1 de agosto de 2021

3 Mandamentos do amor: Eu - Próximo - Deus

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Amar a Deus e ao próximo são os dois mandamentos da vida cristã; “a Deus sobre todas as coisas” faz-nos transcender do mundo, eleva-nos até Deus num movimento vertical; “ao próximo como a mim mesmo” sugere um movimento horizontal, faz-me pensar na igualdade entre mim e todos os demais filhos de Deus. Se unirmos as duas linhas vertical e horizontal faremos a cruz de Cristo, ou seja, para além de tudo o que já significa, a cruz de Cristo também serve como representação gráfica destes dois mandamentos.

Se me proponho escrever sobre o chamado duplo mandamento do amor, é porque lhe descobri uma terceira vertente, ou seja, é porque o mandamento do amor afinal não é duplo, mas triplo; a terceira vertente está subentendida, escondida, mas está lá. Razão tinha quem disse que o homem é a medida de todas as coisas. Cada um de nós, como indivíduo, é a medida de todas as coisas. A nossa visão e entendimento são sempre subjetivos; a objetividade é a soma de muitas subjetividades.

A autoestima ou amor a si mesmo está no segundo mandamento. Dizem que a medida do amor é amar sem medida, mas tal amor não existe porque, quer queiramos quer não, amamos o outro, nosso próximo, e o Outro, nosso Deus, na medida em que nos amamos a nós mesmos. O que não se ama a si mesmo, dificilmente poderá amar o próximo e Deus.

A entidade mais próxima de mim mesmo é a minha pessoa com os seus defeitos, virtudes e vicissitudes; se não me aceito como sou dificilmente aceito o próximo como ele é, ou mesmo Deus como Ele é. A imagem que compus e que ilustra este texto tem implícita esta mesma ideia. Teologicamente, amamos a Deus primeiro, depois o próximo e depois a nós mesmos. Psicologicamente é ao contrário, primeiro eu, depois o próximo e por fim Deus. Até porque, quando amamos verdadeiramente o próximo, já estamos “ipso facto” a amar a Deus.

A natureza do amor
Amar é querer o bem do outro. S. Tomás de Aquino

Amor é a palavra mais abusada em todas as línguas. Muito do que se faz passar por amor não é amor é instinto, ou atração afetiva ou sexual. No entanto, entra popularmente na categoria de amor, pois não nos ocorre outra palavra ou outro verbo. Tomemos, por exemplo, a expressão “fazer amor”, referente à realização do ato sexual. O amor não se faz e, se se faz, “obras son amores que no buenas razones”, como diz o provérbio castelhano.

Pelos seus frutos os conhecereis, diz o evangelho, os frutos são as obras. É no que fazemos pela pessoa amada que manifestamos o quão a amamos. “Fazer amor”, não tem nada a ver com as obras, é apenas uma das muitas expressões de amor, como o beijo, o abraço, a carícia. Porém, como estas expressões de amor também podem ser expressões de luxúria, só pelas obras sabemos verdadeiramente quem ama.

Quando digo “amo-te” quero dizer que quero que me ames
Se formos verdadeiramente honestos connosco mesmos, dar-nos-emos conta de que a maior parte das vezes que dizemos “amo-te” estamos na verdade a dizer que queremos conquistar a benevolência do outro, ou seja, que queremos que o outro nos ame. Dizer “amo-te” equivale a lançar a rede para ver se o outro cai e diz também “eu também te amo”. No momento que o diz, pertence-me, conquistei o seu amor.

O Dom Juan ou o Casanova partiam imediatamente para outra conquista, pois amar era subjugar o outro, era conquistá-lo, possuí-lo, tê-lo à sua mercê. Isto acontecia e acontece porque o que verdadeiramente ama submete-se, entrega-se, dá-se. Se os dois experimentam isto, muito bem; se não, se só um se dá e o outro possui, o que ama verdadeiramente, ou seja, o que se entregou de alma e coração fica vulnerável e suscetível ao abuso.

Amar não é buscar o amor do outro, mas buscar amar o outro. Amar não é possuir, é ser possuído, amar não é conquistar é ser conquistado, amar não é vencer é ser vencido, amar não é submeter o outro, mas submeter-se ao outro. Não se mata por amor. No verdadeiro amor não há crimes passionais: quem mata por amor não demonstra que ama o outro, pois amar é querer o bem do outro. Quem mata por amor demonstra que se ama a si mesmo, unicamente a si mesmo e a ninguém mais além de si mesmo.

Não há razões que justifiquem matar, mas há razões que justifiquem morrer; ninguém tem maior amor que o que dá a vida pelos seus amigos, diz Jesus a este respeito. Muito enganados estão aqueles que pensam e chegam a dizer “se tem ciúmes de mim é porque me ama”. Não há nada mais falso que esta afirmação. Precisamente o contrário é que é verdade: se tem ciúmes de mim é porque quer que eu o ame a ele e só a ele. Quem verdadeiramente ama, deixa o outro livre e, porque quer o bem dele, pode aceitar que o bem dele não passe por si. Ainda que triste, deixará o outro partir sem ciúmes, revoltas ou vinganças.

A língua grega tem diferentes palavras para diferentes tipos de amor, o que nos ajuda também a nós a clarificar e a discernir sobre a génese e a natureza dos nossos sentimentos, instintos e pensamentos sobre o amor.

Storghe – Amor entre pais, filhos e irmãos, um amor baseado nos laços de sangue. É um amor instintivo; é incondicional porque é instintivo: sempre amaremos o nosso pai, a nossa mãe e os nossos irmãos, façam eles o que façam. O mesmo acontece entre os mamíferos mais próximos do homem na evolução das espécies.

Muito se exalta o amor de mãe. Uma mãe entrega-se de alma e coração ao seu filho, vive por ele e está disposta a morrer por ele. É símbolo e signo do verdadeiro amor. Porém, quando alargamos o nosso campo de visão, vemos o mesmo acontecer entre os animais mais próximos do ser humano na evolução das espécies: em todos os mamíferos e até nas aves.

O storghe mascara-se de verdadeiro amor, embora seja difícil saber que percentagem desse amor é puro instinto. Na mulher vê-se claramente mais tarde que afinal não era amor, mas sim instinto, quando a figura de mãe galinha, mais óbvia enquanto os filhos são como pintainhos, se transforma numa sogra possessiva que não se dá conta que os filhos já não estão em idade educativa como os pintainhos.

Nisso chega a ser pior que os animais, pois estes perdem o instinto maternal quando as suas crias chegam à idade adulta. Pelo contrário, a mãe humana nunca chega a perder este sentimento, nunca concede nem consente na autonomia, independência e liberdade do seu filho.   

Eros – Continuamos no domínio do instinto: em storghe o instinto dos laços de sangue, em eros o instinto sexual. Tudo o que acima dissemos sobre o que normalmente se entende por amor, encaixa-se em grande medida aqui e no conceito de philia, pois muito do que chamamos amor é pura atração sexual ou afetiva.

Eros ou amor erótico é atração puramente física pelo corpo do outro, não tem em conta o resto da sua vida, da sua pessoa, as suas vicissitudes ou problemas. Para o amor erótico, o outro existe somente como corpo que quero possuir, manipular, usar para obter prazer sexual.

São muitos os crimes que se cometem no âmbito deste amor que é pura atração sexual. Muitos políticos, clérigos e homens de grande ciência e cultura arruínam as suas carreiras e vidas, deixando-se dominar por este poderoso instinto, abusando do outro e até de crianças inocentes, arruinando-as para o resto das suas vidas, podendo transformá-las em futuros abusadores quando chegam à idade adulta.

Por outro, no passado, enchia os orfanatos de crianças trazidas ao mundo fora do âmbito do amor de um homem por uma mulher. Muitas destas crianças caíram no mundo da delinquência, da droga, da prostituição. Para combater a praga dos orfanatos, a sociedade legalizou o infanticídio chamando-lhe aborto e criou à volta das crianças assassinadas uma indústria que usa os seus restos mortais para os mais variados fins, até cosméticos.

Philia – No amor de amizade, continuamos no âmbito do instinto e da atração. Se storghe é a atração natural pelos membros da mesma família, eros a atração sexual e física, philia é atração afetiva pela pessoa do outro, não já pelo seu físico, mas mais pelo seu espírito, pela sua forma de ser, pelo seu intelecto, pelas suas virtudes.

Eros como atração sexual leva-nos a estabelecer uma relação com pessoas do outro sexo ou do mesmo sexo, no caso da homossexualidade. A atração afetiva normalmente ocorre entre pessoas do mesmo sexo, recordemos os nossos amigos de infância e de adolescência, são amizades que permanecem muitas vezes ao longo de toda a vida.

O amor de amizade, em certo sentido, é superior ao amor erótico porque é atração, não pelo físico, mas sim pela pessoa, por aquilo que a pessoa é. Como é psicológico e afetivo, é moralmente superior, embora continuemos no domínio da atração; sinto-me atraído por esta pessoa porque me complementa, porque tem o que eu não tenho, por que me ajuda a ser melhor. Não é este ainda um amor livre e incondicional, pois está cheio de interesses ainda que não sejam materiais.

Ágape – Quando na Bíblia aparece a palavra amor, em especial no Novo Testamento, que foi originalmente escrito em grego, a palavra que aparece é ágape, que é traduzida por caritas em língua latina, caridade nas línguas neolatinas. Dos quatro conceitos de amor, este é o único que honra a palavra amor. Os outros usam a palavra amor, mas são fruto da atração instintiva pelo outro, pelo seu corpo ou espírito, ou porque partilham genes connosco.

Este é o único amor 100% desinteressado e incondicional que não está ligado a nada que o outro tenha ou possua que possa interessar-me, o seu corpo, o seu espírito, bens materiais, a sua forma de ser, a sua inteligência. É deste amor que trata o resto do texto, do amor desinteressado, incondicional, oblativo. O amor que define a Deus, o amor com que Deus nos ama.

Se queres saber se alguém te ama com este amor, só tens que lhe fazer esta pregunta simples: porque me amas? A pergunta leva implícita uma armadilha, pois qualquer que seja a resposta, o outro denuncia-se a si mesmo, revelando um interesse. Vejamos algumas possíveis respostas:

Porque és bonita… um dia que envelheça e deixe de ser bonita, já não me amas?
Porque tens um corpo perfeito… Um dia que engorde, deixas de me amar?
Porque és bom na cama… Um dia, com a idade, quando for impotente, deixas de me amar?
Porque és rico… Se um dia perder toda a riqueza, abandonas-me?
Porque tens bom coração… Se um dia a vida ficar azedo, deixarás de querer-me?
Porque tens um bom carácter… Se apanhar uma depressão ou doença psíquica, deixas de me amar?

Qualquer que seja a resposta, sempre revela um interesse, algo que uma pessoa não tem e procura na outra. Onde há interesse, não há amor verdadeiro, pois o amor para ser verdadeiro necessita de ser purificado de todo interesse. Só o amor incondicional é verdadeiro.

A pergunta só tem duas respostas válidas e positivas. A primeira seria responder “não sei”; a segunda seria dizer “porque tu és tu”; “porque, como tu, nunca houve ninguém, nem vai haver ninguém”. Todos somos únicos, não só na História da humanidade como na História do universo, porque possuímos um código genético irrepetível. Por outro lado, a nível teológico, o lugar que ocupamos no coração de Deus só pode ser ocupado por nós.

O amor não é um sentimento, é uma necessidade
Como já dissemos ao falar da Comunicação Não Violenta, ao longo dos séculos, o amor tem sido apresentado ao mesmo tempo como necessidade, sentimento e ação. Em CNV, porém, a mesma realidade não pode ser ao mesmo tempo uma necessidade, um sentimento e uma ação.

Os sentimentos são alertas para necessidades satisfeitas, quando são positivos e para necessidades insatisfeitas, quando são negativos. Por outro lado, as ações são requeridas ou motivadas pelas necessidades. O que acontece a nível psicológico, acontece a nível físico: se me sinto saciado, a necessidade de comer está satisfeita; se me sinto esfomeado, a necessidade de comer não está satisfeita. O mesmo acontece com todas as necessidades físicas ou psíquicas, morais ou espirituais.

O amor não é um sentimento porque não é um adjetivo que qualifique um substantivo. Como refere Rosenberg, os sentimentos são voláteis e efémeros; à exceção do luto, não conseguimos centrar-nos num sentimento por mais de 40 segundos.

É claro que o amor envolve sentimentos porque são eles que nos dizem se a necessidade de amar e ser amado está ou não a ser satisfeita. Por exemplo, o sentimento de empatia revela que a minha necessidade de amar está a ser satisfeita; pelo contrário, o sentimento de ciúme revela que a minha necessidade de ser amado não está a ser satisfeita.

O amor como necessidade suscita sentimentos, mas não suscita um específico, pois suscita muitos e variados. Leva a pessoa a atuar, mas não a realizar uma única ação específica; os atos de expressão do amor são muitos e variados, dependem de muitas variáveis, que nos levam a expressá-lo de uma ou outra maneira.

Os sentimentos do amor
“Onde há fumo há fogo” – o fumo é o sentimento, o fogo a necessidade. Cada um dos nossos sentimentos está em relação intrínseca com uma necessidade particular. O sentimento será positivo se a necessidade estiver satisfeita, negativo se a necessidade à qual se refere o sentimento não estiver satisfeita.
• Positivos – (Quando a necessidade de amar e ser amado se encontra satisfeita) Alegria, entusiasmo, esperança, prazer, confiança, satisfação, atração, contentamento, etc.
• Negativos – (Quando a necessidade de amar e ser amado não se encontra satisfeita) Tristeza, depressão, saudade, solidão, desespero, amargura.

As ações do amor
Benevolência, bondade, generosidade, dar e receber, ajuda, servir o outro, escutar, louvar, amparar, socorrer, acariciar, etc.

O amor é um direito e um dever
Amar e ser amado é a primeira necessidade humana, depois das físicas. Não há vida humana sem amor; viver é amar. Durante toda a nossa vida teremos esta necessidade. Por isso, por ser uma necessidade humana e por não haver vida humana autêntica sem amor, amar é, ao mesmo tempo, um dever e um direito.

Como necessidade inerente à natureza humana e à dignidade da pessoa humana, todos os seres humanos têm o direito de ser amados e o dever de amar. Como crianças, a prioridade é sermos amados, pois é sendo amados incondicionalmente que aprendemos a amar incondicionalmente. Como adultos, a prioridade é amar; se um adulto tem como prioridade ser amado mais que amar, não é um adulto maduro. É um desses tipos de adultos que vemos nas telenovelas, que usam mil e um estratagemas para obter a estima de alguém e pouco ou nada fazem para amar alguém.

A nível educacional, o amor é um dever dos adultos para com as crianças, um direito inerente e inato das crianças em relação aos adultos. Fora do âmbito educacional, a necessidade de amar e ser amado permanece para o resto da vida, pelo que é sempre, ao mesmo tempo, um direito, ainda que não o reivindiquemos, e um dever, ainda que não o exercitemos.

Porém, Deus continuamente nos perguntará “onde está o teu irmão” (Génesis 4, 9). Responder que não somos o guardião do nosso irmão não é uma resposta que satisfaça a Deus nem à nossa consciência. Convém também lembrar que a matéria do juízo final é a mesma matéria da vida: o amor. Se amaste, viveste; se não amaste, não viveste, eras um morto vivo, ou seja, o corpo estava vivo, mas a alma já estava morta. Com a morte do corpo, regressas ao nada a partir do qual Deus te tinha criado para fazer de ti alguma coisa; mas tu não colaboraste com a sua graça.

“O amor é como a lua: quando não cresce, mingua” – Este é um provérbio português muito interessante. E a que tipo de amor se refere? Somente ao amor erótico e afetivo, ou seja, ao amor romântico. Tudo na vida é dinâmico, mas o amor não é, porque não é um sentimento. Evoca sentimentos quando amamos e sentimentos quando somos amados, mas não é um sentimento porque não tem altos e baixos.

Como necessidade inerente à pessoa humana, o amor não cresce nem mingua, permanece sempre igual. O amor de Deus não cresce porque não é deficiente, incompleto ou imperfeito; assim é o amor com que nos amam os nossos pais: nem cresce nem mingua. Se Deus é amor, o Homem, criado à sua imagem e semelhança, também é amor, pois só no amor, com o amor e pelo amor pode viver. Por isso ou se ama ou não se ama. Quem ama verdadeiramente não pode amar nem mais nem menos.

Religião e vida
Os judeus têm duas paixões contraditórias: a de deduzir inúmeras leis dos 10 mandamentos iniciais e procurar legislar todos os aspetos da vida individual e social. Como o resultado são demasiadas leis, surge a outra paixão, a de sintetizar e de discernir qual é o mandamento mais importante.

Quando o fariseu fez a pergunta a Jesus sobre o mandamento mais importante, esperava que Jesus lhe respondesse citando aquele que é considerado como o Credo do israelita, recitado todas as manhãs: “Escuta, Israel! O Senhor é nosso Deus; o Senhor é único! Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração”. Jesus, de facto, correspondeu às expetativas do fariseu, mas agregou um outro mandamento que este não esperava, que também estava num dos livros do Pentateuco, portanto era também lei de Moisés. Ao fazê-lo, revolucionou a relação entre a religião e a vida.

O que Jesus fez foi, ao mesmo tempo, uma síntese pessoal de todo o Antigo Testamento, ao dizer que na observância do amor a Deus e ao próximo se sintetiza todo o Antigo Testamento, ou seja, a lei, os cinco livros do Pentateuco e todos os livros dos profetas. Para além da síntese, Jesus dá-nos neste duplo mandamento uma interpretação pessoal do Antigo Testamento, ao estabelecer uma relação entre a vida e a religião, entre a relação com Deus e a relação com os outros.

Até aparecer Jesus, a religião e a vida estavam divorciadas uma da outra, como longe estava o mandamento do amor a Deus do mandamento do amor ao próximo. Mesmo depois de 2000 anos de cristianismo, este divórcio continua entre a fé e a vida. São como as duas linhas do caminho de ferro que nunca se encontram, que permanecem sempre distantes ou equidistantes uma da outra, sem que a religião influencie a vida nem a vida a religião.

“Ouvi dizer que vendeste um carro velho como novo a um preço exorbitante,” diz um amigo ao outro “e, pelo que sei, tu és católico praticante; que contas ao padre quando te confessas?” Responde o vendedor desonesto, “eu ao padre conto-lhe os meus pecados não os meus negócios”.

Esta é muito mais que uma anedota, é a pura realidade. A expressão “católico praticante” não significa aquele que encarna a fé na vida, mas sim o que vai à missa aos Domingos e assiste aos demais sacramentos, se confessa e comunga ao menos um dia no ano, pela Páscoa florida abstém-se de carne e jejua duas vezes no ano. É isto um católico praticante, não uma pessoa que vive de forma diferente dos outros, que é sal da terra e luz do mundo como Jesus nos disse que fossemos.

Não foi só nesta ocasião que Jesus procurou unir a prática da fé à vida do dia a dia. Aliás, mesmo no princípio da Bíblia, Yavhe pergunta a Caim pelo seu irmão Abel e este responde que não sabe, que não é o guardião do seu irmão. Mas o caso é que somos os guardiões dos nossos irmãos. Em todo o momento, devemos saber como estão. Não podemos passar ao largo, como maus samaritanos, quando encontramos uma pessoa necessitada no nosso caminho; essa pessoa é o meu próximo e é esta a conclusão da parábola do Bom Samaritano; por isso, não posso passar-lhe ao largo.

“Cada um sabe de si e Deus sabe de todos” Este provérbio revela ainda a religião como uma prática privada que não mexe com a minha vida social nem a questiona. Jesus, porém, diz-nos “se vais apresentar a tua oferta ao altar, ou seja, se te vais relacionar com Deus, se vais fazer um ato religioso de fé, e ali te lembras de que o teu irmão tem algo contra ti, deixa a oferta, deixa essa relação com Deus e vai primeiro colocar as coisas em pratos limpos com o teu irmão; só depois podes colocá-las diante de Deus”.

Se isto não é claro para ti, São João evangelista pregunta-te como podes amar a Deus que não vês se não amas o teu próximo que vês; e se pensas que sabes muito de Deus, Ele mesmo te diz “quem não ama nunca conheceu a Deus”. Finalmente, a entrada no Céu depende da prática de atos de amor leigos, não da prática de atos religiosos; os atos ditos religiosos são expressão litúrgica da fé.

O que conta são as obras: pelos seus frutos os conhecereis. No fim da nossa vida não seremos julgados pelo que somos, pela muita ou pouca fé que temos, mas pela forma como essa fé se traduziu em obras. Tive fome, tive sede, estava no hospital, na prisão, era forasteiro, e prestaste-me ou não me prestaste assistência. Jesus transformou um ato simples, como dar um copo de água, num ato religioso ao dizer “quem isto fez foi a Mim que o fez, e quem não o fez foi a Mim que não o fez”; a religião cristã é uma religião leiga, para Jesus não há diferença entre o leigo e o religioso.

AMAR-ME A MIM MESMO COMO DEUS ME AMA
Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor. 1 João 4, 8

O ser humano é sempre sujeito e nunca objeto; no entanto, no autoconhecimento uma mesma pessoa é, ao mesmo tempo, sujeito e objeto; sujeito porque quer conhecer, objeto porque ele mesmo é o objeto e objetivo desse conhecimento. Depois de tomarmos consciência de nós mesmos, de nos conhecermos e sabermos quem somos, a terceira questão que se coloca é se nos aceitamos tal como somos ou não.  

A autoconsciência e o autoconhecimento são mais atos da nossa inteligência que da nossa vontade. Possuir-se e aceitar-se é um ato da vontade. Se conhecer-se é como olhar-se ao espelho, a autoestima é gostar do que se vê, e aceitar-se como se é. Uma coisa é o que sou objetivamente, ou seja, como os outros me vêm, outra coisa é a imagem que tenho de mim mesmo, que é sempre subjetiva, ou seja, como eu me vejo e me valorizo.

A forma positiva ou negativa como uma pessoa se vê, afeta necessariamente a forma como atua. A baixa autoestima pode levar a problemas comportamentais. Por exemplo, quando dez dos espias que tinham sido enviados para explorar a terra de Canaã, se viram como gafanhotos em comparação com a alta estatura dos habitantes de Canaã, manifestaram a sua baixa autoestima, concluindo que eram incapazes de tomar posse da terra. (Números 13: 31-33).

Génese da autoestima
A autoestima é o resultado de todas as experiências e relações interpessoais que a pessoa teve na sua vida. Todas as pessoas que encontrámos no decurso da nossa vida, sobretudo nos primeiros anos da nossa existência, tiveram um efeito positivo ou negativo sobre a forma como nos vemos e avaliamos.

A criança não se conhece a si mesma pelo que pensa que é, mas pelo que os outros lhe dizem que é; se lhe dizem que é má, ela pensa que é má; se lhe dizem que é boa, ela pensa que é boa; se a amam incondicionalmente, ela chegará a amar-se a si mesma incondicionalmente, se a desprezam, ela vai desprezar-se também a si mesma.

Como se desenvolve a baixa autoestima
As crianças que foram abusadas e violentadas física, sexual ou verbalmente, que foram usadas como objeto ou manipuladas de qualquer forma, que nunca ou raramente foram acariciadas, que receberam constantemente mensagens negativas acerca delas mesmas, que foram ridicularizadas ou ignoradas, criticadas e nunca louvadas pelos seus acertos e sucessos e foram desfavoravelmente comparadas com outros, estas crianças vão padecer no futuro de uma fraca autoestima da qual não será fácil libertarem-se.

Como se desenvolve a autoestima
Ao contrário, terão autoestima as crianças educadas positivamente, as crianças que frequentemente ouvirem palavras de louvor, “confio em ti”, “sei que estás a esforçar-te” perante o fracasso que foi precedido de esforço, que ouviram dizer “fizeste o melhor que podias”, “estou impressionado contigo, obrigado por seres honesto” “estou orgulhoso de ti.”

Não perca nenhuma oportunidade de dar os parabéns a uma criança. Assumimos muitas das coisas que os nossos filhos fazem sem lhas reconhecer. Devemos reforçar sempre os comportamentos desejados, dar os parabéns quando as crianças fazem a escolha adequada em qualquer situação, não deixar essa escolha passar despercebida, validar o feito com um sorriso e um abraço, evitar o vício de dar os parabéns pela negativa: “Já era hora de conseguires fazer isso…”. Isto é uma humilhação, mais que um elogio. Evite rebaixar e comparar as crianças com outras crianças.

Onde não se deve fundamentar
Parafraseando o evangelho, há quem alicerce a sua autoestima em areias movediças, em realidades mutáveis, pelo que um dia pode sentir-se bem consigo mesmo e no dia seguinte deprimido.

Aparência física – Não é uma boa razão para gostar de si mesmo porque todos envelhecemos. Ao contrário da beleza interior, não é algo que possa crescer, pelo que o que é hoje motivo de orgulho, será amanhã motivo de vergonha. Além disso, e como ficou provado no episódio da escolha do rei David, Deus olha para o interior da pessoa e não para a aparência externa (1 Samuel 16:7).

Desempenho – Se, por outro lado, a nossa autoestima assentar no nosso desempenho, ficará ligada aos nossos sucessos e fracassos: subirá quando formos bem-sucedidos, descerá quando fracassarmos. Por outro lado, os outros podem ser mais bem-sucedidos que nós; devemos por isso sentir-nos menos dignos? Em relação aos meus desempenhos no passado, Deus já me perdoou em Cristo (Col 2,13). Quanto ao presente, Ele ama-me incondicionalmente (Rom. 5:8). Quanto ao futuro, de tudo sou capaz n’Aquele que me dá força. Fil. 4 13

Riqueza – Os bens materiais são um outro alicerce instável para basear a nossa autoestima. Hoje possuímos, amanhã, podemos não possuir. Os tesouros da terra estão sujeitos à traça, à ferrugem e aos ladrões. Os do Céu estão ao resguardo destas vicissitudes da vida. Por outro lado, como diz Jesus, mesmo que um homem viva na abundância, a sua vida não depende dos seus bens. (Lc 12, 15).

Avaliação dos outros – Outro alicerce instável que nos faz dependentes dos outros: adaptar o nosso comportamento ao que é popular. Acabamos por ser atores, não somos nós próprios e não podemos estar contentes quando não somos nós mesmos. Procuramos a fama, somos dependentes dela. Observemos a experiência de Cristo: Domingo de Ramos é muito próximo de Sexta-feira Santa.

Onde se deve fundamentar
Ninguém te pode fazer sentir inferior sem o teu consentimento. Eleanor Roosevelt

A autoestima é a perceção avaliativa de nós próprios – Um conjunto de crenças, perceções, pensamentos, avaliações, sentimentos e tendências de conduta em relação a nós próprios que configuram e determinam a nossa forma de ser, estar e atuar no mundo e com os outros.

A verdadeira autoestima está enraizada no nosso relacionamento com Deus... (João 1,12). O verdadeiro amor é incondicional: Deus ama-nos incondicionalmente, os nossos pais amam-nos incondicionalmente e nós devemos amar-nos a nós mesmos incondicionalmente.

Sem complexos de inferioridade ou de superioridade, a verdadeira autoestima é uma visão realista, sensata e honesta de nós mesmos: as nossas virtudes e os nossos defeitos, os nossos talentos e as nossas limitações, os nossos valores e as nossas crenças. Tal como aproveitamos os sucessos, devemos aproveitar os erros do passado, entendendo-os como lições aprendidas.

Baixa – desconhece ou desvaloriza os seus talentos; sobrevaloriza as suas limitações; é inseguro.
Normal – possui um autoconhecimento objetivo, sensato e saudavelmente autocrítico dos seus talentos e limitações.
Alta – desconhece ou desvaloriza as suas limitações; sobrevaloriza os seus talentos, é um fanfarrão.

O amor próprio incondicional não é egoísmo: pelo contrário, é a medida do amor aos outros. Primeiro, sou chamado a amar-me a mim mesmo; segundo, sou chamado a amar os outros com a mesma medida com que me amo a mim mesmo. O amor próprio, a autoestima ou autoempatia, longe de serem conotadas com egoísmo, são a base sobre a qual assentam todo o tipo de relações que estabeleço com os outros e com Deus.

Não há, portanto, verdadeiro altruísmo, seja ao próximo seja a Deus, sem a existência prévia da autoestima ou da empatia por si mesmo. Por outro lado, é o amor ao próximo e a Deus que fazem com que a autoestima não seja egoísmo. Os três amores equilibram-se entre si, numa constante dinâmica dialética. É o outro, o meu próximo, que me obriga a sair de mim mesmo, e é o Outro, Deus que motiva e inspira os meus atos de amor.

AMAR AO PRÓXIMO COMO A MIM MESMO
Ama o próximo como a ti mesmo. Levítico 19,18

Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia o seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? 1 João 4, 20

Como acima dissemos e como indica a ilustração deste texto, primeiro vem o amor por mim mesmo, pois é este que se constitui como medida de todas as coisas, ou seja, ao próximo devo depois amá-lo como me amo a mim mesmo. Se a medida do amor ao próximo é aquela com que me amo a mim mesmo, qual deveria ser a medida do meu amor por mim mesmo?

A medida do amor é amar sem medida e o que nos ama sem medida é Deus. Finalmente, parece que os alicerces do amor são a autoestima ou o amor que temos por nós mesmos; mas não é assim, porque a verdadeira medida do amor que devemos ter connosco mesmos é Deus. Devemos amar-nos a nós mesmos como Deus nos ama.

Tenho para mim que é mais fácil amar os outros incondicionalmente que amar-me a mim mesmo incondicionalmente. Somos muito críticos connosco mesmos e muitas vezes destrutivos; quando Deus já há muito que nos perdoou, nós não nos perdoamos nem esquecemos e continuamos o resto das nossas a vidas a confessar o mesmo pecado, ofendendo a Deus por isso, pois como nós não perdoamos nem esquecemos, entendemos que Deus também não perdoa nem esquece.

Para nos amarmos a nós mesmos, necessitamos de provar a nós mesmos que valemos, precisamos de ver obras feitas e, quando não as vemos, ficamos deprimidos. Somos perfeccionistas e nunca estamos contentes, esquecemo-nos que Deus aceita tanto o 60% como o 30%, mas nós só estamos contentes se chegarmos aos 100% (Mateus 13, 8).

Tudo começa em Deus, tudo acaba em Deus, é ele a medida do amor, não nós mesmos, pois nunca conseguiremos amar-nos a nós mesmos como Ele nos ama, nem com a mesma intensidade nem com a mesma qualidade. O amor que temos por nós mesmos nunca será tão adequado como o que Deus tem por nós.

O outro que se cruza no meu caminho
Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade. 1 João 3, 18

Conta-se que um homem rico conduzia o seu carro luxuoso, último modelo de uma prestigiada marca, numa noite em que chovia torrencialmente. De repente, passou diante dele uma moça maltratada, suja, magra e a tiritar de frio. O homem, sentindo compaixão pela moça, desabafou numa oração dizendo “como podes permitir isto, meu Deus?”. Nisto, ouviu uma voz na sua consciência que lhe disse, “de facto não permito; foi por isso que a moça passou diante de ti, para que tu faças alguma coisa por ela”.

Podemos sair em busca de quem ajudar. Mas não é preciso, eles vêm ter connosco de mil e uma maneiras, cruzam-se no nosso caminho. Sempre me maravilhei com o facto de os evangelhos nos apresentaram Jesus sempre no meio de uma tarefa, nunca nos apresentarem Jesus inativo, não fazendo nada e, no entanto, estar sempre disposto para ir aqui ou ali, ajudar este ou aquele. É esta disponibilidade que Jesus possuía e que nós também devemos possuir no nosso dia a dia.

Também devemos ter os olhos e os ouvidos bem abertos para nos darmos conta das necessidades dos outros, tal como Maria, a mãe de Jesus, teve nas bodas de Canaã; frequentemente os outros têm vergonha de nos pedir, como aconteceu também nestas bodas: devemos ser diligentes, pois muitas vezes as necessidades dos outros estão bem patentes.

Muitos amores ficam pelas palavras e pelos sentimentos. Na parábola do Bom Samaritano fica claro o que significa amar o próximo. Não é dizer que o amo, nem sentir compaixão por ele, mas sim sair fora da minha rotina, do meu horário, do meu programa, da minha vida e deixar que o outro entre nela. Colocar de parte o que estava a fazer para me dedicar a ele.

A regra de ouro
Portanto, o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque, isto é, a Lei e os ProfetasMateus 7, 12

Ao contrário do judaísmo que é negativo, com mandamentos que só nos dizem o que não devemos fazer, o cristianismo é positivo pois baseia-se no mandamento do amor. Enquanto que o judaísmo é acerca de como evitar o mal e que males evitar, o Cristianismo é acerca de fazer o bem com base no mandamento do amor. Ninguém é bom porque evita o mal, mas sim porque faz o bem.

Um missionário canadiano descobriu que existe em todas as religiões uma versão desta máxima e por isso lhe chamou a “regra de ouro” – e verificou que enquanto nas demais religiões, incluindo o judaísmo, a regra era formulada negativamente: “Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti”. “No cristianismo esta mesma regra como vemos no evangelho, é formulada positivamente.

O cristianismo é a “religião” da iniciativa; não esperamos que o outro venha até nós, vamos nós ao outro, movidos pela única intenção de o amar. O que quero para mim devo querer para o outro. Frequentemente, projetamo-nos nos outros, mas quase nunca nos que sofrem; devíamos usar este mecanismo de defesa de projeção no outro para nos fazermos a pergunta “e se fosse eu que estivesse em apuros, a passar necessidade como gostaria que me socorressem?” A resposta a esta pergunta devia motivar a nossa ação para com o necessitado.

AMAR A DEUS MAIS QUE A MIM MESMO
Escuta, Israel! O Senhor é nosso Deus; o Senhor é único! Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. Estes mandamentos que hoje te imponho estarão no teu coração. Repeti-los-ás aos teus filhos e refletirás sobre eles, tanto sentado em tua casa, como ao caminhar, ao deitar ou ao levantar. Atá-los-ás, como símbolo, no teu braço e usá-los-ás como filactérias entre os teus olhos. Escrevê-los-ás sobre as ombreiras da tua casa e nas tuas portas.» Deuteronómio 6, 4-8

Para todos os efeitos, o Criador sabe sempre mais da criatura que a criatura sabe de si mesma. O Criador ama mais a criatura que a criatura se ama a si mesma. O Criador sabe tudo da criatura passado, presente e futuro, por isso, mais que a criatura, está capacitado para defender os seus interesses.

Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim. Mateus 10, 37

Tudo o que a criatura pode e deve fazer é entregar-se nas mãos do Criador, tal como um bebé sem hesitação se lança nos braços do pai. Assim, podemos entender o texto clássico do amor a Deus que é o credo que todo o judeu recita quando se levanta de manhã. O amor a Deus é sobre todas as coisas, sobre todas as pessoas, completa e absolutamente exclusivo, a cima do amor que temos por nós mesmos.

Fazer a vontade de Deus
Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele. João 14, 21

Jesus diz que o seu alimento é fazer a vontade do Pai (João 4, 34). Alimento e bebida é algo que tomamos várias vezes ao dia, não podemos passar muito tempo sem o fazer. Que bonita metáfora nos lábios de Jesus para demonstrar a união que havia entre Ele e o Pai. Essa mesma união deve existir entre nós e Deus.

Só quem faz uma máquina sabe como ela funciona, a máquina mesmo não o sabe; nós somos uma máquina criada por Deus, em tudo iguais a uma máquina, com a diferença de sermos autoconscientes e podermos desobedecer às regras de funcionamento da nossa máquina. Porém, quando o fazemos, a máquina avaria-se e deixa de funcionar ou não funciona na perfeição, como quando obedecia às regras de Deus.

Se existe uma natureza humana imutável, existe uma única forma de funcionamento da máquina não duas. Por isso, façamos a vontade de Deus cumprindo os seus mandamentos e tudo ficará bem, pois sem Ele nada podemos fazer. (João 15, 5)

Onde está a nossa liberdade se tudo o que temos que fazer na vida é obedecer a Deus como Jesus fez? A nossa liberdade está no facto de podermos optar por não obedecer, embora a desobediência traga sempre desastre. Comparo Deus a um controlador de tráfego aéreo.

Ele sabe quantos aviões estão a voar no seu espaço aéreo, sabe a sua velocidade, a sua rota e as suas altitudes e dá ordens a cada um destes aviões no sentido de evitar uma colisão aérea. Cada um dos pilotos das aeronaves pode optar por não obedecer ao controlador de tráfego aéreo, mas sabe que, quando o fazem, põe a sua segurança e a dos outros em risco

Porque Deus nos ama mais do que nós e nos conhece mais do que nós. obedecendo-lhe é a coisa certa a fazer.

Deus só ama a quem o ama
Frequentemente em sermões, para obter a atenção dos que estão meios adormecidos, lanço uma granada no meio da audiência dizendo “Deus só ama a quem O ama”. Em seguida, os que se consideram teólogos objetam e dizem que não, que Deus ama a todos por igual, e até me citam a Bíblia, que faz chover sobre o justo e sobre o injusto.

E é verdade, em teoria Deus amou tanto a Hitler como a Francisco de Assis. No entanto, a vida dos dois não foi a mesma; se os dois tiveram a mesma quantidade e qualidade de amor de Deus, por que foram tão distintos? Francisco aceitou o amor de Deus, fez-se eco dele amando a Deus; Hitler não. O sol, antes de chegar ao nosso planeta e de o aquecer e iluminar, passa pelo espaço onde a temperatura é de 300 graus negativos. Porquê? Porque está vazio nada há nele que faça eco e acolha essa luz e esse calor. A única forma de fazer-se eco do amor de Deus é amá-l’O também.

“Amor com amor se paga” – Como diz a escritura, Deus amou-nos primeiro e sempre nos ama, mas se eu não faço eco do seu amor em mim, é como se Ele não me amasse. Só com o amor podemos fazer eco do amor de Deus em nós. Ao amor, ou se responde com amor ou somos ingratos. Por isso, se bem que em teoria Deus ama a todos por igual, só o que aceita esse amor, só o que está aberto ao amor de Deus, sente os efeitos desse amor. O ato de aceitar o amor de Deus, o estar aberto ao amor de Deus, é amar a Deus.

Conclusão – Se queres ser feliz, ama-te a ti mesmo como Deus te ama, ao próximo, como a ti mesmo, e a Deus, mais que a ti mesmo.

Pe. Jorge Amaro, IMC