tradição grega o pai dos deuses, Zeus, criou um ser que possuía os dois géneros; como se fosse um homem e uma mulher colados pelas costas. Posteriormente, Zeus teve medo da sua criatura, como o ser humano tem medo de tantas coisas que cria, como a bomba atómica e utilizou a arma de sempre, a divisão: “divide et impera” e dividiu o ser andrógino em dois, criando assim o varão e a mulher. <br /><br />Assim se criou a realidade do amor romântico; como inicialmente estavam unidos, a tendência é voltarem a unir-se; daí a atração sexual. Os dois, homem e mulher, passam metade da sua vida à procura da sua cara metade ou da sua metade da laranja, como ainda hoje se diz. <br /><br /><u>O mito de Adão e Eva </u>– A Bíblia diz, em três relatos mitológicos da criação do ser humano, o que a mitologia grega diz num só. <br /></p><p style="margin-left: 40px; text-align: justify;">Em Génesis 1, 27 - Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher. É-nos dito que o varão e a mulher, criados os dois à imagem e semelhança de Deus, são iguais em dignidade. <br /><br />Em Génesis 2, 7 - O Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida, e o homem transformou-se num ser vivo. É-nos dito que o ser humano está ligado a tudo o que existe, quase aludindo ao facto de ser fruto de uma longa evolução. <br /><br />Em Génesis 2, 22 - Da costela que retirara do homem, o Senhor Deus fez a mulher e conduziu-a até ao homem. É-nos dito que os dois são carne da mesma carne e pertencem um ao outro.<br /></p><p><u>O mito da origem do mal</u> – Tanto a mitologia grega como a hebraica culpam a mulher pela origem do mal. Assim como lhe atribuem a curiosidade “científica” por saber e conhecer e descobrir a razão das coisas. Na mitologia grega, Pandora era a mulher de Zeus que abriu por curiosidade a caixa onde estavam todos os males; ao descobrir, Zeus veio a correr para a fechar, mas já muitos males tinham escapado e logo se reproduziram em muitos outros, numa sequência de causa e efeito. Na mitologia hebraica, Eva comeu e deu a comer a Adão o fruto proibido. <br /><br /><u>O mito sobre o amor e a morte </u>– Orfeu, músico e cantor a quem o pai Apolo tinha dado uma Lira, enamorou-se perdidamente de Eurídice com a qual ia casar. Porém, antes do casamento, Eurídice foi mordida por uma cobra ao fugir de um admirador e morreu; inconsolável, Orfeu desceu ao mundo dos mortos e pediu a Hades que lhe devolvesse a sua esposa. Este aceitou, na condição de que, ao sair do mundo dos mortos com ela, não olhasse para trás. Desconfiado, Orfeu como sempre acontece com o amor romântico, olhou para trás e voltou a perder Eurídice. Envolvido numa tristeza profunda, não comia nem bebia nem respondia à sedução de outras mulheres, pelo que estas decidiram matá-lo; pela morte, uniu-se finalmente à sua esposa. <br /> <br /><u>O mito de Narciso</u> – Narciso, filho do deus do rio, Cefiso, possuía uma beleza estonteante que despertava o amor de muitas ninfas, entre as quais Eco. Porém, Narciso, absorvido por si mesmo, era arrogante e orgulhoso, apaixonado pela própria imagem quando se mirava nas águas plácidas do rio. Nestas se afogou um dia, depois de tanto se admirar. <br /><br />Em psicologia, o narcisismo é o nome dado a um conceito desenvolvido por Sigmund Freud que determina o amor exacerbado de um indivíduo por si próprio; sinónimo de egoísmo, de uma pessoa centrada em si mesma que nega a dimensão social da pessoa humana. <br /><br /><b>Lendas e contos populares</b><br />Os protagonistas das narrativas mitológicas são sempre deuses; os das lendas são pessoas humanas, heróis da antiguidade em determinado momento histórico que se destacam pelo seu contributo para a humanidade. Por esta mesma razão, o mito é historicamente atemporal, a lenda é histórica, embora exagere os factos, distorcendo-os, dando-lhes um ar fantástico e excessivo para aumentar a fama de alguém importante do passado. <br /><br />Há personagens no imaginário humano, meio históricos meio ficcionais, que cativam a mente humana porque cada um deles reflete uma faceta da nossa personalidade. O rei Salomão, Péricles, Aquiles, Heitor, Ulisses, Alexandre Magno, Genghis Khan, Júlio César, Spartacus, Carlos Magno, Godofredo de Bulhões, Joana d´Arc, Marco Polo, Vasco da Gama, Cristóvão Colombo, Robin dos Bosques, etc…<br /><br />Personagens como Robinson Crusoé, Guliver, Tarzan; o Super-homem, o Homem Aranha, a Branca de Neve, a Cinderela… são personagens ficcionais que pertencem a um outro género literário semelhante ao da lenda: o conto popular. A única diferença é que a lenda parte de um personagem histórico e engrandece-o para além da realidade, o conto popular é todo ele atemporal pois sempre começa com “era uma vez, num país distante”; nunca nos situa no tempo nem no espaço, mas sim dentro da psique humana, revelando aspetos desta. <br /><br /><b>Crenças</b><br />Muito do que dissemos do mito vale para a crença. Pois todo o mito é uma crença, mas nem todas as crenças são mitos. A crença é mais genérica, ou seja, muitas das nossas crenças são também mitos. O mito pertence ao reino da filosofia, antropologia cultural ou cosmogonia, a crença pertence mais ao reino da psicologia, da religião e espiritualidade, pois se trata de uma convicção interior sobre um aspeto da realidade que está para além dos cinco sentidos e de toda a verificação empírica. <br /><br />A crença é a aceitação mental ou convicção de uma “verdade”, ideia ou teoria com ou sem provas empíricas. É ter como verídico algo que não pode ser provado pela ciência. Neste sentido, entra no campo do conhecimento intuitivo e não no do conhecimento logico-dedutivo da ciência. <br /><br />A crença pode ser irracional, ou seja, supersticiosa ou razoável. O Concílio Vaticano I define a Fé como uma crença razoável. Bruxarias, magias, conferir a um objeto material como uma chave, uma ferradura, um corno, valor ou poder espiritual é uma crença irracional e, portanto, uma superstição, um regressar ao tempo em que os animais falavam e as coisas tinham alma: ao animismo. <br /><br />Há crenças na vida moderna comprovadamente falsas e, no entanto, continuam a existir porque cumprem uma função positiva. Até as crianças sabem que o Pai Natal não existe, no entanto, no imaginário coletivo consciente ou inconsciente, este representa, personifica o amor, a bondade e generosidade de um pai, de uma mãe, de Deus como nosso Pai. <br /><br /><b>Rituais</b><br />Porque os mitos são uma narrativa que explica o porquê de muitas realidades humanas e da natureza, o rito ou ritual é o pôr em prática, agir, expressar ou aplicar o mito ou crença na vida real. O objetivo da atuação ou expressão do mito através do rito é o de reforçar a crença no mito.<br /><br />Uma cerimónia ritual, sagrada ou não sagrada, é um ato que sempre se realiza da mesma maneira e que celebra uma crença ou mito importante no contexto de uma cultura ou religião. A realização ou celebração de rituais tem uma função psicológica e espiritual muito importante; alivia o stress e a ansiedade, aumenta a autoconfiança, reforça a fé ou crença. Os rituais relembram-nos o que é mais importante na vida e mantêm-nos unidos à fonte vital; dão-nos um sentido de estabilidade e continuidade na nossa vida. <br /><br />Realizamos montes de rituais, mesmo na nossa vida moderna e nem nos apercebemos de que os realizamos. Mas o facto de o fazermos, prova a sua importância e função no nosso equilíbrio emocional e racional. A entrada na vida adulta, as despedidas de solteiros, o cortar da fita numa inauguração, o atirar ao ar o chapéu no dia da licenciatura, a noiva que atira o ramo de flores para trás de si para uma donzela o apanhar, a celebração do dia de anos, o apagar de uma vela por cada ano.<br /><br />A nossa vida cristã está cheia de ritos. Também todos os sacramentos têm por trás uma crença e um ato cerimonial. A imposição de mãos, a bênção, o batismo, são a porta de entrada para a comunidade – de facto, o padre, vem à porta da igreja receber o neófito. A eucaristia é a reconstituição da vida, doutrina, paixão e morte de Cristo, pois fazemo-la em memória d’Ele e mantém-nos unidos como comunidade. A confissão é uma catarse libertadora do negativo da minha vida; quando ouvimos “eu te absolvo” (“ego te absolvo” em latim) sentimo-nos mais limpos, com vontade de começar de novo. A unção dos doentes é um refrigério na nossa dor. <br /><br /><b>Religião</b><br />Como atrás dissemos, é ela própria uma cosmovisão, pois responde à pergunta “de onde viemos” e “para onde vamos”, assim como dá sentido, razão e finalidade a tudo quanto existe, estruturando não só a natureza, como também a vida dos homens em relação a si mesmos, a Deus e à Natureza. Entre muitas coisas, a religião engloba crenças, mitos e rituais.<br /><br /><b>Arquétipo</b><br />É um elemento da filosofia grega, sobretudo da neoplatónica, que designa ideias, modelos, primigénios ou protótipos, paradigmas do comportamento humano que residem no inconsciente coletivo da humanidade, como demonstrou Carl Jung, discípulo de Freud. Para Platão, os arquétipos são formas mentais, ideias primordiais impressas na alma antes de esta assumir um corpo. <br /><br />Jung descobriu no nosso inconsciente coletivo 12 paradigmas, modelos ou padrões de comportamento que podem coincidir ou não com funções de indivíduos na sociedade ou profissões, mas também configuram uma maneira de ser, estar e comportar-se perante si mesmo e os outros. Sãos estes o Sábio, o Inocente, o Explorador, o Governante, o Criador, o Cuidador, o Mago, o Herói, o Vilão, o Amante, o Tolo, o Órfão. A lista podia continuar, mesmo em relação a personagens significativos que configuram modelos padronizados de comportamento. <br /><br />Para além destes que se restringem a formas de comportamento, há outros paradigmas impressos no nosso inconsciente coletivo, que se referem mais à sociedade e à maneira como esta opera. Por exemplo, eu tenho como paradigma ou arquétipo o processo Egito – Deserto – Terra Prometida. Karl Marx, apesar de ser declaradamente ateu, seguia consciente ou inconscientemente este arquétipo no seu materialismo histórico. Para ele, o Egito era o capitalismo, o deserto era a ditadura do proletariado e a Terra Prometida o comunismo ou a sociedade sem classes. <br /><br />A recuperação de um vício segue também este arquétipo. O Egito é o vício que te retirou a liberdade e o controlo da tua vida; o deserto é o preço apagar, a purificação do corpo e da mente das toxinas que o escravizam; nele se sente a vontade de voltar atrás, como o povo judeu, ou a síndrome de abstinência para o que luta contra um vício, e por fim, a Terra Prometida quando estás completamente livre deste vício. <br /><br /><b>Símbolos</b><br />Emblemas, formas ou sinais que contêm um significado poderoso dentro da cultura, representando o seu modelo de vida ou a sua tradição ancestral, ou algum elemento considerado icónico ou totémico e identificando-o, como a cruz com o cristianismo, por exemplo.<br /><br /><b>Normas, regras e leis</b><br />Toda a cosmovisão contém também um código de leis, normas ou regras de conduta para harmonizar a convivência entre os indivíduos, para determinar os direitos e os deveres na relação dos indivíduos entre si e com a comunidade em geral. Um regulamento pelo qual as empresas optam por governar-se, quer explicitamente (formato legal), através de um protocolo ou subjetivamente. <br /><br />Nem todas as leis são ditas, nem escritas em pedra. Há leis ou normas não escritas e, no entanto, todos as observam. A forma como vestimos obedece muitas vezes a uma norma não escrita, tal como o abrir a porta a alguém e deixá-lo passar primeiro, o não meter o dedo no nariz em público e tantas outras pequenas coisas às quais obedecemos e que não estão escritas em nenhum lado nem obedecem a nenhum código de conduta. <br /><br /><b>Valores</b><br />São mais inerentes à natureza humana em geral que a uma cosmovisão em particular. Valores como a liberdade, a igualdade, a justiça, a verdade, a honestidade, o amor, a fidelidade, são invariáveis no tempo e no espaço. O dever, o compromisso, configuram a vida humana e são invariáveis de cultura para cultura ou de época para época. Uma determinada cosmovisão pode ter uma interpretação dos mesmos um pouco distinta, sem variar o fundamental. </p><p><b>Conclusão </b>– Como na placa-mãe ou motherboard de um computador se inserem todos os componentes que o fazem funcionar como um todo harmonioso, assim a cosmovisão é composta por mitos, ritos, crenças, normas, símbolos, arquétipos e valores que dão sentido e forma à nossa vida.<br />Pe. Jorge Amaro, IMC<br /><br /><br /><br /><br /></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-77535331758522630822024-02-01T05:11:00.000+00:002024-02-01T05:11:17.436+00:00Cosmovisão, Cultura e Natureza Humana<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg13_gxzCPaTCPa6T2UJQTLcVM3H2TqICdAxZG9iAytFuCw8ZpwRsmZplVC4CdV9166gFrSkLdFSJRXYdqErXGXZYJwTnfa99WQuhhTyFw2zpCE-fh5EukNoUuUFnJlaBn-28SBqChfh7uSlj8v_yNlxYrsYgSmOXwLZmzQBScktKvYYg_1UTNc0i4J/s3500/3.%20Cosmovis%C3%A3o%20Cultura%20e%20Natureaza%20Humana.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2379" data-original-width="3500" data-ud-selector="0.5598814093647638" height="218" loading="lazy" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg13_gxzCPaTCPa6T2UJQTLcVM3H2TqICdAxZG9iAytFuCw8ZpwRsmZplVC4CdV9166gFrSkLdFSJRXYdqErXGXZYJwTnfa99WQuhhTyFw2zpCE-fh5EukNoUuUFnJlaBn-28SBqChfh7uSlj8v_yNlxYrsYgSmOXwLZmzQBScktKvYYg_1UTNc0i4J/s320/3.%20Cosmovis%C3%A3o%20Cultura%20e%20Natureaza%20Humana.png#_uDarkborder=0&data-original-height=2379&data-original-width=3500&height=218&width=320&loading=lazy" width="320" /></a></div>Natureza humana, cultura e cosmovisão são conceitos implicitamente ligados, porque cada um deles tem a ver com os outros dois. Procuremos definir primeiro cada um deles individualmente e em separado, para depois ver o que os faz interdependentes entre si. <br /><br />NATUREZA HUMANA<br /><i>Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida, e o homem transformou-se num ser vivo</i>. <b>Génesis 2, 7</b><br /><br />A vida no nosso planeta tem uma única origem. Por muito diferentes que nos pareçam hoje as plantas e os animais, todo o ser vivo do nosso planeta tem antepassados comuns. A vida procede de um tronco comum. <br /><br />O ser humano é um dos 8,7 milhões de seres vivos que habitam este planeta. Pertence ao reino animal, à classe dos mamíferos, ao subgrupo dos primatas ou hominídeos, sendo primo/irmão dos macacos, gorilas e chimpanzés com os quais partilha 98% do ADN. É filho de um pai ainda desconhecido, tendo nascido há 5 milhões de anos na África Oriental, mais propriamente no vale mais profundo e extenso do nosso planeta, o Vale de Rift. <br /><br />Ao contrário dos outros seres vivos que pouco ou nada evoluíram ao longo de milhões de anos, e viveram e vivem ainda hoje no mesmo habitat, o ser humano evoluiu a ponto de transcender o seu habitat original. Saiu de África há pouco mais de 200 000 anos e colonizou todo o planeta não só em termos geográficos, como também em termos de domínio de todas as outras espécies de seres vivos. <br /><br />Por que motivo só a nossa espécie evoluiu? Porque nós e só nós somos, no entender de Karl Marx, o momento em que a Natureza ganhou consciência de si mesma. É um mistério que até agora a ciência não conseguiu desvendar. Sabemos que evolutivamente somos descendentes de um primata que, para satisfazer as suas necessidades e sobreviver, começou instintivamente por se adaptar ao meio em que vivia, procurando depois utilizar da melhor maneira os recursos que o meio lhe oferecia. Ao princípio, vivia como os animais em simbiose com a natureza. <br /><br />No esforço de conhecer o meio em que vivia para melhor se adaptar a ele, o ser humano desenvolveu as suas capacidades cognitivas, a ponto de se apoderar do seu meio ambiente. Assim nasceu o homo sapiens que, mais do que adaptar-se ao meio, procurou adaptar o meio a si. <br /><br /><b>O que nos define como seres humanos</b><br />Os milhões de anos de evolução fizeram de nós humanos, sem deixarmos de ser animais. O biólogo Konrad Lorenz, encontrou inúmeras semelhanças entre o comportamento humano e o comportamento animal. Muitas das nossas reações e decisões perante situações da vida têm mais de animal que de racional. <br /><br />Ao fim e ao cabo, não perdemos o cérebro reptiliano comum a todos os seres vertebrados, nem o mamífero comum a todos os mamíferos. Estes cérebros são anteriores ao autenticamente humano, o neocórtex e estão, por assim dizer, mais perto do nosso ser, porque o cérebro reptiliano que comanda todas as funções vitais e de sobrevivência está sempre conectado; o mamífero está quase sempre conectado, mas às vezes desconecta-se; o neocórtex está quase sempre parcialmente desconectado. Por isso, para que um comportamento seja autêntica e genuinamente humano, o neocórtex conectado tem de desconectar os outros dois, sobretudo o reptiliano. <br /><br />Neste sentido, há caraterísticas que parecendo que são exclusivamente nossas, são na verdade comuns aos outros animais próximos de nós na escala evolutiva; a única diferença é que em nós estão mais desenvolvidas. Por exemplo: <br /><br />- Adquirir conhecimentos e ter a capacidade de os transmitir socialmente, através de alguma forma de linguagem, também outros animais a têm, como a orca. Adaptar-se ao meio e às condições de vida que vão variando, também muitos animais o fazem, como a barata que se defende de todos os venenos que criamos para a matar;<br /><br />- A vida em sociedade também as formigas, os leões, os patos, os gansos, as abelhas, os elefantes, os chimpanzés a têm. A única diferença é que a nossa é mais complexa e talvez mais democrática, onde a democracia existe;<br /><br />- Amar os filhos a ponto de dar a vida por eles, por muito nobre que pareça, é algo que temos em comum com qualquer mamífero, é puro instinto materno. O que verdadeiramente temos de único é tudo o que se situa no neocórtex, o maior dos nossos cérebros. Vejamos então o que é exclusivamente humano e nos identifica como tal.<br /><br /><u>Autoconsciência – cogito ergo sum</u><br />Só o ser humano é autoconsciente a partir dos 6 ou 7 anos de idade. A autoconsciência é a divisão do nosso psiquismo em dois, o que nos permite ser observadores e observados, conhecedores e ao mesmo tempo matéria do nosso conhecimento. “Conhece-te a ti mesmo”, gritava Sócrates nos primórdios da filosofia ocidental. <br /><br />Esta nossa autoconsciência não diz respeito só ao presente. Como a vida humana decorre em três tempos que são sempre interativos, esta autoconsciência estende-se ao passado como memória histórica que nos dá o feedback de quem somos: o conhecimento dos nossos talentos, valores, defeitos e limitações como por exemplo a morte. Só os seres humanos estão cientes da própria finitude, de que um dia morrem e deixam de existir, ao menos no espaço e no tempo. <br /><br />O conhecimento do passado, de quem realmente somos, é depois utilizado pela nossa razão para se estender ao futuro e programá-lo, usando a capacidade imaginativa e a mente abstrata que só o ser humano tem para se projetar para além do imediato. Certas filosofias do Extremo Oriente exortam-nos a colocar tanto o passado como o futuro de parte. Esquecem-se de que os que vivem num eterno presente, sem passado nem futuro são os animais. <br /><br />Cogito ergo sum – Penso logo existo. No puro presente em relação com os outros, a sociedade, o meio ambiente físico e geográfico, a autoconsciência, ou seja, a razão funciona como um computador, que analisa, recolhe dados sobre um determinado problema e projeta e arrisca soluções. <br /><br />Para além da autoconsciência e da razão, a vida humana assenta sobre dois valores: liberdade e igualdade. <br /><br /><u>Liberdade</u><br />Enquanto que todos os animais vivem em simbiose com a Natureza que os regula, governa e guia por intermédio dos instintos, o ser humano é o único animal que se emancipou da Natureza. Liberdade, autonomia, independência são os valores em que assenta a vida humana do indivíduo, da pessoa. Como dissemos, há outros animais que vivem em sociedade, mas nestas sociedades o indivíduo não existe para si mesmo, é antes escravo da sociedade a que pertence. <br /><br />O homem é livre em relação aos outros, não é escravo de ninguém nem vive em função de ninguém, mas dele mesmo; é livre em relação ao seu substrato animal, pois tem poder para controlar os seus instintos básicos e adiar a satisfação imediata. <br /><br />O ser humano é o único que tem a vida nas suas mãos, que tem poder sobre ela para lhe dar um sentido e uma direção. Possui livre arbítrio, vontade própria, que lhe permitem decidir sobre a totalidade da sua vida, assim como sobre cada uma das partes. Pode equivocar-se nas decisões que toma e pode ter de pagar pelas consequências nefastas das suas opções.<br /><br />Parte da liberdade em relação ao meio, aos outros e a si mesmo, reside na capacidade para se auto transcender; em relação à matéria, por meio do progresso científico e tecnológico; em relação às coisas materiais, desenvolvendo o eu espiritual, tanto na sua relação com Deus como com as coisas e os outros, expressando-se simbolicamente por meio da cultura, arte, música, religião, hábitos, costumes, vestuário, etc. <br /><br /><u>Igualdade</u><br />O ser humano é um ser intrinsecamente social, nasce de uma relação amorosa, cresce e transforma-se num ser humano autêntico apenas se for amado incondicionalmente, e sempre vive como membro de uma família, como parte de uma comunidade, organização ou instituição. Individualmente ou é pai ou mãe, filho ou filha, avô, avó, tia, tio, sobrinho, sobrinha. Não há existência humana para além destas categorias e o facto de pertencer a qualquer uma delas coloca-o numa relação com os outros. <br /><br />O outro é um outro eu; não um tu, uma entidade externa, estranha, estrangeira, distante, mas sim o meu próximo, tão próximo que é um outro eu, um alter-ego, de onde provém a palavra altruísmo. O amor é o valor mais alto na vida social, viver é amar. A empatia, a misericórdia e a compaixão são o que mantém os indivíduos unidos em grupos. <br /><br />O que me é devido a mim, é-lhe devido a ele, pois é um ser humano como eu e todos viemos do mesmo tronco comum nascido no Vale do Rift há 5 milhões de anos. A igualdade e a convivência na sociedade assentam no princípio de que os meus direitos são os deveres do meu próximo e os meus deveres são os direitos do meu próximo.<br /><br />A vida em sociedade faz dos indivíduos cidadãos com direitos e deveres. Nasce o Direto para governar a sociedade, e a ética que discerne o dever ser e define as pautas do comportamento social. A vida em sociedade criou a linguagem escrita e falada para a comunicação entre indivíduos, com o objetivo de trabalhar em equipa e fomentar a união, a paz e a harmonia. <br /><br /><b>Pode a natureza humana mudar?</b><br /><i>Depois, Deus disse: «Façamos o ser humano à nossa imagem, à nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.» Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher.</i> <b>Génesis 1, 26-27</b><br /><br />Fomos criados à imagem e semelhança de Deus e se Deus não muda, a natureza humana também não muda. Se a natureza humana mudasse, Deus teria que encarnar uma e outra vez ao longo da História, em cada uma dessas naturezas humanas em mutação para ser também para essas gerações Caminho, Verdade e Vida. Como a natureza humana não muda, é Deus e a sua Palavra recolhida na Bíblia que inspiram e levam a Deus, tanto os homens que viveram há 2 000 anos como os que viverão daqui 10 000 anos, se ainda existirmos como espécie.<br /><br />Os valores humanos são prova de que a natureza humana não muda, nem no tempo de geração em geração, nem no espaço entre uma cultura e outra. Os conceitos de justiça, de verdade, de honestidade, fidelidade, amor, compaixão, etc. são invariáveis no tempo em todas as culturas. O sentimento de amor que experimentaram Cleópatra e Marco António é o mesmo que anos mais tarde experimentaram Romeu e Julieta, e experimentam e experimentarão os enamorados em todo o tempo e lugar.<br /><br />Separados pelo tempo, pelo lugar e pela cultura, o profeta Amós e o Bispo Óscar Romero usaram exatamente a mesma bitola para discernir o que é justo e o que não é. Mahatma Ghandi usou o mesmo conceito de não violência que Jesus usou séculos antes. Os povos do Crescente Fértil construíram pirâmides e ofereceram sacrifícios humanos aos seus deuses. Mas, assim como os sumérios e os egípcios, no crescente fértil, os maias e os astecas na América Central também construíram pirâmides e, no entanto, esses povos nunca souberam da existência um do outro.<br /><br />A natureza humana, o que o ser humano é essencialmente, não muda. Em filosofia, a essência, o ser não muda; o que muda são os acidentes, as variáveis, as circunstâncias. Pode variar e mudar a nossa compreensão da natureza humana, tal como podemos descobrir em nós talentos que pensávamos que não tínhamos; no entanto, já lá estavam, se bem que nos fossem desconhecidos. Podemos adquirir novas formas ao nos adaptarmos ao meio, por exemplo, perder o rabo porque já não andamos nas árvores, mas o que é essencialmente humano permanece imutável no tempo e no espaço. <br /><br />CULTURA<br />Como é que a natureza humana não muda se temos diversidade de culturas e línguas e a língua é considerada como a alma de uma cultura? Dois são os fatores que causaram a diversidade de culturas e línguas ao longo da história da humanidade. <br /><br />O primeiro foi a ausência de comunicação entre os povos. Pelo mesmo motivo, num futuro cada vez mais globalizado, a diversidade de línguas e culturas deixará de existir ou será muito atenuada. O segundo foi o fator geográfico: diferentes povos habitavam em diferentes latitudes e longitudes, com diferenças climáticas. <br /><br />A diversidade de culturas e línguas seria então a adaptação dos seres humanos a diferentes topografias geográficas. Por exemplo, não é o mesmo viver na montanha e à beira mar; quanto aos diferentes climas, não é o mesmo viver nos trópicos, com duas estações, e viver numa zona temperada com quatro estações, ou no Ártico. <br /><br />Os povos indígenas que vivem no Ártico têm inúmeras palavras para dizer “neve”, enquanto que na Etiópia, em África, a mesma palavra designa neve e geada que são duas coisas diferentes. Por outro lado, notamos que as línguas dos povos nórdicos pelo fator frio são mais consonânticas, e a boca mal se abre, e as línguas dos povos tropicais mais vocálicas, fazendo com que a boca se abra completamente. <br /><br />Também a cor da pele, dos olhos e do cabelo, o formato dos olhos, do nariz, da boca e dos lábios, como já explicámos noutros textos, são uma adaptação do ser humano ao meio em que habita pelo menos durante 25 000 anos. Uma tribo de pigmeus do Congo que fosse habitar para a Noruega, daqui a 25 000 anos não se distinguiria dos noruegueses. <br /><br />Salvo algumas pequenas diferenças, a adaptação do ser humano ao meio é comum a outros animais. A adaptação do meio a si mesmo, criando cultura, é própria apenas do ser humano. Só ele cria uma cultura como um habitat artificial, no sentido correto da palavra “ars facere”, fazendo arte. Neste sentido, o homem é um ser cultural, pois não se contenta com o que a natureza lhe dá, mas cria uma segunda natureza na qual habita, que é a cultura. <br /><br />O ser humano feito à imagem de Deus é criador como Ele. A única diferença é que, enquanto Deus cria do nada, o ser humano cria combinando e misturando os elementos da criação. A cultura é como a casa que o ser humano constrói com elementos que a natureza lhe proporciona. <p></p><p>A Natureza não dá casas, é o Homem que as constrói; a diversidade de casas representa a diversidade de culturas, pois diz respeito ao lugar onde são construídas - telhado subido onde neva, telhado mais baixo onde não neva. O mesmo se dirá do vestuário e de tudo o que o ser humano faz, inventa ou fabrica com a sua mente criadora, para tornar a vida mais confortável. <br /><br />A árvore é natureza, a madeira, a cadeira e a mesa são cultura; o cabelo é natureza, o penteado é cultura; o som é natureza, a palavra e a música são cultura; o fogo é natureza, a bigorna, a churrasqueira são cultura.<br /><br />O mito de Tarzan ensina-nos que no ser humano, o fator cultural é mais importante que a Natureza. Se um bebé humano for criado por chimpanzés ele será um chimpanzé. Ao contrário, se um bebé chimpanzé for criado por humanos, com a mesma educação que um bebé teria, ele nunca será humano. </p><p>Se no ninho de um pardal colocarmos um ovo de tecelão mascarado, quando este tecelão mascarado for adulto não fará o seu ninho como o faz o pardal em cima de um ramo, mas sim como o faz o tecelão mascarado suspenso de um ramo. O ser humano nasce animal e transforma-se em humano pela cultura. O animal nasce já praticamente em estado adulto, não precisa de tempo de socialização. <br /><br />A cultura é, ao mesmo tempo, a adaptação do ser humano ao meio e a adaptação do meio às necessidades do ser humano. A cultura é esta interação entre o meio e o ser humano, o ser humano e o meio. <br /><br />COSMOVISÃO<br /><i>Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o sexto dia.</i> <b>Génesis 1, 31</b><br /><br />Podemos usar o texto bíblico da criação do mundo como metáfora da relação entre cosmovisão e cultura. A cultura é a criação de Deus, o olhar para ela vendo-a como boa é a cosmovisão que Deus tem sobre o que criou. Deus que é amor tem uma visão amorosa de tudo o que criou, por amor.<br /><br />Deus criou o mundo, o homem a partir do mundo criado por Deus criou a cultura. A cosmovisão é a visão que o Homem tem do que criou. Ao contrário de Deus, nem tudo o que cria é por amor e, como cria muitas coisas por ódio, como os instrumentos da guerra, ao fim não pode dizer que o que criou é bom. <br /><br />Parafraseando a expressão que diz “Deus fez o mundo, o holandês fez a Holanda”, Deus fez o mundo, o homem fez a cultura, o homem adaptou ou personalizou este mundo, como quem personaliza um computador para responder às suas necessidades.<br /><br />A cosmovisão é uma abstração da cultura, pois faz desta um objeto de estudo. A cosmovisão é o conhecimento que tenho da minha cultura, a imagem ou representação mental, consciente ou inconsciente que tenho da minha cultura. <br /><br />Todo o ser humano possui uma cosmovisão, pois é por ela que se guia na vida. Ao mesmo tempo, a cosmovisão possui-nos a nós, porque o que quer que façamos ou pensemos, fazemo-lo dentro e no contexto de uma cosmovisão. Neste sentido, a cosmovisão parece englobar a cultura por ser um conjunto de ideias que um indivíduo tem a respeito do mundo, sendo estas ideias produto da cultura em que está inserido. Conforme for a nossa cultura, assim será a nossa cosmovisão ou visão do mundo. <br /><br />A cosmovisão é a base de toda a manifestação cultural que é constituída por motivações, pressupostos, crenças, compromissos, certezas e ideias, através das quais se experiencia e se interpreta a realidade, desde o nível subjetivo-privado ao nível objetivo-institucional compartilhado pela sociedade<br /><br /><b>Conclusão</b>: A natureza humana é o que somos, a nossa essência, a cultura o como estamos e existimos no tempo e espaço. A cosmovisão é a forma como entendemos o nosso ser e estar no mundo. <br />Pe. Jorge Amaro, IMC<br /><br /><br /></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-14485171710157556712024-01-15T05:20:00.000+00:002024-01-15T05:20:29.004+00:00Cosmovisão e Religião<p><i></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVeQK1g5airc4EvVhaJNkWAI3g9_WVdZaSBqS-nhJP5BZpGom_hU1_lC6kR-WUo9XzafNpt0jfcVVExkp7Nt7g2R0Gb1rK81czMx_6dy0GFdQkG52Xw7FLlMl3tlEroAt9H_PZjTSvnCn1YM6aXeUcWFC11jSWMwlN1dYRO4-BgrUG275ue_olkDSq/s3500/2.%20Cosmovis%C3%A3o%20e%20religi%C3%A3o.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2379" data-original-width="3500" height="218" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVeQK1g5airc4EvVhaJNkWAI3g9_WVdZaSBqS-nhJP5BZpGom_hU1_lC6kR-WUo9XzafNpt0jfcVVExkp7Nt7g2R0Gb1rK81czMx_6dy0GFdQkG52Xw7FLlMl3tlEroAt9H_PZjTSvnCn1YM6aXeUcWFC11jSWMwlN1dYRO4-BgrUG275ue_olkDSq/s320/2.%20Cosmovis%C3%A3o%20e%20religi%C3%A3o.png" width="320" /></a></i></div><i>O mundo é o meu país, toda a humanidade é minha irmã e fazer o bem é a minha religião,</i> <b>Thomas Payne</b> <br /><br />A primeira impressão, o que primeiro nos vem à mente é, em psicologia, o mais importante. No caso da diferença entre o conceito de cosmovisão e o conceito de religião, o que primeiro nos vêm à mente é que a cosmovisão parece englobar a religião e não vice-versa. Ou seja, toda a cosmovisão inclui uma religião. <br /><br />Porém, quando estudamos a religião em si, damo-nos conta de que toda a religião tem uma cosmovisão, ou seja, uma forma de conceber e interpretar a realidade como um todo, e não apenas a parte que mais se refere ao sentimento religioso ou à natureza religiosa do ser humano. Por isto teremos de concluir que não há fronteiras definidas entre os dois conceitos porque um engloba o outro; ou seja, se toda a cosmovisão tem uma religião, toda a religião tem uma cosmovisão.<br /><br />As religiões como o cristianismo, o judaísmo e o islamismo podem ser consideradas cosmovisões, assim como as ideologias ou anti-religiões que negam e reprimem a natureza religiosa do ser humano, como o marxismo ou o materialismo histórico e dialético, o ateísmo e o agnosticismo em geral. Estas também podem ser consideradas cosmovisões. Tanto a fé como a falta dela dão uma forma determinada à vida humana. <br /><br />Uma cosmovisão procura responder a perguntas fundamentais como: Deus existe, como Criador de tudo e de todos, ou o Universo sempre existiu? Que há para além do Universo? De onde venho eu, para onde vou, quem sou e que sentido tem a vida? Onde estou? Como devo ou não devo viver a minha vida? Quais os valores a cultivar e os anti-valores a combater?<br /><br />Tanto a religião como a cosmovisão dão resposta a estas perguntas. Se respondem às mesmas perguntas, têm o mesmo campo de estudo, pelo que poderiam ser consideradas sinónimos ou, melhor ainda, são uma e a mesma coisa. <br /><br />As palavras ética e moral são uma e a mesma coisa, ou seja, ambas se referem ao comportamento humano; a primeira de origem grega e a segunda de origem latina. A palavra ética usa-se mais no mundo civil, a palavra moral mais no mundo religioso. Assim, entendemos cosmovisão como sendo o correspondente a ética, pois se usa mais no mundo civil, e religião como moral, pois, como é obvio, se usa mais no mundo religioso. <br /><br /><b>O fenómeno religioso: “Mysterium tremendum et fascinans”</b><br /><i>Não há povo, por mais primitivo que seja, em que não se veja a religião</i>.<b> Bronislaw Malinowski (1884 – 1942)</b><br /><br />Houve e há sociedades no passado e no presente sem ciência, arte sem filosofia, mas nunca existiu uma sociedade sem religião. <b>Henri Bergson (1857-1941)</b><br /><br /><u>Religare </u>– É um conceito cristão, ou seja, é a forma cristã de conceber o fenómeno religioso. Supõe o conceito de separação. O pecado separa-nos de Deus, a religião volta a ligar-nos a Deus pois, por esta, Deus nos perdoa. <br /><br />Vale ainda hoje a definição latina de religião de Rudolf Otto: Mysterium tremendum et fascinans…. Tremendo porque invoca em nós sentimentos de medo, respeito e reverência. Fascinante porque provoca em nós sentimentos quase contrários aos primeiros, de atração, alegria e confiança. Na Bíblia, ou seja, na tradição religiosa bíblica do judaísmo e cristianismo, estes sentimentos traduzem-se no binómio tantas vezes repetido ao longo da Bíblia de temor de Deus e amor a Deus. <br /><br />Quando a sociedade agrícola, sobretudo com o cultivo de cereais, permitiu uma certa estratificação social, a figura do sacerdote foi das primeiras a surgir, pois a religião nas sociedades primitivas englobava a cultura em geral, todas as outras atividades, ou seja, tudo o que não era agricultura. <br /><br />O sacerdote era a pessoa que executava os rituais religiosos à divindade, lia e interpretava os textos sagrados e mantinha o local de culto. Era um intermediário entre a divindade e o povo. Em todas as religiões judaicas, da Suméria, Egito, Roma, no budismo, no hinduísmo, nas religiões tradicionais africanas ou latino-americanas esta é sempre a função do sacerdote. <br /><br />Xamãs e médiuns seriam outras versões mais sofisticadas no buscar uma relação e comunicação entre este mundo e o mundo espiritual e divino dos espíritos e de pessoas que já faleceram. Há um ressurgir destas práticas com a religião Nova Era (New Age) que é um sincretismo de muitas religiões, incluindo as tradicionais americanas, asiáticas e africanas. <br /><br />Nas sociedades primitivas, as lideranças civis e religiosas uniam-se numa mesma pessoa e num mesmo cargo. Vemos na Bíblia que Samuel não desempenhava somente as funções de profeta, mas também as de rei líder do povo e as de sacerdote, intercedendo pelo povo junto de Deus; o mesmo aconteceu com Moisés. Já no tempo de Jesus, o sacerdote tinha também a função de médico, ao poder declarar se alguém estava curado ou não de lepra, para ser reintegrado na sociedade. (Mateus 8,4)<br /><br /><i>A religião é o que faz com que os pobres não matem os ricos</i>. <b>Napoleão Bonaparte</b><br /><i>“Se Deus não existisse tudo seria permitido</i>.” <b>Dostoievski</b><br /><br />Os ateus não reconheceriam a veracidade desta afirmação vinda de alguém muito pouco religioso, que ironicamente confere à religião o estatuto de polícia. Um polícia mais eficaz que os polícias reais, porque as pessoas têm mais medo do inferno ou da morte eterna que dos sofrimentos e morte temporal. <br /><br />Os ateus defenderão que existe uma ética que não precisa de se fundamentar na religião, mas a realidade, porém, parece apontar para o facto de que se os seres humanos tivessem um dia a certeza científica de que não há Deus nem vida para além da morte, as fronteiras entre o bem e o mal esfumar-se-iam. Está no inconsciente coletivo da humanidade que o bem leva ao Céu e o mal ao Inferno. <br /><br />Se isto desaparecesse, se no inconsciente ou consciente coletivo isto não estivesse presente, decerto 1% da humanidade não poderia ter mais riqueza que os restantes 99%, como acontece hoje. Sorte têm os ricos, que mais de 80% da humanidade acredita na existência de Deus e na vida para além da morte. É a maior garantia para eles de que o “status quo” se mantém. Se assim não fosse, não haveria lei, nem polícia nem exército que conseguisse conter a fúria dos pobres. Por isso Napoleão até tinha razão no que disse…<br /><br />Em todas as épocas, em todos os lugares onde o ser humano já viveu, o fenómeno religioso nasceu por geração espontânea: havendo seres humanos, há cultura, como forma de entender e viver a vida, e há religião como forma de responder às perguntas que não encontram resposta na ciência. Neste sentido, a ciência tem roubado campo à religião; mas conseguirá anulá-la por completo? <br /><br />A laicidade ou a morte de Deus fez de nós bons consumidores, mas maus cidadãos, individualistas, pouco solidários e empáticos com a dor humana, pois era a religião que nos congregava em comunidade como filhos do mesmo Pai Deus. Faltando Deus, nada nos une como seres humanos e tudo passa a ser permitido, como diz Dostoievski. Não há ética social que se fundamente em si mesma sem o fundamento em Deus.<br /><br />Os agnósticos desinteressam-se da religião porque não é possível conhecer Deus; Deus não pode conhecer-se pelo método científico porque é uma pessoa, e as pessoas também não são objeto da ciência. As pessoas não se dão a conhecer a quem não as ama. Conhecer uma pessoa sem amá-la, sem se envolver com ela, sem se dar a conhecer também, seria manipulá-la, tal como o método científico faz com as coisas.<br /><br />Por outro lado, quanto ao mistério, este tanto envolve a religião como a ciência. Em toda e qualquer ciência há matéria conhecida e matéria desconhecida; por isso se continua a investigar e pesquisar para desvendar. Não se sabe tudo sobre biologia, física, química. Quanto mais se sabe, mais há para saber.<br />Por isso o mistério tanto envolve a religião como a ciência. <br /><br />Mas a religião, consoante as respostas que nos dá sobre as questões fundamentais, também dá forma à nossa vida, diz como devemos ou não devemos viver. A ciência também sobre isto não tem opinião, nem nos diz qual é o sentido da vida nem como devemos vivê-la.<br /><br /><b>Religião, cultura e desenvolvimento</b><br />Cada cultura tem a sua forma de conceptualizar a Deus; daí o facto de haver diversas religiões. Para além do fator cultural, a diversidade das religiões tem que ver também com o nível de desenvolvimento ou progresso. <br /><br />Com a globalização galopante que pretende colocar todos os homens em contacto uns com os outros, o que mais conta já não é a diversidade das culturas, mas o nível de desenvolvimento. Mais do que cultura ocidental ou oriental, fala-se de Norte e Sul. Só existe um modelo de desenvolvimento, como só existe uma natureza humana. Mais que diversidade de cultura, existem povos desenvolvidos, povos menos desenvolvidos e povos primitivos.<br /><br />Tem-se conotado desenvolvimento com o mundo ocidental, mas eu conotá-lo-ia com a natureza humana. Não há nenhum modelo de desenvolvimento alternativo ao dito ocidental. O oriente (China e Japão) não apresenta um modelo de desenvolvimento alternativo ao ocidental porque não existe alternativa.<br /><br />Não existe um modelo de desenvolvimento que não passe pela máquina a vapor, eletricidade, motores de explosão, comboios, aviões, carros, televisão, rádio, telefone, computador, Internet, papel, jornais, livros, escolas, universidades… A presença ou ausência destes e de tantos outros elementos define o nível de desenvolvimento de um povo e este nível de desenvolvimento influencia mais a vida das pessoas que as nuances culturais.<br /><br />Por exemplo, a escrita chinesa e de outros povos asiáticos não é diferente da escrita dos povos ocidentais por um fator cultural, mas sim por um fator de desenvolvimento. Toda a escrita começou por ser pictórica, ou seja, por representar as coisas fazendo um desenho delas. Os hieróglifos egípcios e a escrita cuneiforme da Suméria e Mesopotâmia são antepassados pictóricos dos alfabetos grego e romano que vigoram hoje no mundo ocidental. No que respeita à escrita, o alfabeto é mais desenvolvido que a escrita pictórica, por ser mais simples na era do computador e por fazer o discurso mais fluido entre uma maior diversidade de conceitos e palavras. <br /><br />Tal como há um desenvolvimento ou progresso científico, técnico e humano, também há um progresso ou desenvolvimento no campo da religião, ou seja, da conceptualização de Deus e da vivência do sentimento religioso inato no ser humano. <br /><br /><u>Animismo</u><br />É a primeira conceptualização do divino. Os nossos antepassados viviam na crença de que tudo era animado; tanto os objetos materiais, animais, plantas, rios, rochas, etc., como os fenómenos naturais, o trovão o raio, o vento, a chuva, etc. e até mesmo o próprio universo, possuíam uma alma, ou seja, qualidades, significados ou poderes espirituais ou sobrenaturais. <br /><br />Em Portugal há uma frase muito repetida que dá conta deste tempo, “No tempo em que os animais falavam”. Não é que tal tempo alguma vez tivesse existido, mas a crença de que os animais falavam, tinham uma alma e uma personalidade sim existiu. <br /><br />As religiões antigas pertencem a esta categoria; o animismo ainda existe hoje, mas só em povos que de alguma forma vivem apartados da civilização global como os aborígenes da Austrália, os indígenas da América do Norte, assim como os isolados na Amazónia e certas tribos da Africa. <br /><br />A bruxaria, New Age, magia e tantas outras superstições são resquícios de animismo ou novas expressões deste na sociedade ocidental. O conferir poder espiritual a certos objetos como a chave, a ferradura, o cornito etc, são resquícios modernos de animismo que hoje não passam de superstições. <br /><br /><u>Politeísmo</u><br />Como dissemos, à medida que o ser humano foi conhecendo e dominando o ambiente que o rodeava, este foi-se materializando. Todas as realidades que o ser humano conhece, controla e domina perdem a sua alma, o seu poder, de alguma forma; este passa para ou é absorvido pelo espírito inventivo do ser humano. Desta forma, foi aumentando a esfera do material e diminuindo a esfera do espiritual. O que o ser humano domina deixa de ter poder sobre ele, sobretudo, deixa de ter poder espiritual, para ser um bem material controlável. <br /><br />O ser humano com o progresso conseguiu dominar muitas realidades, mas não todas; aquelas que ainda resistiram a ser dominadas adquiriram a natureza de divindades. Ao animismo sucede o politeísmo, a crença de que as principais realidades, poderes e forças da natureza são dominadas por um deus. Com efeito existe um deus para cada realidade, sendo o senhor dessa mesma realidade. Vénus, a deusa do amor, Marte, o deus da guerra, Neptuno, o deus do mar, Cronos, o deus do tempo… O politeísmo existe ainda hoje em certas religiões como o hinduísmo.<br /><br /><u>Monoteísmo absoluto</u><br />A pré-história do monoteísmo acontece quando o ser humano agrupa todos estes deuses e lhes dá um líder – Zeus, na mitologia grega e Júpiter na mitologia romana. Daqui ao monoteísmo é um passo. O primeiro ser humano a proclamar que só havia um deus foi um faraó do Egito chamado Akhenaten, também conhecido por Amenhotep IV, que reinou no Egito no século XIV antes de Cristo, muito antes da cultura grega e romana.<br /><br />Os povos sedentários têm tendência a ser politeístas; os povos nómadas, pelo contrário, são monoteístas. Os Turkana, um povo nómada do norte do Quénia, têm a mesma palavra para designar Céu e Deus. Os mongóis, os turcos e os tártaros, adoravam um deus comum chamado Tengri, o deus do céu azul.<br /><br />Daqui a intuir que Deus é um ser espiritual, foi um passo muito curto dado pelos judeus, também eles nómadas. Para estes, Deus era espiritual e estava em toda a parte, dentro da nossa mente e sobretudo no nosso coração, em todo o tempo e em todo o lugar. Era um ser pessoal pois era um Deus de pessoas, de Abraão, Isac e Jacob. Intuíram também que era um Deus criador de tudo e de todos. Hoje, monoteístas absolutos são, portanto, os judeus e os muçulmanos. <br /><br /><u>Monoteísmo trinitário</u><br />É a versão cristã do monoteísmo ou, na era da teoria da relatividade, é a relativização do monoteísmo absoluto dos judeus e dos muçulmanos. Se o Homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, e Deus é amor, o amor implica uma relação de pelo menos duas pessoas; o objetivo de uma relação ou um matrimonio, não é o olhar um para o outro, mas os dois na mesma direção, o que frequentemente toma a forma de um filho. Então, nem Deus nem o Amor são “mono” nem “estéreo”, mas sim tridimensionais.<br /><br />Este Deus que é uma comunidade de amor criou o homem à sua imagem e semelhança, pelo que também o ser humano é uno e trino, estando chamado a ser uma comunidade de amor; à Trindade de Deus corresponde uma trindade humana. <br /><br />A pessoa humana é livre, autónoma, indivisível e independente e, no entanto, não se explica por si mesma, precisa de outras duas pessoas: o seu pai e a sua mãe, com as quais forma um triângulo. Pai, mãe, filho(a) são as únicas categorias de vida humana; todo o ser humano pertence sempre a duas delas. <br /><br />Um homem não é pai sem ter uma esposa e um(a) filho(a); uma mulher não é mãe sem ter um marido e um(a) filho(a), todo o ser humano é filho(a) de um pai e de uma mãe; não existem mães solteiras. A Trindade consiste em que um indivíduo não existe sozinho, mas coexiste com outros dois; a existência de um implica sempre a existência de outros dois, com os quais tem laços afetivos, formando um triângulo de amor. <br /><br /><u>Ateísmo</u><br />Para o ateísmo, não existe nenhum Deus além do universo ou no universo. Afirma que o universo físico é tudo o que existe. Tudo é matéria autossuficiente. Pensamento de Feuerbach por parte da filosofia de Karl Marx – por parte da filosofia quanto ao seu materialismo dialético e por parte da economia quanto ao seu materialismo histórico. Outro expoente ateu por parte da psicologia foi Sigmund Freud.<br /><br />Os crentes não podem provar cientificamente a existência de Deus, os não crentes também não podem provar cientificamente a sua inexistência. Pelo que o ateísmo é a crença na não existência de Deus. Uma crença que vai contra o sentimento religioso inato no ser humano. <br /><br />A este sentimento religioso se refere de alguma forma a anedota que diz: o homem é comunista até ficar rico, feminista até se casar e ateu até o avião começar a cair. Ou ainda o que se concebe como ateu por estar na moda e porque ainda não adaptou o vocabulário à sua nova crença, chega a dizer, “Eu cá sou ateu, graças a Deus”. <br /><br /><u>Niilismo</u><br />De onde vimos, para onde vamos, que sentido tem a vida, são as três perguntas que todo o ser humano se faz quando, pelos 6 ou 7 anos, atinge a autoconsciência, ou seja, se conhece como pessoa. Se vimos do nada e vamos para o nada, como afirmam os ateus, que sentido tem a vida? Acaso algo que começa em nada e termina em nada pode ter algum sentido? Neste sentido, o niilismo é um fruto ou produto natural do ateísmo.<br /><br />Sem futuro, o presente é nauseabundo por mais prazenteiro que seja. Assim o experimentou Sartre, Nietzsche antes dele e Camus depois dele: “se vens do nada, não há Fé, se vais para o nada, não há Esperança, o mais certo é que não haja Caridade pelo que a vida carece de sentido, é nauseabunda. Ante isto, ou cometes suicídio como Nietzsche, ou disfrutas dos prazeres do mundo material e morres de uma qualquer sobredose, ou tornas-te num filantropo e disfrutas da alegria que te proporciona o bem que fazes aos outros, porque há mais alegria em dar que em receber.<br /><br /><u>Agnosticismo</u><br />Como não se pode conhecer a Deus, ou conhecê-l´O totalmente, o agnóstico, como já dissemos, desinteressa-se do tema, coloca-o de parte. Porém, como dissemos também, não é só Deus que está meio envolto em mistério, toda a ciência também o está. Por isso, esta atitude de a-gnosis, ou seja, de negar o conhecimento aplicada às ciências paralisaria o progresso científico pois paralisaria a investigação. Como não posso conhecer tudo sobre a biologia, física e química, não me interesso, não quero conhecer. <br /><br />Suspeito, por outro lado, que esta atitude do ponto de vista mais humano, é a de evitar responder às três perguntas fundamentais do ser humano: de onde venho, para onde vou e que sentido tem a vida, para evitar cair no niilismo. Ou seja, é a atitude da avestruz que, ao ver o perigo, esconde a cabeça debaixo da areia. <br /><br /><b>Prova contundente da existência de Deus</b><br /><i>Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé e permaneceis ainda nos vossos pecados. Por conseguinte, aqueles que morreram em Cristo, perderam-se. E se nós temos esperança em Cristo apenas para esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Porque, assim como por um homem veio a morte, também por um homem vem a ressurreição dos mortos. E, como todos morrem em Adão, assim em Cristo todos voltarão a receber a vida</i>. <b>1 Coríntios 15, 17-21</b><br /><br />Parafraseando S. Paulo, se Cristo não ressuscitou, se não existe Deus nem vida para além da morte, somos os mais desgraçados de todos os seres vivos que habitam este planeta. A evolução da não consciência para consciência, ou como Karl Marx diz, somos o momento em que a natureza ganha consciência de si mesma, não teria sentido. Para que ganhámos nós consciência? <br /><br />Para termos consciência da nossa miséria? Para, ao contrário dos outros seres vivos, sabermos que um dia vamos morrer? Para sentirmos tristeza sempre que fazemos anos e vemos como as forças vão definhando, a beleza vai desaparecendo e a doença vai ganhando terreno? Ao menos os seres vivos estão poupados a este sofrimento, pois não sabem nem que vão morrer nem sequer que existem, pois não são auto-conscientes.<br /><br />Para que serve a possibilidade de optar? Para poder cair em mil e uma armadilhas e poder fazer da nossa vida um inferno? Ao menos os outros seres vivos vivem sempre felizes, não têm a capacidade de arruinar a própria vida e ser infelizes.<br /><br />E para quê todo o trabalho e esforço, se terminamos todos de igual maneira? E se o fim do ser humano é o mesmo que o da pulga e da barata, em que pode este ser humano dizer que é superior a estes seres vivos? Só se for superior em sofrimento, em tristeza e em desespero se, de facto, o fim de todos é o nada.<br /><br />Se há sede tem de haver água; se não, não haveria sede. Todas as experiências dos que estiveram entre a vida e a morte, entre o aqui e o além, falam de uma luz, de uma felicidade. Ninguém, até ao momento, falou do nada, do vazio, do deixar de existir. <br /><br />Segundo o famoso argumento ou aposta de Pascal, suponhamos que dois amigos - um ateu e outro religioso – apostam uma quantia de dinheiro na hipótese da existência ou não existência de Deus e da vida para além da morte. O ateu aposta que Deus não existe, o religioso que sim, existe. À morte dos dois, se o ateu ganhar a aposta, ou seja, se não houver nada para além da morte, não vai poder receber o prémio, não vai sequer saber que ganhou e que o religioso perdeu.<br /><br />Pelo contrário, se houver vida para além da morte e Deus que a sustém, o religioso ganhou essa vida eterna e o ateu perdeu-a. Concluímos que quem acredita tem tudo a ganhar e nada a perder; quem não acredita, tem tudo a perder e nada a ganhar.<br /><br /><b>Conclusão </b>– Os conceitos de religião e cosmovisão englobam-se mutuamente. Todas as cosmovisões têm uma religião ou uma anti religião, e todas as religiões têm uma cosmovisão. <br />Pe. Jorge Amaro, IMC<br /><br /><p></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-52837169754288672442024-01-01T05:00:00.000+00:002024-01-01T05:00:36.555+00:00Cosmovisão, a matriz do nosso pensamento<p><i></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjh1FuhpRKfO6qKm6ZlRpLX4qvgm0-SEFvLwWimrn63R7Vg6SBXr8YOXd90DGsSg48HsEjNFiUflUlvUgZzQrmRMA_HHHroJhIHzXt0s0mn88OGdOoGT-kLYL4SJGZienZt7ihTlv7o8UM3EWDvhR4_Vv7PuFX9ovjPO-ZS_Voruxe5FTMHQo2DgX2T/s2085/1.%20Cosmovis%C3%A3o,%20a%20matriz%20do%20nosso%20pensamento.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1251" data-original-width="2085" height="192" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjh1FuhpRKfO6qKm6ZlRpLX4qvgm0-SEFvLwWimrn63R7Vg6SBXr8YOXd90DGsSg48HsEjNFiUflUlvUgZzQrmRMA_HHHroJhIHzXt0s0mn88OGdOoGT-kLYL4SJGZienZt7ihTlv7o8UM3EWDvhR4_Vv7PuFX9ovjPO-ZS_Voruxe5FTMHQo2DgX2T/s320/1.%20Cosmovis%C3%A3o,%20a%20matriz%20do%20nosso%20pensamento.png" width="320" /></a></i></div><p><i>No princípio era o Verbo; o Verbo estava em Deus; e o Verbo era Deus. No princípio Ele estava em Deus.</i><br /><br /><i>Por Ele é que tudo começou a existir; e sem Ele nada veio à existência. Nele é que estava a Vida de tudo o que veio a existir. E a Vida era a Luz dos homens</i>. <b>João 1, 1-4</b><br /><br />Quase toda a humanidade subscreve e está de acordo com estas primeiras palavras do prólogo do evangelho de S. João, que afirmam a crença num Deus criador de tudo o que existe e de todos quantos existem. <br /><br />Procurando situar Jesus no contexto do tempo e do espaço, notamos como o horizonte e o significado da sua entrada na história da humanidade se vai amplificando com cada evangelho escrito. Marcos, o primeiro a ser escrito, em Roma e para romanos, o mais pequeno e o mais incisivo e direto, começa com o Batismo de Jesus e procura provar que Jesus de Nazaré é o Filho de Deus. <br /><br />Mateus, o segundo a ser escrito, para judeus, estabelece uma genealogia de Jesus na qual se diz que Jesus é filho de David, filho de Abraão. Lucas, o terceiro a ser escrito, por um grego para gregos, também estabelece uma genealogia, mas que vai mais além dos antepassados de Israel até ao primeiro homem e primeira mulher, Adão e Eva. Por fim, João, como diz o texto acima citado, começa a história de Jesus de Nazaré muito antes de Adão e Eva, fora do nosso planeta, no cosmos, no universo e no começo da criação. <br /><br />Uma cosmovisão procura integrar todos os elementos de uma cultura ou religião de uma forma harmoniosa, que faça sentido. Cada um dos evangelhos situou Jesus no contexto cada vez maior e, por fim, João concluiu que Jesus não só tem que ver com o movimento do Batista, mas também que é descendente de David, Abraão, Adão e Eva e que ao estar lá no início da criação, é a segunda pessoa da Santíssima Trindade. <br /><br /><b>Olhar o mundo como Deus o vê</b><br />A melhor forma de olhar o mundo é certamente fazendo-o com os olhos do seu Criador. Quem está dentro de uma floresta, não consegue vê-la, apenas vê árvores. Para ter uma visão de conjunto da floresta é preciso sair dela, situar-se como observador fora dela, mas ao mesmo tempo dentro dela. Ninguém melhor que Deus conhece e tem uma visão de conjunto do mundo, da sua natureza e do seu sentido. <br /><br />Não só porque foi Ele quem o criou, mas também porque só Ele pode transcender o mundo completamente por ser, ao mesmo tempo, imanente e transcendente. Ou seja, só Ele pode verdadeiramente sair da floresta para olhá-la a partir de fora; nós os humanos nunca conseguiremos ter totalmente essa perspetiva. Por isso, olhar o mundo a partir da perspetiva do seu Criador, como os olhos de Deus, é sempre a melhor maneira. Sem Deus, o mundo carece de sentido porque nada do que existe se explica por si mesmo. <br /><br /><b>Abstração e transcendência</b><br />O ser humano, feito à imagem e semelhança de Deus, é também em menor grau imanente e transcendente em relação ao mundo; imanente porque vive nele, está sujeito às suas leis e sem o mundo não pode viver; transcendente porque tem uma certa capacidade de se abstrair dele, uma capacidade que lhe vem do facto de ser diferente das demais criaturas ao possuir autoconsciência. <br /><br />A autoconsciência é uma divisão do nosso psiquismo que nos dá a capacidade de sermos imanentes e transcendentes em relação a nós mesmos, ao mundo e a tudo o que nos rodeia. Por sermos autoconscientes podemos estar dentro da floresta e fora dela, pois podemos ser observadores e observados em relação a nós próprios e ao mundo que nos rodeia. Ao ser capazes de nos observarmos a nós proprios, somos ao mesmo tempo o sujeito e o objeto da nossa observação.<br /><br />A autoconsciência dá-nos a possibilidade de olhar o nosso mundo interior e exterior, tudo o que está à nossa volta, com alguma objetividade. A autoconsciência é uma determinada objetividade dentro da subjetividade, porque nos permite observar, julgar, sermos objetivos e justos. Embora se diga que ninguém é justo juiz em causa própria, também é verdade que se tivermos uma boa autocrítica e reconhecermos os nossos erros, fomos honestos, sinceros e genuínos, poderemos ser justos juízes mesmo em causa própria.<br /><br />A autoconsciência dá-nos a possibilidade de observar o mundo e de o interpretar, ou seja, de o metermos dentro de nós mesmos, de o assimilarmos e fazermos dele um mapa que conservamos no nosso interior e que nos ajuda na nossa relação como o mundo que nos rodeia, com os outros e até connosco próprios. Este mapa interior, esta interpretação, a nossa forma de conceptualizar o mundo é a nossa cosmovisão.<br /><br /><b>“Contra factos não há argumentos”</b><br />É bem conhecido este provérbio que fundamentalmente quer dizer que não vale a pena discutir o que é óbvio, o que é objetivo, o que está diante dos nossos olhos. É perda de tempo argumentar contra o que ocorre debaixo do nosso nariz, não adianta querer explicar, pois o facto fala por si e já diz tudo. Também se diz malvadamente que só “fala quem não tem falo”. <br /><br />Os factos pertencem ao campo do objetivo, do que é comum a todos, pelo que sem um mínimo de objetividade, vista como senso comum, opinião pública, denominador comum, a vida em sociedade não seria possível. Porém à objetividade contrapõe-se a subjetividade; um mesmo facto pode ter tantas interpretações como o número de pessoas que o interpreta. Cada cabeça sua sentença, diz também o povo. <br /><br />Não basta ver o que vemos, é preciso entender o que vemos. Os discípulos de Emaús (Lucas 24, 13-35) fugiam de Jerusalém, deixavam para trás o serem discípulos de Jesus de Nazaré, porque os factos da sua morte os tinham desconcertado, desmoralizado, escandalizado, confundido, desesperado. Uma coisa é ver, outra é saber interpretar o que vemos, encontrar o sentido do que vemos. As aparências iludem e as coisas nem sempre são o que parecem.<br /><br />Jesus ajudou os discípulos a interpretar o facto aparentemente escandaloso da sua morte à luz da História de Salvação descrita na Bíblia. Muitas vezes, para sabermos o sentido de um facto pontual temos de o demarcar no contexto de um desígnio maior. Sempre é verdade que quem está na floresta não vê a floresta, só vê árvores; para ver a floresta tem de sair dela. <br /><br /><b>Definição e sinónimos</b><br />“Toda a forma de conceber o mundo e o lugar da humanidade no mesmo, a perspetiva mais ampla possível que a mente consegue ter das coisas. <b>James Orr</b><br /><br />“Um sistema de vida, enraizado num princípio fundamental, a partir do qual foi derivado todo um complexo de ideias e conceções de regras acerca da realidade. <b>Abraham Kuyper</b><br /><br /> “A Uma perspetiva da vida, um sistema inteiro de pensamento que responde às perguntas apresentadas pela realidade da existência.) <b>Francis Schaeffer</b><br /><br />“Um conjunto de pressupostos ou suposições presentes de forma consciente ou inconsciente, consciente ou inconsciente, em relação à constituição básica da realidade. <b>James Sire</b><br /><br />“Uma estrutura abrangente das crenças básicas de cada um em relação às coisas.) — <b>Albert Wolters</b><br /><br />“É… uma estrutura interpretativa… através da qual damos sentido… à vida e ao mundo. <b>Norman Geisler<br /></b><br />Cosmovisão, visão do cosmos, do universo, do mundo, do nosso pequeno mundo, mundividência, visão geral, visão de conjunto, perceção geral do mundo, perspetiva, ótica – todos estes termos são sinónimos que traduzem o conceito alemão de “Weltanschauung” que significa “modo de olhar o mundo” (“welt” – mundo, “schauen” – olhar), ponto de vista, perspetiva ou conceção de mundo.<br /><br />Parece haver um consenso de que o termo cosmovisão deriva do uso que Emanuel Kant faz do termo “Weltanschauung” no seu livro “Crítica da razão pura”. O conceito que Kant procurou definir sempre existiu; os seres humanos, desde os mais primitivos, consciente ou inconscientemente, sempre tiveram uma visão do mundo que dava sentido à sua vida, pela qual orientavam os seus passos e tomavam as suas decisões. <br /><br />Uma cosmovisão é um conjunto ordenado e estruturado de crenças, ideias, valores, conceitos e opiniões que configuram a imagem que uma pessoa, uma coletividade, uma cultura, uma época, tem do mundo e a partir da qual a pessoa interpreta a sua natureza, o sentido da sua vida e tudo o que existe.<br /><br />A cosmovisão é uma representação mental que uma pessoa ou cultura faz do mundo ou realidade; uma forma de interpretar e conceptualizar tudo o que existe e de lhe dar um sentido. Esta conceptualização ou representação mental transforma-se num marco de referência do nosso ser e estar no mundo, ou seja, constituiu-se como uma abstração ou mapa interno ao qual nos referimos consciente e inconscientemente para nos situarmos e guiarmos na realidade externa.<br /><br />É a bússola que nos indica o Norte para não andarmos desnorteados, o oriente para andarmos orientados, é o nosso Sistema de Posicionamento Global (ou GPS) que nos diz em cada momento onde estamos, o lugar que ocupamos no mundo, o lugar onde queremos chegar, isto é, os nossos propósitos, os nossos objetivos, os nossos sonhos e a estrada para lá chegarmos.<br /><br />A cosmovisão é o conceito que faço do mundo e da vida que nele existe, é o alicerce, a pedra angular da minha vida. Tem a ver com a minha filosofia de vida, com a minha ótica ou com as lentes pelas quais vejo e interpreto a realidade. A cosmovisão é a matriz de uma cultura, semelhante à placa-mãe de um computador, que é aquela grande placa verde que encontramos ao abrir um computador, que tem impressos todos os circuitos e à qual se fixam todos os chips, a memória, o disco e os demais componentes de um computador. <br /><br />A cosmovisão é o sistema operativo de um computador. É o Windows, o sistema Macintosh ou Linux que fazem o computador funcionar. Um computador sem sistema operativo não faz nada, entra em funcionamento e apresenta um ecrã sem nada. Os computadores de hoje em dia fazem tudo, são usados em todas as instituições e células da vida individual e social. Há programas para tratar texto, imagem, música, cálculos matemáticos, etc. Cada programa, porém, está alicerçado no sistema operativo.<br /><br />Usando esta metáfora, a cosmovisão é o sistema operativo de uma determinada cultura. Essa cultura pode ser constituída por muitas e variadas coisas, como os programas de um computador, mas todas estão assentes num único alicerce comum: o sistema operativo do computador, a cosmovisão da cultura. Parafraseando o livro dos Atos dos Apóstolos (17, 28), é nela realmente que vivemos, nos movemos e existimos…<br /><br /><b>Conclusão </b>– Representação mental ou mapa do mundo, a cosmovisão é a nossa forma pessoal e coletiva de conceptualizar e interpretar o mundo, assim como a identidade e o sentido da nossa existência nele. </p><p>Pe. Jorge Amaro, IMC<br /></p><p><br /><br /></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-83843004388069546282023-12-15T16:52:00.000+00:002023-12-15T16:52:29.968+00:00XII Mistério - Coroação de Maria como rainha do céu e da terra<p><i></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBP3HhIyMKlPmySmsz26L7c__D6rOhDhplklwJJ9Qd4vyJu5DEsAtRw-wpEZIQ4uf3cc21bgfZPOdm991hA2GL4RfSldYXMc0vIEuJl4WkAYWfDFm2Q98A32V8RvIGL7HzK9nZf6YY6XMy5a9vokWwcBqmP2_DXFbsw35ehri8fC_A26FG-R-vCdxY/s1238/21.%2012%C2%BA%20Mist%C3%A9rio%20-%20Coroa%C3%A7%C3%A3o%20de%20Maria%20como%20Rainha%20do%20C%C3%A9u%20e%20da%20Terra.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1238" data-original-width="930" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBP3HhIyMKlPmySmsz26L7c__D6rOhDhplklwJJ9Qd4vyJu5DEsAtRw-wpEZIQ4uf3cc21bgfZPOdm991hA2GL4RfSldYXMc0vIEuJl4WkAYWfDFm2Q98A32V8RvIGL7HzK9nZf6YY6XMy5a9vokWwcBqmP2_DXFbsw35ehri8fC_A26FG-R-vCdxY/s320/21.%2012%C2%BA%20Mist%C3%A9rio%20-%20Coroa%C3%A7%C3%A3o%20de%20Maria%20como%20Rainha%20do%20C%C3%A9u%20e%20da%20Terra.jpg" width="240" /></a></i></div><i>Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas.</i> <b>Apocalipse, 12, 1</b><br /><br />Paulo VI na sua Exortação Apostólica encíclica “Marialis Cultus” diz que a Solenidade da Assunção se prolonga jubilosamente na celebração da realeza de Maria. A mãe de um rei é rainha, rainha mãe. Não foi uma realeza herdada como filho de rei é rei, também foi uma realeza conquistada a pulso, uma realeza que doeu. <br /><br />Foi uma coroa de glória precedida de uma coroa de espinhos, ou a espada profética de muito sofrimento referida pelo velho Simeão que Maria teve que passar por causa do seu filho. A realeza de Maria é, portanto, uma realeza por mérito, algo semelhante a um prémio Nobel pelos seus bons serviços prestados à humanidade. <br /><br />S. Paulo, numa das suas cartas, fala dos atletas que se sacrificam com dietas e exercícios para depois ganharem uma coroa que murcha. Se isso acontece com eles, quanto mais acontecerá connosco caso queiramos ganhar, como Maria, uma coroa eterna de glória. Temos de aceitar os sofrimentos que vêm ao nosso encontro. <br /><br /><b>Maria e a imperatriz St. Helena</b><br />Ao pensar no que é dito neste texto, pois não existe uma base histórica para as coisas que entendemos que acontecem no Céu, pensei numa outra mulher que chegou bem alto começando, como Maria, muito por baixo, e que, tal como Maria, viveu para estar 100% ao serviço do seu filho. Trata-se, da imperatriz Sta. Helena que viveu ao serviço do seu filho. <br /><br />Sta. Helena não nasceu de nenhuma família nobre em Roma, nasceu na Ásia Menor e, como o próprio nome indica, não era romana, mas sim grega. Casou com o imperador romano Constâncio Cloro que andava pela Ásia Menor em campanha militar. O seu filho é Constantino I que se tornou imperador romano em York, na Inglaterra em 306. Este conferiu a sua mãe o título de Imperatriz. Mais tarde, esta converteu-se ao cristianismo, o mesmo sucedendo com o seu filho, devido à grande influência que esta tinha junto dele.<br /><br />Nos seus últimos anos de vida, fez uma peregrinação à Terra Santa. Naquele tempo Jerusalém ainda se chamava Aelia Capitolina, depois das tropas do imperador Tito a terem destruído. No lugar do Santo Sepulcro e Gólgota tinham construído um templo à deusa Vénus. <br /><br />Helena mandou destruir o templo e construir sobre ele a grande Igreja do Santo Sepulcro, no sítio onde ela encontrou a verdadeira Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo. Helena construiu muitas outras igrejas, mais tarde destruídas pela ocupação muçulmana. As únicas duas que permanecem de pé e que são as principais, são a do Santo Sepulcro em Jerusalém e a da Natividade em Belém. <br /><br />Muitas imagens de Sta. Helena a representam abraçando a cruz, a mesma cruz aos pés da qual Maria chorou a morte do seu Filho. Como Maria se alegrou com a Ressurreição do seu Filho e o fim do seu sofrimento, Helena representa o fim do sofrimento dos discípulos do seu filho que, até ela e ao seu filho Constantino, tinham sofrido a perseguição romana e o martírio de serem comidos pelas bestas nas arenas romanas. Helena é a primeira imperatriz ou rainha cristã; Maria, a rainha das rainhas, a rainha do Céu e da Terra. <br /><br /><b>Rainha mãe</b><br /><b>Salve rainha, Salve rainha, Senhora minha mãe de Jesus</b> (cântico mariano português)<br /><br /><i>Salve Regina, Mater misericordiae, ita dulcedo et spes nostra salve. Ad te clamamus exsules filii Hevae. Ad te suspiramus gementes et flentes, in hac lacrimarum valle. Eja ergo advocata nostra, illos tuos misericordes oculos ad nos converte. Et Jesum benedictum fructum ventris tui nobis post hoc exsilium ostende. O clemens, o pia, o dulcis Virgo Maria.</i><br /><br />Nos meus tempos de estudante em Inglaterra, era ainda viva a rainha mãe da atual rainha Isabel II. Esta rainha mãe era uma figura muito querida pelo povo. Também ela era rainha, não por ter reinado mas porque o seu marido tinha sido rei. Tinha o título de rainha consorte e, naquele tempo, de rainha mãe de Isabel. <br /><br />Maria é rainha mãe porque é mãe de Cristo que é Rei do Universo. A Mãe de Cristo, cabeça da Igreja que é o seu corpo místico, está sentada à direita do seu Filho como a rainha, ornada com ouro de Ofir do salmo 45 (44), 10. <br /><br />Salve Regina, Mater misericordiae, – rainha porque mãe de Jesus, nossa rainha porque nossa mãe, uma mãe misericordiosa como Deus Pai. Uma mãe que por ser carne da nossa carne, totalmente humana, é ponte para o seu Filho. Um “Pontifex maximus” para aceder ao seu Filho porque ela, como a imperatriz Helena, sabe aceder ao coração do seu Filho e obter d’Ele para nós todas as graças de que necessitamos, tal como já o fez em Caná aparentemente com a oposição inicial d’Ele. <br /><br />Rainha dos anjos, dos patriarcas, dos profetas, dos apóstolos dos mártires, dos confessores, de todos os santos, rainha da paz, como diz a ladainha em seu louvor. Maria é sobretudo rainha dos nossos corações onde reina com o seu amado Filho.<br /><br /><b>A Rainha Mãe em Israel</b><br /><i>À tua direita está a rainha ornada com ouro de Ofir</i>. <b>Salmos 45 (44), 10</b><br /><br />No episódio bíblico sobre a subida ao trono do rei Salomão, damo-nos conta da reverência do rei pela sua mãe Betsabé, quando esta vem visitá-lo: o 1º livro de Reis, capítulo 2, versículo 19, diz:<br /><br /><i>“Betsabé foi, pois, ter com o rei para falar-lhe em favor de Adonias. O rei levantou-se para lhe ir ao encontro, fez-lhe uma profunda reverência e sentou-se no trono. Mandou colocar um trono para a sua mãe, e ela sentou-se à sua direita”</i> <b>1º Reis 2, 19</b><br /><br />Essa atitude de Salomão remete imediatamente para o Salmo 44 acima citado. Os hebreus mantiveram essa tradição até o exílio da Babilónia, quando deixaram de ter reis. A partir dessa época, começa-se a esperar a vinda do novo filho de David, o Messias. Segundo a tradição, Maria é também da tribo de Judá, como José, ou seja, pertence também ela por nascimento à família real. <br /><br />De facto, o anjo Gabriel já saudou Maria com o título de Ave, título usado para os imperadores de Roma. Ela estava destinada a ser rainha do Céu e da Terra, por isso já era rainha do Céu e da Terra quando aceitou ser mãe do Filho unigénito de Deus, o rei do universo. <br /><br />Nesse mesmíssimo momento, ao conceber o rei, tornou-se rainha. Por outro lado, ao ser concebida sem pecado original, Maria já nasceu predestinada para ser rainha. A conceição imaculada de Maria faz correr nas suas veias o sangue azul da humanidade, por Deus criada sem o pecado original. Ao ser concebida sem pecado original foi já concebida como rainha. <br /><br /><i>“Tu és a glória de Jerusalém... tu és a honra de nosso povo... o Senhor te fortaleceu e por isso serás eternamente bendita</i>. <b>Judite 15, 10 b; 11 b </b><br /><br /><b>Conclusão </b>– Maria é rainha do Céu e da Terra por ser mãe de Cristo, Rei do Universo. A sua coroação é algo semelhante a um prémio Nobel pelos serviços prestados em prol da salvação da humanidade. <br /><p></p><p style="text-align: right;">Pe. Jorge Amaro, IMC<br /></p><p><br /><br /></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-22278650718163460262023-12-01T16:52:00.000+00:002023-12-01T16:52:06.510+00:00XI Mistério: Dormição e Assunção de Maria<p><i></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghdA1fVy1k0GjSyWj2RW6ep_ypDjcnaEJcZ327K79uRd_MTx6YEzF_I9U2ewid1L2QbPjWb30cbp-pqxEkD3d9NS78nrXzQmy2Uo9cjwnAwfiPaTEWkhBkPf-WuqaUJF460fENWyS8VY8w4vnQBU9ZAlTq1hvi1NqwCsr8n-1g4MBtccpmLtgmEby9/s884/20.%2011%C2%BA%20Mist%C3%A9rio%20-%20Dormi%C3%A7%C3%A3o%20e%20Assun%C3%A7%C3%A3o%20de%20Maria.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="884" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghdA1fVy1k0GjSyWj2RW6ep_ypDjcnaEJcZ327K79uRd_MTx6YEzF_I9U2ewid1L2QbPjWb30cbp-pqxEkD3d9NS78nrXzQmy2Uo9cjwnAwfiPaTEWkhBkPf-WuqaUJF460fENWyS8VY8w4vnQBU9ZAlTq1hvi1NqwCsr8n-1g4MBtccpmLtgmEby9/s320/20.%2011%C2%BA%20Mist%C3%A9rio%20-%20Dormi%C3%A7%C3%A3o%20e%20Assun%C3%A7%C3%A3o%20de%20Maria.jpg" width="217" /></a></i></div><i>«A minha alma engrandece o Senhor e o meu espírito exultou em Deus, meu Salvador, porque pôs o olhar na humildade da sua serva. Eis que, a partir de agora, me chamarão feliz todas as gerações, porque o Poderoso fez em mim grandes coisas. Santo é o seu Nome</i>. <b>Lucas 1, 47-55</b><br /><br />Tal como Maria iniciou a Jesus neste mundo e o levou a todos lados de pequeno e o lançou na vida pública antes do tempo nas bodas de Caná, assim agora é Jesus que a leva para o Céu em corpo glorioso semelhante ao Seu e a introduz no Seu mundo onde Ele é Senhor do Universo. <br /><br /><b>A exaltação da humilde serva de Sião</b><br /><i>Aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado.</i> <b>Mateus 23, 12</b> - A Assunção de Maria é a exaltação dos humildes da qual nos fala o evangelho, neste caso da humilde serva de Sião na qual o Senhor pôs os olhos já antes do seu nascimento, fazendo com que a sua conceição fosse imaculada. <br /><br />Com humildade suportou o vexame de se achar grávida sem poder explicar a origem da gravidez; com humildade suportou os sofrimentos do seu filho quando este começou a encontrar a oposição nos líderes de Israel; com humildade e abatimento suportou a sua morte; agora, com mérito é exaltada e ascende ao Céu para estar sempre com Aquele que ela gerou, o Filho primogénito de Deus. <br /><br />Assunção ou Dormição são a mesma coisa. O oriente celebra mais como Dormição, o ocidente mais como Assunção. Na minha terra é mais celebrada como Dormição. Desde criança que na minha terra se coloca o esquife ou caixão onde jaz uma imagem deitada da Nossa Senhora. No dia 15 de agosto, este esquife é colocado no lugar onde habitualmente se coloca o caixão dos mortos para a missa de corpo presente. Assim, a missa da Assunção de Maria ao Céu é como se fosse uma missa de corpo presente. <br /><br /><b>História do dogma da Assunção</b><br /><i>Pela autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e em nossa própria autoridade, pronunciamos, declaramos e definimos como sendo um dogma revelado por Deus: que a Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, tendo completado o curso de sua vida terrena, foi assumida, corpo e alma, na glória celeste.</i> <b>Munificentissimus Deus, Pio XII 1 de novembro de 1950</b><br /><br />A declaração do dogma da Assunção de Maria Santíssima ao Céu em corpo e alma, é bastante recente. No entanto, tanto este como todos os outros têm uma longa história de quase 2 000 anos de reflexão teológica, de piedade popular e espiritualidade e, em alguns casos, até de confirmação celeste, como acontece com o dogma da Imaculada Conceição nas aparições de Lourdes. <br /><br />A primeira alusão à passagem de Maria deste mundo para o Céu acontece no século IV; Epifânio de Salamina, em 377, afirmou que ninguém sabia se Maria havia morrido ou não. A mais antiga narrativa é o chamado "O Livro do Repouso de Maria", do qual existe apenas uma tradução copta etíope, entendida como sendo do século IV, embora possa muito bem ser do século III. <br /><br />A Assunção ao Céu da Nossa Senhora também aparece no livro “De Transitu Virginis”, uma obra do final do século V, atribuída a S. Melito. Este livro conta que os Apóstolos vieram transportados por nuvens brancas, cada um da cidade onde se encontrava no momento, para assistir à Dormição de Maria. Esta história tem uma continuação séculos mais tarde, com um apêndice segundo o qual Tomé, como sempre, não compareceu a este funeral de Nossa Senhora e, quando chegou mais tarde, fizeram abrir o túmulo que encontraram vazio. <br /><br />Onde ocorreu esta Assunção ou Dormição não se sabe, uns dizem em Jerusalém, outros em Éfeso onde, segundo a tradição, viveu Maria os últimos anos da sua vida com S. João, na conhecida “Casa de Maria” que ali se encontra até aos dias de hoje e que pode ser visitada. <br /><br />Com a sua Assunção ao Céu, Maria cumpre o que S. Ireneu disse: que Deus se fez homem para que o homem se fizesse Deus. Assim se cumpre o sonho de Eva que queria ser como Deus. Maria chegou a ser como Deus ao ser mãe. Pela obediência, o ser família íntima de Deus está aberto a todos nós: é “a minha mãe e os meus irmãos são os que ouvem a minha Palavra e a põem em prática.”<br /><br /><b>Assunção como união com Deus</b><br /><i>"Fizeste-nos Senhor para ti e o nosso coração anda inquieto enquanto não repousa em Ti</i>" <b>Sto. Agostinho</b><br /><br />Estamos no mundo, mas não somos do mundo. Ser e estar não são o mesmo verbo como em outras línguas. Estamos no mundo, mas somos do Céu, somos de Deus, de onde viemos e para onde voltaremos. A melhor forma de estar no mundo então é viver desprendidos e nós só conseguimos essa forma de estar no mundo se tivermos as nossas prioridades bem definidas, se Deus for a quem nós mais amamos, em teoria e na prática.<br /><br />Sempre recordarei a experiência de atravessar os rios caudalosos na Etiópia: não se deve olhar para a água que corre com muita velocidade, mas sim para a margem do rio que não se move. A primeira vez que tive que atravessar um destes grandes rios, comecei a olhar para a água e comecei a ficar enjoado, atordoado e em perigo de ser levado pela corrente. Ao verificarem isto, os moços que me acompanhavam gritaram, “Abba, não olhe para a água, mas sim para a margem do rio”. <br /><br />Isto pode ser uma metáfora da nossa vida. Tenhamos os olhos fixos não no que se move que é temporal e passageiro, mas no que não se move, em Deus que não muda e é eterno, para não sermos levados pela corrente do presente, para não nos deixarmos embriagar pelo prazer presente ou desesperar pela dor presente. Só atravessaremos bem o rio da vida se tivermos os olhos postos na outra margem, em Deus no Céu. Se não for assim, seremos levados pela corrente, qualquer que seja a tendência, moda, poder, riqueza, coisas do mundo.<br /><br /><i>Em busca da sua própria identidade, um boneco de sal viajou milhares de quilómetros por um deserto, até que, finalmente, alcançou o mar. Fascinado pela massa estranha e móvel, completamente diferente de tudo quanto tinha visto até então, perguntou:<br />- Quem és tu? <br /> Com um sorriso, o mar respondeu: <br />- Sou o mar.<br />- Mas o que é o mar? inquiriu o boneco.<br />- Vem, toca-me e saberás. <br />O boneco de sal colocou o pé na água e imediatamente ficou sem ele. <br />- Que fizeste? perguntou assustado.<br />- Para me conheceres tens de te dar, respondeu o mar.<br />Então o boneco de sal foi adentrando o mar e, antes de uma onda o cobrir por completo, disse num suspiro:<br />- Finalmente descobri quem sou</i>. <b>Tony De Mello</b><br /><br />Se queremos conhecer a Deus já aqui nesta vida, temos que nos envolver. Não podemos conhecer a Deus sem nos comprometermos. Não pode ser um conhecimento frio no qual não nos implicamos, como se fizéssemos aquela experiência do oxigénio com algas e sol. Neste caso, não estamos diretamente envolvidos, mas com Deus, se o conhecermos temos de O amar. O mesmo acontece quando começamos a conhecer uma pessoa que nos é estranha: pouco a pouco começamos a gostar dela até porque o conhecimento entre as pessoas e das pessoas é afetivo; assim é com Deus. Só o afetivo é efetivo, ou seja, é real e surte efeito. <br /><br /><b>Assunção como Levitação</b><br />Uma experiência interessante a realizar em Nova Iorque, se visitarmos o museu da NASA, é a experiência da falta de gravidade: é como voar, as batatas fritas voam, a água em gotas voa também. Voar sempre foi o sonho de todo o ser humano e, de facto, parece ser um sonho muito recorrente em cada um de nós. Eu, pessoalmente sonho muitas vezes que voo. <br /><br />A Assunção é uma experiência espiritual que fazem aqueles que se desprendem das coisas e afetos deste mundo. Os santos levitavam porque as suas ataduras a esta Terra eram poucas. Sta. Teresa de Ávila dizia, “Vivo sem viver em mim e tão alta vida espero que morro porque não morro...” A Assunção é como levitar, quando nos desprendemos do que nos liga à Terra, dos afetos pelos bens temporais e até por pessoas. <br /><br /><b>O mistério da Encarnação e a emancipação da mulher</b><br />Nos primórdios da humanidade, quando os homens ainda não sabiam de onde vinham os bebés, (o efeito estava muito longe da causa: o ato sexual 9 meses antes do nascimento; o mesmo acontece com o melhor raticida cuja eficácia está precisamente em separar no tempo o efeito e a causa) quem reinava na sociedade era a mulher. Ela e só ela era o futuro e a esperança da espécie, ela e só ela trazia novos seres ao mundo. <br /><br />Consequentemente, o primeiro deus a ser adorado era uma deusa: a deusa da fecundidade da terra e da mulher. Terra ainda hoje é um termo feminino em quase todas as línguas. Foi também a mulher que inventou a agricultura. Porque a mulher era vista como a origem da vida, deus era concebido com forma feminina.<br /><br />Quando a conexão entre o coito e o nascimento de um bebé foi estabelecida, a mulher perdeu pouco a pouco todo o prestígio social. Ao princípio da deusa feminina foi acrescentado o homem consorte. Com o tempo, o consorte expulsou do céu a deusa e ficou sozinho. A mulher é só como a terra que o homem trabalha e domina, Deus manda a chuva como o homem semeia o sémen, todo o novo ser está contido no sémen do homem, a mulher é só o recetáculo. <br /><br />Neste novo conceito de Deus, Yahveh é rei e senhor e os reis naquele tempo não tinham uma rainha, mas um harém de mulheres. A mulher foi então tratada como a terra na agricultura “Crescei e multiplicai-vos, dominai a terra... e a mulher desapareceu da cena social e do céu habitado por um rei, todo poderoso e sozinho. A mulher foi a última a ser criada e a primeira a pecar. <br /><br />O cristianismo é um fator emancipador da mulher. Vejamos, nas sociedades não cristãs a mulher é maltratada. Ainda hoje, em África, a mulher é quem trabalha, o homem não faz nada; a mulher é vendida, obrigada a casar-se aos 15 anos com homens de 50 ou mais. No Japão, serve de prato nos restaurantes, ainda hoje. Na Ásia, e nas Filipinas que a mulher está mais emancipada. Os muçulmanos circuncidam a mulher de forma a que ela nunca tenha prazer sexual. <br /><br />A anunciação foi o começo desta emancipação da mulher. Deus, para vir ao mundo, precisou de uma mulher e não de um homem. E não foi só o ventre que usou, foi também o óvulo. Com a vida de Maria, a mulher voltou ao Céu na Assunção, como mãe do Filho unigénito de Deus. <br /><br />Nenhum homem nasceu sem o pecado original, só ela; Deus não precisou do espermatozoide do homem, mas do óvulo da mulher. Maria aponta para o rosto feminino de Deus, como Jesus de Nazaré, o seu Filho, para o rosto masculino de Deus.<br /><br /><b>Conclusão </b>– A Assunção de Nossa Senhora ao Céu, é o desfecho lógico da sua vida na Terra. Concebida sem pecado original, deu à luz o autor da vida, tornando-se Mãe de Deus. Maria introduz Jesus no mundo, Jesus introduz a sua mãe no Céu. <br /><p></p><p style="text-align: right;">Pe. Jorge Amaro, IMC<br /></p><p><br /><br /></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-66956722636773710622023-11-15T15:40:00.002+00:002023-11-15T15:42:14.553+00:00X Mistério: Maria mãe da Igreja em Pentecostes<p><i></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWWCfvVV_Lsn_BFdMESqsJ1F6tbws5t5g_ZcaorePXsoZr0hz0B0CMfuoyzQD0tsPqBl04MSeHVR_cTaGEzHLlT_HmHT8cBquwxdWtJ4ERbgANVWGVkl6kjGpltGELj5Zh-b3fjRIuQGXAh12WMQW8x3_iIqYsb6iyPT2BjXDGYXpShNbJuffIjoaV/s1260/19.%2010%C2%BA%20Mist%C3%A9rio%20-%20Maria%20m%C3%A3e%20da%20Igreja%20em%20Pentecostes.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1260" data-original-width="869" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWWCfvVV_Lsn_BFdMESqsJ1F6tbws5t5g_ZcaorePXsoZr0hz0B0CMfuoyzQD0tsPqBl04MSeHVR_cTaGEzHLlT_HmHT8cBquwxdWtJ4ERbgANVWGVkl6kjGpltGELj5Zh-b3fjRIuQGXAh12WMQW8x3_iIqYsb6iyPT2BjXDGYXpShNbJuffIjoaV/s320/19.%2010%C2%BA%20Mist%C3%A9rio%20-%20Maria%20m%C3%A3e%20da%20Igreja%20em%20Pentecostes.jpg" width="221" /></a></i></div><p><i>"Tendo entrado no cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelador, e Judas, irmão de Tiago. Todos eles perseveravam unanimemente na oração, juntamente com as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos dele."</i> <b>Atos dos Apóstolos 1, 13-14</b><br /><br /><b>Igreja ou Reino de Deus?</b><br />“Jesus anunciou a vinda do Reino de Deus, mas o que veio foi a Igreja.” - <b>Alfred Loisy (1857-1940)</b><br /><br />Há uma descontinuidade entre Jesus de Nazaré e a Igreja; de facto, enquanto a palavra “Ekklesía” só aparece duas vezes, e apenas no evangelho de S. Mateus 16,18; 18,1, em dois textos muito discutíveis, a expressão Reino de Deus ou Reino dos Céus, como prefere Mateus, aparece 127 vezes. <br /><br />Existe, portanto, um flagrante contraste com a palavra IGREJA, que aparece 112 vezes e quase só nos Atos dos Apóstolos e nas Cartas, a palavra REINO, aparece 162 vezes e, destas, só 35 vezes aparece no livro dos Atos e nas Cartas; as restantes 127 vezes aparecem nos evangelhos. Fica assim demonstrada a importância que o Reino de Deus tinha para Jesus e a pouca importância que este mesmo Reino tinha para a Igreja nascente fundada por Cristo.<br /><br />A Igreja, como corpo místico de Cristo, não pode ter outro objetivo senão continuar a obra de Cristo. Portanto, o objetivo da sua existência não é implantar-se em todos os cantos desta terra, mas sim levar a Boa Nova do Reino a todos os cantos da Terra. <br /><br />O objetivo principal não é produzir cristãos, aumentar o número dos seus membros, mas sim juntar-se a todos os homens de boa vontade, de outras religiões, ateus ou agnósticos e, com eles, ajudar na construção de um mundo melhor, de uma sociedade mais justa e mais fraterna, onde reina a justiça, a paz e a harmonia e o amor entre os povos. Se este tivesse sido o objetivo da Igreja desde o início, tal como foi do seu fundador, não teria havido fundamentalismos como a Inquisição, nem guerras santas como a movida pelas cruzadas.<br /><br /><b>Igreja, fermento do Reino de Deus</b><br />A Igreja é a forma que Cristo teve de estar aqui e agora, em todos os “aquis” e “agoras” da história da humanidade. Cristo só podia ter uma única vida humana, mas a sua Palavra era eterna para todos os tempos e todas as culturas; Ele mesmo não foi Caminho, Verdade e Vida para os homens do seu tempo, mas para toda a raça humana; para isso, tinha de deixar alguém que continuasse a sua obra.<br /><br />Não faz nenhum sentido que o verbo eterno de Deus se tenha encarnado, o filho unigénito de Deus tenha adquirido natureza humana, o criador se tenha feito criatura só para salvar os que viveram durante a sua vida terrena. <br /><br />É certo que a palavra Igreja, como dissemos, só aparece duas ou mesmo uma única vez em todos os evangelhos, o facto de Jesus ter escolhido, desde o princípio, colaboradores seus com a obra do Reino demonstra que Jesus quis deixar uma estrutura que continuasse a sua obra. Já em vida, Jesus enviou os seus discípulos a cidades e vilas onde Ele próprio pensava ir, (Lucas 10, 1) e depois os enviou ao mundo inteiro (Marcos 16, 15-18). <br /><br />Prova de que estes seus discípulos seriam na terra os seus representantes é o facto de os ter equipado com os mesmo poderes e faculdades que Ele possuía, (Mateus 21, 21; João 14.12). Neste último texto de João, Jesus diz também a razão pela qual passa aos seus discípulos todos os poderes e faculdades: “porque eu vou para o Pai”.<br /><br />Apesar de ir-se, garantiu aos seus discípulos também que estaria com eles até ao fim dos tempos (Mateus 28, 20) e o facto de ter dito a Paulo não “porque persegues os meus discípulos?”, mas sim “por que me persegues?” (Atos dos Apóstolos 9, 4). Por último, na sua oração sacerdotal, Jesus reza pelos seus discípulos, mas também por aqueles que iriam acreditar no seu testemunho (João 17, 20).<br /><br />A Igreja não existe para si mesma nem deve pregar-se a si mesma, pois o seu Mestre e fundador não se pregou a si mesmo: a Igreja existe para a Missão, ou seja, para continuar a obra do seu fundador e o objetivo da Missão que é o Reino. Igreja é o que somos, é a nossa identidade, o Reino é a nossa missão, o que fazemos. A Igreja é o fermento que vai levedar o mundo até se transformar todo ele em reino de Deus. <br /><br /><b>Maria e o Reino de Deus</b><br /><i>Mostrou a força do seu braço e dispersou os soberbos no pensamento dos seus corações; derrubou os poderosos dos tronos, e exaltou os humildes; aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu sem nada.</i> <b>Lucas 1, 51-53</b><br /><br />A quase totalidade das imagens que se fazem de Maria, tanto estátuas como pinturas, mostram uma mulher comedida nas palavras e nas ações, humilde e até submissa, serena pacífica e triste… não refletem esta faceta de Maria, a Maria do Magnificat ou, ao menos, da parte do Magnificat que citei. <br /><br />Sempre que leio, recito ou medito esta parte do Magnificat, a imagem de Maria que vem à mente é aquela da mulher de tronco nu com a bandeira da república na mão, em posto de comando, à frente do povo na Revolução Francesa. Esta imagem sim faz jus ao conteúdo da oração do Magnificat. <br /><br />Não parece verosímil que a mulher que representam as imagens de Maria possa ter dito que Deus vai derrubar os poderosos dos seus tronos, que vai dar aos pobres e tirar aos ricos. Mas quem disse isso parece ser verdadeiramente mãe daquele que fez precisamente isso: Jesus de Nazaré. “De tal palo tal astilla” diz um provérbio castelhano, “Filho de peixe sabe nadar” diz o seu correspondente em português. Maria parece anunciar nestas frases o reino que estava para vir com o seu filho; um reino de Justiça e de Paz. </p><p><b>Ecclesiae Mater </b><br /><i>“Mãe da Igreja, isto é, de todo o Povo de Deus, tanto dos fiéis como dos pastores, que lhe chamam Mãe amorosíssima” e estabeleceu que “com este título suavíssimo seja a Mãe de Deus doravante honrada e invocada por todo o povo cristão</i>”. <b>Paulo VI 21 de novembro 1964 ao encerrar o Concílio Vaticano II<br /></b><br />Maria é mãe da Igreja porque é mãe de todos e cada um dos discípulos do seu filho (João 19, 25-27). Como cada um dos discípulos do seu filho é “ipso facto” membro da Igreja também, logo Maria é mãe da Igreja.<br /><br />Maria é mãe da Igreja porque é mãe do seu fundador, porque, como discípula do seu filho, seguiu os seus passos juntamente com outras mulheres, e não abandonou a companhia dos seus discípulos depois da morte, ressurreição e ascensão aos Céus do seu filho.<br /><br />Cristo é a cabeça do seu corpo místico que é a Igreja; ora o nascimento da Cabeça é, também, o nascimento do Corpo, o que indica que Maria é, ao mesmo tempo, mãe de Cristo, Filho de Deus, e mãe dos membros do seu corpo místico, isto é, da Igreja. A maternidade divina de Maria não terminou com o nascimento de Jesus; ela está durante toda a sua vida na Terra, e agora no Céu, intimamente unida à obra redentora do seu filho<br /><br />Maria é mãe da Igreja porque, tal como assistiu ao nascimento do Seu filho também assistiu ao nascimento da Igreja, pois ela, como outras discípulas de Jesus, estava junto dos discípulos do seu filho no dia de Pentecostes em que o Espírito Santo desceu sobre eles em forma de línguas de fogo. <br /><br />Mais que mãe da Igreja ela é “Mater ed Magistral” (“Mãe e Mestra”, título da encíclica de João XXIII) porque ela era já mestra nas coisas do Espírito Santo, ela já tinha concebido por obra e graça da terceira pessoa da Santíssima Trindade, por isso ela mais que ninguém podia instruir os apóstolos sobre como preparar-se para O receber. Mais que mãe, ela foi catequista, pois preparou os apóstolos para receberam o Crisma. Podemos dizer que ela foi a Madrinha do Crisma de cada um dos discípulos do seu filho.<br /><br /><b>Conclusão</b>: Maria é mãe da Igreja porque é mãe daquele que a fundou, e por vontade do filho expressa do alto da cruz, mãe de cada um dos seus discípulos, membros da Igreja, que juntos formam o corpo místico de Cristo. Se Maria é mãe de Cristo, cabeça do corpo místico que é a Igreja, também é mãe do corpo. <br /></p><p></p><p style="text-align: right;">Pe. Jorge Amaro, IMC<br /></p><p><br /></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-69953788539772482852023-11-01T05:06:00.000+00:002023-11-01T05:06:47.126+00:00IX Mistério: Aos pés da cruz do seu filho, Maria torna-se Nossa Mãe<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_XHfl2SwR5rLayONQR2VthegkuX2Pm4LjnsAqk9VmzT9G1TC9aoa7cBhyUXlIJ3xdE-ddm6a4EBV-mjCxKNn4C3OBSDuejNuG4tISOl28TVF8nSdRmNQDNRofM4hil4fS4mIIo6qOIdWuuN5XdXnNeuQ890ABv6BBnFRifggoKyrLAfNK0VJG0jTE/s694/18.%209%C2%BAMist%C3%A9rio%20-%20Aos%20p%C3%A9s%20da%20cruz%20do%20seu%20filho%20Maria%20torna-se%20nossa%20m%C3%A3e.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="694" data-original-width="540" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_XHfl2SwR5rLayONQR2VthegkuX2Pm4LjnsAqk9VmzT9G1TC9aoa7cBhyUXlIJ3xdE-ddm6a4EBV-mjCxKNn4C3OBSDuejNuG4tISOl28TVF8nSdRmNQDNRofM4hil4fS4mIIo6qOIdWuuN5XdXnNeuQ890ABv6BBnFRifggoKyrLAfNK0VJG0jTE/s320/18.%209%C2%BAMist%C3%A9rio%20-%20Aos%20p%C3%A9s%20da%20cruz%20do%20seu%20filho%20Maria%20torna-se%20nossa%20m%C3%A3e.png" width="249" /></a></div>Junto à cruz de Jesus, estavam de pé a sua Mãe, a irmã da sua Mãe, Maria, mulher de Cleopas, e Maria Madalena. Então Jesus, ao ver a Mãe e, próximo, o discípulo que amava, disse à Mãe: «Mulher, eis o teu filho». Depois disse ao discípulo: «Eis a tua Mãe». E, a partir daquela hora, o discípulo recebeu-a entre os seus.<b> João 19, 25-27</b><br /><br /><b>Solidário apesar da dor</b><br />Não há nada que te faça mais presente contigo mesmo, mais autoconsciente, que a dor. É de facto uma das melhoras formas de chamar-te a ti mesmo à atenção, provocar dor, nem que seja morder o lábio ou cravar uma unha num dedo. <br /><br />Jesus padecia no corpo pelo cansaço do caminho da cruz, pela falta de alimento e de sono, pela sensação de asfixia provocada por estar pregado a uma cruz, pela perda de muito sangue desde a flagelação e também pela coroa de espinhos espetada na sua cabeça e pelos cravos que lhe trespassavam os pulsos e os tornozelos. <br /><br />Jesus padecia no seu coração o facto de ter sido entregue aos sumos sacerdotes e aos romanos por um dos seus, que comia, dormia e o acompanhava a todo lado, sofria porque o resto dos discípulos o tinham abandonado, sofria porque o povo ingrato, os mesmos que tinham sido beneficiados com os seus milagres e que antes o tinham aclamado como Hosana filho de David, haviam gritado “crucifica-O”, exercendo pressão sobre Pilatos que lhes fizera a vontade. <br /><br />Sofria na alma porque Seu Pai Deus que durante a sua vida esteve tão perto Dele e a quem recorria com frequência, com quem comunicava antes dos momentos mais importantes e dos milagres, esse Pai omnipresente na sua vida estava agora distante ou Jesus assim o sentia ao dizer, “Meu Deus, meu Deus porque me abandonaste?” (Mateus 27, 46, Marcos 15, 34).<br /><br />Apesar de estar a padecer uma dor tripla – no corpo, no coração e na alma – Jesus ainda pensava mais nos outros que n’Ele mesmo. A dor absorve-nos, faz com que nos centremos em nós mesmos e facilmente nos esqueçamos dos outros. Pensemos nas vezes que tivemos uma dor forte, como uma dor de dentes: parece que tudo e todos desaparecem à nossa volta, só nós existimos, só nós contamos. <br /><br />Jesus, apesar do seu sofrimento pessoal, conseguia ser empático com a sua pobre mãe que, como a viúva de Naim, ia ficar sozinha no mundo. E mesmo na cruz sem muito poder fazer, confiou-a ao seu discípulo amado. Aquele que já nos tinha dado tudo, que se tinha dado a si mesmo, dava-nos agora a sua querida mãe em herança. Herdamos de Jesus tantas coisas, até a sua própria mãe. <br /><br />Antes de Jesus eramos apenas criaturas feitas à imagem e semelhança de Deus; com Jesus, fomos adotados por Deus como filhos adotivos e, como Jesus confiou a sua mãe ao discípulo amado, na medida em que também nós somos discípulos de Jesus, somos adotados por Maria sua mãe como filhos. <br /><br /><b>Filho único de sua mãe que era viúva</b><br />Ao contemplarmos Maria aos pés da cruz do seu filho não podemos deixar de recordar o episódio da viúva de Naim que ia sepultar o seu único filho, sendo ela já viúva e ficando assim sozinha no mundo. Também este sofrimento lhe estava destinado e profetizado por Simeão. <br /><br />“Em guerra, caça e amor por um prazer cem dores”, “Quem se obriga a amar obriga-se a padecer”. Não há amor sem sofrimento e o amor de Maria ao projeto de Deus e ao Filho unigénito de Deus também seu filho lhe trouxe mais dor que prazeres, mais sofrimento que alegria. E este derradeiro sofrimento era o pior de todos...<br /><br />“Eu não vou enterrar o meu filho, o meu filho é que me vai enterrar a mim” dizia um pai que sequestrou uma sala de operações de um hospital e obrigou o médico a operar o seu filho por não ter dinheiro para a operação. Não deve haver dor psíquica maior que a de ver um filho padecer e morrer, enquanto a mãe nada pode fazer... <br /><br />Pela ordem natural das coisas, primeiro morrem os pais, depois os filhos. Por isso, ver morrer um filho vai contra a ordem natural das coisas e inutilizar a vida dos pais, que se vão deste mundo sem poder deixar a ninguém a sua herança, seja genética, seja material. <br /><br /><b>Maria, nossa mãe do Céu</b><br /><i>No Céu, no Céu, no Céu, /Um dia a irei ver!<br />Virgem pura, tua ternura /É de alívio ao meu penar; /Noite e dia, de Maria, /A beleza hei de cantar!</i><br /><br />Antes das aparições de Fátima, a pequena Lúcia que não perdia o terço em família ou na Igreja, tinha como cântico mariano preferido o que acima citamos. “No céu um dia a irei ver” referindo-se a Maria; mal ela sabia que ia vê-la ainda na Terra, pois para a ver no céu ia ter de esperar quase cem anos. <br /><br /><i>Com minha mãe estarei /na santa glória um dia/Junto à virgem Maria /no céu triunfarei.<br />No céu, no céu, com minha mãe estarei /No céu, no céu, com minha mãe estarei</i><br /><br />Este outro cântico demonstra também o carinho que o povo português tem por Maria. Os cânticos anteriores e posteriores às aparições de Fátima demonstram quanto o povo português ama a sua Mãe do Céu. <br /><br />À segunda parte da oração do Ave Maria falta-lhe este detalhe, a afirmação de que ela é nossa mãe. Deveria ser assim: Santa Maria mãe de Deus e mãe nossa, rogai por nós, teus filhos pecadores, agora e na hora da nossa morte Amém. <br /><br />Como Abraão para o povo de Sodoma, Moisés para o povo de Deus, Maria era já nossa intercessora. Agora com muito mais razão, ela intercede por nós porque, ao interceder por nós, está a interceder pelos seus filhos. Como Abraão é o nosso pai na Fé, Maria é a nossa Mãe na fé; foi a sua fé, o seu “fiat” que nos trouxe a todos a salvação. <br /><br /><b>Maria, o rosto feminino de Deus</b><br />Umas mulheres judias perguntaram um dia a uma outra mulher judia, professora universitária, sobre qual era na sua opinião a judia mais famosa. E não gostaram de ouvir dos lábios desta professora judia de raça e religião que, quer queiramos quer não, Maria é certamente a judia mais famosa do mundo e eu diria da humanidade inteira, por ser a mãe do verbo incarnado, do Filho unigénito de Deus.<br /><br />Dentro da nossa visão de Deus que sempre será um pouco antropomórfica, se Jesus representa o rosto masculino de Deus, Maria representa o rosto feminino de Deus. O nosso amor por Maria faz-nos recordar os tempos de antanho, quando a humanidade, ainda num estado primitivo de evolução, entendia que Deus era mãe. <br /><br />Para fazer jus a esses tempos, o Papa João Paulo I disse que Deus, mais que Pai, era Mãe. Na pintura de Rembrandt sobre o filho pródigo, vemos de facto que o pai do filho pródigo tem uma mão feminina, a que está sobre o coração do seu filho, e outra masculina. <br /><br /><b>Eva, a nossa progenitora, Maria, a nossa mãe</b><br />Eva não foi a nossa mãe, mas sim a nossa progenitora: só nos deu à luz, mas não nos educou. A mãe que educa, cria e alimenta é chamada na Etiópia “Injera enat”, ou seja, a “mãe do pão” que, muitas vezes, não coincide com a que deu à luz. <br /><br />Tive como colega de noviciado e estudante de teologia um jovem que à tia chamava mãe e à mãe chamava tia. Àquela que o tinha dado à luz, ele chamava tia e àquela que o tinha educado como mãe e que era biologicamente a sua tia, chamava mãe. Eram duas irmãs: uma teve o meu colega de uma forma acidental, mas mais tarde encontrou o homem da sua vida; este não aceitava o filho dela, pelo que a sua irmã, que não pensava em casar-se, ficou com ele para que ela ficasse livre e pudesse iniciar uma vida nova com o seu noivo. <br /><br />O meu colega não tinha para com a sua progenitora a quem chamava tia nenhum sentimento filial e, no entanto, tinha sido ela que o tinha dado à luz; sentimento filial tinha só por aquela que o tinha criado com muito amor, educado e guiado na vida, dedicando-se a ele exclusivamente, pois nunca quisera casar. E, no entanto, a nível biológico, era só a sua tia. <br /><br />No ser humano, a biologia pouco conta. Chamamos-lhe Madre Teresa de Calcutá e suponho que ninguém se atreveria a negar-lhe o título de madre. No entanto, como todos sabemos, ela nunca foi biologicamente mãe, embora se tenha comportado como tal para muitas crianças órfãs e até adultos, que viram nela a mãe que nunca tiveram.<br /><br />A devoção do povo cristão, ao menos dos católicos e ortodoxos, a Maria parte da proximidade que temos com a nossa mãe na Terra. Ela está mais perto de nós que o nosso pai e, muitas vezes, fazemos dela intermediária entre nós e ele, pois temos mais confiança com a nossa mãe que com o nosso pai. <br /><br />Ela está sempre ao nosso lado e acompanha-nos mais que o nosso pai. Esta experiência faz com que o povo cristão tenha por Maria uma especial devoção e projete nela a mesma experiência, o mesmo tipo de relacionamento que teve ou tem com a sua mãe. <br /><br />Maria é nossa mãe porque, como toda a mãe, está atenta às necessidades dos seus filhos, como esteve nas bodas de Caná e está ainda hoje ao visitar-nos em Guadalupe, Lourdes e Fátima. Maria é a nossa mãe porque ela nos educa com o evangelho do seu filho quando nos diz “fazei tudo o que ele vos disser”. Eva foi a nossa progenitora, Ave Maria é a nossa mãe do Céu que acompanha a nossa vida na Terra até nos unirmos a ela no Céu.<br /><br />A imagem que ilustra este texto representa São Bernardo, um grande amante da devoção mariana, recebendo o leite maternal da Virgem Maria. Uma imagem que choca as nossas mentalidades de hoje em dia, mas que estava muito de acordo com a piedade medieval mariana que exaltava os seios da nossa mãe celeste como os exalta aquela mulher do evangelho de São Lucas.<br /><br />De São Bernardo é também conhecida a oração mariana chamada “Memorare” que exalta a Maria como mãe e, como tal, intercessora por nós no Céu:<br /><br />Lembrai-vos, ó puríssima Virgem Maria, <br />que nunca se ouviu dizer que algum <br />daqueles que tenha recorrido à Vossa proteção, <br />implorado a Vossa assistência e reclamado o Vosso socorro, <br />fosse por Vós desamparado.<br /><br />Animado eu, pois, de igual confiança, <br />a Vós, Virgem entre todas, singular, <br />como a Mãe recorro, de Vós me valho, <br />e, gemendo sob o peso dos meus pecados, <br />me prostro aos Vossos pés. <br />Não desprezeis as minhas súplicas, <br />ó Mãe do Filho de Deus humanado, <br />mas dignai-Vos de as ouvir propícia <br />e de me alcançar o que vos rogo. Ámen<br /><br /><b>Conclusão</b>: Eva é a nossa progenitora, Ave Maria é a nossa Mãe, pois é ela que nos educa, dando à luz a Palavra Deus em forma humana, a referência de humanidade, Jesus de Nazaré. <br /><p></p><p style="text-align: right;">Pe. Jorge Amaro, IMC<br /></p><p><br /> </p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-38191374800446935672023-10-15T05:15:00.000+01:002023-10-15T05:15:52.843+01:00VIII Mistério, Maria discipula e mãe<p><i></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUtVai7KVpRbcvT4j9JRXUOrdLVzYhR5eqYPwVt_Wjc12RmRNX301bazs2pV0z-WDmR2atABBfPbpPHs2AnkDtg_puHSS9mqLR6kYUb4PcFTNZrBqsyvsOpJbUzlOyG1VNytl6YRDCJOyQ7BcERkJVBCkpkyqmxWDAeNEyoj0ZB6XoL7pWlB-DbhxL/s900/17.%208%C2%BAMist%C3%A9rio%20-%20Maria,%20disc%C3%ADpula%20e%20m%C3%A3e%20de%20Jesus.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="900" height="192" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUtVai7KVpRbcvT4j9JRXUOrdLVzYhR5eqYPwVt_Wjc12RmRNX301bazs2pV0z-WDmR2atABBfPbpPHs2AnkDtg_puHSS9mqLR6kYUb4PcFTNZrBqsyvsOpJbUzlOyG1VNytl6YRDCJOyQ7BcERkJVBCkpkyqmxWDAeNEyoj0ZB6XoL7pWlB-DbhxL/s320/17.%208%C2%BAMist%C3%A9rio%20-%20Maria,%20disc%C3%ADpula%20e%20m%C3%A3e%20de%20Jesus.jpg" width="320" /></a></i></div><i>Enquanto ele assim falava, uma mulher levantou a voz do meio do povo e lhe disse: “Bem-aventurado o ventre que te trouxe, e os peitos que te amamentaram! Mas Jesus replicou: “Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a observam</i>! <b>Lucas 11, 27-28</b><br /><br /><i>Jesus falava ainda à multidão, quando veio sua mãe e seus irmãos e esperavam do lado de fora a ocasião de lhe falar. Disse-lhe alguém: “Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar-te”. Jesus respondeu-lhe: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?”. E, apontando com a mão para os seus discípulos, acrescentou: “Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe</i>. <b>Mateus 12, 46-50</b><br /><br />Estes dois textos devem ser lidos no contexto um do outro. No primeiro, a maternidade de Maria é exaltada; no segundo, esta não é rebaixada porque os dois textos dizem o mesmo, isto é, a maternidade de Maria é consequência do seu discipulado. Maria, antes de ser mãe, foi discípula pois ouviu a Palavra de Deus por intermédio do Arcanjo Gabriel e colocou-a em prática ao aceitar ser a mãe do filho unigénito de Deus. Maria foi mãe porque foi discípula e não discípula porque foi mãe. <br /><br />Em certo sentido, Maria não é mãe por especial privilégio, mas por ter sido discípula. “Feliz és tu porque acreditaste”, diz a sua prima Isabel, o que significa que infeliz teria sido Maria se não tivesse acreditado. Em Maria, como em todos nós, foi a fé que a salvou e o cumprimento da Palavra que a fez mãe de Jesus. <br /><br />Este mesmo caminho nos é oferecido por Jesus, o de sermos íntimos com ele tal como ele e sua mãe o são. Basta ouvir a Palavra e colocá-la em prática. Pois quem me ama, diz Jesus, ou seja, quem é ou pretende ser íntimo comigo, cumpre os meus mandamentos (João 14, 21). <br /><br />Ouvir a Palavra sem a pôr em prática é como construir uma casa ou uma vida sobre a areia (Mateus 7, 21-27) e estar à mercê dos ventos e das marés, dos tempos, das modas e das situações, ser uma pessoa sem personalidade própria guiada pelo exterior, uma cana agitada pelo vento, (Mateus 11, 7) e, ao fim de uma vida inconsequente arriscar a que o Senhor, ao batermos à porta da eternidade, nos diga lá de dentro que não nos conhece (Lucas 13, 27).<br /><br />Uma outra forma de provar que a maternidade, tanto em Maria como em todos nós, é consequência do discipulado, ou seja, do ouvir a palavra e colocá-la em prática, é o facto de que Jesus entregou sua mãe nos braços do discípulo amado, ou seja, do discípulo preferido, do que melhor cumpria a sua palavra. Esse discípulo, por ser autêntico, passou a ser também filho da Sua mãe. (João 19, 25-27)<br /><br /><b>Textos e contextos</b><br />O texto que exalta a maternidade de Maria é único em Lucas, não tem paralelo nem em Mateus nem em Marcos. Se as feministas tivessem que escolher um evangelho, Lucas seria certamente o evangelho eleito, pois é o que coloca mais atenção no feminino, o que confere mais protagonismo às mulheres, tanto na vida de Jesus como nas suas parábolas e eventos. <br /><br />Ambos os textos acima citados, Lucas 11, 27-28 e Mateus 12, 46-50, são precedidos pelo episódio da alma limpa de demónios que, ao não ser preenchida com boas obras, foi assaltada por outros demónios piores, ficando numa situação pior que antes. <br /><br />Deste facto podemos concluir que o episódio da alma e dos demónios serve, tanto para Lucas como para Mateus, de ilustração e prova de que de facto a Palavra de Deus ou é posta em prática ou de nada lhe aproveita ao que a escuta, podendo a sua situação ficar pior depois de ter escutado a Palavra e não a ter posto em prática como o jovem rico. <br /><br /><b>Espiritualidade negativa</b><br /><i>Quando um espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso; não o achando, diz: Voltarei à minha casa, donde saí. Chegando, acha-a varrida e adornada. Vai então e toma consigo outros sete espíritos piores do que ele e entram e estabelecem-se ali. E a última condição desse homem vem a ser pior do que a primeira.</i> <b>Lucas 11, 24-26</b><br /><br />O texto não o diz, mas as palavas da mulher foram certamente inspiradas pelo Espírito Santo. Para fazer justiça à mulher, o texto devia dizer “uma mulher no meio do povo cheia do Espírito Santo exclamou…” A exclamação da mulher aconteceu depois de Jesus ter narrado o que acontece quando uma pessoa consegue erradicar o mal da sua alma, mas não a enche de bem. A sabedoria de Jesus chegou ao coração desta mulher.<br /><br />Este texto é insólito, mas alude a uma espiritualidade a que eu chamo de negativa, ou seja, colocar todo o nosso tempo e energia a combater o mal sem fazermos nada de bom. Diz o povo, quando a morte vier que nos apanhe confessados, ou seja, o importante é não ter pecado. Esta espiritualidade é negativa, pois o foco não está em fazer o bem, mas sim em evitar o mal, em não pecar.<br /><br />Uma pessoa não é boa porque evita o mal, mas porque faz o bem. Quem evita o mal supera a negatividade e coloca-se a zero; só quem faz o bem se coloca acima de zero. O jovem rico que foi ter com Jesus eram um digno representante do Antigo Testamento, pois desde os seus tempos de criança tinha observado os mandamentos; mas quando Jesus lhe pediu uma única coisa positiva, voltou atrás; evitar o mal é bem mais fácil que sair da minha zona de conforto e fazer o bem.<br /><br />O sacerdote e o levita passaram ao largo do homem roubado e agredido pelos salteadores e que jazia à sua frente, precisando de ajuda porque a preocupação deles não era fazer o bem, mas evitar o mal. O mal que presenciavam nesse momento não tinha sido causado por eles, por isso era perfeitamente moral passar-lhe ao largo. Uma vida baseada em evitar o mal leva à falta de solidariedade para com o próximo. Como a melhor defesa é o ataque, a melhor maneira de combater o mal é fazer o bem.<br /><br /><b>A natureza tem horror ao vazio</b><br />É uma lei da física cuja aplicação no campo espiritual vemos exemplificada no texto evangélico que abre este artigo. A mania da limpeza é uma doença psíquica: há pessoas que passam a vida a lavar as mãos. Talvez possam apresentar-se diante de Deus com as mãos limpas, mas Deus vai dizer-lhes que estão vazias… <br /><br />Se quisermos retirar o ar de um copo podemos extraí-lo artificialmente com uma máquina, criando um vácuo ou podemos naturalmente enchê-lo de vinho. Ou seja, se ocuparmos o tempo e as energias dos nossos dias a fazer o bem, não nos resta tempo para fazer o mal. Desta forma, matamos dois coelhos com a mesma cajadada, fazemos o bem e evitamos o mal. É isto que sugere o texto insólito de Jesus sobre uma alma vazia sem mal nenhum dentro que, se não for preenchida com bem, rapidamente volta a ser ocupada pelo mal. <br /><br />No Juízo Final, os que se salvam são os que socorreram o Senhor no pobre e desvalido e lhe deram de comer, de beber, o acolheram quando era estrangeiro ou peregrino, o vestiram quando estava nu e o visitaram quando estava na prisão ou no hospital. <br /><br />Os que se condenaram não foram os maus, mas os que voltaram as costas a todas as oportunidades que a vida lhes deu para fazerem o bem, pois a sua preocupação era evitar o mal (Mateus 25, 31-46). São os maus samaritanos, os que passam ao largo quando vêm um irmão em necessidade, os que dizem que o problema não é seu. <br /><br />Segundo o texto do juízo final em Mateus 25, a nossa confissão já não deveria ser fazer um exame de consciência para buscar o mal que fizemos, mas sim buscar o bem que não fizemos. Devíamos até esquecer o mal que fizemos e praticar o bem, procurar oportunidades para fazer o bem e não perder as que a vida nos apresenta para isso. São os pecados de omissão que levam à condenação, as oportunidades que tivemos de fazer o bem e em que nada fizemos. <br /><br /><b>O mandamento do amor e a regra de Ouro</b><br />Jesus substituiu os 10 mandamentos que praticamente só nos dizem o que não devemos fazer, por um mandamento positivo: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. (Mateus 22, 37-39). Sto. Agostinho é quem melhor interpreta estes dois mandamentos na sua célebre frase, “Ama e faz o que queres”. O que fazes por amor nunca será errado. Entendendo, é claro, o amor como o define S. Tomás de Aquino, amar é querer o bem do outro. <br /><br /><i>"Guarda-te de jamais fazer a outrem o que não quererias que te fosse feito.”</i><b> Tobias 4, 16</b><br /><i>Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois esta é a Lei e os Profetas</i>. <b>Mateus 7,12</b><br /><br />A própria regra de ouro existe em todas as religiões e a Bíblia formula-a numa regra que todos aprendemos nos bancos da catequese: “Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti”. O minimalismo está tão enraizado na nossa psique, a espiritualidade negativa de evitar o mal sem fazer o bem, que os nossos catequistas não nos ensinaram a regra de ouro de Jesus que está redigida em tom positivo. Ensinaram-nos sim a regra negativa, a que se encontra no livro de Tobias e que é a regra dos judeus, incluída no Antigo Testamento. <br /><br /><b>Conclusão </b>– Maria é mãe de Jesus porque antes foi discípula, ou seja, ouviu a Palavra e a colocou em prática. Se ouvirmos a Palavra e a colocarmos em prática, também nós podemos gozar da mesma intimidade que Jesus e Sua mãe tinham.<br /><p></p><p style="text-align: right;">Pe. Jorge Amaro, IMC<br /></p><p><br /><br /></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-11172406676360509282023-10-01T05:05:00.000+01:002023-10-01T05:05:06.306+01:00VII Mistério: A mediação de Maria nas bodas de Caná de Galileia<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSEaOwaCuebnFoVraR30izPyqSiQQl7_THfoT_QXFJp6yhjN7PL8WI_ZSEMANlS3wmeyh5uVVyO6BPAkM87604_Vwqc_FM0X5xTtCtzW2X6GuTJfruGuKqapRqt62eDGbp3eAj4tnRGJQPq3gtVq7HTo0g_XsJJUqf5p8ddjivOceaaMyjXaReNjAF/s750/16.%207%C2%BAMist%C3%A9rio%20-%20A%20media%C3%A7%C3%A3o%20de%20Maria%20nas%20bodas%20de%20Cana%20da%20Galileia.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="562" data-original-width="750" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSEaOwaCuebnFoVraR30izPyqSiQQl7_THfoT_QXFJp6yhjN7PL8WI_ZSEMANlS3wmeyh5uVVyO6BPAkM87604_Vwqc_FM0X5xTtCtzW2X6GuTJfruGuKqapRqt62eDGbp3eAj4tnRGJQPq3gtVq7HTo0g_XsJJUqf5p8ddjivOceaaMyjXaReNjAF/s320/16.%207%C2%BAMist%C3%A9rio%20-%20A%20media%C3%A7%C3%A3o%20de%20Maria%20nas%20bodas%20de%20Cana%20da%20Galileia.jpg" width="320" /></a></div>Três dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galileia, e achava-se ali a mãe de Jesus. Também foram convidados Jesus e os seus discípulos. Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: “Eles já não têm vinho”. Respondeu-lhe Jesus: “Mulher, isso compete-nos a nós? A minha hora ainda não chegou”. Disse, então, a sua mãe aos serventes: “Fazei o que ele vos disser”. J<b>oão, 2, 1-12</b><br /><br />No evangelho de São João, ao fim do capítulo anterior, Jesus disse a Natanael “verás coisas maiores do que esta” (João 1, 50). As bodas das quais nos fala o capítulo seguinte deram-se em Caná da Galileia, precisamente a cidade de Natanael. O último vinho que nas bodas normais é o pior, nestas bodas que são também um símbolo das bodas nas quais Deus Pai casa o seu filho com a humanidade (Lucas 14, 15-24), o último vinho é o melhor. <br /><br />Natanael foi declarado por Jesus como “Um verdadeiro israelita no qual não há falsidade” (João 1, 47). Portanto podemos concluir que, neste texto, Natanael representa o povo judeu no seu melhor. Para este povo, que também é comparado à Vinha do Senhor (Salmo 79), o melhor estava para vir; pelo que o último vinho é o próprio Jesus, o vinho novo para o qual é preciso ter odres novos, ou seja, mentes novas e abertas para poder conter a potência de um vinho cheio de espírito. <br /><br />Havia seis potes de água de pedra; e ao comando de Jesus a água neles transformou-se em vinho. De acordo com os judeus, sete é o número que é completo e perfeito; e seis é o número que é inacabado e imperfeito. Pelo que, os seis potes de água em pedra representam todas as imperfeições da lei judaica. Jesus veio acabar com as imperfeições da lei e colocar no seu lugar o novo vinho do evangelho da sua graça. Jesus transformou a imperfeição da lei na perfeição da graça.<p></p><p>A quantidade de vinho é astronómica: 680 litros de vinho. Em nenhuma boda neste planeta se poderia beber tal quantidade; o que João quer dizer é que a graça que veio em Jesus e por Jesus é tamanha que chega para todos em todo o mundo para todos os tempos e ainda sobra, pois é ilimitada como o próprio Deus. “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (João 10, 10).<br /><br />Para esta boda estavam convidados a mãe de Jesus e os seus irmãos. Jesus provavelmente convidou os seus discípulos também. Nesta boda, Jesus deixa de ser o filho de Maria para ser o Senhor, o mestre dos seus discípulos. É uma boda de despedida em que Jesus se embrenha na sua vida pública e corta o cordão umbilical que o une à família. Mais tarde, como sabemos, estes dois grupos, os irmãos do Senhor e os seus discípulos, não vão dar-se bem até a questão ser dirimida no Concílio de Jerusalém, presidido não por Pedro mas por Tiago, o menor e irmão do Senhor. <br /><br /><b>“Eles já não têm vinho”</b><br />Maria, a mãe do Senhor, depois que visitou a sua prima Isabel, continua a visitar o seu povo, em Fátima, Guadalupe e Lourdes e em tantos outros sítios, porque ela é um bom samaritano (Lucas 10, 25-37). Ela é uma boa observadora, tal como Deus Pai, das necessidades dos outros (Êxodo 3, 7) e, tal como Deus Pai, compadece-se do pobre e do aflito. <i> </i></p><p><i>O Senhor dos exércitos fará neste monte para todos os povos um banquete de manjares substanciosos, de vinhos bons, de carnes gordas e tenras, de vinhos escolhidos e depurados</i>. <b>Isaías, 25, 6</b><br /><br />Naquele tempo, como em todos os tempos, faltar vinho numa boda era um autêntico desastre. O vinho tem lugar numa boda, tal como a carne. Uma boa comida sem vinho não apetece. Seria uma desonra para os noivos e um mau presságio que o vinho acabasse sem que os convivas se sentissem saciados. Maria anteviu tudo isto e dirigiu-se ao seu filho para que ele resolvesse a situação. É ele o salvador, não ela; é ele que pode fazer alguma coisa, remediar a situação, salvar a reputação dos noivos, não ela. <br /><br />Maria que é a medianeira da Graça principal que é a vinda de Deus ao mundo, pois por ela veio e nela incarnou, provou, neste episódio das bodas de Caná, ser a medianeira de todas as graças pequenas ou grandes. Tudo o que Maria pede ao seu filho este concede. Maria é a nossa intercessora no Céu, ela observa o que nos falta e reporta ao seu filho. <br /><br />A Vinha do Senhor que representa a casa de Israel (Salmo 79) já deu o que tinha a dar, já não produz fruto. Deus que manda sucessivos profetas à procura do fruto da uva não o encontra e, finalmente, manda o seu filho e os vinhateiros têm a ousadia de o matar fora da vinha. (Marcos 12, 1-12). O vinho na Bíblia significa geralmente alegria. Eis alguns dos muitos textos que testemunham isto mesmo:<br /><br /><i>Regressarão entre gritos de alegria às alturas de Sião, acorrendo aos bens do Senhor: ao trigo, ao vinho e ao óleo, ao gado menor e ao maior. Sua alma se assemelha a jardim bem regado, e sua fraqueza cessará.</i> <b>Jeremias 31, 12</b><br /><br /><i>Fazeis brotar a relva para o gado, e plantas úteis ao homem, para que da terra possa extrair o pão e o vinho que alegra o coração do homem, o óleo que lhe faz brilhar o rosto e o pão que lhe sustenta as forças.</i> <b>Salmos 103, 14-15</b><br /><br /><i>E as árvores disseram à videira: “Vem tu, reina sobre nós!”. Mas a videira respondeu: Poderia eu renunciar ao meu vinho que faz a alegria de Deus e dos homens, para colocar-me acima das outras árvores?</i> <b>Juízes 9, 12-13</b><br /><br /><i>Faz-se festa para se divertir; o vinho alegra a vida…</i> <b>Eclesiastes 10, 19</b><br /><br /><i>Afastaram-se a alegria e o regozijo dos vergéis da terra de Moab; fiz com que secasse o vinho nos lagares; já não se amassam as uvas entre gritos de alegria…</i> <b>Jeremias 48, 33</b><br /><br /><i>Já não beberei mais do fruto da vinha até ao dia em que o beberei de novo convosco no Reino de meu Pai</i>. <b>Mateus, 26, 29</b><br /><br />Maria é a humilde filha de Sião, a virgem que deu à luz o vinho novo, Deus connosco, é a esperança de Israel, um rebento novo de uma vinha seca que já não produz vinho. Dela jorrará um vinho que é a salvação e sanação da humanidade. Nela e por ela, a vinha volta a produzir e há alegria já não só para Israel, mas para o mundo inteiro.<br /><br /><b>“Mulher, isso compete-nos a nós?”</b><br />Maria é uma mãe que corta o cordão umbilical com o seu filho e, em vez de o reter para si, o lança para a vida ainda antes de este, hesitante, pensar que já tenha chegado a sua hora. Faz recordar as andorinhas que lançam os seus filhos para fora do ninho pois chegou a altura de voarem para poderem emigrar para terras mais quentes quando o inverno vier. <br /><br />As andorinhas não levantam voo do chão; por isso, o primeiro voo fora do ninho, se correr mal, pode também ser o último. Maria corre esse risco com Jesus, de o lançar demasiado cedo. Mas também ela era assistida pelo Espírito Santo, pelo que atuou com audácia e determinação.<br /><br />A inicial relutância de Jesus em fazer o milagre é pedagógica, como acontece no caso da mulher sírio- fenícia. O que quer dizer é que mesmo que Jesus não queira ou que não esteja nos seus planos ajudar-nos, se fizermos o pedido por intermédio da sua Mãe Santíssima, ele não vai recusá-lo pois agora não é só um pedido nosso é também um pedido dela. Ela, por nós, coloca todo o seu peso, todo o seu valor, toda a sua importância e poder de influência nesse pedido, por isso Jesus não pode recusá-lo. <br /><br />A desculpa de Jesus de que a falta de vinho não nos diz respeito a nós, é de facto a desculpa de todo o mau samaritano. Maria faz seu o problema dos outros, é empática. Muitas pessoas veem as necessidades dos outros e tal como os sacerdotes na parábola do bom samaritano, passam ao largo, pois pensam que o problema não é seu. Hoje sou eu que tenho uma necessidade, amanhã podes ser tu; por isso, o que queres que os outros te façam, faz tu aos outros: esta é a regra de ouro positiva de Jesus. (Mateus 7, 12)<br /><b><br />“A minha hora ainda não chegou”</b><br />Jesus vê a sua vida como uma missão: não tem mãos a medir, o tempo é curto, não tem passatempos nem mata o tempo. É neste sentido que devemos entender esta frase, a sua missão ainda não começou, ainda está no tempo da preparação para ela. Lucas descreve a vida de Jesus numa peregrinação para Jerusalém; e, nesta peregrinação, todos os lugares e eventos apontam para a hora final da sua morte e redenção da humanidade. <br /><br />Jesus parece ter sempre uma agenda cheia e tudo está devidamente organizado, controlado e calculado: <br /><br /><i>Vamos às aldeias vizinhas, para que eu pregue também lá, pois, para isso é que vim”. Ele retirou-se dali, pregando em todas as sinagogas e por toda a Galileia, e expulsando os demónios</i>. <b>Marcos 1, 38-39</b><br /><br /><i>Disse-lhes ele: “Ide dizer a essa raposa: eis que expulso demónios e faço curas hoje e amanhã; e ao terceiro dia terminarei a minha vida. É necessário, todavia, que eu caminhe hoje, amanhã e depois de amanhã, porque não é admissível que um profeta morra fora de Jerusalém</i>. <b>Lucas 13, 32-33</b><br /><br /><b>“Fazei o que ele vos disser”</b><br />A resposta de Jesus ao apelo da sua mãe, foi duplamente negativa; a primeira sacudindo a água do capote, dizendo que o problema não era nem seu nem dela e a segunda dizendo que, mesmo que pudesse e quisesse fazer alguma coisa, ainda não tinha chegado a sua hora.<br /><br />Grande é a fé de Maria como a da mulher sírio-fenícia do evangelho (Mateus 15, 21-28) que não se desencoraja pelas negativas de Jesus e continua a acreditar que ele pode curar a sua filha e vai curá-la. Maria também faz ouvidos surdos às palavras negativas de Jesus e está tão certa de que ele vai fazer alguma coisa para solucionar o problema, remediar a situação, que imediatamente diz ela aos serventes que se coloquem à disposição do seu filho, para fazerem de imediato o que ele lhes ordenar.<br /><br />É como se Maria nos dissesse, a cada coisa que lhe pedimos, “considera-o já feito o que acabas de me pedir”, ainda antes de referir a matéria ao Seu filho, porque sabe que um bom filho nunca recusa o pedido de uma mãe. Por outro lado, a nossa querida mãe do Céu não incomoda o seu filho por qualquer coisa, mas apenas quando se trata de um problema grave; e aquele problema das bodas de Caná era grave. <br /><br />Podemos interpretar à letra este evangelho – faltar vinho numa boda – ou interpretá-lo metaforicamente, ou seja, a humanidade sem o vinho novo que é Jesus não tem alegria de viver, vive deprimida e sem sentido; e a depressão como sabemos, pode levar ao suicídio. <br /><br />Fazer a vontade de Jesus é de facto a atitude do verdadeiro discípulo; mais que isso, é a condição “sine qua non” para sermos ou não sermos discípulos de Jesus: Mateus 23, 3 – Lucas 11, 28 – Mateus 6, 1 – João 13, 17 – Mateus 7, 23 - João 3, 21 – Mateus 7, 21-24 – Mateus 28, 18-20 – Lucas 11, 28.<br /><br />Jesus tinha como alimento fazer a vontade do Pai (João 4, 34) o verdadeiro discípulo de Jesus não pode ter outro alimento senão ouvir a Palavra, digeri-la (Jeremias 15, 16) e fazer dela vida, ou seja, encarnando-a em todos e cada um dos seus atos, a ponto de poder ser outro Cristo na terra e assim continuar a sua obra de salvação. <br /><br /><b>Conclusão</b>: Como embaixadora, Maria, informa o seu Filho das necessidades dos homens - “Não têm vinho…”; e informa os homens do que precisam de fazer para que essas necessidades sejam satisfeitas – “Fazei tudo o que ele vos disser…”<br /></p><p style="text-align: right;">Pe. Jorge amaro, IMC<br /></p><p><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /> </p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-41205938461702026282023-09-15T16:38:00.001+01:002023-09-16T23:57:58.298+01:00VI Mistério: A Sagrada Família, triângulo de amor e harmonia 2ª Parte<p><i></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT_GnEIGSHgnNhY-MMRZDHPTKhvf9HLUcFBWMwo-2ZZQkj645UlTuovGtRwQfSMqSaziewRD-MryYs7q0pfdek9OYvJKZjpUVTeH-gpOBpkY0IXwJFWUhwgFCmZq1oOPLm-HRJJ42C27ylasofKVN9rZ-ePv4vMBfieVK_qpZZquTWhLzB8Yuzf_Bd/s2816/15.%206%C2%BAMist%C3%A9rio%20-%20A%20Sagrada%20Fam%C3%ADlia,%20triangulo%20de%20amor%20e%20harmonia%20-%202%C2%AAParte.gif" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2816" data-original-width="2112" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT_GnEIGSHgnNhY-MMRZDHPTKhvf9HLUcFBWMwo-2ZZQkj645UlTuovGtRwQfSMqSaziewRD-MryYs7q0pfdek9OYvJKZjpUVTeH-gpOBpkY0IXwJFWUhwgFCmZq1oOPLm-HRJJ42C27ylasofKVN9rZ-ePv4vMBfieVK_qpZZquTWhLzB8Yuzf_Bd/s320/15.%206%C2%BAMist%C3%A9rio%20-%20A%20Sagrada%20Fam%C3%ADlia,%20triangulo%20de%20amor%20e%20harmonia%20-%202%C2%AAParte.gif" width="240" /></a></i></div><i>Três dias depois acharam-no no templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. Todos os que o ouviam estavam maravilhados com a sabedoria das suas respostas. Quando eles o viram, ficaram admirados. E sua mãe disse-lhe: “Meu filho, que nos fizeste?! Eis que teu pai e eu andávamos à tua procura, cheios de aflição.</i>” <b>Lucas 2, 46-48</b><br /><br /><b>Observam sem julgar </b><br />Parece que os pais de Jesus conheciam já as normas da comunicação não violenta, pois não julgam, não criticam nem castigam o comportamento de Jesus. Apenas se limitam a observar o comportamento do seu filho e a comunicar-lhe essa observação. Ao passarem para Jesus a sua observação, fazem-no assertivamente, não agressivamente, tendo o cuidado de se responsabilizarem pelo sentimento de aflição, sem acusar Jesus de ser o causador dessa aflição.<br /><br /><b>Não pretendem ter a última palavra</b><br /><i>Respondeu-lhes ele: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?”. Eles, porém, não compreenderam o que ele lhes dissera</i>.<b> Lucas 2, 49-50</b><br /><br />Nas nossas famílias, durante a nossa infância, eram sempre os nossos pais que tinham a última palavra. O mesmo não acontece com a Sagrada Família de Nazaré. Neste episódio, é Jesus que tem a última palavra; a ignorância e a falta de compreensão dos pais de Jesus sobre a sua vida e ministério não os faz violentos nem quererem ter sempre razão.<br /><br /><b>Como diz S. Paulo, não usou os seus pergaminhos, rebaixando-se até à morte e morte de cruz</b><br /><i>Em seguida, desceu com eles a Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração. E Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens.</i> <b>Lucas 2, 51-52</b><br /><br />Jesus deve ter sido um menino prodigioso, como tantos no nosso mundo. Precoce em muitas coisas que decerto causavam admiração nos seus pais e vizinhos. No entanto, além de todos os talentos que Jesus possuía, era inerente à sua pessoa uma atitude de humildade que o fazia acatar com obediência as ordens dos seus pais. <br /><br /><b>José, o sonhador</b><br /><i>Um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar”. José levantou-se durante a noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito. Ali permaneceu até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta: do Egito chamei meu filho (Os 11,1).</i> <b>Mateus 2, 13- 15</b><br /><br />José transcendeu o seu próprio ego e ouviu a palavra de Deus à qual obedeceu prontamente, tendo partido para o Egito para salvar a vida do seu filho. A Sagrada Família sabe o que é ser perseguida politicamente, e sabe o que é ser refugiada política e emigrante num país que não é o seu. Fugiam de um genocídio que é coisa que sempre aconteceu e ainda acontece no nosso mundo. E o pior genocídio do nosso tempo é o aborto. O ser humano é o único animal que mata as suas próprias crias.<br /><br />Herodes, o grande, pensou que era justificado aos olhos dos seus súbditos matar tantos inocentes pelo medo de que um destes pequenos inocentes lhe roubasse o trono. Líderes como este sempre encheram e enchem o mundo: pessoas que se apaixonam pelo poder conquistado e não mais o largam, sendo capazes de tudo para o ter e manter.<br /><br />Quando cada membro da família põe de lado os seus projetos pessoais, como José, para obedecer ao projeto comum que é sempre aquele que Deus inspira nas nossas almas e corações, então todos os membros da família encontram a felicidade e a autorrealização. Herodes amava Herodes e as suas próprias ambições; e isso levou-o até a assassinar os seus próprios filhos.<br /><br />José está sempre ao serviço da família, por isso a família está em primeiro lugar. Herodes coloca os seus projetos em primeiro lugar e a família fica em último; temos exemplos de grandes políticos que têm filhos problemáticos porque as suas famílias são disfuncionais por causa dos pais que, à semelhança de Herodes, colocam os seus projetos em primeiro lugar. Os filhos dos famosos raramente são famosos como os pais…<br /><br />Muitos pais, nos seus trabalhos, fazem horas extraordinárias porque o patrão os faz pensar que são imprescindíveis: os pais aceitam de bom grado, pois assim têm mais meios financeiros para a sua família. Dizem que não querem que lhes falte nada mas, na realidade, falta-lhes o mais importante: a presença e o amor que não se concretiza sem esta. A falácia é que se o trabalhador morrer ou ficar doente, o patrão depressa o substitui. É na família, como pai ou mãe, que um trabalhador ou trabalhadora é verdadeiramente insubstituível. <br /><br /><b>O que pensam os familiares de Jesus</b><br /><i>Quando os seus o souberam, saíram para o reter; pois diziam: “Ele está fora de si.</i>” <b>Marcos 3, 21</b><br /><br />Uma mãe que toda a sua vida guarda silêncio e guarda no seu coração com respeito todas as coisas que não entende da vida e do ministério do seu filho, não vai ter uma atitude como a que nos descreve o evangelista S. Marcos. São os outros familiares, os primos de Jesus, um deles provavelmente Tiago que depois foi o líder da primeira comunidade cristã de Jerusalém, foram estes familiares de Jesus, não a sua mãe, que se antagonizaram com o seu ministério. E que mais tarde se antagonizariam com os discípulos de Jesus.<br /><br />Numa monarquia, quem sucede ao rei é um familiar do rei, se este não deixar descendência. O líder da comunidade cristã não era Pedro, como poderíamos pensar que fosse por ordem do Mestre, mas sim o primo de Jesus, Tiago. Vê-se claramente isto no concílio de Jerusalém, quando se debate sobre obrigar ou não os cristãos que anteriormente tinham sido judeus a respeitar as leis judaicas ou não. Pedro inspira a decisão, mas quem decide é Tiago, pois é este que tem a última palavra. <br /><br />A divisão entre familiares de Jesus e discípulos de Jesus poderia ter acontecido na Igreja como aconteceu entre os muçulmanos: os xiitas descendentes do profeta por via de Fátima, a sua filha preferida, e os sunitas descendentes dos primeiros discípulos do profeta. <br /><br />Jesu deixou bem claro que o verdadeiro discípulo, ou seja, o que ouve a sua palavra e a põe em prática é que é a sua mãe, irmão e irmã. (Lucas 8, 21)<br /><br />E para que não ficassem dúvidas, chamou a João filho da sua própria mãe e a esta mãe do seu discípulo preferido. (João 19, 26)<br /><br /><b>A Mãe de Jesus e nossa mãe</b><br /><i>Quando Jesus viu sua mãe e, perto dela, o discípulo que amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis aí o teu filho.” Depois disse ao discípulo: “Eis aí a tua mãe”. E dessa hora em diante o discípulo a recebeu como sua mãe.</i> <b>João 19, 26-27</b><br /><br />Os evangelhos apresentam um Jesus às vezes distante e com pouca consideração pela sua mãe. Porém, a prova de que isto não é verdade está aqui. Mesmo no auge do seu sofrimento na cruz, Jesus não esquece a sua mãe, não esquece que, tal como a viúva de Naim a quem ele tinha devolvido a vida do filho, a sua mãe era viúva, estava a assistir à morte do seu único filho e se preparava para ficar sozinha no mundo.<br /><br />A avó, com as suas mãos trémulas, deixou um dia cair um prato de fina louça chinesa de sua filha, em casa de quem vivia. A filha ficou furiosa com a própria mãe e mandou o seu filho comprar um prato de plástico no qual ela deveria comer doravante. O rapaz olhou para a sua mãe com ar de desaprovação e recusou-se a ir comprar o prato de plástico. No entanto, acabou por ter de obedecer e lá foi. Ao voltar a casa, apresentou dois pratos de plástico sobre a mesa. A mãe irritada perguntou por que havia comprado dois quando lhe tinha dito que comprasse só um. “O outro,” disse o moço, “é para ti quando fores idosa como a avó.” <br /><br />Os pais amparam os filhos na sua infância e estes devem amparar os pais na sua velhice. Mas nem sempre assim acontece neste mundo onde o que conta é ser consumidor e produtor. Quando não se pode ser nem uma coisa nem outra, deixamos de ter lugar na sociedade.<br /><br /><b>Conclusão </b>– Tal como Jesus é para nós, enquanto indivíduos, Caminho, Verdade e Vida, a sua família, a Sagrada Família é também para nós, membros de uma família, modelo de vida familiar a imitar.<br /><p></p><p style="text-align: right;">Pe. Jorge amaro, IMC<br /></p><p><br /><br /></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-91785377867718716922023-09-01T13:25:00.001+01:002023-09-01T13:25:08.861+01:00VI Mistério: A Sagrada familia, triângulo de amor e harmonia - 1ª Parte<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFsIy2r1PGBVFVaqHunjldIu4XbbHOPmhMLgPJ4Thnp3f_JGGFsUMigsp9JRnOg3pey_hU2ZcPXKa6l3JsKwWj36eqTFdkZfV3Qvx-nIHdzZlkZlNIYr_LePuUe0Upedsk53r4YWCa76Ob71vuSOUPPusz4nnNyVMFe1WEXIpjiefdl3UZMzdeEFHh/s1800/14.%206%C2%BAMist%C3%A9rio%20-%20A%20Sagrada%20Fam%C3%ADlia,%20triangulo%20de%20amor%20e%20harmonia%20-%201%C2%AAParte.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1800" data-original-width="1192" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFsIy2r1PGBVFVaqHunjldIu4XbbHOPmhMLgPJ4Thnp3f_JGGFsUMigsp9JRnOg3pey_hU2ZcPXKa6l3JsKwWj36eqTFdkZfV3Qvx-nIHdzZlkZlNIYr_LePuUe0Upedsk53r4YWCa76Ob71vuSOUPPusz4nnNyVMFe1WEXIpjiefdl3UZMzdeEFHh/s320/14.%206%C2%BAMist%C3%A9rio%20-%20A%20Sagrada%20Fam%C3%ADlia,%20triangulo%20de%20amor%20e%20harmonia%20-%201%C2%AAParte.jpg" width="212" /></a></div>Deus é único e trino, porém nenhum mistério do santo Rosário contempla esta realidade de que Jesus de Nazaré, que vinha de uma família celestial constituída por Deus Pai, Filho e Espírito Santo, como o filho unigénito de Deus Pai, nasceu numa família terrena, teve pais humanos com os quais viveu em perfeita harmonia e amor, crescendo em sabedoria e em graça como nos dizem as escrituras, como qualquer rapaz do seu tempo. <br /><br />Normativo para os cristãos não é só Jesus como pessoa individual, Caminho, Verdade e Vida, mas, como o ser humano tem uma dimensão social, a vida social e familiar de Jesus, a sua família constituída pela sua mãe e pelo seu pai humano adotivo, também é normativa para nós, pois não há vida humana fora da família.<br /><br />Deus é uno e trino, o ser humano criado à imagem e semelhança de Deus é também, naturalmente, uno e trino. Pai-Mãe-Filho, não há vida humana para além deste triângulo. Todos os humanos são pai, ou mãe ou filho(a). Somos, ao mesmo tempo, um ser individual e social, porque somos um todo, como seres individuais e em parte como membros de uma família humana. <br /><br />Cada uma das três categorias humanas, pai-mãe-filho(a), implica a existência das outras duas. Ou seja, nenhum homem é pai sem ter uma esposa e um(a) filho(a), assim como nenhuma mulher é mãe sem ter um esposo e um(a) filho(a); por último, um(a) filho(a) de mãe solteira tem de ter um pai. A existência de um implica a existência dos outros dois. Jesus diz sobre o matrimónio, “Os dois serão uma só carne”, precisamente quando os dois são únicos e estão compenetrados no ato conjugal ou sexual, tornam-se três. Daí o ser humano ser uno e trino ao mesmo tempo.<br /><br /><b>Mãe sem cordão umbilical</b><br /><i>Seus pais iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa. Tendo ele atingido doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume da festa. Acabados os dias da festa, quando voltavam, ficou o menino Jesus em Jerusalém, sem que os seus pais o percebessem. Pensando que ele estivesse com os seus companheiros de comitiva, andaram caminho de um dia e o buscaram entre os parentes e conhecidos. Mas não o encontrando, voltaram a Jerusalém, à procura dele</i>. <b>Lucas 2, 41-45</b><br /><br /><u>Mãe galinha, péssima futura sogra</u><br />Um pai, mesmo sendo o progenitor da criança, é sempre um pai adotivo porque é a mãe que concebe no seu corpo a criança e a nutre durante 9 meses e depois durante dois anos ao seu peito. Ao nascer, a criança só conhece a mãe e conhece-a até pelo cheiro; o pai é-lhe apresentado mais tarde. E quando isso acontece, o filho e o pai olham-se mutuamente como dois estranhos e, se a criança for do sexo masculino, até como dois rivais, mais tarde. <br /><br />Ao contrário da maternidade, a paternidade carece de experiência física, pois só acontece a nível celular microscópico e fora do corpo do homem. Por isso, S. José que foi para Jesus um pai adotivo, pode ser perfeitamente o modelo de paternidade e o padroeiro de todos os pais, progenitores e não progenitores. Ao fim e ao cabo, também Deus Pai que está no Céu é nosso Pai adotivo, pois Ele só tem um Filho que é unigénito e nós somos criaturas adotadas por Deus Pai, pelos méritos de Jesus Cristo que se tornou no nosso irmão mais velho.<br /><br />Ser pai e ser mãe tem as suas vantagens e inconvenientes. O facto de o pai ser adotivo, sempre mantém uma distância entre si e o seu filho, pois a paternidade não se dá ao nível fisico. A maternidade, ao contrário, dá-se ao nível instintivo, pelo qual, uma mãe sempre encontra dificuldade em ver o seu filho como separado de si e muitas nunca chegam a cortar o cordão umbilical, olhando sempre o seu filho não como uma pessoa distinta, mas como uma extensão do seu ser. <br /><br />Gosto muito de anedotas e nunca vi uma anedota contra os sogros; todas as anedotas são contra as sogras. Uma mãe galinha tem a tendência de ser uma péssima sogra, de procurar interferir na vida do filho mesmo até quando este já está casado e formou uma família. <br /><br />O texto acima citado denota que Maria e José davam bastante liberdade ao seu filho, ao ponto de passarem dias sem o ver. Podemos concluir que Maria não era uma mãe galinha, mas uma mãe que sabia ocupar o seu lugar e olhar para o seu filho como distinto de si e não como uma extensão de si mesma. <br /><br />O objetivo da educação de um filho é torná-lo livre, independente e autónomo. Por outras palavras um pai e uma mãe devem ter como objetivo tornar-se eles mesmo obsoletos e desnecessários quando os filhos atingem a maioridade, a maturidade e a autonomia. Amar como dizia S. Tomás de Aquino é querer o bem do outro tal como o outro vê o seu bem, e não como nós o vemos. <br /><br />É certo que o pai procure que o filho chegue onde o pai não conseguiu, mas nem por isso deve impedir o filho de escolher a sua vida porque é ele que a vai viver. Conheci muitos pais que fizeram todo o tipo de chantagem para evitar que os filhos seguissem a sua vocação, sobretudo a vocação religiosa, apesar de serem eles mesmos profundamente religiosos. <br /><br /><b>A família e os valores da liberdade – igualdade – fraternidade</b><br /><u>A liberdade</u> – é o valor sobre o qual assenta a vida da pessoa humana, enquanto ser independente e autónomo. Sem liberdade não existe vida humana; para se realizar como pessoa humana, um indivíduo deve ser livre, não dependente de nada nem de ninguém. Livre de constrangimentos externos, mas também livre de restrições internas, como vícios.... Portanto, há duas liberdades: uma externa e outra interna. <br /><br /><u>A igualdade</u> – é o valor sobre o qual assenta a vida do indivíduo que vive em sociedade. Nenhum indivíduo é uma ilha, porque todos os indivíduos nasceram de uma relação de dois indivíduos, um pai e uma mãe. Pelo que todo o indivíduo é e sempre será parte de uma família, de um clã, de uma tribo, de um país...<br /><br /><u>A fraternidade</u> – um quark é a união de vários gluões; vários quarks formam um protão que é um dos três elementos de um átomo. O glúten é uma proteína que faz com que um cereal como o trigo pareça uma cola depois de amassado. Temo que a intolerância ao glúten comece a ser igualmente proporcional ao individualismo na sociedade e desapareça o amor que faz de todos os humanos irmãos. <br /><br /><u>Família, a única escola de vida</u><br />Tal como o ser humano, a família é o resultado de milhões de anos de evolução. Na evolução, os répteis não necessitam de família, nascem de ovos; as aves e os mamíferos necessitam por alguns meses; quanto mais perto do ser humano estiver um animal na evolução das espécies, mais tempo de convivência familiar necessitará até ser livre, independente e autónomo. <br /><br />O ser humano é o ser vivo que necessita de mais tempo, pelo que a família é o único lugar onde pode existir vida humana. A família é o “habitat” da vida humana, tal como o mar o é para a baleia e o tubarão, o Polo Sul para os pinguins, o Pólo Norte para os ursos polares e a savana para o leão. Como o ser humano não nasce no estado adulto, como o resto dos seres vivos, sem família não há vida humana.<br /><br />Os seres humanos não nascem, fazem-se. Uma criança filha de pais humanos, tem todas as potencialidades para se tornar numa pessoa humana. Porém, estas potencialidades devem ser cultivadas no seio de uma família, pelos pais e pelos irmãos mais velhos. Tudo no ser humano é aprendido, o andar ereto, o falar, o amar, tudo na vida humana é aprendido havendo muito pouco de inato. <br /><br />Uma criança sem o contacto com os homens nunca aprenderia a andar nem a falar, como sugere o mito de Tarzan; se uma criança fosse criada por chimpanzés seria um chimpanzé sem pelo; se fosse por uma loba seria um lobo para todos os efeitos, com apenas uma aparência humana. <br /><br />São precisos muitos anos de estudo para formar um médico, um engenheiro ou um arquiteto; e precisando o mundo mais de bons pais que destas profissões, Como é possível que não há sequer um curso de fim de semana para aprender a ser pai e mãe?<br /><br /><b>A educação é “área” e contínua</b><br /><i>“Filho és, pai serás, como fizeres assim acharás”</i><br /><br />Ao contrário das outras escolas, em que há períodos de lição e períodos de intervalo, na escola da vida, da família, não há férias. Todos os momentos e situações familiares são educativos, para bem ou para mal. A educação é “aérea” e contínua; na escola da vida, a criança está sempre na sala de aula.<br /><br />Porque a educação é “aérea”, a família é uma escola onde as crianças aprendem não o que lhes dizem, mas o que veem; é a sementeira onde o crescimento pode ser controlado e guiado. Fazer um bebé é fácil, a dificuldade é fazer de uma criança um ser humano. Uma coisa é ser progenitor, outra é ser pai ou mãe. <br /><br />Na família aprendemos as atitudes principais pelas quais viveremos; por isso, os pais devem ter em conta que uma criança imita mais que aprender. Uma criança que vê o pai bêbado bater na mãe, dizer coisas obscenas, ter comportamentos imaturos, imorais e ilegais, muito provavelmente reproduzirá esses mesmos comportamentos na vida adulta. <br /><br />Todos nos lembramos de frases dos nossos pais que marcaram a nossa vida, umas positivas, outras negativas. “Quem semeia ventos colhe tempestades”, “semeia amor e colherás amor; semeia ódio e ódio será o que colherás”, “uma criança é como um campo, só produzirá o que nela for semeado”, “filho de peixe, sabe nadar”. Ninguém dá o que não tem; um pai não pode passar para o seu filho o que ele não tem. O filho de um patife, será um patife assim como o filho de um ladrão será um ladrão.<br /><br />Educar um filho é uma responsabilidade imensa para o próprio, perante o filho e a sociedade. O mundo melhora não tanto por revoluções, mas por conversões, quando os homens se tornam melhores; é o nosso contributo para o mundo. Quantos pais tomam a sua tarefa com ligeireza? Um pai deve procurar passar ao filho as suas virtudes e não os seus defeitos. Se os teus filhos e filhas forem como tu ou piores do que tu, qual é o sentido da tua vida? <br /><br /><b>"De pequenino se torce o pepino"</b><br />Para as crianças, a família é como uma estufa, uma vez que as crianças não estão preparadas para viver no mundo aberto; na estufa, podemos controlar o seu crescimento, temperatura, humidade combater as pestes, etc.<br /><br />O mundo fora da família é um lugar inóspito, para o qual a família nos prepara, nos fortalece ou nos enfraquece. A escola e a rua, más ou boas, são iguais para todos: há rufias, há drogas, há crime em potência e nelas sucumbem os que não têm uma família forte e significativa onde reina o amor, a harmonia e a paz. <br /><br />Para além de ser uma estufa, a família é também um hospital onde se recuperam os adolescentes, os jovens e até os adultos das feridas que a sociedade lhes infligiu. Na família passam a sua convalescença, até poderem voltar à sociedade, fortalecidos e com lições aprendidas. <br /><br />"An Englishman’s home is his castle” (o lar do inglês é o seu castelo”). É uma expressão muito interessante sobre a dedicação que os pais devem ter ao espaço sagrado que é a família. Hoje, há muitos inimigos da família, até o próprio governo pode chegar a ser inimigo da família. Os pais não devem cuidar só dos inimigos de fora: a TV, a Internet, o telemóvel ou o computador, podem ser hoje como um autêntico cavalo de Troia, que boicota a educação e os valores que os pais querem transmitir.<br /><br /><b>Amor incondicional.</b><br />Como habitat e escola da vida humana, a atitude, o valor mais importante a aprender é o amor incondicional. Só na família nos amam incondicionalmente pelo que só na família podemos aprender a amar incondicionalmente. Aprende a amar incondicionalmente quem é amado incondicionalmente pelos seus pais e irmãos.<br /><br />O amor é incondicional ou não é amor. A família é o único lugar onde és amado sem condições, sejas mau ou bom, feio ou bonito, inteligente ou burro. Deus ama incondicionalmente, mas quem não for incondicionalmente amado pelos seus pais, dificilmente descobrirá a incondicionalidade do amor de Deus. Muitos cristãos pensam que devem ser bons para serem amados por Deus. Quem não aprende a amar incondicionalmente nunca poderá viver em plenitude e ser autêntica e genuinamente humano. <br /><br />Conheci uma moça que, em criança, recebia beijos e abraços dos seus pais só quando era bem-sucedida na escola. Aprendeu a confundir amor com sucesso escolar que mais tarde se transformou em sucesso profissional. Hoje, já adulta, é muito bem-sucedida profissionalmente, mas não tanto na vida amorosa, pelo que é infeliz. Não há nada mais importante que o amor. Quem não ama nunca viveu porque viver é amar.<br /><br /><b>Conclusão </b>– O mito de Tarzan revela-nos que, na vida humana, muito pouco é inato, quase tudo é aprendido no seio da família que é a única e insubstituível escola de vida. <br /><p></p><p style="text-align: right;">Pe. Jorge Amaro, IMC<br /></p><p><br /><br /></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-28450709646552850542023-08-01T17:18:00.000+01:002023-08-01T17:18:35.162+01:00V Mistério: A profecia de Simeão sobre Maria e o Seu Filho - 2ª Parte<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnX0yPPh9LX6ngNMfinT0ZvCFcJGtVgrB53zN6-x3cxD6-HBxWmBz6xJx_NZ3A1zHhzNay_gYrx3mZZQrqDVBJksamq4otKkiomCiDnEud_wk2doYlgUo5cXMvJkGzjaMqGuU2vT_vtIeAfolfBoseXpXoB7OA2MdNfufDdoC_Y8PZuga-DQ8LUb1q/s780/13.%205%C2%BAMist%C3%A9rio%20-%20A%20Profecia%20de%20Sime%C3%A3o%20sobre%20Maria%20e%20o%20seu%20filho%20-%202%C2%AA%20Parte.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><i><img border="0" data-original-height="780" data-original-width="663" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnX0yPPh9LX6ngNMfinT0ZvCFcJGtVgrB53zN6-x3cxD6-HBxWmBz6xJx_NZ3A1zHhzNay_gYrx3mZZQrqDVBJksamq4otKkiomCiDnEud_wk2doYlgUo5cXMvJkGzjaMqGuU2vT_vtIeAfolfBoseXpXoB7OA2MdNfufDdoC_Y8PZuga-DQ8LUb1q/s320/13.%205%C2%BAMist%C3%A9rio%20-%20A%20Profecia%20de%20Sime%C3%A3o%20sobre%20Maria%20e%20o%20seu%20filho%20-%202%C2%AA%20Parte.png" width="272" /></i></a></div><i>Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: “Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda e de surgimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal de contradição, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações. <u>E uma espada trespassará a tua alma</u>. </i><b>Lucas 2, 34-35</b><br /><br />Há muitas interpretações sobre esta espada, algumas demasiado espirituais ou teológicas. Eu prefiro ver nesta profecia o puro sofrimento humano de Maria. “Em guerra, caça e amor, por um prazer cem dores”. Assim foi com Maria: Jesus deu-lhe mais dor que alegria, desde a conceição à sua morte e ressurreição. <br /><br />O nascimento, vida e morte de Jesus foram para Maria uma paixão contínua de dor e sofrimento. Tudo começou no dia em que deixou de ser possível esconder a sua gravidez ou explicá-la. <br /><br /><b>Natal de Jesus, paixão de Maria</b><br />Na volta da visita à sua prima Isabel que durou vários meses, Maria apareceu grávida. Que podia ela dizer? Como podia ela explicar o sucedido? Engravidar por obra e graça do Espírito Santo não tinha precedente, era um acontecimento único na história da humanidade; nunca acontecera, nem nunca mais ia acontecer. Esperava-se que o Messias, que o povo de Israel aguardava e ainda aguarda, surgisse de uma forma natural na casa de David. <br /><br />O Natal de Jesus foi a Páscoa ou paixão de Maria. A paixão do Senhor foi também a paixão de Maria. Ainda hoje, mesmo numa sociedade não puritana nem machista, o escândalo sexual faz as delícias da boca de muita gente. Parece que a nossa autoestima cresce, quando vemos os outros a afundarem-se. Não há nada mais degradante e estigmatizante que o escândalo sexual: todos te apontam o dedo, vives sem honra nem bom nome, é como morrer em vida.<br /><br />“Calunia, que algo queda” diz um provérbio espanhol; lança a dúvida sobre alguém em áreas de comportamento sexual que a má fama dessa pessoa a acompanhará até à sepultura. Pode até vir a provar-se que era mentira, não importa, as pessoas ficarão sempre na dúvida, agarrar-se-ão à primeira notícia como sendo verdadeira e ao desmentido como sendo mentira. Estes escândalos abrem os noticiários da televisão e fazem primeira página nos jornais; os desmentidos aparecem como um quadradinho perdido dentro do jornal que ninguém lê.<br /><br />A morte física por apedrejamento esteve também muito perto… Maria era considerada uma adúltera, pois era prometida de José e, embora estes ainda não vivessem juntos, para os efeitos da lei ela já estava casada. Uma tal relação já não era separável, a menos que houvesse divórcio. Bem sabemos qual era o castigo que sofriam as adúlteras… (João 8, 1-11) eram apedrejadas. <br /><br />Acontecia em Israel regularmente o que ainda hoje acontece nalguns países muçulmanos, onde se aplica a lei da Sharia; aí estão os vídeos em certos sites da Internet que documentam estes tristes factos em pleno século XXI.<br /><br />Já muitos, sedentos de sangue, tinham as pedras na mão, preparadas, esperando José, o ofendido, para lançar a primeira pedra. Lançar a primeira pedra era um direito que pertencia ao ofendido. Lançar a primeira pedra era, ao mesmo tempo, a declaração do veredito pela pessoa injuriada e o primeiro ato da execução da sentença que os hipócritas, ávidos de sangue, cumpriam com prazer. <br /><br />Para Jesus, no episódio da mulher adúltera (João 8, 1-11), o direito a lançar a primeira pedra, ou seja, a julgar e aprovar uma sentença de morte, não é direito do injuriado nem do que tem autoridade por delegação ou eleição, mas sim do que tem autoridade moral, ou seja, do que não tem pecado. <br /><br />Jesus não acredita na justiça retributiva, pois é apenas uma vingança legalizada, é o antigo “olho por olho e dente por dente”. Jesus acredita na justiça reparadora, aquela que Deus pratica, pois não quer a morte do pecador, mas que este se converta e viva. (Ezequiel 18,23-32)<br /><br /><b>Jesus, o filho de Maria</b><br />Maria, conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração (Lucas 2,19) e sofria em silêncio, não podendo defender-se das calúnias… O sofrimento durou toda a sua vida, como é natural nestes casos. <br /><br />Aqui e além no evangelho, este estigma transparece, por exemplo numa das polémicas que Jesus tem com os fariseus, no evangelho de João. A um dado momento, estes dizem «Nós não nascemos da prostituição” (João 8, 41) subentendendo “como tu nasceste”. <br /><br /><i>“Não é Ele o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós?”</i> <b>Marcos 6, 3.</b><br /><br />Numa sociedade patriarcal, ninguém é conhecido como filho de sua mãe, ou seja, ninguém é conhecido por referência à sua mãe, mas sim por referência ao seu pai. Recordemos que Jesus, ao dirigir-se a Pedro de uma forma pessoal para lhe perguntar se O ama, chama-o pelo seu nome de família, por referência ao pai de Pedro e não à sua mãe: “Simão, filho de João… (João 21, 15-19).<br /><br />O evangelista Marcos, apesar de ser hebreu de Jerusalém, escreve o seu evangelho em Roma para romanos e não está com meias medidas: relata a verdade tal como ela é. Jesus é chamado por referência à sua mãe e não por referência ao seu pai. Mesmo que o pai tivesse morrido, nunca um hebreu seria chamado por referência à sua mãe; se o fizeram, foi porque Jesus era, para os do seu tempo, filho de pai incógnito, para vexame de sua mãe e d’Ele próprio. <br /><br />Mateus, o evangelho escrito para os judeus, corrige e diz: “Não é Ele o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?” (Mateus 13, 55-56). Lucas, no seu evangelho, também menciona o episódio da visita do Senhor à sua terra natal, porém, por respeito ao Senhor não copia Marcos, mas também não diz uma mentira como Mateus, pelo que, omite o que os seus conterrâneos lhe chamaram. <br /><br /><b>Maria e a viúva de Naim</b><br /><i>No dia seguinte, dirigiu-se Jesus a uma cidade chamada Naim. Iam com ele diversos discípulos e muito povo. Ao chegar perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto a ser sepultado, filho único de sua mãe que era viúva; acompanhava-a muita gente da cidade. Vendo-a o Senhor, movido de compaixão para com ela, disse-lhe: “Não chores!”. E, aproximando-se, tocou no esquife, e os que o levavam pararam. Disse Jesus: “Moço, eu te ordeno, levanta-te</i>. <b>Lucas 7, 11-14</b><br /><br />É dos poucos milagres que Jesus faz sem que ninguém lho peça, e sem inquirir sobre a fé da pessoa que vai ser agraciada com o milagre. A alta capacidade de empatia de Jesus faz com que entenda que o sofrimento daquela pobre viúva era tão grande que não podia comportar dialogar com ninguém. Vemos neste evangelho a empatia de Lucas na forma como descreve a cena. Concentra o máximo de sofrimento num mínimo de palavras: <br /><p></p><p>“levavam a sepultar um rapaz filho único de sua mãe que era viúva”. Não deve haver sofrimento maior do que o de uma mãe que perde um só dos seus filhos, pois vai contra a natureza da vida. Espera-se que os filhos sepultem os pais e não que os pais sepultem os filhos. Uma mãe que está disposta a morrer pelo seu filho, ter de o ver morrer sem poder fazer nada, é sofrimento que não cabe no coração humano. <br /><br />Dentro desta categoria, o sofrimento desta mulher é ainda agravado pelo facto de ela já ser viúva e de este ser o único filho. Era ele a única garantia de ficar viva na sociedade, pois as mulheres daquele tempo não podiam viver sozinhas uma vez que não podiam deter propriedade. Por isso, o seu único filho era também a sua garantia de vida. <br /><br />Jesus devolve a vida ao rapaz... Sempre vi neste episódio uma projeção pessoal de Jesus; Jesus viu na viúva de Naim a sua própria mãe, que dentro em pouco também sepultaria o seu filho único, sendo ela, Maria, já viúva.<br /><br /><b>Conclusão</b>: Por causa do seu filho, a vida de Maria foi uma contínua paixão e morte. Tudo começou no dia em que deixou de ser possível esconder a sua gravidez ou explicá-la. Não há no mundo pior calúnia que aquela que Maria sofreu toda a sua vida. <br /></p><p style="text-align: right;">Pe. Jorge Amaro, IMC<br /></p><p><br /><br /><br /><br /></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-17726516148595837302023-07-01T12:08:00.000+01:002023-07-01T12:08:36.404+01:00V Mistério: A profecia de Simeão sobre Maria e o Seu Filho - 1ª Parte<p><i></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSaGNbbG8914d_j_XOAdxP2av71U8oD84ui0Ab7xYfxwVnjA7ZqWDfVdcefRUjY02CimF9MQ8-gOcD7civCzk7Xds00xckdrAdFlhD0RowzCw1MdCrDN3G9ZwEA8yyhU4tS2Nh0lMnt-mjb6G3JSq0xI8ZBnXNNuh1fx-5CEiCyP1i_8F3hlUQ0JUz/s1115/12.%205%C2%BAMist%C3%A9rio%20-%20A%20Profecia%20de%20Sime%C3%A3o%20sobre%20Maria%20e%20o%20seu%20filho%20-%201%C2%AA%20Parte.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="594" data-original-width="1115" height="170" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSaGNbbG8914d_j_XOAdxP2av71U8oD84ui0Ab7xYfxwVnjA7ZqWDfVdcefRUjY02CimF9MQ8-gOcD7civCzk7Xds00xckdrAdFlhD0RowzCw1MdCrDN3G9ZwEA8yyhU4tS2Nh0lMnt-mjb6G3JSq0xI8ZBnXNNuh1fx-5CEiCyP1i_8F3hlUQ0JUz/s320/12.%205%C2%BAMist%C3%A9rio%20-%20A%20Profecia%20de%20Sime%C3%A3o%20sobre%20Maria%20e%20o%20seu%20filho%20-%201%C2%AA%20Parte.jpg" width="320" /></a></i></div><i>O seu pai e a sua mãe estavam admirados pelas coisas que dele se diziam.</i> <b>Lucas 2, 33</b><br /><br />Grandes surpresas aguardavam Maria na apresentação do seu filho no templo. O evangelho diz várias vezes que Maria guardava tudo no seu coração. Em relação ao seu filho, Maria não compreendia muitas coisas. Caminhou a vida inteira na fé de que tudo correria bem, mesmo quando via que tudo se voltava contra ele e contra ela. O seu filho não parou de a surpreender e causar admiração, desde a sua conceição até à sua morte e ressurreição. Maria não compreendia, mas aceitava em silêncio e seguia fielmente o seu filho, de perto ou de longe. <br /><br />A apresentação do seu filho no Templo deve ter deixado na boca de Maria um sabor simultaneamente amargo e doce. A alegria de Simeão e de Ana que tão pacientemente esperaram este momento de ver o libertador com os próprios olhos, deve ter causado alegria também no coração de Maria. A ambiguidade da profecia de Simeão que se apresentou como alguém que tinha boas e más notícias, deve ter causado bastante perplexidade e dor no coração de Maria que, que segundo Simeão, seria atravessado por uma espada. <br /><br /><b>Jesus de Nazaré convulsionou Israel e o mundo</b><br />Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: “Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda e de surgimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal de contradição, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações. E uma espada trespassará a tua alma. <b>Lucas 2, 34-35</b><br /><br />Jesus de Nazaré entrou na história da humanidade como um meteorito, que ao esbarrar com o oceano faz círculos concêntricos que se fazem sentir primeiro onde o mesmo cai e depois até aos confins da Terra. O maior impacto foi sentido em Israel há dois mil anos, porém a sua influência alastrou-se no tempo e no espaço, de tal forma que ainda hoje se faz sentir e se fará sentir até ao fim dos tempos, pois ele mesmo disse: Eu estarei convosco até ao fim dos tempos, (Mateus 28, 20)<br /><br />Tal foi o impacto de Jesus no o mundo que dividiu a História da humanidade em duas eras. Antes de Cristo (AC) Depois de Cristo (AD), ano da graça de nosso Senhor… Cristo é, portanto, o centro da história da humanidade, pois tudo o que acontece neste mundo vem referenciado como acontecendo antes de Cristo ou depois de Cristo. Incomodados, os agnósticos e ateus do mundo ocidental têm substituído o AC por “antes da era comum” e o AD por “era comum”. <br /><br />Porém, se alguém no espírito de querer saber, como as crianças no tempo em que questionam tudo e bombardeiam os adultos com perguntas, os questionarem, os senhores da “era comum” vão ter de explicar o que é isso da “era comum” e por que é comum, e quando começou. Se forem honestos, o que nem sempre acontece nos dias que correm, vão ter que mencionar o nome de Cristo. A “era comum” tem como ponto de partida o nascimento de Cristo. Não é, portanto, arbitrária ou convencional, como a escala Fahrenheit para medir a temperatura ambiente. <br /><br /><b>Jesus: causa de queda ou pedra de tropeço para muitos em Israel</b><br /><i>Ide e contai a João o que ouvistes e o que vistes: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos pobres... Bem-aventurado aquele para quem eu não for ocasião de queda!</i> <b>Mateus 11, 4-6</b><br /><br />A palavra grega “escândalo” significa pedra de tropeço. As palavras de Jesus são duras contra os escandalosos, porém Ele mesmo tem que admitir que escandalizou muita gente no bom sentido. Muitos não conseguiram digerir e aceitar muitas das suas ideias; mesmo quando estas eram provadas com atos prodigiosos. Contra factos não há argumentos, diz o povo. Porém, os judeus no tempo de Jesus encontravam argumentos até nos factos, ao dizerem que expulsava os demónios com o poder de Satanás. “Não há pior cego que aquele que não quer ver”. <br /><br /><i>Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Mas a todos aqueles que o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus…</i><b> João 1, 11-12</b><br /> <br />Não é Deus que julga o homem, o homem julga-se a si mesmo. O seu julgamento é a sua reação a Jesus Cristo. Se, ao ser confrontado com Jesus a sua resposta for positiva, tem fé e aceita o seu amor, é salvo e entra no reino dos Céus. Se, porém, permanecer friamente indiferente e imóvel ou mesmo ativamente hostil, é condenado, ou seja, condena-se a si mesmo.<br /><br />Em relação a Jesus de Nazaré não se pode assumir uma posição neutra. Ou temos fé n’Ele e nos rendemos a Ele ou estamos em guerra com Ele. Para muitos, o orgulho vai impedi-los de optarem pela rendição que os levaria à vitória. <br /><br /><i>Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no nome do Filho Unigénito de Deus.</i> <b>João 3, 18</b><br /><br />No tempo de Jesus, os fariseus, os sumos sacerdotes, os ricos, os abusadores do poder, os exploradores dos pobres tropeçaram na pedra Jesus e pensaram que, retirando a pedra do caminho, como fizeram matando a Jesus, se veriam livres d’Ele. Mas isso não aconteceu, pois o mesmo Jesus, na pessoa dos seus seguidores, tornou-se para eles uma pedra no sapato que incomoda eternamente. Uma vez vindo ao mundo, veio para ficar.<br /><br /><b>Jesus: causa de surgimento, pedra de degrau e pedra angular para muitos em Israel</b><br />Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou pedra angular. <b>Atos 4, 11</b><br /><br />Cristo, verdadeiro Deus, verdadeiro homem, é o único caminho de Deus para os homens e dos homens para Deus. Na Bíblia, Jericó representa o pecado, por isso, o que caiu nas mãos dos salteadores descia de Jerusalém para Jericó, caiu da graça para o pecado. Jesus visita Jericó e cura Zaqueu ao entrar e, ao sair, cura o cego Bar Timeu que se juntou à grande multidão que com ele subia para a salvação e graça, em direção a Jerusalém celeste. <br /><br />Caminho, Verdade e Vida, Cristo é o modelo, o paradigma da vida humana. Cristo, nas suas palavras, obras e comportamento pessoal é normativo, pois possui 100% de humanidade. Quem quiser ser autêntica e genuinamente humano, é em comparação com Cristo e com nenhum outro que tem que se avaliar. O que é humano é cristão, o que é cristão é humano, pois não existe uma ética humana e uma moral cristã. <br /><br /><b>Quem não está comigo, está contra mim</b><br /><i>“Mestre, vimos um homem que expulsava demónios em teu nome, e nós lho proibimos, porque não é dos nossos”. Mas Jesus disse-lhe: “Não lho proibais; porque, o que não é contra vós é a vosso favor</i>”. <b>Lucas 9, 49-50</b><br /><p></p><p>Quem não está comigo está contra mim; e quem não se junta comigo, espalha. <b>Mateus, 12, 30</b><br /><br />Estes dois textos parecem estar em contradição; porém, se olharmos ao contexto em que Jesus diz duas frases opostas uma à outra, conseguimos entender. Jesus diz que tem outras ovelhas que não são deste redil, por isso é possível que pessoas fora da Igreja façam também o bem, os tais cristãos anónimos. Quem, por outras vias e sem ser do nosso grupo, contribui para a construção do reino, é cristão mesmo sem o saber porque são cristãs ou humanas as suas atitudes.<br /><br />A segunda afirmação é feita no contexto de que ninguém vai ao Pai se não por mim (João 14, 6-14). Ou seja, como Cristo é a medida do humano e do divino, só quem se assemelha a Ele se salva, porque, como diz a seguir, quem não junta comigo espalha, dispersa, pois não há outro com quem se juntar. Não existe alternativa igualmente válida a Cristo. <br /><br /><b>Não a paz, mas a espada</b><br /><i>Não julgueis que vim trazer a paz à terra. Vim trazer não a paz, mas a espada. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra, e os inimigos do homem serão as pessoas de sua própria casa. Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a mim não é digno de mim. Quem ama seu filho mais que a mim não é digno de mim</i>. <b>Mateus, 10, 34-37</b><br /><br />O amor divide o que estava unido e une o que estava dividido. Tomemos como exemplo o amor clássico de Romeu e Julieta. As famílias destes dois amantes eram inimigas viscerais, em guerra uma contra a outra. Antes de se conhecerem, cada um dos amantes vivia em paz, harmonia e amor com as respetivas famílias. <br /><br />Quando a chispa de amor surgiu entre os dois, também a divisão e a discórdia se instalou com as respetivas famílias por causa da união do que antes estava dividido. O mesmo acontece nas famílias onde alguns dos seus membros decidem seguir Jesus e os outros não. É neste sentido que Jesus, o príncipe da paz, sem querer, em vez de trazer a paz traz a guerra e a discórdia ao seio das mesmas famílias onde antes d’Ele reinava o amor e a harmonia. <br /><br /><b>Maldição de Deus?</b><br /><i>Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se tivessem sido feitos em Tiro e em Sidónia os milagres que foram feitos em vosso meio, há muito tempo elas se teriam arrependido sob o cilício e a cinza. Por isso, vos digo: no dia do juízo, haverá menor rigor para Tiro e para Sidónia que para vós! E tu, Cafarnaum, serás elevada até ao céu? Não! Serás atirada até ao inferno! Porque, se Sodoma tivesse visto os milagres que foram feitos dentro dos teus muros, subsistiria até este dia. Por isso, te digo: no dia do juízo, haverá menor rigor para Sodoma do que para ti!</i> <b>Mateus, 11, 21-24</b><br /><br />A maldição de Deus é um antropomorfismo, ou seja, uma forma de entender a Deus à maneira do homem. Deus é incapaz de amaldiçoar, Deus só sabe abençoar. A maldição é o voltar as costas à bênção de Deus. Muito milagre fez Jesus em Corazim, Betsaida e Cafarnaum, pois eram grandes cidades no tempo de Jesus. Hoje só existem restos arqueológicos destas cidades. Ao contrário, Nazaré e Belém eram pequenas e diminutas e hoje são grandes cidades.<br /><br />“Quem de Deus se não lembra, todo o bem lhe falta”. No seu discurso ao povo depois da saída do Egito, Moisés colocou diante do povo a bênção e a maldição. A bênção para os que aceitam Deus e seguem os seus mandamentos, a maldição ipso facto para os que não seguem os desígnios de Deus. A bênção vem de Deus, a maldição resulta da rejeição da bênção, não de um castigo de Deus porque Deus não castiga. <br /><br /><i>Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas aqueles que te são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os teus filhos, como a galinha reúne os seus pintainhos debaixo das suas asas... e tu não quiseste! Pois bem, a vossa casa vos é deixada deserta.</i> <b>Mateus, 23, 37-38</b><br /><br />Jesus chora de raiva, pena e impotência pela ruína que estava para cair sobre Jerusalém. Uma ruína causada pelos próprios moradores da cidade que não souberam reconhecer em Jesus o messias esperado pelas nações. O messianismo político e militar dos judeus trouxe-lhes a ruína, a invasão das hostes romanas, a destruição da cidade e do templo e a dispersão pelo resto do mundo durante séculos, até ao surgimento do estado de Israel em 1948, por pena e misericórdia das potências cristãs que ganharam a guerra. <br /><br /><b>Conclusão</b>: sendo Cristo a medida do que é autêntica e genuinamente humano, não se pode ser neutro e indiferente a Ele; a indiferença, é já, em si mesma, uma rejeição. <br /></p><p style="text-align: right;">Pe. Jorge Amaro, IMC<br /></p><p><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-4524335707058153412023-06-15T14:43:00.000+01:002023-06-15T14:43:08.288+01:00IV Mistério - Maria dá à luz a Jesus, Deus connosco - 2ª parte<p><i></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgg4k_Xia54L2t74F_XeBFe-kZTq9nenuFFGhEnkiEbEqAFqx7YgrY_QD5boQwFG5Qnm9p5PZr0Km-1PEwqH-4JOTgQz8h2xytVOxwEH4SEw_DR_jAzLZeXfQ0U1MbptJmg_OAoEJ1TZ0cVG7GWacVPVsWpF-leYRMANJorGMCXVt1pwUycBPqLSg/s1983/11.%204%C2%BA%20Mist%C3%A9rio%20-%20Maria%20d%C3%A1%20%C3%A0%20Luz%20a%20Jesus%20Deus%20connosco-%202%C2%AA%20Parte.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1983" data-original-width="1640" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgg4k_Xia54L2t74F_XeBFe-kZTq9nenuFFGhEnkiEbEqAFqx7YgrY_QD5boQwFG5Qnm9p5PZr0Km-1PEwqH-4JOTgQz8h2xytVOxwEH4SEw_DR_jAzLZeXfQ0U1MbptJmg_OAoEJ1TZ0cVG7GWacVPVsWpF-leYRMANJorGMCXVt1pwUycBPqLSg/s320/11.%204%C2%BA%20Mist%C3%A9rio%20-%20Maria%20d%C3%A1%20%C3%A0%20Luz%20a%20Jesus%20Deus%20connosco-%202%C2%AA%20Parte.jpg" width="265" /></a></i></div><i>Disse-lhe Filipe: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta”. Respondeu Jesus: “Há tanto tempo que estou convosco e não me conheceste, Filipe! Aquele que me viu, viu também o Pai</i>. <b>João 14, 8-9</b><br /><br /><b>Gerado não criado consubstancial ao Pai</b><br /><i>Deus só tem um Filho que, como diz o Credo, é gerado não criado. Se o Credo falasse de nós, diria criados não gerados. (Deus) nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade,</i> <b>Efésios 1, 5 </b><p></p><p>Todos os humanos são criaturas de Deus e por Jesus Cristo resgatados a preço de sangue, tornados filhos adotivos de Deus. Unidos pela mesma natureza humana, a dignidade é devida a todos os seres humanos, sem distinção de grupos étnicos. <br /><br /><i>E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificado</i>s.<b> Romanos 8, 17 – </b>Segundo o direito romano que fundamentalmente é o usado em todo o mundo, o filho adotivo tem os mesmos direitos na herança que o filho gerado. <br /><br />Jesus chama a Deus Pai, mas só no núcleo dos apóstolos e nunca fora dele. O que significa que a paternidade divina está disponível só para aqueles que aceitam a Jesus como filho de Deus e irmão, nosso irmão maior, pois só em Cristo filho unigénito de Deus é que nós somos filhos adotivos. <br /><br /><b>O banquete messiânico</b><br />O Natal é a festa que une os homens com Deus, é a festa que une a Terra com o Céu. A encarnação é um matrimónio entre o Filho Unigénito de Deus e a Humanidade, o Natal é um banquete de bodas que celebra esta união indivisível e para sempre. Um matrimónio é a união de dois destinos num só destino. No Natal, Deus Pai casa o seu Filho com a Humanidade, ou seja, une a natureza da segunda pessoa da Santíssima Trindade à Natureza Humana. <br /><br />A união das duas naturezas numa só pessoa deu-se no seio de Maria. Ela é, com todo o direito, a Mãe da criança que vai nascer, pois não só emprestou o seu seio, como também contribuiu com o seu material genético. Deus, por obra e graça do Espírito Santo, é o Pai tanto da segunda pessoa da Santíssima Trindade como desta mesma encarnada em Jesus de Nazaré. <br /><br />Jesus de Nazaré que nasce em Belém é o resultado dessa união, é a união inseparável e indivisível das duas naturezas: humana e divina. Deus fez-se filho do Homem, único título que Jesus dá a si mesmo, para que o Homem, que é criatura de Deus, se faça também filho de Deus.<br /><br />O tempo de Jesus entre nós corresponde ao banquete messiânico profetizado muitos séculos antes por Isaías 25, e declarado por Jesus numa das suas parábolas em Mateus 22, 1-14. Por ser o tempo do banquete messiânico, é um facto que a vida pública de Jesus começa com um banquete de bodas em Canaã da Galileia e termina no banquete Eucarístico na Quinta-feira Santa, em Jerusalém, no qual Ele é a comida. Entres estes dois banquetes, Jesus participou em muitos com os seus discípulos e muitos dos seus ditos foram proferidos no contexto de uma refeição. <br /><br /><i>Depois, foram ter com Ele os discípulos de João, dizendo: «Porque é que nós e os fariseus jejuamos e os teus discípulos não jejuam?» Jesus respondeu-lhes: «Porventura podem os convidados para as núpcias estar tristes, enquanto o esposo está com eles? Porém, hão-de vir dias em que lhes será tirado o esposo e, então, hão-de jejuar.</i><b> Mateus 9, 14-15</b><br /><br />Por ser o tempo de Jesus entre nós, o tempo do banquete messiânico, os seus discípulos, ou seja, os amigos do esposo, não devem jejuar, mas devem celebrar. É tempo de festa, tempo de celebração, não tempo de penitência nem de tristeza. <br /><br /><i>Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, como teria dito eu que vos vou preparar um lugar? E quando eu tiver ido e vos tiver preparado lugar, virei novamente e hei de levar-vos para junto de mim, a fim de que, onde eu estou, vós estejais também.</i> <b>João 14, 3</b><br /><br />Os dias de jejum virão em que o esposo voltará para a casa do Pai, levando com Ele a nossa natureza humana redimida na sua pessoa e pela sua pessoa, sentando à direita do Pai. <br /><br /><b>E o verbo se fez homem e habitou entre nós</b><br />Depois de ter deixado a família na Igreja para a Missa do Galo, um agricultor canadiano regressava a casa, fugindo da tempestade de neve que se avizinhava. De nada tinha valido a insistência da sua mulher para participar na missa. Para ele, a encarnação de Deus não fazia sentido. Enquanto dormitava ao calor da lareira, foi sobressaltado pelo embate de gansos na porta e nas janelas. Afastados pelo temporal da sua trajetória migratória para o Sul, estavam completamente desnorteados.</p><p>Movido de compaixão, abriu os portões do grande celeiro e começou a correr, a esbracejar, a assobiar, a gritar e a enxotá-los para que se abrigassem até a tormenta passar. No entanto, os gansos esvoaçavam em círculos, sem entenderem o que significariam o celeiro aberto e os gestos dramáticos do desesperado agricultor (que nem com migalhas de pão espalhadas na direção do celeiro os convencera). </p><p>Derrotado no intento da salvação das pobres criaturas, suspirou: “Ah, se eu fosse ganso! Se eu falasse a sua linguagem!”. Ao ouvir o seu próprio lamento, recordou a pergunta que tinha feito à sua esposa: “Por que razão havia Deus de querer ser homem?”. E, sem querer, balbuciou a resposta: “Para o salvar!” … E foi Natal.</p><p>Sempre houve pessoas com uma sensibilidade especial para comunicar com Deus. Na tradição bíblica, os profetas eram os catalisadores dos desígnios de Deus para o povo e das petições do povo a Deus. A comunicação, no entanto, não se fazia sem dificuldades: tal como no campo das telecomunicações, havia muitas “interferências”. A personalidade e caráter do profeta, defeitos e preconceitos, filtravam a mensagem que não chegava ao destinatário tal como tinha saído do emissor. Por outro lado, estes profetas entendiam frequentemente que o Céu estava fechado e Deus envolto em silêncio. <br /><br />Estes profetas nunca conseguiram, verdadeiramente, estabelecer uma ponte de comunicação entre o divino e o humano. Isto porque a Palavra de Deus, sendo transmitida por eles (homens com as suas características pessoais e inseridos num determinado contexto sociocultural), acabou por sofrer influência de muitas variáveis mediadoras (personalidade, preconceitos, estereótipos, padrões sociais), perdendo-se o significado da mensagem original. </p><p>Há ouro na areia do rio, mas nem toda a areia do rio é ouro. Por isso, precisamos de peneirar a areia para identificar dentro dela algumas pepitas de ouro. Também a Palavra de Deus está na Bíblia, mas nem toda a Bíblia é palavra de Deus. Como a Bíblia é o encontro de Deus tal qual Ele é com o Homem, há na Bíblia muito de humano, muitos antropomorfismos, ou seja, exemplos de como entender a Deus à maneira do homem, apesar de na mesma Bíblia se dizer “os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, diz o Senhor” … </p><p>No peneirar da Bíblia para encontrar a palavra de Deus, temos que identificar a personalidade do autor do livro em questão, as suas crenças, preconceitos, estereótipos, padrões sociais, etc. para encontrar a ipsissima Dei Verbum. </p><p>Por tudo isto, era mester que Deus encarnasse para falar diretamente ao homem sem interferências e, mais que falar, para demonstrar na sua vivência e obras como deve o ser humano viver para readquirir a semelhança de Deus perdida com Adão e Eva. </p><p><b>Oportunidade para readquirir a semelhança de Deus</b><br /><i>Foi por essa razão que o Verbo de Deus se fez Homem - para que o Homem se tornasse filho de Deus.</i><br /><b>Sto. Ireneu de Lyon</b><br /><br />Sendo o Cristianismo a religião que tem mais seguidores e sendo o Natal a festa mais popular no mundo cristão, podemos facilmente concluir que o Natal é a festa mais celebrada de todas as festas celebradas neste planeta. É sem dúvida a que reúne mais pessoas a nível mundial, não só na sociedade ocidental. <br /><br />Jesus de Nazaré é o caminho pelo qual Deus vem até nós para nos falar ao ouvido, para nos falar ao coração em pé de igualdade, não de cima para baixo, mas de irmão para irmão, de homem para homem. O criador faz-se criatura para falar de dentro da natureza humana; para falar com autoridade, como notaram os homens do tempo de Jesus, porque falava e fazia, porque falava e cumpria, porque falava e as coisas aconteciam. <br /><br />Como verdadeiramente homem, Cristo é a nossa oportunidade para reaver a semelhança que tínhamos com Deus antes do pecado de Adão e Eva. Quem quiser ser autêntica e genuinamente humano mede-se em relação a Cristo, Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida, Ele é o modelo, o protótipo, o paradigma de humanidade. Ninguém em toda a história dos homens concentra em si mesmo mais humanidade que Jesus. </p><p><b>João 15, 16 –</b> Não fostes vós que me escolhestes - Como se diz em teologia, a nossa não é uma religião, pois não se trata do esforço que o homem faz para chegar até Deus, mas é antes uma revelação, porque é Deus que vem primeiro até nós, e se nos revela. Por isso, Jesus pode dizer ao apóstolo Filipe, “quem me vê, vê o Pai”. </p><p><b>1 João 4:10</b> - Assim, nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amor com amor se paga, diz o povo; o nosso amor por Deus é uma resposta ao amor divino, a única resposta, pois não cabe nenhuma outra. Portanto, porque a iniciativa é de Deus, a nossa não é uma religião, mas sim uma revelação.<br /><br /><b>Jesus: caminho pelo qual os homens vão a Deus</b><br /><i>“Ninguém vem ao Pai senão por mim”</i> - J<b>oão 14, 6</b><br /><br />Se Jesus de Nazaré é o Cristo, o filho de Deus, Ele é o único caminho pelo qual Deus veio até nós. Por isso mesmo, não pode haver outro caminho pelo qual o homem possa ir até Deus. Não faria sentido que um fosse o caminho pelo qual Deus veio até nós, e outro fosse o caminho pelo qual o homem vai até Deus. Todos os caminhos são de ida e volta, por isso, se Deus veio até nós por meio de Cristo, por meio do mesmo Cristo nós iremos até Deus. <br /><br />O propósito da encarnação de Deus pode ser lido na entrada e saída de Jesus na cidade de Jericó. Jericó é a cidade mais antiga do mundo, 8 000 anos de existência e é também curiosamente a mais baixa da terra, 500 metros abaixo do nível do mar. Por estas duas caraterísticas, Jericó representa na Bíblia o mundo em pecado. Isto mesmo sugere a parábola do bom Samaritano; o homem que foi assaltado por ladrões e malfeitores, descia de Jerusalém para Jericó, ou seja, descia da graça para o pecado. <br /><br />Jesus entra em Jericó, ou seja, entra no mundo pecaminoso e vai instalar-se em casa de Zaqueu, ou seja, de um pecador. Jesus instalou-se no mundo pecador, chamou os pecadores a si, viveu, comeu com eles e tratou-os com a dignidade de filhos de Deus (Lucas 19, 1-2). Quando saía de Jericó, seguia-o uma grande multidão, no caminho ascendente do pecado para a graça em Jerusalém (Marcos 10, 46-52). Assim se cumpria a razão da encarnação: Deus, por Cristo, veio ao mundo para que o mundo, pelo mesmo Cristo, fosse a Deus. <br /><br /><b>Conclusão</b>: Por Cristo veio Deus aos homens, por Cristo vão os homens a Deus. Quem vive em Cristo e como Cristo é autenticamente humano, pois Ele é a única referência e paradigma de humanidade. <br /></p><p style="text-align: right;">Pe. Jorge Amaro, IMC<br /></p><p><br /><br /><br /><br /></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-26335693689176749852023-06-01T18:43:00.000+01:002023-06-01T18:43:41.406+01:00IV Mistério: Maria dá à luz a Jesus, Deus connosco - 1ª Parte<p><i></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj93NCtJKovWarLVXw4yNWzYWXST_LUVoseGNnzNGcMno-_FwmkbRe675W1iMhfo9odN3_C-8xdznE59N7OSregCm33o3GD6qn1K63oyoiPa6k0CBshwAwDIaYFa4MF8qF5FuNIcBY14kF0HI8C_9Ya_5i9blmJiYVLOcIE4FuwREhxsZdz7vYiBw/s1126/10.%204%C2%BA%20Mist%C3%A9rio%20-%20Maria%20d%C3%A1%20%C3%A0%20Luz%20a%20Jesus%20Deus%20connosco-%201%C2%AA%20Parte.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1126" data-original-width="910" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj93NCtJKovWarLVXw4yNWzYWXST_LUVoseGNnzNGcMno-_FwmkbRe675W1iMhfo9odN3_C-8xdznE59N7OSregCm33o3GD6qn1K63oyoiPa6k0CBshwAwDIaYFa4MF8qF5FuNIcBY14kF0HI8C_9Ya_5i9blmJiYVLOcIE4FuwREhxsZdz7vYiBw/s320/10.%204%C2%BA%20Mist%C3%A9rio%20-%20Maria%20d%C3%A1%20%C3%A0%20Luz%20a%20Jesus%20Deus%20connosco-%201%C2%AA%20Parte.jpg" width="259" /></a></i></div><i>Meu Deus, clamo por ti durante o dia e não me respondes; durante a noite, e não tenho sossego. (…) O meu coração murmura por ti, os meus olhos te procuram; é a tua face que eu procuro, Senhor.</i> <b>Salmo 22, 2; 27, 8. </b><br /><br /><b>Religião e revelação</b><br />O povo de Israel nunca se contentou com esta comunicação, tão deficitária, e vivia num contínuo desassossego. Religião, do latim “religare”, significa relação com Deus e com o próximo. Desde que a espécie humana tomou consciência de si mesma que acredita na possível existência de um ser superior, transcendente a tudo e a todos, por ser Criador de tudo e de todos. Em todo o tempo e em todo o lugar, o homem procurou comunicar-se com este ser superior, Deus, para obter o seu beneplácito. <br /><br />As ondas de telemóvel, de televisão e de rádio cruzam o nosso espaço e nós não as ouvimos nem as vemos, mas sabemos que existem porque, quando temos os instrumentos adequados, as captamos. De forma análoga, Deus também procurou comunicar-se com o homem e o homem com Deus. Mas também esta comunicação não é acessível a todos, é preciso ter uma sensibilidade especial para entrar nesta comunicação.<br /><br /><i>Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, porque não crê no nome do Filho único de Deus</i>. <b> João 3, 17-18</b><br /><br />O cristianismo não é uma religião, pois não representa apenas o esforço ou tentativas do homem para chegar a Deus. Pelo contrário, o cristianismo é uma revelação porque é Deus que busca o homem e se revela a ele. Como diz Jesus no evangelho, <i>não fostes vós que me escolhestes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto, e fruto que permaneça; e assim, tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo concederá</i>. <b>João 15, 16</b><br /><br />No Natal celebramos a grande verdade, que Deus não está envolto em silêncio, mas sim em panos e depositado numa manjedoura. Com o nascimento de Jesus, Deus rompe o silêncio, elimina a distância e desfaz a inacessibilidade. Jesus é o Emanuel, Deus connosco, à nossa beira, companheiro de viagem na nossa vida, como o foi com os discípulos de Emaús.<br /><br /><b>Filho de Deus versus último profeta</b><br /><i>Muitas vezes e de diversos modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas. Ultimamente nos falou por seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as coisas.</i> <b>Hebreus 1, 1-2</b><br /><br />Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, resume todas as religiões que em relação à religião cristã ocupam o lugar que o Antigo Testamento ocupa na Bíblia. Todas elas são acerca de profetas enviados por Deus; o cristianismo não apresenta mais um profeta, mas sim o próprio Deus connosco, o Emanuel.<br /><br />O Islão aceita como válida a tradição religiosa judaica descrita no Antigo Testamento que eles consideram também seu. Maomé é, portanto, o último dos profetas que Deus enviou ao mundo, sendo o penúltimo Jesus.<br /><br />Se a humanidade viver mais 10 000 ou 20 000 anos, que sentido faz que o último tenha vindo no ano 524? Mais mudanças sofreu o mundo e a humanidade desde o ano 524 que em todos os milhões de anos anteriores; porque será que os profetas se sucediam uns aos outros com frequência e depois do ano 524 deixaram de ser precisos? <br /><br />No caso do Cristianismo, mesmo que a humanidade viva até ao ano 20 000, faz sentido que a revelação tenha acontecido no ano zero. Como explica o autor da carta aos Hebreus, “O enviado” não é mais um profeta, mas sim o próprio Deus que vem viver entre nós. <br /><br />Há aqui um salto qualitativo; os profetas trazem mensagens para um tempo, a palavra de Deus é eterna para todos os tempos e lugares, porque Deus não precisa de falar duas vezes. Por outro lado, Cristo não é só uma palavra proferida, é uma palavra vivida e só se vive uma vez.<br /><br />Em que sentido é o último profeta? É porque o Islão tem uma doutrina mais refinada e um caminho ascendente que já chegámos ao topo? Mas o topo até parece o cristianismo com uma narrativa muito mais humana e humanizante, como por exemplo o amor aos inimigos. O Islão na sua prática e doutrina até se assemelha mais ao Antigo Testamento que ao Novo, quando pensamos que ainda hoje se apedrejam mulheres e Cristo foi contra isso já nos seus dias.<br /><br />O Islão é, em si, violento por natureza, pois não se trata de amar a Deus que nos amou primeiro, não se trata de “amor com amor se paga”; Deus no Islão é o senhor do Antigo Testamento que ordena submissão, Islão significa submissão, a pessoa submete-se a Deus, não ama a Deus que já não nos chama servos, mas amigos. De facto, a forma histórica como o Islão se expandiu não foi pela missionação ou catequese, mas pela força e submissão armada ou pelo negócio.<br /><br /><b>Natal, festa do Pai</b><br /><i>De tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.</i> <b>João 3, 16</b><br /><br />Como a Igreja tem reservado o domingo depois de Pentecostes para celebrar a Santíssima Trindade, a união e comunhão das três pessoas divinas, é justo que tenha uma solenidade para cada uma das três pessoas divinas. Ao ver que Pentecostes é claramente a celebração de Deus Espírito Santo, desejei ver nas outras duas, Páscoa e Natal, as celebrações do Pai e do Filho, e deparei-me com o problema de que as duas, tanto o Natal como a Páscoa, parecem ser celebrações do Filho, ficando o Pai sem celebração individual.<br /><br />Não é justo que o Filho tenha duas festas e o Pai nenhuma, por isso pensei qual das duas dar ao Pai e com que critério; podia ser a Páscoa, porque Jesus morre fazendo a vontade do Pai (Lucas 22, 42) ou o Natal, pelo que o próprio Jesus diz no seu diálogo com Nicodemos: “Porque Deus tanto amou o mundo que lhe deu o seu Filho Unigénito (João 3, 16-21). <br /><br />Para dirimir a questão, recorremos à gramática e ao que esta nos diz sobre voz ativa e voz passiva. Na Páscoa, parece que é Jesus que dirige a ação quando diz, “não são eles que me tiram a vida sou eu que a dou” (João 10,18). Na Páscoa, Jesus é o ator principal, ninguém tem maior amor que o que dá a vida pelos seus amigos (João 15,13). Não há a menor dúvida então que a Páscoa é a festa do Filho, pois nela é Ele o protagonista.<br /><br />O mesmo já não acontece no Natal, Jesus não é o protagonista do Natal, porque gramaticalmente é pessoa passiva, Jesus não nasce, é dado à luz. Por isto, nunca gostei da formulação do terceiro mistério gozoso que em todas as línguas diz “contemplamos o nascimento de Jesus”. Como se Jesus tivesse caído do Céu de paraquedas ou como se Ele mesmo tivesse provocado o seu nascimento. Este mistério deveria dizer: “No terceiro mistério gozoso contemplamos Maria que dá à luz a Jesus”. <br /><br />O Natal tem dois grandes protagonistas um divino e outro humano. Deus Pai é o protagonista divino e Maria é a protagonista humana. A ação começa em Deus Pai que envia o seu Filho unigénito ao mundo. Se bem que entre o Pai e o Filho não haja ordem de importância, do ponto de vista gramatical e humano, é mais importante quem envia do que quem é enviado; quem envia provoca a ação, quem é enviado sofre a ação. <br /><br />Maria, a protagonista humana, não é passiva, também é ativa; ela representa toda a Humanidade que diz “Sim” ao plano de Deus. Um “Sim” livre porque foi dito de uma forma ponderada e sem nenhuma coação por parte de Deus que o propôs; um “Sim” que, por ser livre, podia ter sido “Não”. Tão importante é o que envia como o que recebe. Se um Rei envia um mensageiro a um outro Rei, este último é livre de receber ou não receber o mensageiro enviado. <br /><br /><u>A figura do Pai Natal</u><br />"Jesus is the reason for the season" - "Jesus é a razão da estação" (Slogan protestante do Natal)<br /><br />Jesus não é a razão da época ou quadra do Natal, o Pai é que é. Nesta festa, Jesus é dado à luz: os verbos que se referem a Jesus nesta quadra vêm em voz passiva. O Natal, como encontro entre Deus e a Humanidade, tem uma protagonista humana, uma mãe, Maria, que recebeu Jesus no seu seio e contribuiu com o seu material genético; e tem um Pai divino, Deus. <br /><br />Noutro tempo, também eu critiquei a importância que a sociedade civil dá à figura mítica do Pai Natal. Hoje entendo que é um desses casos de “voz do povo, voz de Deus”. O Pai Natal representa Deus Pai que enviou o seu Filho ao mundo. Venerável senhor idoso que não esconde a idade nem quer aparentar ser mais jovem, e que se desfaz em amabilidades dando presentes às crianças, acariciando-as e tomando-as ao colo. No imaginário de todas as pessoas, Deus Pai é sempre representado como um homem idoso de cabeleira e barba branca. O Pai Natal coincide com este imaginário coletivo. <br /><br />As suas vestes são vermelhas como as de um bispo porque, historicamente, o Pai Natal está associado ao Bispo São Nicolau, razão pela qual se chama Santa Claus em inglês ou apenas Santa. Vive no Polo Norte, lugar apartado de tudo e de todos, numa região branca, num mundo puro que apela ao imaginário coletivo da forma como se conceptualiza o Céu, morada de Deus. <br /><br />Visita-nos durante a noite, pois, como dissemos, a noite é tempo de salvação. Nunca é visto, mas fala pelas suas obras traduzidas nas graças e presentes que nós, como crianças e seus filhos, lhe pedimos. Podendo entrar por janelas ou portas, entra sempre pela chaminé porque se desloca voando, vem de cima para baixo e entra pela única parte da casa que está sempre aberta e em vigia, assinalando que nós devemos estar sempre em oração, abertos ao Altíssimo, olhando para cima de onde nos vem o auxílio.<br /><br />De repente, juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste, louvando a Deus e dizendo: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do seu agrado. (…) os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, conforme lhes fora anunciado. Lucas 6, 13-14, 20<br /><br /><b>Conclusão</b>: o Natal, por ser a festa de Deus Pai, foi celebrado nos Céus pelos anjos que disseram Glória a Deus nas alturas, e na Terra pelos pastores que voltaram de Belém glorificando e louvando a Deus. <br /><p></p><p style="text-align: right;">Pe. Jorge Amaro, IMC<br /></p><p><br /><br /></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-89676826435410416162023-05-15T13:25:00.000+01:002023-05-15T13:25:22.761+01:00III Mistério - Visita de Maria à sua prima Isabel - 2ª Parte<p><b></b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfz8lA3e0apjM8_SqLhPAS47mfW-ZXfB-9TajPrreNNmme8Jr6FlJIHKQ3ammc2mUZfEvByRerWtN7PS7ML3IEJW069TQ3oJe8cYor3meEK8-K2rTjqBACgvePdFIxhkJWZXTKfjmZ8Vmz8FWsSsADSuBy-PetD6sRwccC681mqxwyrnu-ZnHN6g/s453/09.%203%C2%BA%20Mist%C3%A9rio%20-%20Visita%20de%20Maria%20%C3%A0%20sua%20prima%20Sta.%20Isabel-%202%C2%AA%20Parte.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="453" data-original-width="358" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfz8lA3e0apjM8_SqLhPAS47mfW-ZXfB-9TajPrreNNmme8Jr6FlJIHKQ3ammc2mUZfEvByRerWtN7PS7ML3IEJW069TQ3oJe8cYor3meEK8-K2rTjqBACgvePdFIxhkJWZXTKfjmZ8Vmz8FWsSsADSuBy-PetD6sRwccC681mqxwyrnu-ZnHN6g/s320/09.%203%C2%BA%20Mist%C3%A9rio%20-%20Visita%20de%20Maria%20%C3%A0%20sua%20prima%20Sta.%20Isabel-%202%C2%AA%20Parte.png" width="253" /></a></b></div><b>A Anunciação evoca a escuta da Palavra de Deus – A Visitação evoca o encarnar da Palavra </b><br />Na Anunciação, Maria está atenta à escuta da palavra de Deus que lhe é transmitida por intermédio do anjo Gabriel. Esta é a atitude do verdadeiro discípulo, como Maria de Betânia aos pés do Senhor, escolhendo, segundo o Mestre, a melhor parte. Na Anunciação, Maria tem a mesma experiência que o profeta Jeremias, para quem a palavra de Deus é doce ao paladar, tão doce como o mel. <br /><br />A Visitação é o tratar de encarnar a Palavra, de a colocar em prática para assim sermos não só discípulos do Mestre, mas também familiares íntimos d’Ele a de sua mãe, que passou pelo mesmo processo, bem como os seus irmãos e irmãs. Quem ouve a Palavra e não a faz comportamento do dia a dia, não a encarna, não a coloca em prática, é como o que construiu a sua casa na areia. (Mateus 7, 24-27)<br /><br />A Palavra revela-nos a vontade de Deus a nosso respeito; colocá-la em prática é fazer a vontade de Deus que era já para Jesus o seu próprio alimento, pelo que assim deve ser também para nós. A Palavra, como diz a Bíblia, é viva e eficaz, é na sua prática que ela se transforma em vida e em eficácia. <br /><br /><i>Nem todo aquele que me diz: "Senhor, Senhor", entrará no reino dos céus, mas o que faz a vontade do meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: "Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizámos? Não foi em teu nome que expulsámos demónios? Não foi em teu nome que fizemos numerosas ações poderosas?". Confessar-lhes-ei então: "Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade</i>! <b>Mateus 7, 21-23</b><br /><i><br />Senhor, abre-nos", então, respondendo, ele vos dirá: "Não sei de onde vós sois". Começareis, então, a dizer: "Comemos e bebemos na tua presença, e ensinaste nas nossas praças". E ele dir-vos-á: "Não sei de onde vós sois. Afastai-vos de mim, todos os que praticais a injustiça"</i>. <b>Lucas 13, 25-27</b><br /><br />Comentando e parafraseando os textos acima, "Senhor, Senhor" é o equivalente a ouvir a Palavra de Deus. Se o Senhor nos conhece ou não, depende da prática da Palavra de Deus. Deus não nos conhece da nossa prática religiosa na igreja, mas pela forma como nos comportamos na rua. O texto de Mateus acima citado é seguido pela metáfora de construir sobre a arei ou sobre a rocha. Aquele que põe a palavra em prática constrói sobre a rocha, não sobre a areia como aquele que não pratica aquilo em que diz acreditar. <br /><br />Jesus não nos conhece quando lhe dizemos “Senhor, Senhor,” mas quando o visitamos no próximo, nos necessitados, nos mais pequenos, onde Ele está escondido. Parafraseando S. João, na escuta da Palavra amamos a Deus que não vemos, na visitação do próximo vemos a Deus a quem amamos. <br /><br /><b>Se a Anunciação evoca a semente e a sementeira da Palavra – A Visitação evoca o terreno onde a Palavra cai e frutifica</b><br />Na parábola do semeador, a Palavra de Deus é comparada a uma semente de qualidade que tem em si mesma a potencialidade de dar fruto; uma semente que pode até ser tão pequena como um grão de mostarda, mas que se transforma numa árvore suficientemente grande para as aves do céu fazerem ninho e procriarem, gerando assim mais vida. <br /><br />A semente é a palavra de Deus e o semeador é Cristo; depende do terreno se esta semente vai dar fruto ou não. Não é culpa da semente nem do semeador, mas sim do terreno em que a semente cai. O trigo que Deus semeou no seio de Maria tornou-se para nós pão de vida eterna. <br /><br /><b>Se a Anunciação evoca a fé e a esperança – A Visitação evoca a caridade</b><br /><i>"De que aproveitará, irmãos, a alguém dizer que tem fé, se não tiver obras? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se a um irmão ou a uma irmã faltarem roupas e o alimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: “Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos”, mas não lhes der o necessário para o corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se não tiver obras, é morta em si mesma. <br /><br />Queres ver, ó homem vão, como a fé sem obras é estéril? Abraão, nosso pai, não foi justificado pelas obras, oferecendo o seu filho Isaac sobre o altar? Vês como a fé cooperava com as suas obras e era completada por elas. Assim se cumpriu a Escritura, que diz: Abraão creu em Deus e isto lhe foi tido em conta de justiça, e foi chamado amigo de Deus (Gn 15,6). 24. Vedes como o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé?"</i> <b>Tiago 2, 14- 24</b><br /><br />Esta é uma questão que divide protestantes e católicos e que eu entendo que é um grande equívoco. S. Paulo, nos seus escritos, não tem em conta muitas partes do evangelho, sobretudo o juízo final de Mateus 25 que é sobre as obras e não sobre a fé. Todas as perguntas que nesse juízo se fazem são referentes ao amor ao próximo não ao amor a Deus. <br /><br />No meu entender, quando S. Paulo fala das obras que por si sós não nos salvam, refere-se às obras inspiradas ou feitas pela obediência formal à lei de Moisés, essa mesma lei que o concílio de Jerusalém decidiu não impor aos cristãos vindos do paganismo. Os fariseus pensavam que se salvavam pela obediência formal à lei de Moisés; enquanto que para o cristão o que o salva é o ser como Jesus, praticando obras de misericórdia, mesmo que não acredite n’Ele. <br /><br />Baseados nesse passo da escritura, se tivéssemos que escolher entre o amor ao próximo e o amor a Deus, devíamos escolher o amor ao próximo, pois amando ao próximo estamos a amar a Deus indiretamente; amando só a Deus estamos certamente muito enganados, pois o Deus que pensamos que amamos é Pai do nosso próximo a quem nós ignoramos. O caminho mais seguro para a salvação não é portanto amar a Deus diretamente mas sim indiretamente através do amor pelo nosso próximo. <br /><br />O amor a Deus sem amor ao próximo é uma religião ópio do povo, é uma fé sem verificação nem confirmação, pois o próximo vê-se e Deus não se vê. Deste modo, é uma imagem falsa de Deus aquela que não te leva a amar o próximo. Se a fé é a conta, a caridade, o amor ao próximo é a prova dos nove dessa conta, a confirmação de que está exata; por isso, só pelas obras se pode verificar se a fé é autêntica. <br /><br /><i>"A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará, o dom da ciência findará. (…) Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade – as três. Porém, a maior delas é a caridade.</i>"<b> I Coríntios 13, 8, 13</b><br /><br /><b>Se a Anunciação evoca a liberdade – A Visitação evoca a fraternidade e igualdade</b><br />Na Anunciação, Maria estava rezando, em contacto com Deus e exercendo o amor a Deus sobre todas as coisas. Estava, portanto, exercendo o valor humano da liberdade onde assenta a vida individual de cada ser humano. <br /><br />Só somos verdadeiramente livres quando amamos a Deus sobre todas as coisas e sobre todas as pessoas. Quando O adoramos, ou seja, quando nos submetemos só a Ele, quando só Ele é o Senhor a quem prestamos homenagem e vassalagem, quando isto acontece somos verdadeiramente livres de tudo e de todos.<br /><br />A ideia que aflora à nossa mente quando se fala de liberdade é a de viver de forma independente e autónoma, sem constrangimentos. A liberdade, no sentido de autonomia, é inerente a todo o tipo de vida ou matéria orgânica; é fazer coisas por si mesmo, é ser autónomo e independente como a célula, ou como a árvore que produz o seu próprio alimento pleo processo da fotossíntese.<br /><br />Muito mais que para os animais, a liberdade é “condictio sine qua non” da vida humana. Os animais ou plantas fazem o que a natureza tem predestinado para eles, não saem fora desses moldes, pelo que não têm poder sobre a própria vida, não têm poder de opção. <br /><br />O ser humano, pelo contrário, não está predestinado pela Natureza nem esta exerce poder sobre ele. O ser humano não tem propriamente um “habitat”, um ambiente propício à vida humana, ou seja, um único lugar onde a vida humana é possível. Em vez de se adaptar à Natureza, o ser humano tem a capacidade de adaptar a Natureza às suas necessidades. <br /><br />Hoje a palavra “artificial” tem má fama, soa a plástico, nocivo para a saúde… Porém, a palavra na sua origem é boa pois significa “ars facere” do latim, fazer arte. Para o ser humano, o artificial é natural, o natural é artificial. O que é natural no ser humano é a criatividade de usar a Natureza a seu favor. <br /><br />Os animais estão vivos; o ser humano não só está vivo, como vive, porque pode fazer da sua vida e com a sua vida o que quiser, orientá-la como quiser e até acabar com ela se assim o decidir. O ser humano tem a sua vida nas próprias mãos, não porque a possui, mas porque tem a capacidade de a administrar como quer, de a dirigir, de a gastar toda num projeto, uma opção fundamental para a qual tem talento e se sente chamado. Assim fez Beethoven ao dedicar a sua vida à música, Picasso à pintura, Ghandi à independência da Índia sem violência. <br /><br />Na Visitação, Maria está em contacto com o próximo, exercendo o seu amor pelo próximo na pessoa da sua prima Isabel. Estava a ser uma boa samaritana pois estava a socorrer a sua prima mesmo sem esta lho pedir, como aliás fez nas bodas de Caná mais tarde. Sem que ninguém lho pedisse, ela solucionou o problema do vinho: provavelmente deu-se conta antes do noivo da existência de tal problema e, num ato de profunda empatia para com o noivo e a sua família, resolveu o problema, envolvendo o seu Filho e o seu poder de fazer novas todas as cosias.<br /><br />Como primeiro valor da Revolução Francesa, a liberdade dizia respeito à relação entre indivíduo e sociedade; como segundo, dizia respeito à relação entre os indivíduos no interior da sociedade. O ser humano é um ser pessoal, individual, mas não é uma ilha: sempre faz parte de uma família, de um clã, de uma tribo, de uma nação. <br /><br />Como já refletimos num texto anterior, o ser humano é uno e trino, tal como Deus e a sua criação. São precisos dois seres humanos para dar origem a um, pelo que um não existe, mas coexiste com outros dois. Se o valor base de um ser humano como ser pessoal e individual é a liberdade, o valor onde assenta o ser humano como ser social é a igualdade.<br /><br /><i>Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor. </i>– <b>Levítico 19, 18</b><br /><br />Não há em todo o mundo uma definição melhor de igualdade. O outro é um alter ego, ou seja, é um outro eu; não um tu, uma entidade externa, estranha, estrangeira, distante, mas sim o meu próximo, tão próximo que é um outro eu, um alter-ego, de onde provém a palavra altruísmo. <br /><br />O que me é devido a mim, é-lhe devido a ele, pois é um ser humano como eu e todos viemos do mesmo tronco comum, nascido no Vale do Rift há 5 milhões de anos. A igualdade e a convivência na sociedade assentam no princípio de que os meus direitos são os deveres do meu próximo e os meus deveres são os direitos do meu próximo.<br /><br /><i>Não julgueis, para não serdes julgados; pois, conforme o juízo com que julgardes, assim sereis julgados; e, com a medida com que medirdes, assim sereis medidos.</i> <b>Mateus 7, 1</b><br /><br />– É uma exortação divina à igualdade não nos colocarmos acima dos outros, julgando-os, pois somos todos iguais. Ninguém nos constituiu juízes, e só o seríamos, só poderíamos atirar uma pedra, se não tivéssemos pecado. Mas pecámos e frequentemente julgamos os outros pelos mesmos pecados e defeitos que nós temos, pelo que o nosso julgamento é hipócrita.<br /><br /><i>Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus</i>. <b>Gálatas 3, 28</b><br /><br />– Jesus curou estrangeiros e frequentemente exaltou a sua fé. Tratava o homem e a mulher de igual para igual, foi o único Rabino que teve discípulas. Nas parábolas que contava procurava um equilíbrio entre os homens e as mulheres como protagonistas. Combateu o cliché de que a mulher devia dedicar-se exclusivamente ao trabalho doméstico, tendo como única vocação ser mãe. Desta forma, 2000 anos antes, já Jesus era a favor da integração da mulher no mundo do trabalho, ao lado do homem. (Cf. Lucas 10, 38-42, Lucas 11, 17)<br /><br /><b>As visitas de Maria</b><br />Explicamos e justificamos que Maria é medianeira e nossa intercessora no Céu com o episódio das bodas de Caná (João 2, 1-11), no qual ela apresenta as necessidades dos convivas ao seu Filho, ao mesmo tempo que os exorta a fazer tudo o que Ele disser. Por que não explicar e justificar as visitas de Maria com o episódio da visita à sua prima Isabel? (Lucas 1, 39-45)<br /><br />Nas suas visitas, Maria não traz um evangelho novo, uma mensagem nova, mas tal como o Espírito Santo de quem ela é Esposa, recorda partes esquecidas da mensagem (Cf. João 14, 26) do seu Filho e reinterpreta-as no “aqui e agora” da história dos homens. De facto, um dos fatores importantes da genuinidade destas mensagens é a sua concordância com o evangelho.<br /><br />Maria continua a visitar aqueles de quem ela é mãe em momentos fulcrais da História dos seus filhos, para ajudar a encarnar nesses momentos e lugares a Palavra eterna do seu filho. <br /><br /><b><u>Guadalupe – Apoio à evangelização</u></b><br />Como iam os indígenas, em 1531, aceitar de bom grado a religião dos conquistadores, exploradores e assassinos espanhóis, se Maria não tivesse aparecido a um indígena. De facto, os indígenas até àquele tempo reticentes ao cristianismo, converteram-se em massa depois das aparições.<br /><br /><u>Lourdes – O Céu confirmou</u><br />Parte importante da mensagem de Lourdes é a confirmação do Céu, no ano de 1858, do dogma da Imaculada Conceição instituído pelo papa Pio IX quatro anos antes em 1854.<br /><br /><u>Fátima – “Penitência e Oração” são a solução</u><br />Entre duas guerras mundiais, Maria propôs em Fátima, entre outras coisas, a “Penitência e a Oração” como meios para fazer frente ao ateísmo militante, naquele tempo e ainda hoje. <br /><br /><b>Conclusão</b>: depois da doação total de si mesma a Deus na Anunciação, Maria doa-se em igual medida ao próximo, ao visitar a sua prima Isabel. <br /><p></p><p style="text-align: right;">Pe. Jorge Amaro, IMC<br /></p><p><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-72536073568573129812023-05-01T14:49:00.000+01:002023-05-01T14:49:41.389+01:00III Mistério - Visita de Maria à sua prima Isabel - 1ª Parte<p><i></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlP5VwIb9e-sGSB6JtT0C68p7-hSNznb5loahhwdMBWeQQUC8u86XFtnsMnbNUxVX7RqOyIcQfoe281U2B2VqvxglZL4VpOevkg1HsIo8PA64Q86JV4kZ_vsX3RyuqKG7LggRLtw0qjKdZ4c9pSWMgTZiabju8yBsTxmG-FMLO2AmKhM34TOXjLQ/s735/08.%203%C2%BA%20Mist%C3%A9rio%20-%20Visita%20de%20Maria%20%C3%A0%20sua%20prima%20Sta.%20Isabel-%201%C2%AA%20Parte.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="735" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlP5VwIb9e-sGSB6JtT0C68p7-hSNznb5loahhwdMBWeQQUC8u86XFtnsMnbNUxVX7RqOyIcQfoe281U2B2VqvxglZL4VpOevkg1HsIo8PA64Q86JV4kZ_vsX3RyuqKG7LggRLtw0qjKdZ4c9pSWMgTZiabju8yBsTxmG-FMLO2AmKhM34TOXjLQ/s320/08.%203%C2%BA%20Mist%C3%A9rio%20-%20Visita%20de%20Maria%20%C3%A0%20sua%20prima%20Sta.%20Isabel-%201%C2%AA%20Parte.jpg" width="261" /></a></i></div><i>"Naqueles dias, Maria levantou-se e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: <br /><br />“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor? Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio. Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!</i>”.<b> Lucas, 1:39-45</b><br /><br />A notícia de que a prima Isabel ia já no sexto mês de gravidez foi dada pelo anjo como prova de que a Deus nada é impossível. Maria, porém, sem comentar a notícia com o anjo, guardou-a e quando terminou o encontro com o mensageiro de Deus imediatamente partiu para Ein Karen, a 145 km de Nazaré. A viagem foi feita em caravana, na companhia de outros viandantes e deve ter demorado entre 7 e 10 dias.<br /><br />Com o encontro e as palavras de Isabel a Maria completa-se a primeira metade de uma oração muito querida e repetida pelos católicos – Ave Maria – que na sua primeira parte é composta pelas palavras do anjo, seguidas das palavras de Isabel e terminando em Jesus que é o centro da oração, como sempre foi o centro da vida de Maria. <br /><br />A segunda parte desta oração reflete o que Maria é para nós e o seu papel na História da Salvação do género humano e de cada um de nós individualmente. Por isso lhe pedimos que peça, que ore a Deus por nós “agora” em todos os “agora(s)” da nossa vida e, sobretudo, naquele “agora” derradeiro da nossa passagem deste mundo para o Pai. Como ela esteve aos pés da cruz do seu filho na sua agonia, assim nos acompanhe a nós na nossa.<br /><br /><b>Anunciação/Visitação</b><br />Há uma dialética entre a anunciação do anjo à Nossa Senhora e a visitação da Nossa Senhora à sua prima Santa Isabel, que faz com que estes dois mistérios tanto gozosos como marianos sejam inseparáveis um do outro, ou seja não possam nem devam ser entendidos individualmente, mas sempre em relação um com o outro. <br /><br />Nestes dois mistérios e no que eles podem significar e evocar, vai toda a vida do cristão, ou seja, sintetizam em si a vida do cristão. Por isso, Maria é para nós modelo de vida cristã; ela de facto não foi só Mãe do Senhor, foi também sua discípula. Mãe porque discípula, discípula porque mãe. (Lucas 8, 21). Assim, pois, se:<br /><br /><b>Se a Anunciação evoca o “Ora”, a oração, a Visitação evoca o “Labora”, a prática de boas obras</b><br /><i>Um dia, um grande rei visitou o seu mestre espiritual e perguntou-lhe, “Como posso alcançar a União com Deus? Quero que me respondas com uma só frase, pois sou um homem muito ocupado”. “O mestre disse-lhe: Até lho posso dizer numa só palavra”. “Qual é a palavra?” perguntou o rei”. “É o silêncio”, respondeu o mestre espiritual. “E como posso alcançar o silêncio”? “Através da oração”. “E o que é a oração?” “É silêncio”, respondeu o mestre.</i><br /><br />No silêncio encontro-me a mim próprio e encontro a Deus no fundo do meu ser. No ruído perco-me a mim próprio e perco a Deus. O filho pródigo fez o que fez porque andava divorciado de si mesmo; quando caiu em si, voltou a Deus; então estar com Deus e connosco próprios implicam-se mutuamente. Quem está fora de si mesmo, está fora de Deus. Porque, como dizia Sto. Agostinho, “Deus intimior intimo meo”. Deus está mais fundo que o meu íntimo, está para além do meu íntimo, ou seja, não posso chegar a Deus sem passar por mim mesmo. <br /><br />O “conhece-te a ti mesmo” do filósofo Sócrates, não é possível sem a oração. Sem um tempo dedicado à oração, como fazia Maria e o seu filho, não chegamos a conhecer os nossos talentos, as nossas virtudes e os nossos defeitos e limitações. Uma vida não autorreflexiva, dizia também Sócrates não vale e pena ser vivida. Pois é na autoconsciência que podemos exercer controlo sobre os nossos impulsos e maus instintos. Sem autoconsciência, não há autocontrolo. <br /><br />Os Evangelhos apresentam frequentemente, sobretudo nas escolhas decisivas, Jesus que se retira sozinho para um lugar longe das multidões e dos próprios discípulos, para rezar no silêncio e viver o seu relacionamento filial com Deus. O silêncio é capaz de escavar um espaço interior em nós mesmos, dizia o Papa Bento XVI, para fazer habitar Deus esse espaço, para que a sua Palavra permaneça em nós, para que o amor por Ele se enraíze na nossa mente e no nosso coração, e anime a nossa vida. <br /><br />Portanto, a primeira direção: reaprender o silêncio, a abertura para a escuta, que nos abre para o alto, para a Palavra de Deus. Como dizia Karl Rhaner, o grande teólogo jesuíta do século XX, os cristãos do futuro ou são místicos ou não são cristãos.<br /><br />Alguém dizia que a vida do cristão decorre entre a Igreja como templo e a praça ou o mercado. No templo, o cristão está em oração e contemplação de Deus e de si mesmo; no mercado, o cristão está vivendo a sua fé na caridade e no amor ao próximo. Mesmo os monges contemplativos que dedicam muito tempo à oração “Orat”, também têm atividade, “laborat”. <br /><br /><i>"Intimamo-vos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, a que eviteis a convivência de todo o irmão que leve vida ociosa e contrária à tradição que de nós tendes recebido. Sabeis perfeitamente o que deveis fazer para nos imitar. Não temos vivido entre vós desregradamente, nem temos comido de graça o pão de ninguém. Mas, com trabalho e fadiga, labutamos noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós. <br /><br />Não porque não tivéssemos direito a isso, mas foi para vos oferecer em nós mesmos um exemplo a imitar. Aliás, quando estávamos convosco, nós vos dizíamos formalmente: quem não quiser trabalhar não tem o direito de comer. Entretanto, soubemos que entre vós há alguns desordeiros, vadios, que só se preocupam em intrometer-se em assuntos alheios. A esses indivíduos ordenamos e exortamos a que se dediquem tranquilamente ao trabalho para merecerem ganhar o que comer. Vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem.</i>"<b> II Tessalonicenses, 3, 6-13</b><br /><br />Para S. Paulo, não há profissionais nem da oração nem do anúncio do Evangelho. Isto deve ser tarefa de todos. Ele mesmo, como refere o texto, trabalhava, fazia tendas para ganhar o próprio sustento, não vivia nem à custa da oração nem da evangelização. Era, pois, contrário àquela divisão tradicional das classes sociais na Idade Média, em que o clero, rezava, os nobres protegiam o povo e o povo trabalhava para o sustento do clero e da nobreza. Mesmo já nesta Idade Média, os que muito se dedicavam à oração, os monges Beneditinos e Cistercienses, trabalhavam não só para o próprio sustento, mas também para o sustento das povoações vizinhas, às quais ensinavam práticas agrícolas. <br /><br /><b>Se a Anunciação evoca o “amar a Deus sobre todas as coisas” – A Visitação evoca o “amar ao próximo como a ti mesmo”.</b><br /><i>Escuta, Israel! O Senhor é nosso Deus; o Senhor é único! Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. Estes mandamentos que hoje te imponho estarão no teu coração. Repeti-los-ás aos teus filhos e refletirás sobre eles, tanto sentado em tua casa, como ao caminhar, ao deitar ou ao levantar. Atá-los-ás, como símbolo, no teu braço e usá-los-ás como filactérias entre os teus olhos. Escrevê-los-ás sobre as ombreiras da tua casa e nas tuas portas.» <b>Deuteronómio 6, 4-8</b><br /></i><br />Jesus disse à samaritana que não era nem no monte Gerasim, onde Jacob tinha construído um santuário Bétel, nem em Jerusalém, onde Salomão tinha construído o templo. Adora-se a Deus em espírito e em verdade. E noutro sítio da escritura, Jesus até diz que quem quiser rezar, entre no seu quarto. Na oração exercemos o nosso amor a Deus. É certo que em todo momento o amamos, porém, a oração é a manifestação desse amor que em todo o tempo sentimos. <br /><br />Para todos os efeitos, o Criador sabe sempre mais da criatura que a criatura sabe de si mesma. O Criador ama mais a criatura que a criatura se ama a si mesma. O Criador sabe tudo da criatura, passado, presente e futuro, por isso, mais que a criatura, está capacitado para defender os seus interesses. <br /><br /><i>Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim.</i> <b>Mateus 10, 37</b><br /><br />Tudo o que a criatura pode e deve fazer é entregar-se nas mãos do Criador, tal como um bebé sem hesitação se lança nos braços do pai. Assim, podemos entender o texto clássico do amor a Deus que é o credo, que todo o judeu recita quando se levanta de manhã. O amor a Deus é sobre todas as coisas, sobre todas as pessoas, completa e absolutamente exclusivo, acima do amor que temos por nós mesmos. <br /><br /><b>Deus só ama os que o amam</b><br /><i>Ao entrardes numa casa, saudai-a. Se a casa for digna, venha sobre ela a vossa paz, mas se não for digna, volte para vós a vossa paz.</i> <b>Mateus 10, 12-13</b><br /><br />Frequentemente em sermões, para obter a atenção dos que estão meio adormecidos, lanço uma granada no meio da audiência dizendo “Deus só ama a quem O ama”. Em seguida, os que se consideram teólogos objetam e dizem que não, que Deus ama a todos por igual, e até me citam a Bíblia, que faz chover sobre o justo e sobre o injusto. <br /><br />E é verdade, em teoria Deus amou tanto a Hitler como a Francisco de Assis. No entanto, a vida dos dois não foi a mesma; se os dois tiveram a mesma quantidade e qualidade de amor de Deus, por que foram tão distintos? Francisco aceitou o amor de Deus, fez-se eco dele amando a Deus; Hitler não. O sol, antes de chegar ao nosso planeta e de o aquecer e iluminar, passa pelo espaço onde a temperatura é de 300 graus negativos. Porquê? Porque está vazio, nada há nele que faça eco e acolha essa luz e esse calor. A única forma de fazer-se eco do amor de Deus é amá-l’O também.<br /><br />“Amor com amor se paga” – Como diz a escritura, Deus amou-nos primeiro e sempre nos ama, mas se eu não faço eco do Seu amor em mim, é como se Ele não me amasse. Só com o amor podemos fazer eco do amor de Deus em nós. Ao amor, ou se responde com amor ou somos ingratos. Por isso, se bem que em teoria Deus ama a todos por igual, só o que aceita esse amor, só o que está aberto ao amor de Deus, sente os efeitos desse amor. O ato de aceitar o amor de Deus, o estar aberto ao amor de Deus, é amar a Deus. <br /><br />Como o texto bíblico acima citado (Mateus 10: 12-13) sugere, a bênção volta para quem bendiz quando não é bem recebida. Assim, é com o amor de Deus que não encontra um coração aberto para receber o amor que Deus tem para dar. <br /><br /><b>Amar e ser amado</b><br />Amar e ser amado é a primeira necessidade humana, depois das necessidades físicas. Não há vida humana sem amor; viver é amar. Durante toda a nossa vida teremos esta necessidade. Por isso, por ser uma necessidade humana e por não haver vida humana autêntica sem amor, amar é, ao mesmo tempo, um dever e um direito. <br /><br />Como necessidade inerente à natureza humana e à dignidade da pessoa humana, todos os seres humanos têm o direito de ser amados e o dever de amar. Como crianças, a prioridade é sermos amados, pois é sendo amados incondicionalmente que aprendemos a amar incondicionalmente. Como adultos, a prioridade é amar; se um adulto tem como prioridade ser amado mais que amar, não é um adulto maduro. É um desses tipos de adultos que vemos nas telenovelas, que usam mil e um estratagemas para obter a estima de alguém e pouco ou nada fazem para amar alguém.<br /><br />A nível educacional, o amor é um dever dos adultos para com as crianças, um direito inerente e inato das crianças em relação aos adultos. Fora do âmbito educacional, a necessidade de amar e ser amado permanece para o resto da vida, pelo que é sempre, simultaneamente, um direito, ainda que não o reivindiquemos, e um dever, ainda que não o exercitemos. <br /><br />Porém, Deus continuamente nos perguntará “onde está o teu irmão?” (Génesis 4, 9). Responder que não somos o guardião do nosso irmão não é uma resposta que satisfaça a Deus nem à nossa consciência. Convém também lembrar que a matéria do Juízo Final é a mesma matéria da vida: o amor. Se amaste, viveste; se não amaste, não viveste, eras um morto vivo, ou seja, o corpo estava vivo, mas a alma já estava morta. Com a morte do corpo, regressas ao nada a partir do qual Deus te tinha criado para fazer de ti alguma coisa; mas tu não colaboraste com a Sua graça. <br /><br /><b>Conclusão</b>: Se na Anunciação Maria manifesta o seu amor a Deus, na Visitação à sua prima manifesta o seu amor ao próximo. Nestes dois mistérios gozosos e marianos se resume a vida do cristão. <br /><p></p><p style="text-align: right;">Pe. Jorge Amaro, IMC<br /></p><p><br /><br /><br /></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-85662425930880587482023-04-15T14:23:00.000+01:002023-04-15T14:23:29.069+01:00II Mistério: Anunciação do anjo à Virgem Maria<p><i></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhD8-1EluLSY0YfrE0v7u7MSU2hBA9eu6zCDfQ-JnhzYrwPu162ceYVhrpfY7MUbCFVduyRtX55QCYKfhgRb1zXjxdH_J6jy3LrVHLMQPe-iTuWgduQ_-cupX2NgqNHt9Bxv88-7MUGo6NXrSf8ktdldDkM0LRxJt6AfQ41Jqg1-8stMY7pJ-3oGg/s533/07.%202%C2%BA%20Mist%C3%A9rio%20-%20Anuncia%C3%A7%C3%A3o%20do%20anjo%20%C3%A0%20Virgem%20Maria.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="530" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhD8-1EluLSY0YfrE0v7u7MSU2hBA9eu6zCDfQ-JnhzYrwPu162ceYVhrpfY7MUbCFVduyRtX55QCYKfhgRb1zXjxdH_J6jy3LrVHLMQPe-iTuWgduQ_-cupX2NgqNHt9Bxv88-7MUGo6NXrSf8ktdldDkM0LRxJt6AfQ41Jqg1-8stMY7pJ-3oGg/s320/07.%202%C2%BA%20Mist%C3%A9rio%20-%20Anuncia%C3%A7%C3%A3o%20do%20anjo%20%C3%A0%20Virgem%20Maria.jpg" width="318" /></a></i></div><i>"No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de David e o nome da virgem era Maria. Entrando, o anjo disse-lhe: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo”. Perturbou-se ela com essas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação. <br /><br />O anjo disse-lhe: “Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai David; e reinará eternamente na casa de Jacob, e o seu reino não terá fim”.<br /><br />Maria perguntou ao anjo: “Como se fará isso, pois não conheço homem?” Respondeu-lhe o anjo: “O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso, o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, porque a Deus nenhuma coisa é impossível”. Então disse Maria: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra”. E o anjo afastou-se dela.</i>" <b>Lucas 1,26-38<br /></b><br />Este segundo mistério é conhecido como o primeiro mistério gozoso. Porém, estamos no contexto da pré-história de Jesus de Nazaré, pelo que é um mistério profundamente mariano. O Anjo Gabriel é o arauto da Nova Era que está para começar. Deus vai visitar outra vez o seu povo como o fez no Egito, mas desta vez a libertação é mais espiritual que física e mais abrangente, ou seja, não só para o seu povo, mas para todos os povos. Faz-se realidade o sonho e a profecia de Isaías (25, 6), do banquete para todos os povos em Jerusalém. <br /><br /><b>Gabriel e a natureza dos anjos</b><br />No princípio, Hashem criou três tipos de criaturas, os anjos, as bestas e os seres humanos. Os anjos, criou-os a partir da Sua palavra pura. Os anjos não têm qualquer vontade de fazer o mal. Não podem desviar-se por um só momento dos Seus desígnios. As bestas apenas têm os seus instintos a guiá-las. Também elas seguem o comando do seu criador. A Torah declara que Hashem gastou quase seis dias completos de criação a dar forma a estas criaturas. <br /><br /><i>Em seguida, imediatamente antes do ocaso, tomou uma pequena quantidade de terra e com ela moldou o homem e a mulher. Uma ideia tardia? Ou o coroar da Sua obra? Então, o que é esta coisa? Homem? Mulher? É um ser com o poder de desobedecer. Só nós entre todas as criaturas temos livre arbítrio. Estamos suspensos entre a clarividência dos anjos e os desejos das bestas. Hashem deu-nos a escolha, que é simultaneamente um privilégio e um fardo. Temos então de nos resignar à vida enredada que vivemos</i>. <b>Anton Lesser: Rav Krushka no filme: Desobediência (2017)</b><br /><br />As palavras acima citadas são colocadas na boca de um velho rabino. A teologia hebraica não concede aos anjos liberdade, livre arbítrio, não são livres de escolher o bem nem o mal. Vivem como os animais, para além do bem e do mal. A diferença destes é que não têm desejos porque não têm corpo físico como os animais. Sendo seres puramente espirituais, apenas possuem uma forma de pensamento ao qual foi retirado o livre arbítrio, a diferença do bem e do mal. São uma pura extensão do pensamento de Deus e não podem desviar-se destes pensamentos. <br /><br />Possuem alguns atributos de Deus, são a companhia de Deus no Céu, relacionam-se com Deus e Deus com eles como o amo com o seu estimado cão ou gato, ou qualquer outro animal de estimação, não sendo, como já dissemos, seres de corpo físico, mas seres de corpo espiritual. <br /><br />Ao não terem livre arbítrio, os anjos, a história extra-bíblica da génese do demónio ou diabo não faz qualquer sentido. Nunca houve um anjo que desobedecesse aos planos de Deus, porque os anjos, extensão do pensamento de Deus, vivem subjugados de forma feliz ao seu criador, como um animal de estimação ao seu dono, sem capacidade para divergir, discernir, escolher ou dizer que não. Portanto, Gabriel, mensageiro de Deus, apresenta-se com uma mensagem que ele não pode mudar dirigida a Maria, ser humano, que tem poder para de dizer que sim ou não aos planos de Deus.<br /><br /><b>Uma virgem dará à Luz…</b><br /><i>“Pede ao Senhor, teu Deus, um sinal, seja do fundo da habitação dos mortos, seja lá do alto”. Acaz respondeu: “De maneira alguma! Não quero pôr o Senhor à prova”. Isaías respondeu: “Ouvi, casa de David: Não vos basta fatigar a paciência dos homens? Pretendeis cansar também o meu Deus?" O próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará ‘Deus Emanuel Deus connosco</i>. <b>Isaías 7, 11-14</b><br /><br /><u>Contexto original da profecia</u><br />No século VIII A.C, o Reino de Judá estava prestes a ser invadido pelo reino do Norte (Israel) e pela Síria, para forçarem Acaz, rei de Judá, a entrar em aliança com estes dois reinos contra a poderosa Assíria. <br /><br />Em Isaías 7:10-12, Deus, por intermédio do profeta, exorta o rei Acaz a pedir a Deus um sinal. Este, temendo que a vontade de Deus fosse diferente da sua, pois já tinha pensado forjar uma aliança com a poderosa Assíria, recusa pedir um sinal a Deus, citando Deuteronómio 6:16 como desculpa.<br /><br />Deus, por sua livre iniciativa, dá o sinal na mesma, mas o destinatário já não é a pessoa individual do rei Acaz, mas a dinastia à qual ele pertence, a casa de David. Prova disso é que esta dinastia é mencionada no versículo 13, o que significa que o “vos” do versículo seguinte, o 14, não se refere ao rei como pessoa, mas à dinastia à qual ele pertence, a casa de David. O termo hebraico, "lakem", traduzido "para ti" está na forma plural e designa, portanto, sinal que é "dado a ti, mas não se refere a ti, ou seja, não será cumprido no teu reinado, mas muito mais tarde".<br /><br />Tentando interpretar “Vos” como referindo-se à pessoa do rei Acaz, alguns rabinos afirmaram que este personagem, o Emanuel, era Ezequias, filho do próprio rei Acaz. Porém, feitas bem as contas usando os reinados dos reinos vizinhos contemporâneos, quando a profecia foi anunciada já Ezequias tinha entre 12 a 14 anos de idade. <br /><br />As profecias não têm data de realização e também não têm um rótulo onde esteja estipulada a data de caducidade. Trata-se da Palavra de Deus que é eterna e que pode ser anunciada muito longe da sua realização. Isto mesmo se subentende no carácter enigmático e insólito da profecia, assim como na ambiguidade do termo “virgem”. <br /><br /><u>O termo “Virgem”</u><br />A língua grega traduziu “almah” que em hebreu significa donzela (uma moça jovem) por “párthenos” que significa “Virgem”. Na cultura hebraica, a virgindade não é um valor e, se o é, está ao serviço da maternidade. Porém, é correto usar o termo “virgem” como sendo o que melhor se adequa à mensagem que o profeta quer transmitir.<br /><br />Ou seja, se é um sinal divino, deve ser necessariamente extraordinário; ora que uma donzela dê à luz, não tem nada de extraordinário; é, sempre foi e será normal e rotineiro. Por outro lado, o que vai nascer não é uma pessoa humana qualquer, mas sim o Emanuel, ou seja, uma pessoa por intermédio da qual Deus está connosco. Por fim, o texto fala e só menciona a mãe do Emanuel, não o Pai, pelo que se assume que seja o próprio Deus. <br /><br /><b>Conclusão</b>: O anjo do Senhor anunciou a Maria que ela era a depositária e o cumprimento da promessa que Deus fez a Acaz oito séculos antes, pela boca do profeta Isaías (7:14) Uma virgem conceberá e dará à luz um filho que terá por nome Emmanuel, Deus connosco. <br /><p></p><p style="text-align: right;">Pe. Jorge Amaro, IMC<br /></p><p><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-51020658612431570692023-04-01T05:30:00.001+01:002023-04-14T16:02:53.515+01:00I Mistério: Imaculada Conceição e nascimento da Virgem Maria - 2ª Parte<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCJ_v19KYrhsUWUubdti30sk74yl_KS5lJYZKcwKPLOW1po2aRAB4aAPaRcCAB_dL-0tBF7utVDLLDRlizTI9Nk2QHqDwCbmFe3ZXU0Tl9HvCjaf2QYtlhaJXsoUTamVotWQseLd7amNm17oFV5UglaojgeX6dx8FcA6RHHJtvMquqhbIC5ufM2Q/s2449/06.%201%C2%BA%20Mist%C3%A9rio%20-%20Imaculada%20concei%C3%A7%C3%A3o%20e%20nascimento%20de%20Maria%202%C2%AA%20Parte.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2449" data-original-width="2212" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCJ_v19KYrhsUWUubdti30sk74yl_KS5lJYZKcwKPLOW1po2aRAB4aAPaRcCAB_dL-0tBF7utVDLLDRlizTI9Nk2QHqDwCbmFe3ZXU0Tl9HvCjaf2QYtlhaJXsoUTamVotWQseLd7amNm17oFV5UglaojgeX6dx8FcA6RHHJtvMquqhbIC5ufM2Q/s320/06.%201%C2%BA%20Mist%C3%A9rio%20-%20Imaculada%20concei%C3%A7%C3%A3o%20e%20nascimento%20de%20Maria%202%C2%AA%20Parte.jpg" width="289" /></a></div>Na Inglaterra e na Normandia, no século XI, aconteceu uma festa da conceição de Maria e nessa festa foi celebrado o facto milagroso de que Ana era estéril e deu à luz. Sto. Anselmo tinha dito que foi preservada do pecado. Em 1439, no Concílio de Basileia, este mistério foi considerado uma verdade da fé e Pio IX proclamou o dogma em 1854.<br /><b><br />Origem do pecado e pecado original</b><br />Deus criou o homem à sua imagem e semelhança; com o pecado perdemos a semelhança com Deus, mas mantivemos ainda a sua imagem. Já não somos como Deus nos criou; o pecado dos nossos pais alastrou-se no espaço e no tempo, alterando profundamente a natureza humana. O homem construiu o seu próprio inferno, tipificado nas cidades de Sodoma e Gomorra. O dilúvio – destruir tudo e começar de novo – com a família de Noé, foi o primeiro plano para salvar a espécie humana. Mas a descendência de Noé depressa voltou ao pecado dos seus antepassados. <br /><br /><i>Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que ficaram embotados.</i> (Jeremias 31, 29) Sem conhecer as leis da hereditariedade de Mendel, os hebreus tinham consciência de que certos males passavam de pais para filhos. De facto, o pecado de Adão e Eva corrompeu-os, não só a nível existencial como pessoas, mas também a nível genético, pelo que as consequências seriam sofridas por toda a espécie humana.<br /><br /><i>Quando Adão pecou, o pecado transmitiu-se a toda a raça humana e trouxe, como consequência, a morte a todos; e todos foram contados como pecadores</i>. <b>Romanos 5, 12</b><br /><br />O pecado original causou uma mutação genética nos nossos genes e transformou-se num cancro, numa doença hereditária determinística, ou seja, é impossível que quem tenha nascido de homem e mulher não a tenha. O mal transformou-se assim numa segunda natureza que está já presente desde o momento da nossa conceção.<br /><br />Os pais não ensinam as crianças a mentir nem a roubar, no entanto, passados uns anos de boa e excelente educação, tanto no exemplo como nas palavras, os pais apanham os seus queridos meninos a roubar uns tostões das suas carteiras ou a mentir descaradamente. O mal não necessita ser aprendido, estamos naturalmente inclinados para o mal. O próprio Cristo reconheceu esta natureza caída do ser humano quando disse: <br /><br /><i>Não há nada exterior ao homem que ao entrar nele o torne impuro; antes o que sai dele é que o torna impuro. (…) O que sai do homem é que o torna impuro. Porque do seu íntimo, do seu coração, vêm os maus pensamentos, imoralidades sexuais, roubos, homicídios, adultérios, cobiça, maldades, engano, indecências, inveja, calúnia, orgulho e coisas insensatas. Todas essas coisas más procedem do íntimo da pessoa; são elas que tornam o homem impuro.</i> <b>Marcos 7:15, 20-23</b><br /><br /><b>Usurpação do critério do bem e do mal</b><br />A pseudo-emancipação do homem, o querer ser como Deus, o ter usurpado a Deus a prerrogativa do bem e do mal, foi a origem do pecado ou pecado original que foi passando de geração em geração, pois modificou o ADN da espécie humana. O mal instalou-se dentro da espécie humana de tal forma que, como dizia Jesus em Mateus 15, 11, “Não é aquilo que entra pela boca que torna o homem impuro; o que sai da boca é que torna o homem impuro”. Não é, portanto, a má educação que leva o homem a ser mau; a maldade já está no seu interior. <br /><br />Enquanto o critério do bem e do mal estava no centro do jardim do Éden, e pertencia exclusivamente a Deus, a terra era o Reino de Deus; havia paz, união, consenso, pois todos se submetiam a um critério único. Quando o Homem, querendo ser como Deus, se colocou no centro, roubando a prerrogativa do bem e do mal, instalou-se a divisão, a guerra, a subjetividade, a arbitrariedade, o relativismo, a divisão, a discórdia. Todos os indivíduos querem o centro. Não pode haver dois centros, se eu tenho o critério do bem e do mal, tu não o tens ou eu não to reconheço. <br /><br />Ninguém faz o mal pensando que está a fazer o mal; ao matar 5 milhões de judeus, Hitler pensava que estava a fazer um favor à humanidade; os bombistas suicidas que se matam e que matam pessoas inocentes, dizem que estão a sacrificar-se por um bem maior; os extremistas muçulmanos matam em nome de Deus….<br /><br /><b>Somos maçãs com bicho</b><br />Os pais que se esmeram na educação dos seus filhos ficam admirados quando estes começam a mentir, a roubar e a fazer outras travessuras que eles nunca lhes ensinaram. O mal está dentro de nós e não precisa de ser aprendido. Como diria o psicólogo Jung, o mal pertence ao inconsciente coletivo da humanidade. Cada ato malvado que um indivíduo leva a cabo, instala-se nesse coeficiente coletivo, de tal forma que os indivíduos que nascem depois, nascem com a capacidade de voltar a realizá-lo sem precisarem de nenhuma aprendizagem.<br /><br />Muita gente ao ver uma maçã com um buraquinho pensa que o buraquinho foi feito pelo bicho, ao entrar na maçã, mas o que acontece é o contrário: foi feito pelo bicho ao sair da maçã. O bicho nasceu de um ovo que um inseto depositou na maçã durante a floração. Todos nós somos maçãs com bicho: o mal está dentro de nós e só precisa de uma determinada circunstância para se revelar. <br /><br />Não é, portanto, como diz o provérbio “A situação faz o ladrão”. Todos, tarde ou cedo, são confrontados com situações em que podem roubar; à partida, todos somos capazes de roubar. Roubar ou não roubar vai depender do grau de educação, em valores humanos, que temos no momento da tentação. Só esse grau de educação em valores humanos pode contrariar a tendência inata em todos.<br /><br /><b>De Eva a Avé</b><br />Duas são as razões pelas quais Deus veio até nós em forma humana: a primeira para nos dizer, de uma forma definitiva, como é Deus, a segunda para nos dizer como é o ser humano e como deve ser. Cristo é de facto a medida do ser humano, o padrão de referência da humanidade, aquele em relação ao qual todos os indivíduos devem medir-se, pois Ele é a norma, Ele é o modelo, o paradigma. Cristo é o homem que Deus criou em Adão, antes de este ter desobedecido. De facto, Jesus mostra, pelas palavras e pelas obras, que se mantém, toda a sua vida, obediente a Deus.<br /><br />Como Cristo é o segundo Adão, Maria é a segunda Eva. Avé é, de facto, Eva ao contrário. Cristo, o filho de Deus altíssimo, não podia ter como mãe Eva, depois do pecado; por isso, no momento da sua conceição, no momento em que meia célula de Joaquim se uniu à meia célula de Ana, sua esposa, Deus atuou, evitando que os genes que, desde o pecado de Adão e Eva tinham passado de geração em geração, passassem também para Maria. Maria foi concebida sem pecado original, por ter sido destinada a ser a mãe do filho de Deus. Não faz sentido que Deus encarnasse na natureza humana que Adão e Eva modificaram com o pecado. Por isso, Maria que ia a ser a mãe do Senhor foi preservada desta herança negativa, comum a todos os mortais.<br /><br />Na Etiópia, não existe a figura negativa da madrasta. Muitas vezes, uma é a mãe biológica e outra é a mãe que cria e educa. Chama-se a “Ingera enat” ou seja, mãe do pão. Quando estudava teologia, tinha um colega que à sua tia biológica chamava mãe e à sua mãe biológica chamava tia. O meu colega tinha sido rejeitado pela sua mãe biológica e acolhido pela irmã desta que o criou. Era tanto o amor que tinham um pelo outro que, estando ela já doente, em fase terminal de cancro, não faleceu enquanto não viu o seu filho (biologicamente sobrinho) ordenado sacerdote.<br /><br />Eva é a mãe biológica de todos os viventes; Maria é a nossa mãe de pão, desse pão eucarístico que é o seu filho nascido numa cidade chamada Belém, que literalmente significa casa de pão e que ela depositou numa manjedoura, recipiente onde se come, para que nós nos alimentássemos dele. <br /><br />Eva é a nossa progenitora, mas abandonou-nos à nossa sorte; Maria é aquela que provê às nossas necessidades quando em Caná diz “Não têm vinho” João 2, 2.<br /><br />Eva é a que nos ensinou a fazer o mal; Ave ou Maria é a que nos educa e ensina a fazer o bem ao apontar para o seu filho e dizer “fazei o que ele vos disser” João 2, 5. <br /><br /><b>Natividade de Maria</b><br /><i>Não podemos reconhecer as bênçãos que nos trouxe Jesus, sem reconhecer ao mesmo tempo quão imensamente Deus honrou e enriqueceu Maria, ao escolhê-la para Mãe de Deus</i>. <b>(João Calvino," Comm. Sur l‟Harm. Evang.",20)</b><br /><br />Nove meses depois da Imaculada Conceição da Virgem Maria, a Igreja celebra a natividade de Nossa Senhora, no dia 8 de setembro. Num contexto bíblico de tantos nascimentos nas mesmas circunstâncias, desde Isaac, Samuel, Sansão etc., segundo reza a tradição, Maria nasceu de pais de avançada idade e estéreis, de nome Joaquim e Ana. Como resposta à sua perseverança e constância na oração, estes pais foram agraciados por Deus com o dom de terem uma menina. <br /><br />Há quem os coloque residentes em Nazaré, porém a tradição mais fidedigna coloca-os em Jerusalém, ao lado da piscina de Betesda, onde os peregrinos se purificavam antes de entrar no templo e onde hoje se ergue a Basílica de Santa Ana, muito perto de uma das entradas principais do Templo e da atual Porta dos Leões na muralha da cidade velha, no quarteirão muçulmano da cidade de Jerusalém.<br /><br />A menina recebeu o nome de Miriam que significa vidente, senhora soberana. Era muito provavelmente um nome egípcio pois, como sabemos, Miriam era o nome da irmã de Moisés. Há quem pense que deriva do nome sânscrito Maryá e que literalmente significa pureza, virtude, virgindade; a tradução latina é Maria. Tal como Samuel, foi também ela oferecida ao Templo de Jerusalém aos três anos, tendo lá permanecido até aos doze anos, data em que foi dada em casamento a José. <br /><br />Como sabemos, os evangelhos canónicos nada nos dizem sobre o nascimento de Maria. A base da tradição, porém, é bastante antiga, pois provém de um escrito apócrifo do século II, o Protoevangelho de Tiago, escrito por volta do ano 150.<br /><br /><b>Conclusão</b><br />Eva é a nossa progenitora, porque foi ela que nos deu à luz; Maria é a nossa mãe, pois é ela que provê as nossas necessidades como nas bodas de Caná, e é ela que nos educa quando nessas mesmas bodas nos diz, “fazei tudo o que Ele vos disser”. Por fim, é ela que roga por nós em todos os momentos da nossa vida e na hora da nossa morte. Ámen. <br /><p></p><p style="text-align: right;">Pe. Jorge Amaro, IMC<br /></p><p><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-70785871526617342792023-03-15T04:03:00.002+00:002023-04-14T16:03:30.273+01:00I Mistério: Imaculada Conceição e nascimento da Virgem Maria (1ª Parte)<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuOO7jXcjbdB2aoboBUPsPqDfUIGPlVEQDkSP940XSbkzPq-4mlQ_P7frrnVvLthPnv001H6CcCgW4RKjSKuIfMr6BuQi_qczVVB7hIdU5u70FdGov5ADjWrOmqG_siKLTyvgy0cdgFLHkOxg23TfkZ2LJz8v7XemXd-SeeWeQrAC1SHzyM_b68A/s704/05.%201%C2%BA%20Mist%C3%A9rio%20-%20Imaculada%20concei%C3%A7%C3%A3o%20e%20nascimento%20de%20Maria%201%C2%AA%20Parte.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="704" data-original-width="502" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuOO7jXcjbdB2aoboBUPsPqDfUIGPlVEQDkSP940XSbkzPq-4mlQ_P7frrnVvLthPnv001H6CcCgW4RKjSKuIfMr6BuQi_qczVVB7hIdU5u70FdGov5ADjWrOmqG_siKLTyvgy0cdgFLHkOxg23TfkZ2LJz8v7XemXd-SeeWeQrAC1SHzyM_b68A/s320/05.%201%C2%BA%20Mist%C3%A9rio%20-%20Imaculada%20concei%C3%A7%C3%A3o%20e%20nascimento%20de%20Maria%201%C2%AA%20Parte.jpg" width="228" /></a></div>Maria é a nova Eva, como Cristo é o novo Adão, ou seja, o homem e a mulher como Deus os concebeu antes do pecado. O pecado não faz parte da natureza originária do ser humano. Por isso, quando Deus Pai pensou em enviar o Seu Filho ao mundo, não podia nascer da natureza pecaminosamente modificada do homem, mas da natureza original em que Ele o criou. A Imaculada Conceição da Virgem Maria é também o princípio da redenção de Maria, como o é para nós.<br /><br /><b>"Solus Christus sola fede sola scritura"</b><br />Esta é uma das frases lapidares de Lutero, cujo intuito é negar o valor da tradição, valorizando só a fé do individuo abstraído da comunidade cristã, e a Bíblia como palavra de Deus. Esta afirmação é uma falácia e é totalmente falsa: primeiro, é hipócrita, porque o mesmo Lutero, nos seus escritos, aceitou todos os dogmas que a tradição definiu, a identidade de Cristo como verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, a Trindade em que Deus é uno e Trino, assim como todos os dogmas marianos. Os dogmas ou definições de fé são o resultado de séculos de reflexão da Igreja, ou seja, têm origem na tradição. <br /><br />Mas até a Bíblia é filha da tradição. Primeiro, existiu a Igreja e só depois a Bíblia, no que se refere ao Novo Testamento. Cristo não escreveu nada a não ser na areia quando lhe trouxeram a mulher apanhada em ato de adultério; sobre Ele durante a sua vida, só Pilatos escreveu a causa da sua condenação, colocada no cimo da sua cruz. Os apóstolos, os 12, nenhum deles escreveu coisa alguma, apenas se dedicaram a pregar depois da Ressurreição de Cristo. Foi a Igreja, quando já estava bem constituída, na segunda geração depois da geração apostólica, que deu à luz as escrituras. <br /><br />Primeiro, surgiram as cartas de Paulo que eram mesmo cartas, pois no envelope, digamos assim, tinham a Paulo como remetente e, de facto, ele começava as mesmas apresentando-se. No lugar do endereço estava a comunidade cristã de alguma cidade, a de Roma na carta aos romanos, a de Filipo na carta aos Filipenses, a de Tessalónica na carta aos Tessalonicenses, a de Éfeso nas cartas aos Efésios, ou pessoas concretas como Tito e Timóteo; ou mesmo outras comunidades, como a carta anónima aos Hebreus, etc. <br /><br />Os evangelhos surgiram mais tarde, cada um deles escrito por um autor diferente com o objetivo de apresentar os factos de Jesus de Nazaré a um povo diferente. Marcos, o primeiro, escreveu o seu evangelho em Roma para os Romanos; para o efeito, inspirou-se na pregação de Pedro. Mateus, um judeu que usou o nome do apóstolo Mateus, talvez porque se inspirou na sua pregação, escreveu para os judeus. Lucas, um grego doutor em medicina, discípulo de Paulo, inspirou-se na sua pregação para escrever para os gregos. João é mais uma reflexão histórica que um narrar dos factos, e não tem em vista nenhum povo em particular. <br /><br />Até a expressão “Solus Christus” é uma falácia porque não temos um Cristo puro sem a tradição. Temos um Cristo de João, outro de Marcos, outro de Lucas e outro de Mateus. O verdadeiro Cristo é uma soma de todos eles, mas nem sobre a figura de Cristo podemos colocar de lado a tradição da Igreja. Tradição e Bíblia na Igreja católica entrecruzam-se como as duas espirais do ADN. A tradição dá à luz a Bíblia, mas esta depois inspira a tradição subsequente ao longo da História, pois a tradição é modificável, a Bíblia não. <br /><br />A Bíblia, uma vez fechado o cânone, é a essência; a tradição são os acidentes. A Bíblia é fixa, a tradição mutável. A tradição é uma atualização da Bíblia ao longo dos tempos. <br /><br /><u>Semelhança com as emendas à Constituição dos Estados Unidos</u> – Muitos países, verificando que a sua Constituição ficou desatualizada, fazem uma revisão da mesma ou escrevem uma nova. Isso não acontece nos Estados Unidos, país com uma Constituição imutável como se fosse o Evangelho e que não pode ser redigida de novo ou modificada, o que causa grave problemas, como por exemplo a autorização para o porte de armas de fogo.<br /><br />Mas, como também nos Estados Unidos a realidade vai mudando, vão surgindo emendas ou “amendments” à Constituição que, para serem válidas têm de ser redigidas à luz daquela, mas são uma interpretação ou atualização da mesma ou ainda uma adaptação desta aos tempos modernos.<br /><br /><u>Semelhança com o dinossauro</u> – Nunca ninguém viu um dinossauro ao vivo, pois enquanto eles por aqui andaram a raça humana ainda não existia. Porém, sabemos da sua existência porque aqui e ali foram encontrados ossos deste enorme réptil. Começámos a juntar estes ossos e a colocá-los hipoteticamente naquele que devia ser o seu lugar no corpo deste animal e, tal como num puzzle, chegámos ao resultado final; depois, foi uma questão de revestir os ossos com carne e pele, para obter uma reconstrução exacta de como eles eram.<br /><br />Nunca foram encontrados num só local todos os ossos que constituem o corpo deste animal. Nos espaços vazios, foram colocados ossos artificiais. É certo que os ossos adicionados não são reais, como a tradição não é a escritura; mas estão na sequência das escrituras e concordam e harmonizam-se com elas. Os dogmas da identidade de Cristo, de Maria, de Deus uno e Trino são como os ossos que faltam no corpo do dinossauro, mas que podem deduzir-se logicamente dos outros ossos presentes.<br /><br /><b>Imaculada Conceição de Maria</b><br />É uma doce e piedosa crença esta que diz que a alma de Maria não possuía pecado original; esta de que, quando ela recebeu a sua alma, ela também foi purificada do pecado original e adornada com os dons de Deus, recebendo de Deus uma alma pura. Assim, desde o primeiro momento de sua vida, ela estava livre de todo o pecado. (<b>Martinho Lutero, Sermão sobre o Dia da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, 1527)</b><br /><br />Os grandes reformadores protestantes, Lutero, Calvino e Zuínglio, aceitam todos os dogmas marianos. A indiferença, o desprezo e o quase ódio por Maria que certos protestantes manifestam nos dias de hoje, não provêm dos reformadores, mas de fanáticos posteriores a eles. <br /><br />A Imaculada Conceição da Virgem Maria, solenidade que a Igreja celebra no dia 8 de dezembro, já perto do Natal do Senhor, é uma outra forma de começar de novo. É a substituição do dilúvio que destruía o antigo, o pecado, para começar de novo. Em Maria, Deus desistiu da destruição do mundo. Por isso, Maria é um “dilúvio não destruidor” porque, pouco a pouco, com o Reino do seu filho, vai inundar o mundo da Graça divina que mata o pecado. Maria é, portanto, a nova arca de Noé que salva a humanidade do pecado, porque contém este Salvador que é Cristo, seu filho. <br /><br /><i>Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho…</i> <b>Hebreus 1, 1-2</b><br /><br /><i>Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher…</i> <b>Gálatas 4,4</b><br /><br />Maria não é o começo da história da Salvação: esta começou com Abraão e foi continuada de geração em geração por profetas, juízes, reis e outros líderes do povo escolhido. Maria é o culminar desta história, é, como refere acima o autor da carta aos Hebreus, os últimos dias ou, como diz S. Paulo, a plenitude do tempo.<br /><br />A história da Salvação trata de pessoas que vão passando de geração em geração o germe do Bem, no meio de um mundo que vive a história do Mal. Porém, este germe do bem convive na mesma pessoa com o mal. Os que eram portadores do germe do Bem ou do testemunho do Bem nesta corrida de estafetas, não eram pessoas perfeitas, como sabemos pela Bíblia, onde os seus defeitos e pecados estão bem documentados, desde Abraão, Moisés, David a tantos outros que eram, como diria mais tarde Sto. Agostinho ao definir o Homem, “simul justus et peccator”, ao mesmo tempo justos e pecadores.<br /><br />Maria é o último elo desta cadeia do Bem. Através de Maria, Deus fez os últimos retoques para eliminar todo o vestígio do mal na preparação da Encarnação do Seu Filho. É lógico que se Deus ia assumir a natureza humana para falar aos homens, não ia assumir a natureza humana caída em pecado, não ia assumir a natureza humana decadente de pecado dos nossos pais, mas sim a natureza humana que Ele tinha criado no princípio. Ou seja, ia assumir a natureza de Adão e Eva antes do pecado. Por isso se diz que Maria é a nova Eva e Cristo o novo Adão. <br /><br />No momento em que o material genético da meia célula de Joaquim se uniu ao material genético da meia célula de Ana para formar um novo código genético, o ADN de Maria, Deus interveio na engenharia genética e substituiu os genes estragados ou corrompidos pelo pecado que vinham de geração em geração desde Adão e Eva, pelos novos genes, aqueles que o próprio Adão e Eva possuíam antes de arruinarem a natureza humana pelo pecado. Por outras palavras, substituiu as peças estragadas pelas peças originais. <br /><br />Quando o Anjo Gabriel visita Maria, reconhece nela a nova Eva, ao pronunciar este mesmo nome ao contrário como saudação (Eva/Ave), Maria é obra da engenharia genética de Deus, Maria é a recriação de Deus em virtude da sua direta e intencional intervenção na História da humanidade. Porque Maria, em comunhão com o mesmo Deus, vai gerar, produzir a vacina contra o pecado que é Cristo Seu Filho. Maria não é apenas o início da Salvação para o mundo; na sua Imaculada Conceição, como preparação para a vinda de Jesus, ela é a primeira a ser salva.<br /><br /><i>Assim como Moisés ergueu a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja erguido ao alto, a fim de que todo o que nele crê tenha a vida eterna</i>. <b>João 3, 14-15</b><br /><br />O filho de Maria é o que vai substituir a serpente erguida no deserto por Moisés, o salvador do povo judeu, para curar a todos da mordida da antiga serpente que envenenou Eva, Adão e os seus descendentes de geração em geração. <br /><br /><b>Conclusão</b><br />Se Cristo é em tudo igual a nós exceto no pecado, tem de ser filho de uma mulher que foi, por especial privilégio, também ela em tudo igual a nós exceto no pecado, ou seja, foi criada à imagem e semelhança de Deus. Maria é a segunda Eva, a Eva que não pecou e que nunca perdeu a semelhança com Deus. <br /><p></p><p style="text-align: right;">Pe. Jorge Amaro, IMC <br /></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-69438851722562014062023-03-01T12:41:00.000+00:002023-03-01T12:41:03.081+00:00Mistérios Marianos do Rosário<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivvAGeO7xR89Db7xO-A5pFNvitaTL_Vobrw9qtx4jRaL-pwdIbN6g2q8BMD00smBTOCAcY4Usf_m0eKL_LQ48T-gzfTmp_sX2cI6q42-QuQDbfdXLVvLJ8Ib-GpRWhVqIYB0H1owsMGTn2Kcjovg-M5dsjOY8eXczhih2AEbEg6MmkmqNrGp3rWA/s636/04.%20Mist%C3%A9rios%20marianos%20do%20ros%C3%A1rio.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="636" data-original-width="590" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivvAGeO7xR89Db7xO-A5pFNvitaTL_Vobrw9qtx4jRaL-pwdIbN6g2q8BMD00smBTOCAcY4Usf_m0eKL_LQ48T-gzfTmp_sX2cI6q42-QuQDbfdXLVvLJ8Ib-GpRWhVqIYB0H1owsMGTn2Kcjovg-M5dsjOY8eXczhih2AEbEg6MmkmqNrGp3rWA/s320/04.%20Mist%C3%A9rios%20marianos%20do%20ros%C3%A1rio.jpg" width="297" /></a></div>Porquê mistérios marianos? Porque os mistérios marianos fazem parte da vida de Jesus tanto como os gozosos, os luminosos, os dolorosos e os gloriosos. A vida de Maria está ligada à vida de Jesus, não se pode explicar ou escrever uma história biográfica de Jesus sem mencionar Maria, como os protestantes pretenderiam. Ela esteve na origem de Jesus, na sua vida pública, na sua morte e ressurreição, na vinda do Espírito Santo, no início da Igreja. Ela existiu antes e depois do verbo incarnado.<br /><br />Os mistérios marianos são acerca de Maria na sua relação com Jesus. Seguem de perto a Jesus, são acerca do papel de Maria na história da salvação do seu filho. São acerca de Jesus pela ótica ou perspetiva de Maria. Tenho uma irmã que durante anos manteve um diário acerca das vivências com o seu filho, desde a sua conceção até à idade adulta. Os mistérios marianos são o diário de Maria, são aquilo que silenciosa e secretamente Maria guardava no seu coração. (Lucas 2,16-21)<br /><br />Não pretendo com isto dizer indiretamente que Maria seja corredentora, dogma que papa João Paulo II contemplou instituir, mas não o fez. Maria está ao serviço da história de salvação apesar de o seu papel ser o mais importante que o de qualquer um dos 12, pois ela foi e é mediadora de todas as graças e, portanto, da graça principal que é a vinda de Cristo ao mundo. Isto, porém, não faz dela corredentora ao lado do seu Filho. Ela própria foi redimida só que a sua redenção começou antes, na sua Imaculada Conceição. Se foi redimida não pode ser redentora. <br /><br />Apesar do seu papel importantíssimo na história da salvação, Maria não foi imprescindível nem o é agora. Se ela tivesse dito não ao anjo, Deus teria pensado noutra pessoa ou noutra forma de encarnar na humanidade, pois a Ele nada é impossível, como o mesmo anjo disse a Maria. Imprescindível na história da humanidade foi e é só uma pessoa: Jesus de Nazaré. <br /><br />Aos que se riem de mim ou me questionam sobre quem sou para criar estes mistérios, “não és o papa nem nenhum bispo”, eu respondo que o Espírito Santo é democrático, não respeita as hierarquias eclesiásticas, sopra onde quer e sobre quem quer (João 3, 8). Os direitos de autor do Espírito Santo não pertencem a ninguém. Muito bem tem vindo à Igreja por intermédio de leigos e muito mal tem vindo à Igreja por meio de papas e clérigos.<br /><br /><b>Os 12 Mistérios Marianos</b><br /><i>Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas. Estava grávida e gritava de dores, sentindo as angústias de dar à luz. Depois apareceu outro sinal no céu: um grande Dragão vermelho, com sete cabeças e dez chifres, e nas cabeças sete coroas. <br /><br />Varria com sua cauda uma terça parte das estrelas do céu, e as atirou à terra. Esse Dragão deteve-se diante da Mulher que estava para dar à luz, a fim de que, quando ela desse à luz, lhe devorasse o filho. Ela deu à luz um Filho, um menino, aquele que deve reger todas as nações pagãs com cetro de ferro. Mas seu Filho foi arrebatado para junto de Deus e do seu trono</i>. <b>Apocalipse, 12, 1-5</b><br /><br />Já temos mistérios no santo Rosário que são pura e tecnicamente marianos, os primeiros três gozosos e os últimos dois gloriosos. De facto, a primeira vez que me vieram à ideia os mistérios marianos, eram precisamente estes cinco, para serem usados em dia de sábado, dia especialmente consagrado à nossa Mãe celestial. Mais tarde pensei ainda em sete por ser um número perfeito na Bíblia e, por fim, em 12 inspirado na mulher do livro do Apocalipse. <br /><br />As dozes estrelas na coroa de Maria representam as 12 tribos de Israel, os 12 apóstolos, o novo Israel, a Igreja, os 12 contributos para a história da redenção de Jesus Cristo, seu filho segundo a carne. Maria está coroada com estas dozes estrelas, doze atributos, doze joias da redenção da humanidade. <br /><br />Quais são estes doze mistérios: <br /><br /><b>1. Contemplamos a Imaculada Conceição e o Nascimento da Virgem Maria.</b><br />Maria é a nova Eva, como Cristo é o novo Adão, ou seja, o homem e a mulher como Deus os concebeu antes do pecado. O pecado não faz parte da natureza originária do ser humano. Por isso, quando Deus Pai pensou em enviar o seu Filho ao mundo, Ele não podia nascer da natureza pecaminosamente modificada do homem, mas da natureza original em que Ele o criou. A Imaculada Conceição da Virgem Maria é também o princípio da redenção de Maria, como o é para nós.<br /><br /><b>2. Contemplamos a Anunciação do Anjo à Santíssima Virgem Maria.</b><br />Comum com o primeiro gozoso, mas que, como dissemos, é puramente mariano. O Anjo Gabriel é o arauto da Nova Era que está para começar. Deus vai visitar outra vez o seu povo, como o fez no Egito, mas desta vez a libertação é mais espiritual que física e mais abrangente, ou seja, não só para o seu povo, mas para todos os povos. Faz-se realidade o sonho e profecia de Isaías. <br /><br /><b>3. Contemplamos a Visita da Virgem Maria.</b><br />De estar com Deus e consigo mesmo, a estar com o próximo, esta é a vida do cristão que Maria exemplifica muito bem na sua vida. Mal ouviu que a sua prima necessitava da sua ajuda, levantou-se e deixou a sua agradável contemplação do divino, a sua paz e quietude, para se ocupar das necessidades dos outros. Desde que Maria visitou a sua prima ainda não parou de nos visitar sempre que estamos em necessidade: Guadalupe, Lourdes, Fátima e tantas outras, são a prova de que Maria sabe das nossas vidas e do que necessitamos em tempo oportuno. <br /><br /><b>4. Contemplamos Maria dando à Luz Jesus.</b><br />O Mistério Gozoso fala do nascimento de Jesus, esquecendo-se de quem o deu à luz. Contemplar o nascimento de Jesus sem contemplar aquela que O deu à luz é, para mim, uma formulação um tanto ou quanto protestante deste mistério. Até porque a protagonista do Natal é Maria, não Jesus, do ponto de vista gramatical: Jesus é dado à luz, Maria dá à luz. <br /><br /><b>5. Contemplamos a Profecia de Simeão sobre Maria.</b><br />À exceção de “Uma virgem conceberá e dará à luz um filho” (Isaías 7,14), todas as profecias são sobre Jesus. O profeta Simeão profetiza sobre Jesus, mas também sobre a sua mãe. A vinda de Jesus ao mundo teve um preço e parte desse preço foi pago pela sua mãe que sofreu por Ele, desde a conceção do seu filho até à sua morte. <br /><br /><b>6. Contemplamos a vida da Sagrada Família.</b><br />A segunda pessoa da Santíssima Trindade fazia já parte de uma família no Céu; na Terra também é parte de uma família: Maria, o próprio Jesus e o seu pai adotivo José. O ser humano é um ser social porque é um ser familiar; fora da família, não há vida humana. A família divina da Santíssima Trindade é certamente modelo para a humanidade, mas fica muito longe de nós. Em Jesus, a Santíssima Trindade estabelece no mundo uma família para ser modelo de amor e harmonia para as nossas famílias. <br /><br /><b>7. Contemplamos a Mediação de Maria no casamento de Caná da Galileia.</b><br />Maria lança o Seu filho para a vida, não o retém para si, como muitas mães fazem. Lança-O para a sua vida pública quando Jesus pensava começar mais tarde. Jesus cede ao pedido da sua mãe como sempre cede a qualquer pedido. Neste mistério, Maria converte-se na mediadora de todas as graças concedidas pelo seu filho, ela que era já a mediadora da salvação, pois por ela nos veio o salvador.<br /><br /><b>8. Contemplamos a Maternidade e o discipulado de Maria.</b><br />Maria é mãe por que é discípula, ela ouviu a palavra e colocou-a em prática. Também nós, segundo o evangelho, podemos ser família íntima de Jesus, irmãos, se como ela ouvirmos a palavra e a colocarmos em prática.<br /><br /><b>9. Contemplamos Maria que se torna nossa mãe aos pés da cruz do seu filho.</b><br />Jesus sempre se preocupou pela sua mãe e, no término da sua vida, assegurou-se de que ela não fosse como a viúva de Naim, pois nem a viúva de Naim ficou só, sem o seu filho. Por outro lado, Cristo que já nos tinha dado tudo, deu-nos também a sua mãe, para que fosse também nossa para sempre na Terra e no Céu.<br /><br /><b>10. Contemplamos Maria que se torna na mãe da Igreja em Pentecostes.</b><br />Já sendo nossa mãe, Maria como perita em coisas do Espírito Santo, pois por seu intermédio concebeu, transforma-se em mãe da Igreja, mãe dos discípulos de Jesus, formadora em coisas do Espírito Santo, catequista do Espírito Santo, prepara a Igreja para Pentecostes e os discípulos para o seu Crisma. <br /><br /><b>11. Contemplamos a Dormição e Assunção de Maria. </b><br />Este é o penúltimo mistério glorioso que já de si é mariano, pois é exclusivamente de Maria, ainda que seja por Jesus que ela ascende ao Céu em corpo e alma, não por méritos próprios, de alguma maneira.<br /><br /><b>12. Contemplamos a Coroação de Maria como Rainha do Céu e da Terra.</b><br />A rainha-mãe é uma figura querida em todas as monarquias; Santa Helena foi uma rainha-mãe que muito influenciou o seu filho. Se Jesus é Rei do Universo, Maria é também Rainha do Céu e da Terra. <br /><br /><b>Conclusão</b><br />Como os Mistério, Gozosos, Luminosos, Dolorosos e Gloriosos não são só acerca de Jesus, também os Mistérios Marianos não são só acerca de Maria. As vidas de Jesus e de Maria estão entrelaçadas uma na outra como as duas espirais do ADN. Os Mistérios Marianos relatam como a vida de Jesus se repercute na vida de Maria. <br /><p></p><p style="text-align: right;">Pe. Jorge Amaro, IMC<br /></p><p><br /></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-3183692620332438922023-02-01T13:57:00.000+00:002023-02-01T13:57:14.969+00:00Os mistérios do Rosário<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPSJXB6bVxq5H3AkCPrVGSuhwRoI7t9sjy6uaHkHaDdNtdBgxy8z0QCBjhP0I4BUD7kDAkBpJOBKG3eIXHLLBSXIiFdUG2reO4Eg5tDbtZk1jdgt4fpdAVCwEPDRBTvuP_2qHgyZgYIQ7P5sx8cn3U-UlEqLEx6qEnHcI9_len8Lmy1aZw3isDJw/s640/03.%20Os%20mist%C3%A9rios%20do%20Ros%C3%A1rio.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="438" data-original-width="640" height="219" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPSJXB6bVxq5H3AkCPrVGSuhwRoI7t9sjy6uaHkHaDdNtdBgxy8z0QCBjhP0I4BUD7kDAkBpJOBKG3eIXHLLBSXIiFdUG2reO4Eg5tDbtZk1jdgt4fpdAVCwEPDRBTvuP_2qHgyZgYIQ7P5sx8cn3U-UlEqLEx6qEnHcI9_len8Lmy1aZw3isDJw/s320/03.%20Os%20mist%C3%A9rios%20do%20Ros%C3%A1rio.jpg" width="320" /></a></div>Chama-se “rosário”, porque as 150 (agora 200) ave-marias, entrelaçadas em grupos de 10, com a oração do pai-nosso, da glória e as meditações dos mistérios da vida de Jesus e da nossa redenção, formam uma “coroa de rosas” que se oferece a Maria, Mãe do Senhor e nossa Mãe. Os vinte mistérios da vida do Senhor repartem-se em quatro séries de 5 mistérios cada uma. Em cada rosário, rezamos apenas os cinco mistérios de uma destas séries:<br /><br /><b>Mistérios Gozosos</b><br />Nos Mistérios Gozosos, meditamos no começo da redenção da humanidade, desde a anunciação a Maria e a encarnação do Filho de Deus no seu seio, até à adolescência de Jesus.<br /><br />PRIMEIRO – <u>No primeiro Mistério Gozoso contemplamos a anunciação do anjo à Santíssima Virgem</u> Maria– Por intermédio do arcanjo S. Gabriel, mensageiro da Boa Nova, Deus decide intervir na história da humanidade, como tantas outras vezes o fez ao longo da história de Israel.<br /><br /><i>Antigamente, por meio dos profetas, Deus falou muitas vezes e de muitas maneiras aos nossos antepassados, mas nestes últimos tempos ele nos falou por meio do seu Filho</i>. <b>Hebreus 1:1-10</b><br /><br />As comunicações dos profetas dos tempos antigos eram sempre imprecisas, imperfeitas e incompletas. Por intermédio do Seu filho, Deus decide vir Ele mesmo, para nos mostrar passo a passo, como num vídeo, como deve ser a vida humana. <br /><br />SEGUNDO – <u>No segundo Mistério Gozoso contemplamos a visita de Maria Santíssima à sua prima Santa Isabel</u> – Se na Anunciação Maria está em oração, na Visitação Maria está na ação; se na Anunciação Maria está a escutar a palavra de Deus, na Visitação Maria está a pôr essa mesma palavra em prática, como sugere o seu filho tantas vezes; se na Anunciação Maria está a amar a Deus sobre todas as coisas, na Visitação está a amar o próximo como a si mesma. Se na Anunciação Maria tem uma experiência de Deus como discípula, na Visitação ao entoar o seu Magnificat, dando testemunho da sua experiência de Deus, Maria está a ser missionária, ao relatar e dar testemunho dessa mesma experiência e de tudo o que Deus nela operou.<br /><br />Nestes dois Mistérios Gozosos, decorre toda a vida do cristão; por isso Maria é para nós modelo de discípula, missionária, cristã; nela se concentram todas as virtudes que o cristão deve cultivar na sua vida. Maria é, por isso, para nós não só a Mãe de Jesus e Nossa Mãe, mas também um modelo de seguimento de Cristo. <br /><br />TERCEIRO – <u>No terceiro Mistério Gozoso contemplamos o nascimento de Jesus – E o Verbo fez-se carne e habitou entre nó</u>s» <b>João 1,14</b><br />Deus criador encarnou na criatura. Para muitas religiões parece impossível que Deus possa encarnar num ser humano, que o mar possa entrar dentro de uma poça de água. Se só pensamos na transcendência de Deus, sim, parece impossível, ilógico, improvável, ainda que para Deus não existam impossíveis. <br /><br />Porém, Deus não é só transcendente, também é imanente, já existe aqui e agora, no coração de cada coisa e de cada pessoa. Deus intimior intimo meo vale para todas as coisas; Deus é o coração da matéria dos seres materiais e dos seres espirituais. Por isso, Deus já cá está e, pensando na sua imanência, é mais fácil entender o facto de ter adquirido forma humana. <br /><br />Deus acampou entre nós, ergueu a sua tenda entre nós como outrora, quando caminhou por 40 anos no deserto com o povo libertado do Egito. Essa tenda, onde Moisés, representando o povo de Deus, se encontrava com Deus em colóquio, era chamada a tenda do encontro. Jesus de Nazaré, o Emanuel, Deus connosco, é a nova tenda do Encontro, pois n’Ele se encontram Deus com os homens e os homens com Deus. Por intermédio de Jesus, Deus vem ao Homem, por intermédio de Jesus, o Homem vai a Deus.<br /><br />Ao saírem de Jericó, uma grande multidão acompanhava Jesus. <b>Mateus 20, 29</b><br />Deus fez-se Homem para que o Homem se fizesse Deus <b>Sto. Ireneu </b><br /><br />Jericó é, ao mesmo tempo, a cidade mais antiga do nosso planeta, com 8 000 anos de existência, e a cidade mais baixa, cerca de 500 metros abaixo do nível do mar. Jericó na Bíblia significa pecado; na parábola do Bom Samaritano, Jerusalém representa a graça, Jericó representa o pecado. <br /><br />O homem que caiu nas mãos dos salteadores caiu em desgraça porque descia de Jerusalém, 800 metros acima do nível do mar, para Jericó. Viajava da Graça para o pecado; como diz o povo, quem de Deus não se lembre todo o bem lhe falta. Para salvara o homem do pecado, Jesus desce também Ele a Jericó, mas não fica lá; sai de Jericó e segue-O uma grande multidão que sobe com Ele do pecado de Jericó para a graça de Jerusalém. <br /><br />QUARTO – <u>No quarto Mistério Gozoso contemplamos a apresentação do menino Jesus no templo e a purificação ritual de Nossa Senhora </u>– Jesus não rompe com as tradições dos antigos, submetendo-se às leis da terra em que habita e do povo onde encarnou como homem. No entanto, ao obedecer ou satisfazer essas leis, fá-las passar pela sua consciência moral, porque a lei foi feita para o homem e não o homem para a lei. <br /><br />Maria, sendo ao lado de Jesus a mais pura entre os seres viventes, também se submete à tradição, também se submete à tradição de purificação ritual. Os que fazem referência a esta segunda parte do mistério, devem incluir a palavra “ritual”, pois Maria sempre foi pura, antes, durante e depois do parto. <br /><br />QUINTO – <u>No quinto Mistério Gozoso contemplamos a perda e o encontro do menino Jesus no templo com os doutores da lei</u> – Muitos exegetas consideram um exagero que Jesus estivesse a dialogar com os doutores da lei, de igual para igual. Não entendo por que não pode ter acontecido isto; Jesus provavelmente era um menino prodígio como tantos que houve e há em todo o tempo e lugar. Se Mozart, Beethoven e outros foram meninos prodígio, por que não pode tê-lo sido Jesus? <br /><br /><b>Mistérios Luminosos</b><br />Nos Mistérios Luminosos, meditamos nos momentos mais importantes da vida pública de Jesus, desde a sua investidura no Batismo até à instituição da Eucaristia como memorial da sua paixão. É nos anos da Sua vida pública que Jesus verdadeiramente se revela como sendo a Luz do Mundo (Jo 8, 12), pelas suas atitudes perante as mais diversas situações da vida em que se foi encontrando, pela doutrina que ensinou e pelos seus atos. <br /><br />PRIMEIRO – <u>No primeiro Mistério Luminoso contemplamos o Batismo de Jesu</u>s – “Libris ex libris fiunt” – os livros vêm dos livros. Jesus consagrou-se a um movimento que provavelmente começou nos monges de Quram, muito perto do local onde Jesus foi batizado por João Batista, um monge que oferecia o perdão dos pecados, como se fazia em Quram por meio de uma ablução de água. Jesus continua este movimento e leva o perdão dos pecados para além do rio Jordão e para lá do símbolo da água. <br /><br />SEGUNDO – <u>No segundo Mistério Luminoso contemplamos as bodas de Caná</u>– Em Caná da Galileia, Maria vê uma necessidade e trata de resolver o problema empurrando Jesus para a sua vida pública, quando Ele ainda não tinha programado começar. Jesus, obediente ao Pai do Céu, obedece também a sua Mãe mesmo já adulto. Esta obediência é importante para nós, pois institucionaliza Maria, sua Mãe, como intercessora de todas as graças. <br /><br />TERCEIRO – <u>No terceiro Mistério Luminoso contemplamos os milagres operados por Jesus como prova da presença do Reino de Deus entre nós</u> – Assim redijo eu este mistério dedicado à atividade taumatúrgica de Jesus, como prova de que o Reino já está entre nós, se bem que não ainda na sua plenitude. <br /><br />QUARTO – <u>No quarto Mistério Luminoso contemplamos o sermão da Montanha como a magna carta do Reino de Deus </u>– Se no mistério anterior menciono as obras do Reino, neste menciono a doutrina que as inspira, o sermão da Montanha, como a fina flor de tudo o que Jesus, nos disse e ensinou. Acho isto mais importante que a transfiguração. <br /><br />QUINTO – <u>No quinto Mistério Luminoso contemplamos a instituição da Eucaristia</u> – Sem Eucaristia não há Igreja, sem Igreja não há Eucaristia. A Eucaristia é, antes de tudo, a reunião dos cristãos ou desta associação fundada por Jesus e chamada Igreja, dos cristãos como membros do corpo de Cristo que celebram a vida, morte e ressurreição de Cristo, tal como Ele nos mandou. <br /><br /><b>Mistérios Dolorosos</b><br />Nos Mistérios Dolorosos, meditamos o processo, a paixão e morte de Jesus, desde a sua agonia no jardim das Oliveiras até ao último suspiro no alto da cruz. Quando dizemos que Jesus morreu pelos nossos pecados, quer dizer que saldou a dívida que éramos incapazes de pagar; mas também quer dizer que os pecados dos que intervieram na sua morte ainda hoje se cometem, pelo que podemos concluir que foi o pecado de toda a humanidade que o matou.<br /><br />PRIMEIRO – <u>No primeiro Mistério Doloroso contemplamos a agonia de Jesus no jardim das Oliveiras</u> – Jesus foi tentado toda a sua vida, não só no começo; uma das últimas tentações acontece aqui, quando jesus contemplou a possibilidade de não beber do cálice que estava na sua frente, a sua paixão e morte. Bastava subir um pouco até ao cimo do monte e ir por aí abaixo para o deserto da Judeia, esconder-se num dos profundos vales que nunca mais ninguém O encontraria. Mas Jesus escolheu pagar o preço dos seus ideais contra um mundo corrupto e malvado. Se tivesse salvado a sua pele, perdia-se como salvador do mundo inteiro. <br /><br />SEGUNDO – <u>No segundo Mistério Doloroso contemplamos a flagelação de Jesus preso à coluna</u> – Se Pilatos tivesse condenado diretamente Jesus à morte, Ele não teria sido flagelado. A flagelação era o castigo dado àqueles a quem se poupava a vida. Pilatos pensava que, depois de O ver bem flagelado, o povo teria dó dele e O deixaria partir, mas isso não aconteceu; o ódio dos escribas, dos anciãos, dos fariseus e saduceus contra Jesus era tão grande que nem depois de O verem flagelado sentiram compaixão.<br /><br />TERCEIRO – <u>No terceiro Mistério Doloroso contemplamos a coroação de Jesus com uma coroa de espinhos</u> – Foi quando já se encontrava numa situação muito difícil que Jesus reconheceu e aceitou o título de Rei, embora não deste mundo, pois os reis deste mundo não montam jumentos como Ele montou nem são crucificados como Ele foi, e são coroados com uma coroa de ouro, não uma de espinhos como foi Jesus.<br /><br />QUARTO – <u>No quarto Mistério Doloroso contemplamos a condenação de Jesus à morte e a caminhada para o calvário com a cruz às costa</u>s – Pela morte de Jesus, Pilatos pagou também pelos seus erros anteriores; já tinham sido tantos que agora, apesar de estar convencido de que Jesus era inocente e de procurar um estratagema para O salvar, não conseguiu fazê-lo: as acusações contra ele eram já muitas em Roma, pelo que ele não se podia permitir uma mais.<br /><br />QUINTO – <u>No quinto Mistério Doloroso contemplamos a crucificação e morte de Jesus</u> – Abandonado pelo seu povo em geral, pelos seus amigos discípulos e apóstolos, crucificado no meio de dois malfeitores, sentiu no final que até Deus o abandonara, talvez por pesar sobre os seus ombros o pecado da humanidade. Mesmo assim, esperou em Deus e não desesperou, pois ao mesmo Deus que o tinha abandonado entregou o seu espírito. <br /><br /><b>Mistérios Gloriosos</b><br />Nos Mistérios Gloriosos, meditamos no triunfo de Jesus sobre a morte com a Sua Ressurreição. A morte foi vencida, assim como o pecado que a causa. Depois da Ressurreição de Jesus, a morte já não é o destino final da humanidade, mas sim uma passagem para a vida eterna. A vida de Jesus que começa com o “Sim” de Maria ao plano de Deus, termina agora com a glorificação d’Aquela que é, para todos, nós, modelo de vida cristã.<br /><br />PRIMEIRO – <u>No primeiro Mistério Glorioso contemplamos a Ressurreição de Jesu</u>s – A Ressurreição de Jesus é Deus que riu por último, a Ressurreição de Jesus prova que o mal não tem a última palavra, como se vê em quase todos os filmes nos quais o bem acaba por vencer o mal. Nem a morte tem poder eterno sobre a vida. Depois da Ressurreição de Jesus, a morte já não é o fim da vida, mas sim uma passagem para uma vida em Deus, para os que viveram com Ele e para Ele.<br /><br />SEGUNDO – <u>No segundo Mistério Glorioso contemplamos a Ascensão aos Céus</u> – Jesus no seu corpo glorioso não subiu logo a seguir ao pai, como Ele mesmo disse a Maria Madalena, mas ficou algum tempo com os seus discípulos, aparecendo-lhes para os reconfortar do escândalo da cruz e para lhes dar as instruções finais antes de subir definitivamente ao Pai.<br /><br />TERCEIRO – <u>No terceiro Mistério Glorioso contemplamos a vinda do Espírito Santo</u> – Como tinha prometido, Jesus enviou o Espírito Santo logo que chegou ao Céu para não ficarmos órfãos, para ser a alma da Igreja e o centro do nosso ser, para ficar connosco, ser Deus dentro de nós que nos inspira, reconforta, guia e dá força e coragem para enfrentar o mundo.<br /><br />QUARTO – <u>No quarto Mistério Glorioso contemplamos a Assunção de Maria ao Céu em corpo e alma</u> – Dormição ou Assunção, Maria vai para o lado do seu filho pois sempre a seu lado esteve. Também nós como ela seremos recebidos no Céu, onde Jesus, seu filho, nos foi preparar um lugar.<br /><br />QUINTO – <u>No quinto Mistério Glorioso contemplamos a coroação de Maria como rainha do Céu e da Terra </u>– A vida terrena de Maria como Mãe do Salvador começa antes de Jesus e termina depois de Jesus. Depois de ser Mãe da Igreja por ser a mãe do fundador desta, agora Reina no Céu e na Terra como rainha-mãe ao lado do seu filho que é Rei do Universo. <br /><br /><b>Conclusão</b>: <br />Os mistérios do rosário constam dos atos salvíficos de Cristo na Terra, do caminho que percorreu connosco, tal como fez com os discípulos de Emaús, para nos explicar as escrituras e plantar no mundo as sementes do Reino de Deus. <br /><p></p><p style="text-align: right;">Pe. Jorge Amaro, IMC<br /></p><p><br /></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3483694004817239125.post-69482424904215007862023-01-15T05:21:00.000+00:002023-01-15T05:21:51.439+00:00O Rosário, uma oração contemplativa<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjKnWOdodEacLXkOOZiGjrH7Vk0J0B55uf2sjwG1NBM2404yGwN7UBRTbbuEEpmDroxTgzEkEU2i8ZLrl8wTaRQGMePAf1-yEPqWFjmaNPenhhQRD0rRMcm3HSP5jftCAO1dX6U6NskH2tHQ_E25WBWHIOmugD1m-FUXDK0SFXH1XCxlwCkVbS9Q/s900/02.%20O%20Ros%C3%A1rio%20uma%20ora%C3%A7%C3%A3o%20contemplativa.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="599" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjKnWOdodEacLXkOOZiGjrH7Vk0J0B55uf2sjwG1NBM2404yGwN7UBRTbbuEEpmDroxTgzEkEU2i8ZLrl8wTaRQGMePAf1-yEPqWFjmaNPenhhQRD0rRMcm3HSP5jftCAO1dX6U6NskH2tHQ_E25WBWHIOmugD1m-FUXDK0SFXH1XCxlwCkVbS9Q/s320/02.%20O%20Ros%C3%A1rio%20uma%20ora%C3%A7%C3%A3o%20contemplativa.jpg" width="213" /></a></div>O rosário é, ao mesmo, tempo uma oração mariana e também centrada em Cristo – Cristo-Centrica – porque repetidamente invocamos Maria como Mãe de Deus e nossa Mãe e lhe pedimos que se junte a nós na nossa oração ao Pai, ao recitarmos o pai-nosso, e à Santíssima Trindade ao recitarmos a glória. Pedimos-Lhe que nos ajude a meditar e contemplar os mistérios da vida do Seu filho, nosso irmão mais velho e nosso Salvador, dos quais ela também faz parte.<br /><br />Em Fátima, como nas demais aparições marianas, Maria não atrai nenhuma atenção para si mesma, mas exclusivamente para o Seu filho. O seu contentamento não lhe vem de a louvarmos, mas sim de louvarmos o seu filho. Como diz o provérbio, “Quem o meu filho beija, minha boca adoça”. <br /><br /><i>Enquanto ele assim falava, uma mulher levantou a voz do meio do povo e lhe disse: “Bem-aventurado o ventre que te trouxe, e os peitos que te amamentaram.</i> <b>Lucas 11, 2</b><br /><br />Não se ama o filho sem se amar a mãe, por isso todo o amor dirigido ao filho indiretamente é dirigido à mãe. Assim como todo o louvor dado à mãe se dirige ao filho, como aconteceu com aquela mulher que, no meio da multidão, levantou a voz para dizer a Jesus, “Bem-aventurada aquela que Te deu à luz, e os seios que Te amamentaram!” <br /><br />O rosário não é uma oração de Ação de Graças, nem uma oração de petição, nem sequer uma oração de lamentação como alguns salmos da Bíblia. O rosário, é fundamentalmente uma oração de meditação e contemplação. De facto, anunciamos e enunciamos cada Mistério dizendo “neste Mistério contemplamos…”<br /><br />Conta-se que um dia alguém confessou ao Papa João XXIII a dificuldade de rezar o terço pois frequentemente se distraía na recitação maquinal e rotineira das ave-marias, ao que o papa respondeu, “para que serve o rosário se não para nos distrairmos?”<br /><br />Ao ser uma oração contemplativa, a recitação repetitiva de ave-marias no rosário tem a mesma função dos mantras na espiritualidade budista: ocupam a mente, impedindo que esta salte de um pensamento para outro, permitindo e facilitando a contemplação dos Mistérios da vida do Senhor.<br /><br /><b>A ave-maria como mantra</b><br />Nos anos 60, esteve na moda a oração contemplativa, como hoje está a Lectio Divina. Importantes personagens da vida monástica, como Thomas Merton, viajaram ao Extremo Oriente, enquanto outros procuravam a partir de lá fazer a ponte entre as religiões orientais, como o budismo, e o cristianismo, como o jesuíta indiano Anthony de Mello. <br /><br />A nível de técnicas para atingir a contemplação, podemos certamente aprender com o budismo. Porém, a contemplação sempre existiu na Igreja desde os padres do deserto, os monges beneditinos, os carmelitas, Teresa de Ávila e São João da Cruz, e até mesmo ao nível do clero diocesano de todos os tempos, como bem nos demonstra o Santo Cura de Ars. <br /><br />Depois de dizerem um ao outro bonitas palavras e poesias, os enamorados ficam em silêncio longas horas, abraçados um ao outro, sem nada dizer, sem nada fazer. Em silêncio, contemplando uma bonita paisagem extasiados, ambos são exemplos de contemplação. <br /><br />Na oração de contemplação não há palavras nem há pensamentos. Há um sentir no vazio da mente, um dar-se conta, um estar sumamente presente em si mesmo, centrado no próprio corpo, sem divagações da mente. Esta mente, que Sta. Teresa de Ávila chama a louca da casa, é como um macaco que vai de galho em galho. <br /><br />À oração pelo silêncio, ao silêncio pela oração. É preciso tempo e muita prática para conseguir silenciar a mente. Consegue-se ao não consentir pensamentos no momento em que temos consciência deles; desta forma, pouco a pouco chegamos ao vazio da mente que chega a um grau elevado de autoconsciência. É neste momento que nos abrimos ao divino e experimentamos a sua presença. Deus intimior intimo meo. A contemplação de facto procura a união com Deus, a visão beatífica, o Céu na Terra. <br /><br />Nos estados iniciais da contemplação, para silenciar a mente discursiva, imaginativa e fantasiosa, usam-se os mantras que são pequenas frases que se repetem continuamente para entreter a mente com algo e evitar que ela deambule de pensamento em pensamento. O peregrino russo chegava a repetir o seu mantra centenas de vezes ao dia para conseguir a oração contínua, sonho de todos os eremitas. <br /><br />No Santíssimo Rosário, a oração da ave-maria repetida 50 vezes, 10 vezes por cada mistério, tem a finalidade de evitar que a mente se distraia da contemplação do mistério. A finalidade, portanto, não é colocar a nossa atenção em cada ave-maria e pai-nosso que rezamos, mas sim ocupar a mente com estas orações como se fossem mantras e saltar assim para a contemplação do divino.<br /><br /><b>Modo de rezar o rosário</b><br />Porque se trata de uma oração contemplativa, devemos enunciar cada mistério convidando os fiéis que connosco o rezam à contemplação desse Mistério; por exemplo, no primeiro Mistério Gozoso contemplamos a Anunciação do anjo à Santíssima Virgem. A palavra “contemplamos” no anúncio de cada Mistério é importante e deve ser sempre dita, nunca omitida nem subentendida precisamente por que o rosário é uma oração contemplativa; é a contemplação dos mistérios da nossa salvação das mãos de Maria, rezando com Maria como os discípulos do seu filho com ela rezaram na noite anterior a Pentecostes. Atos 1:12-14<br /><br />Em cada dia da semana, meditamos em mistérios diferentes. Assim, segunda-feira e sábado meditamos nos Mistérios Gozosos; terça-feira e sexta-feira meditamos nos Mistérios Dolorosos, quarta-feira e domingo nos Mistérios Gloriosos, reservando a quinta-feira para os Mistérios Luminosos.<br /><br />Há vários modos de rezar o terço, mas a maior parte das pessoas começa com o sinal da cruz, seguido do Credo, de um pai-nosso, de uma ave-maria e de uma glória. Terminadas estas orações introdutórias, anuncia-se o primeiro mistério seguido ou não por uma pequena meditação e secundado por uma dezena de ave-marias precedidas por um pai-nosso. <br /><br />Depois da décima ave-maria de cada dezena, reza-se a glória, seguido por várias jaculatórias, dependendo do lugar e de quem reza, terminando-se com a oração que a Nossa Senhora em Fátima recomendou aos pastorinhos que rezassem depois de cada mistério: "Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as alminhas todas para o Céu, principalmente aquelas que mais precisarem"… (da vossa misericórdia). <br /><br />No original da oração de Fátima, falta esta afirmação final (da vossa misericórdia), pelo que gramaticalmente se subentende, pois, todas as almas precisam do céu. Todos os países agregaram a expressão final no sentido de que os que estão mais afastados de Deus são os que mais precisam da sua misericórdia. <br /><br />O inferno é morte eterna não fogo eterno, ou seja, tortura eterna. Deus criou-nos do nada para que fizéssemos alguma coisa com a nossa vida; os que nada fazem com ela, os que não usam os talentos recebidos de Deus em proveito dos irmãos para maior glória de Deus, regressam ao nada de onde foram tirados, pois a sua vida foi nada e muitos, de facto, até acreditam que vieram do nada e que regressam ao nada. <br /><br />Por que aparece o inferno na Bíblia como tortura eterna? Porque naturalmente temos mais medo do sofrimento que da própria morte. O que morre já não sofre, dizemos, e o que está a ser torturado pede a morte por misericórdia. Tantas vezes o amigo gravemente ferido pede a morte ao outro amigo por clemência. O temor de Deus não é medo a Deus e não devemos escolher a Deus pelo medo do inferno. É esta uma pedagogia infantil na qual se educavam as crianças. Mas nem a crianças devem educar-se assim hoje; a razão deve ser a base de toda educação, não o medo irracional. <br /><br />Porque esta oração de Fátima e a visão do inferno envolvia de facto o fogo, pelo simples facto de que os pastorinhos não conseguiam imaginá-lo de outra forma. Nossa Senhora fez-lhes ver o inferno tal como o entendiam, tal como o concebiam, até porque o nada não tem representação gráfica. <br /><br /><i>Quidquid recipitur ad modum recipientis recipitur</i> – Esta máxima da filosofia escolástica pode explicar este ponto; aquele que recebe, recebe segundo a sua capacidade para entender. O mar tem muita água para dar, mas o meu balde é limitado na sua capacidade de receber; o mesmo se passa com a nossa mente. Os pastorinhos viram o inferno conforme a Bíblia o representa e conforme a capacidade que tinham para o entender. <br /><br />Por fim, rezam-se três ave-marias pelas intenções do Santo Padre, para assim estarmos unidos a toda a cristandade nele representada, e termina-se com a salve rainha precedida ou não, segundo o tempo de que se dispõe, pela ladainha da Nossa Senhora.<br /><br /><u>O Pai-Nosso </u>– O pai-nosso, que intercala cada Mistério, é muito mais do que uma simples oração que o Senhor nos ensinou para recitar ocasionalmente. Ela contém o mais importante do Evangelho de uma forma resumida; é, neste sentido, todo um Evangelho de bolso, pois contém o que devemos conhecer e praticar.<br /><br />Como é composto por vários enunciados, sem relação uns com os outros, pode ser considerado como uma lista, como as listas de compras que fazemos para não nos esquecermos de nada. Esta lista diz respeito ao protocolo da nossa relação com Deus, ou seja, como deve estar estruturada a nossa oração; como devemos dirigir-nos a Deus, como louvá-Lo, o que devemos pedir, em que ordem, quando e como. Portanto, mais que uma oração, é fundamentalmente um guia prático de oração e vida.<br /><br /><u>A Ave-Maria</u> – Divide-se em duas partes; a primeira é bíblica e é composta pelas saudações do Anjo Gabriel e da Sua prima Isabel; a segunda tem origem na fé da Igreja, não se sabe como nem quando nem onde começou a ser usada. Por isso, a ave-maria representa a perfeita união entre a Bíblia como Palavra de Deus e a Igreja como comunidade dos crentes.<br /><br />Num movimento ascendente, a primeira parte, decalcada da Bíblia, é constituída por 5 escadas que sobem até Jesus. Num movimento descendente, a segunda parte é constituída também por 5 escadas que descem até à realidade humana, a nossa morte. <br /><br />Não pode ser entendida pelos advogados de “sola fide sola scriptura solus christus”, pois nela se unem de uma forma harmoniosa a Escritura, a Palavra de Deus, descrita na primeira parte, com a Tradição, ou seja, a história da fé da comunidade cristã ao longo dos tempos, plasmada na segunda parte. “Jesus”, Alfa e Ómega, princípio e fim e centro da história é o cerne que une as duas partes.<br /><br /><b>Glória ao Pai </b>– É a invocação de Deus como Uno e Trino. Uma só divindade em três pessoas diferentes unidas num triângulo de amor. É a solução à luz da dialética da filosofia grega entre o uno e o múltiplo. Esta oração também nos recorda que, feito à imagem e semelhança de Deus, o ser humano também é uno e trino: não existe nem subsiste fora da família. <br /><br /><b>Conclusão</b>: Como na noite de Pentecostes, com os apóstolos, o rosário é rezar com Maria e deixarmo-nos levar pela sua mão na contemplação dos Mistérios da vida do seu filho.<br /><p></p><p style="text-align: right;">Pe. Jorge Amaro, IMC<br /></p><p><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /></p>Itinerant Missionhttp://www.blogger.com/profile/01506918013950984265noreply@blogger.com1