1 de julho de 2020

3 Etapas do arquétipo do progresso: Egito - Deserto - Terra Prometida

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Arquétipo, modelo, padrão, paradigma são sinónimos que definem aquela realidade que nos faz concluir que a história se repete: a perceção do “déjà vu”, o constatar que já vimos antes o que estamos a ver agora é o que torna possível a metáfora, ou seja, uma relação de semelhança entre realidades de diferente natureza.

A validade e universalidade dos arquétipos, paradigmas ou padrões, assim como o seu uso e aplicação em todas as facetas da vida humana, são possíveis, porque a natureza humana é sempre a mesma. Não varia no tempo nem no espaço, ou seja, verifica-se ser a mesma em todas as gerações, desde Adão aos nossos dias e até ao fim dos tempos, e a mesma em todos os locais do planeta, em todas as culturas e civilizações que existiram, existem ou venham a existir.

Não vemos na saída do povo de Israel do Egito, na sua passagem pelo deserto e na entrada na Terra Prometida só uma realidade histórica e teológica mas também as três etapas do arquétipo do progresso em todas as suas vertentes - científica, social, psicológica, espiritual etc. - pelo que a leitura do relato bíblico apela ao nosso inconsciente coletivo no qual, segundo Jung, se encontram  guardados todos os arquétipos, qual património imaterial da humanidade e parte da consciência cultural do Ocidente.

A leitura e análise deste relato bíblico, para além do seu significado histórico e teológico, pode servir-nos de guia e inspiração noutras facetas da vida humana que impliquem mudança, transcrição, conversão, passagem de uma realidade para outra, crescimento, progresso. Michael Walzer’, no seu livro Êxodo e Revolução, diz que o Êxodo é um modelo, uma história que torna possível a narração de outras histórias.

Nascer e morrer à luz do arquétipo
Uma delas pode ser o processo do nosso nascimento lido à luz deste arquétipo: estamos confinados a um espaço muito pequeno no seio da nossa mãe, ligados a ela como um paciente a uma máquina de suporte de vida, sem grande liberdade de movimentos e sem espaço para crescer. A passagem deste tipo de “Egito” para a Terra Prometida da liberdade, o vir à luz, é um processo, uma passagem que pode ser curta ou mais demorada, mas em ambos os casos muito dolorosa e incómoda, tanto para o bebé como para a mãe.

Se a entrada neste mundo pode ser lida à luz do arquétipo Egito – Deserto – Terra Prometida, a saída dele também pode ser lida à luz deste mesmo arquétipo. Lá para o fim da nossa vida, seja pela velhice ou pela doença e pelo sofrimento que esta mesma nos causa, a própria vida transforma-se num Egito insuportável.

Começamos a ter limitações de toda a espécie, não podemos comer isto ou aquilo, não podemos andar, ficamos limitados a uma cama e, por fim, muitos ficam ligados outra vez ao cordão umbilical, ou seja, a uma máquina de suporte vital que faz artificialmente o que alguns dos órgãos já não conseguem fazer naturalmente. A nossa vida transforma-se num Egito do qual queremos libertar-nos.

Porém, para passar para a Terra Prometida verdadeira, a vida eterna, teremos que passar pelo deserto que é o processo da morte ou nascimento para a vida eterna. Um processo que também é doloroso, tanto para aquele que o experimenta como para os que estão ligados a ele por laços de afeto.

Perante a morte que se aproximava, passagem para a outra vida, o meu pai perguntou á minha agonizante, “Queres que te traga o medicamento?” - “Não, quero morrer.” E estas foram as suas últimas palavras. Confrontada com o rigor do deserto, mas esperançada na Terra Prometida da vida eterna, a minha mãe não quis voltar para trás, para uma vida já cheia de limitações. Como ela dizia, “já são muitas coisas, muitas limitações e muitas doenças.”

Arquétipo básico da vida humana
“Quem algo quer, algo lhe custa” diz um provérbio castelhano. Uma vez expulsos do paraíso terrestre, Adão e Eva sabem que este provérbio, consciente ou inconscientemente inspirado no arquétipo, se verifica em todos os aspetos e vertentes da vida e é já por si um dos arquétipos mais importantes da vida humana.

Tomemos como exemplo o jovem que quer licenciar-se em Medicina. O querer ser médico é a sua vocação, a sua Terra Prometida; o não ser ainda médico é o seu Egito, pois o seu ser, de momento, não coincide com o seu dever ser, com o que está em si ser, porque não é ainda o que quer ser. De alguma forma, tem de deixar de ser o que é e entrar num processo que o leva a ser médico: esse processo é a frequência da universidade, o estudar em cada dia. Ninguém vive no deserto, o deserto é sempre terra de passagem. Do mesmo modo, ninguém é estudante para sempre, o ser estudante aplicado é coisa de 7 ou 8 anos da nossa vida, mas que são incontornáveis para a aquisição do diploma que nos permite exercer a atividade médica.

Para atravessar o deserto, o povo espanhol tem dois provérbios que nos aconselham a atitude a ter perante os rigores do deserto. “Al mal tiempo buena cara”, refere-se ao tempo meteorológico, mas aplica-se também às dificuldades que nos surgem na vida. Diante destas, devemos ter uma atitude positiva, otimista e não pessimista ou derrotista.

“Enfrentar el toro por los cuernos” aconselha-nos, perante as dificuldades, a não esconder a cabeça debaixo da areia, como dizem que as avestruzes fazem, ato que ilustra a comum atitude de negação, nem a procurar contornar ou fugir das dificuldades, mas a enfrentá-las de peito aberto com a força de vontade de um guerreiro, de um herói.

O próprio caminhar do povo desde um passado de escravidão por um presente de duras penas e sacrifícios, com vista a um futuro risonho, idílico e utópico, é uma imagem do arquétipo. O filósofo hebreu e marxista Ernst Bloch baseou o seu princípio da esperança no Êxodo. O Êxodo também inspirou os pregadores negros dos anos sessenta, como Martin Luther King, assim como a teologia política de Johann Baptist Metz, a teologia da esperança de Jürgen Moltmann e, por fim, herdeira destas duas, a teologia latino-americana da libertação de Gustavo Gutiérrez, Leonardo Boff e outros.

Arquétipo da história
Com o Êxodo se constitui o tempo da História moderna, que já não obedece a ciclos nem a mitos, mas é uma flecha disparada do passado em direção ao futuro. O tempo da História é um tempo onde o passado, o presente e o futuro se encontram e dialogam entre si. O novo constrói-se a partir do que aprendemos dos erros do passado, por isso, não recordar o passado é estar condenado a repeti-lo, inconscientemente, acriticamente, indefinidamente.

Manter viva a memória da escravidão do Egito evita que se cometam os mesmos erros. Isto mesmo fazem os profetas e isto mesmo fazem os apóstolos nos seus primeiros discursos de evangelização: ler o passado a partir do presente para orientar e projetar o futuro.

Com efeito, a vida em si mesma é uma peregrinação como diz Hebreus 13, 14 - não temos no aqui e agora uma cidade permanente na qual possamos instalar-nos mas caminhamos em direção a uma futura cidade, e qualquer realização histórica concreta desta é sempre e só uma imagem de uma que está sempre para vir e que é a vida eterna, pois só nela o leite e o mel correm sem cessar.

Soa a mito do eterno retorno, mas a mesma história diz-nos que qualquer realização concreta e histórica da utopia, da Terra Prometida, facilmente se transforma com o tempo num Egito do qual é preciso sair, voltando a repetir a experiência do deserto. A verdadeira pátria e o fim de todo o progresso é a vida em Deus e com Deus.

Conceção cíclica e linear do tempo
O tempo cósmico, o Círculo – Partindo do objetivamente observável, na Antiga Grécia e no Extremo Oriente prevaleceu sempre uma compreensão circular do tempo: do ponto de vista cósmico, os 365 dias que a terra leva a dar uma volta ao sol, do ponto de vista da Natureza, mais propriamente das mudanças climatéricas, as quatro estações do ano, Primavera, Verão, Outono e Inverno. A partir destes factos, nasceu para a Filosofia o mito do “eterno retorno”, para a Ciência a ideia de que “Não há nada de novo de baixo do sol” e para a Religião a crença na “reencarnação”.

O tempo humano, a Reta – Do ponto de vista existencial e humano, cada dia que passa é um dia mais que vamos viver e um dia menos que nos resta de vida. Conceber o tempo como uma reta, que vem do passado, passa pelo presente e se dirige ao futuro, não é algo que se possa observar na Natureza.

O tempo em linha reta é o tempo da história individual e comunitária, o tempo que integra a ideia de progresso moral: hoje foi melhor que ontem, amanhã será melhor que hoje. Na Filosofia, a máxima “não nos banhamos duas vezes nas águas do mesmo rio”, de Heráclito, partilha esta compreensão do tempo, verificando-se o mesmo na Cosmologia e na Religião que veiculam as noções do princípio e do fim do mundo.

Esta é também a conceção judaica do tempo: a saída do Egito (terra de escravidão), a passagem pelo deserto (lugar de sofrimento, penitência, purificação e esforço) e a entrada na Terra Prometida, onde corre leite e mel (terra da liberdade, do esforço recompensado e da obra acabada).

Uma libertação individual e uma social
Embora o arquétipo, como dissemos, possa ser aplicado a todo tipo de evolução, progresso libertação, mudança ou conversão, neste texto estudaremos a narrativa bíblica da epopeia do povo judeu, desde o Egito até à Terra Prometida, tomando-a como arquétipo e, portanto, como guia e inspiração de dois tipos de liberdade: uma social, a outra individual.

Para a libertação social escolhemos a teoria de Karl Marx, o seu materialismo histórico e dialético aplicado à análise da sociedade capitalista e a oferta do socialismo como solução para os problemas do capitalismo. Neste sentido, o capitalismo é o Egito, o deserto seria a ditadura do proletariado, e a Terra Prometida seria a sociedade sem classes do socialismo.

Para a libertação individual, escolhemos o processo que o indivíduo deve seguir para se ver livre de qualquer comportamento aditivo, seja ele causado por uma substância, droga, álcool, tabaco, dinheiro ou por um comportamento repetitivo e obsessivo, como o sexo, a ira, etc. O Egito seria o comportamento aditivo que mantém o indivíduo privado da sua liberdade, o deserto seria o tempo de purificação, desintoxicação, fortalecimento do ego, e a Terra Prometida seria a reconquista da liberdade face ao comportamento aditivo. 

EGITO
Tomar consciência de que és um escravo
Na Bíblia, Egito significa conhecimento e amor pelo conhecimento. O Egito é, portanto, um lugar onde aprendes a verdade. Enquanto José governava o Egito, este era um paraíso para si, para os seus irmãos e pai. Psicologicamente, isto significa que enquanto a mente domina ou governa o mundo, muito pode ser aprendido. Porém, começou a reinar no Egito um faraó que não tinha conhecido José e os filhos de Israel, ou seja, o domínio da mente sobre o mundo físico. O faraó representa o domínio do mundo físico sobre a mente, o domínio da carne sobre o espírito, como dirá S. Paulo.

Enquanto o espírito ou a mente tem a primazia ou governa o corpo, os seus desejos e apetites, o ser humano goza de liberdade, porque o ser humano é, acima de tudo, um ser espiritual. Quando pelo contrário, sobe ao trono o faraó, ou seja, o corpo com os seus desejos domina a mente e o espírito, o ser humano experimenta a escravidão.

O Egito é sinónimo de terra da escravidão, mas também, num momento posterior, é sinónimo de terra da verdade. Cito a história que contei no texto sobre a tridimensionalidade da ação social, ver – julgar – atuar: um sacerdote espanhol com toda a sua bagagem europeia depois de haver contemplado por algum tempo a situação deplorável e miserável em que vivia uma comunidade de camponeses latino-americanos, perguntou-lhes, “mas vós não tendes fome e sede de justiça?” Eles responderam “que é isso de fome e sede de justiça? Nós, senhor Padre, só conhecemos a fome de pão e a sede de água.”

(Moisés) Viu também um egípcio que açoitava um dos seus irmãos hebreus. Olhando para todos os lados e vendo que não havia ali ninguém, matou o egípcio e enterrou-o na areia. Saiu outra vez no dia seguinte e viu dois hebreus a brigar. Disse ao culpado: «Porque bates no teu companheiro?» Ao que ele replicou: «Quem te estabeleceu como chefe e juiz sobre nós? Exodo 2, 12-14

Enquanto o camponês só conhece a fome de pão e a sede de água, vive numa terra de escravidão, é escravo sem saber que o é e, tal como o povo judeu quando vivia nesta fase, não aceita que nenhum Moisés lhe venha falar de fome e sede de justiça. Os hebreus também não aceitavam a liberdade e a luta pela justiça que Moisés oferecia.

O Senhor disse: «Eu bem vi a opressão do meu povo que está no Egito, e ouvi o seu clamor diante dos seus inspetores; conheço, na verdade, os seus sofrimentos. Desci a fim de o libertar da mão dos egípcios e de o fazer subir desta terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra que mana leite e mel, (…) eis que o clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e vi também a tirania que os egípcios exercem sobre eles. Êxodo 3, 7, 8, 9

Quando finalmente o povo abre os olhos para a sua verdadeira condição, então sim, interpreta a sua vida de uma outra forma, começa a ter consciência de ser escravo numa terra estrangeira e começa a sonhar com outra vida noutra terra - a terra que os filhos de Jacob tinham deixado. Agora sim, já aceitam um líder que os tire dali, mas também este já não é o mesmo Moisés que matou o egípcio.

Em linha com o texto “ver - julgar – atuar” que, como dissemos, no seu tempo foi muito provavelmente inspirado no Êxodo, depois de o povo tomar consciência da sua vida de escravo, uma alternativa a essa vida começa a aparecer na sua mente. Esta alternativa é um sonho, uma promessa, um objetivo, uma utopia situada algures no futuro que atua como íman, que atrai o povo, que o faz sair da sua situação e caminhar para o futuro onde essa utopia se torna real.

Tal como um GPS, enquanto o satélite não descobre o lugar onde estamos, não pode indicar-nos o percurso até ao o lugar onde queremos ir. E para quem não sabe para onde ir, não há ventos favoráveis. O vento, a força motriz, só aparece quando sabemos qual é o nosso rumo, o nosso objetivo, a nossa utopia. Descobertos estes, é tempo de partir; mas antes de partir, celebramos a nossa libertação, pois a esperança vai guiar-nos.

Sonho com o dia em que nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos descendentes dos donos de escravos poderão sentar-se juntos à mesa da fraternidade. Sonho com o dia em que os meus filhos vão viver numa nação onde não serão julgados pela cor da sua pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Martin Luther King

Páscoa, a celebração memorial do arquétipo
Falai a toda a comunidade de Israel, dizendo que, aos dez deste mês, tomará cada um deles um animal do rebanho para a família, (…) Vós o tereis sob guarda até ao dia catorze deste mês, e toda a assembleia da comunidade de Israel o imolará ao crepúsculo. (…) será para vós um memorial, e vós festejá-lo-eis como uma festa em honra do Senhor, ao longo das vossas gerações a deveis festejar como uma lei perpétua. Êxodo 12, 3, 6, 14

Um povo que nunca se reúne para celebrar a sua identidade, deixa de ser povo. Em cada dia do tempo ordinário, cada um se dedica à sua tarefa, ao trabalho e nisso pode estar desligado do resto dos seus irmãos. Toda a nação, todo o povo, toda a associação de pessoas tem dias em que se encontra para celebrar a sua identidade nacional ou associativa; se isto deixa de acontecer, esse povo, essa nação, essa associação, deixa de existir.

Deus que é criador da natureza humana conhece-a bem melhor do que os humanos. Por isso, ainda antes de o povo partir para o deserto, decretou que o mesmo ato de saída fosse uma celebração que seria depois repetida num ritual em cada ano, para que nunca ninguém se esquecesse do preço da liberdade, do que custou a libertação da escravidão.

Jesus veio trazer a libertação para toda a humanidade de todo o tipo de “Egitos” que nos privam da nossa liberdade e dignidade como filhos de Deus. E também instituiu um ato memorial - a Eucaristia - e disse explicitamente “fazei isto em minha memória” depois de abençoar o pão e o vinho que se iriam transformar no seu corpo e no seu sangue, o preço que Ele pagou pela nossa liberdade.

DESERTO
Depois da euforia da celebração pascal e da saída do Egito, as dificuldades depressa se fizeram sentir. De frente apareceu o Mar Vermelho e por trás o exército egípcio. O povo, entre a espada e a parede, sentiu a tentação de olhar para o sonho que até ali o tinha conduzido como se fosse uma ilusão e um engano, uma miragem daquelas que precisamente no deserto são famosas.

Esta situação de desespero foi só a primeira, muitas outras se iriam suceder: a fome, a sede, as serpentes, a lembrança da carne que comiam no Egito parecia agora um sonho e bem mais real e viável, pois já o tinham experimentado. Tudo isto os impedia caminhar, pois de facto até parecia agora que a utopia tinha deslocado do futuro para o passado. Face aos desafios que a liberdade lhes apresentava, a escravatura do Egipto aparecia agora nas suas mentes como um paraíso perdido.  Assim se explica a tentação de voltar atrás.

Liberdade como processo
Nem pão sem liberdade nem liberdade sem pão. O pão é o alimento do corpo, a liberdade é o alimento da alma. É a alma que nos distingue do resto dos seres vivos. Portanto, o verdadeiro valor humano é a liberdade e não o pão, a capacidade de tomar a nossa vida nas nossas mãos e realizar com ela algo mais importante que a própria vida. No entanto, para viver, ou seja, para ter a vida nas nossas mãos, necessitamos de estar vivos, ou seja, necessitamos de alimentar o nosso corpo.

Não é edificante sacrificar a liberdade para obter pão, pois sacrificamos a nossa razão de vida. É como estar humanamente morto, como abdicar da vida para estar vivo. A menos que sacrifiquemos a nossa liberdade para obter o pão de alguém. Moisés exigiu do povo que abdicasse temporariamente do pão, da água em abundância e da carne para obter a liberdade: um bem maior que todos estes.

Assumir uma nova consciência de si mesmo, uma nova identidade, idealizar e elaborar o projeto de uma sociedade justa e fraterna, de forma a que liberdade seja sinónimo de participação e responsabilidade pelo projeto é um caminho longo e tortuoso pois o processo leva tempo. No caso de Moisés, o processo mais curto e fácil seria ir pela terra dos filisteus, ao longo do mar Mediterrâneo.

Deserto e desintoxicação
Avizinham-se dias difíceis. Mas isso não me preocupa, porque vi o cimo da montanha. E não me importo. Como qualquer pessoa, gostaria de viver uma vida longa. A longevidade é importante. Mas isso não me preocupa agora.

Quero apenas fazer a vontade de Deus. E Ele permitiu que eu subisse ao cimo da montanha. E eu vi mais além. E eu vi a Terra Prometida. Posso não chegar lá convosco. Mas quero que saibam, esta noite, que nós, enquanto povo, chegaremos à Terra Prometida! E estou tão feliz esta noite. Nada me preocupa. Não temo homem algum! Os meus olhos viram a glória da vinda do Senhor!! Martin Luther King, (um dia antes do seu assassínio)

A liberdade não se conquista de um dia para o outro, num simples ato, numa fuga. A liberdade é um processo com altos e baixos, é preciso libertar-se de velhos hábitos, das cebolas e da carne do Egito, superar a tentação de voltar atrás que surge quando se encontram dificuldades no caminho; o deserto significa desintoxicação dos vícios e maus hábitos que se tinha como escravos. Cortar com a vida anterior para estar disponíveis para uma vida nova.

No longo processo para a libertação, muitos ficaram pelo caminho. Moisés não entrou na Terra Prometida; Luther King que conduziu o povo negro dos Estados Unidos para liberdade e igualdade também não viu realizado o seu sonho no tempo curto da sua vida.

Dos que saíram do Egito, só Josué e o seu amigo Caleb entraram na Terra Prometida. Os dois eram positivos, olhavam para a frente, eram otimistas, não temiam o que a maior parte temia. Sobretudo no episódio dos espiões da terra, neste caso, o medo paralisou a maior parte dos filhos de Israel; Josué e Caleb estavam lá para infundir força, coragem, esperança e fé no Deus que tantas vezes tinha dado provas do seu amor e dedicação.

Não se pode entrar na Terra Prometida com os vícios do passado, estes têm de ficar no deserto. É provavelmente isto que simboliza o facto de apenas dois dos que saíram da escravidão terem entrado na Terra Prometida, enquanto que os outros ficaram pelo caminho, tendo sido sucedidos pelos seus filhos que já haviam nascido e crescido em liberdade no deserto.

A lição da borboleta
Um dia, uma pequena abertura apareceu num casulo; um homem sentado observou a borboleta por várias horas, enquanto ela estava a tentar mover o corpo através do pequeno buraco. Depois de algum tempo, parecia que ela tinha deixado de fazer qualquer progresso. Parecia que já tinha feito tudo o que podia e não tinha conseguido alargar o buraco.

Então o homem decidiu ajudar a borboleta: agarrou numa tesoura e abriu o casulo. A borboleta conseguiu sair facilmente. O seu corpo estava murcho, era pequeno e tinha as asas enrugadas. O homem continuava a observá-la, pois esperava que a qualquer momento, as asas se abrissem e esticassem para suportar o corpo, e que este se fizesse rijo. Nada disto aconteceu! Ao contrário, a borboleta passou o resto da sua vida rastejando com um corpo e asas murchas e encolhidas, e nunca foi capaz de voar.

O homem, na sua gentileza e vontade de ajudar, não se apercebeu de que o casulo apertado e o esforço necessário para a borboleta passar através da pequena abertura, era o estratagema que Deus tinha criado para que o fluido do corpo da borboleta fosse bombeado para as asas, proporcionando-lhe assim a força hidráulica para voar, depois de se ter libertado do casulo.

De foragidos a povo
Um inimigo comum faz de estranhos, amigos. No deserto, tudo é antagónico e, por isso, a união faz a força - para sobreviver são precisos os esforços de todos. Não é possível uma passagem direta do Egito para a Terra Prometida, é o deserto que faz de um bando de foragidos um povo, com uma idiossincrasia própria, uma lei, uma língua, uma forma de vida, um objetivo comum e uma relação especial com Deus que caminha com eles em forma de fogo durante a noite, em forma de nuvem durante o dia e que acampa com eles, habitando uma tenda.

Esta relação de absoluta dependência de Deus e interdependência entre todos é mais tarde exaltada pelos profetas como o tempo idílico: “Assim fala o Senhor: Recordo-me da tua fidelidade no tempo da tua juventude, dos amores do tempo do teu noivado, quando me seguias no deserto, na terra em que não se semeia. Israel era, então, propriedade sagrada do Senhor…Jeremias, 2, 2-3

O deserto não é um lugar para se viver, falta tudo, até o essencial. Naturalmente, a pessoa no deserto torna-se mais espiritual, volta-se para a paisagem interior pois nada há no exterior que capte os seus cinco sentidos. Por isso, para o povo, o deserto foi um tempo de introspeção individual e social e, dentro de si mesmo, encontrou Aquele do qual Santo Agostinho diz Deus intimior intimo meo, que nos é mais íntimo que o nosso íntimo, que está para além do nosso íntimo. Neste processo de introspeção, matam-se dois coelhos com o mesmo pau: conhecemo-nos a nós mesmos e a Deus.

A aliança ou pacto
A passagem de um estado de opressão para um estado de liberdade pressupõe uma mudança irrevogável e um juramento. Durante a marcha no deserto, os hebreus guiados por Moisés fazem um pacto entre eles, como povo e com Deus. Desta forma, no monte Sinai, um conjunto de tribos se transforma num povo, numa nação com leis e com uma constituição para governar a sua vida social.

A diferença das alianças anteriores com Abraão e Noé, que eram unilaterais e incondicionais, é que esta aliança de Moisés é bilateral, ou seja, se o povo permanecer fiel, Deus respeitará a sua parte do pacto. Moisés dá ao povo a possibilidade de escolha.

“(…) esta Lei, que hoje te prescrevo, não é muito difícil para ti nem está fora do teu alcance. (…) está muito perto de ti, na tua boca e no teu coração, para a praticares. Repara que coloco hoje diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal. Assim, ordeno-te hoje que ames o Senhor, teu Deus, que andes nos seus caminhos, que guardes os seus mandamentos, preceitos e sentenças. Assim viverás, multiplicar-te-ás e o SENHOR, teu Deus, te abençoará na terra em que vais entrar para dela tomar posse.

Mas se o teu coração se desviar e não escutares, se te deixares arrastar e adorares deuses estranhos e os servires, declaro-vos hoje que, sem dúvida, morrereis; os vossos dias não se prolongarão na terra na qual ides entrar, passando o Jordão, para dela tomar posse.” Deuteronómio 30, 11, 14-18

Idêntico discurso (Deuteronómio 31, 1-29) é feito por Josué, sucessor de Moisés, antes da última passagem ou páscoa: a do deserto para a Terra Prometida através da travessia do rio Jordão. Mais uma vez e pela última vez antes de iniciar uma vida nova numa nova terra, o povo é recordado do pacto que fez com Deus e que o constituiu como povo, ou seja, que lhe conferiu uma identidade tantas vezes exaltada no confronto com os outros povos vizinhos ou longínquos.

TERRA PROMETIDA
Depois de passar o rio Jordão, o povo chega finalmente à Terra Prometida, mas esta não lhe é dada de mão beijada. Dizem que Deus alimenta as aves do Céu, mas não lhes leva a comida ao ninho, elas têm de sair e ir buscá-la. Custou chegar até à Terra Prometida e, ao chegar, deparam-se com Jericó, a cidade mais antiga do mundo, bem amuralhada. Tiveram então de a conquistar, como o resto da terra onde corre leite e mel.

Ia para evangelizar e foi evangelizado
(…) das cidades destes povos, que o Senhor, teu Deus, te há-de dar por herança, é que não deixarás nelas alma viva. Votarás à destruição, o hitita, o amorreu, o cananeu, o perizeu, o heveu, o jebuseu, como te ordenou o Senhor, teu Deus, para que eles vos não ensinem a fazer as abominações que praticam em honra dos seus deuses. Pecaríeis contra o Senhor, vosso Deus. Deuteronómio 20, 16-18

Não me detenho a justificar ou defender o texto com conotações de genocídio, deixo isso para os mais entendidos nas sagradas escrituras. Como estamos a falar de arquétipos, o significado simbólico deste extermínio que Deus ordenou não é tanto de gentes, mas dos costumes dessas mesmas gentes para que, como diz o mesmo texto, não aconteça que o povo, em vez de estabelecer a sua cultura, idiossincrasia e fé na terra, adote costumes, hábitos e vícios do povo que habita essa mesma terra.

Portanto, trata-se de uma limpeza cultural, trata-se do tipo de limpeza que Jesus fez no Templo de Jerusalém para que este deixasse de ser lugar de negócios e idolatrias e fosse lugar de oração ao Deus único, Àquele que tinha tirado o povo do Egito e o tinha acompanhado até ali, dando-lhe esta terra. Quantas vezes vamos para evangelizar para trazer os outros para a nossa fé, para a nossa causa e acabam por ser eles que nos conquistam para a sua fé e para a sua causa.

O facto de Josué e os seus não obedecerem a Deus e não terem exterminado todos os cananeus, até as mulheres e as crianças, não significa que eram moralmente superiores ao próprio Deus mas sim que fizeram precisamente o que Deus temia: sendo eles os invasores, deixaram-se invadir e contaminar pelos costumes dos cananeus e, como já não eram nómadas, começaram também a adorar os deuses dos povos sedentários.

A Terra Prometida é o Reino de Deus
Mais que um lugar concreto, a Terra Prometida é individualmente uma forma de ser e de estar no mundo. Estamos no mundo, mas não somos do mundo. A história da salvação começou com Abraão, um arameu errante que deixou a sua terra. Já antes dele, Yaveh não escondia a sua preferência pelo nomadismo contra o sedentarismo. Sem nenhuma outra razão sem ser esta mesma, aceitou o sacrifício de Abel que era um pastor, portanto nómada, e não o de Caim que era um agricultor e, portanto, sedentário.

Por este mesmo motivo como atrás vimos, os profetas exaltam o tempo em que o povo caminhava pelo deserto e condenam o sedentarismo que leva à idolatria. Deus Yaveh é um deus de nómadas e não um deus sedentário. Os deuses sedentários eram os deuses da fertilidade, da agricultura. O sedentarismo, o parar, vai contra a natureza cósmica e humana, pois tudo se move e quando paramos facilmente caímos na idolatria. Estar no mundo sem ser do mundo é uma expressão de um certo nomadismo espiritual que devemos manter.

Por outro lado, a nível social, vivemos comprometidos com um projeto por um mundo melhor que é o Reino de Deus, mas não nos identificamos nunca totalmente com nenhuma conquista, mesmo neste sentido.

O Reino está já entre nós desde que Deus, por intermédio do Seu filho (historicamente, Jesus de Nazaré), entrou na história humana. Mas o Reino não está ainda entre nós na sua plenitude porque o mundo pode ser sempre melhor. Sabemos que nunca será como o Céu, o Reino de Deus por excelência. Por isso vivemos comprometidos, mas não implicados ou completamente identificados com as realizações históricas do Reino de Deus.

A Terra Prometida não é, portanto, um lugar geográfico concreto, mas uma sociedade onde reina a justiça e a paz. E para que esta reine, são precisos esforços contínuos e constante vigilância para que não descambe em injustiça e violência.

Como atrás vimos, o Egito do tempo de José era semelhante à Terra Prometida, pois lá se refugiaram os filhos de Jacob com o seu pai para não morrerem de fome. No tempo de José, pai adotivo de Jesus, voltou a ser terra de salvação, pois lá se refugiou o menino até Herodes morrer.

Podemos concluir que toda a Terra Prometida já foi um Egito e todo o Egito pode ser uma Terra Prometida. Como cristãos, devemos viver instalados no deserto, sempre em saída do Egito, caminhando em direção à Terra Prometida; hoje melhores que ontem e amanhã melhores que hoje.

Aplicação do arquétipo à teoria comunista de Marx
Karl Marx (1818-1883) era um economista e filósofo alemão de origem judaica que viveu no tempo em que a primeira revolução social esvaziou o campo e encheu cidades de operários, entre eles crianças, que viviam em condições sub-humanas, com demasiadas horas de trabalho, baixos salários e em pobreza extrema.

O capitalismo é o Egito do proletariado
Para ele, a sociedade estava dividida em proletários, os novos escravos, e burgueses, os novos senhores. Em seguida, Marx aplicou esta leitura da sociedade do seu tempo ao resto da História, que viu como uma luta de classes na qual o oprimido luta contra o seu opressor.

Nesta sociedade, o burguês capitalista controlava o processo da produção, pelo qual os produtos da fábrica eram vendidos a um preço que incluía a matéria prima, a mão de obra e um lucro do qual só o burguês beneficiava. Alguns industriais filantropos, dando-se conta dos lucros exorbitantes de que usufruíam, distribuíam-nos pelos trabalhadores, mas a maioria enriquecia enquanto o proletariado empobrecia.

Tal como o povo judeu no seu Egito, Marx que também era judeu entendia que o ressentimento do proletariado por ver roubado o fruto do seu suor, iria aumentando até um dia ecoar em todas as fábricas o famoso slogan do manifesto comunista de Marx e Engels (1848): "Trabalhadores do mundo, uni-vos, vós não tendes nada a perder a não ser os vossos grilhões".

A ditadura do proletariado é o deserto
Com isto, entendia Marx, o proletariado sairia do seu Egito, repudiaria a sua condição de escravo e tomaria as rédeas do poder e do processo de produção. Inverter-se-iam os papéis, tal como na parábola do rico e do pobre Lázaro. (Lucas 16, 19-31)

Estes foram os tempos da revolução comunista, tempos difíceis para todos, sobretudo para os burgueses que foram expropriados do seu poder, da sua propriedade, do lugar que ocupavam e do papel que desempenhavam na sociedade. Desapareceu a sua função, desapareceu a sua classe.

Não obstante ser ateu, Marx aplicou na perfeição a matriz Egito – deserto – Terra Prometida, e provavelmente viu-se a si mesmo como o novo Moisés, que tiraria da escravidão o novo povo eleito, os proletários de todo o mundo.

A sociedade sem classes é a Terra Prometida
Depois da vitória do proletariado sobre a burguesia e sobre o seu capitalismo, instrumento de opressão, uma nova sociedade sem classes deveria emergir, regida pelo princípio de Marx: “De cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades”. Nesta sociedade idílica, a propriedade, terras, fábricas, meios de produção são de todos, são comuns.

Todos teriam direito e igual acesso à educação, as classes desapareceriam, terminaria assim a ditadura do proletariado pois nem existiriam proletários nem burgueses, reinaria a harmonia, a justiça e a paz que tornariam o Estado obsoleto, acabando este por desaparecer.

Dialética hegeliana e marxista
Todos sabemos que Marx bebeu de Hegel ou, melhor dizendo, de um Hegel invertido pela sua adoção do ateísmo de Feuerbach. Para o filósofo Hegel, a distinção entre a matéria e o espírito era ilusória e concluía que a matéria era uma forma de espírito; Marx, pelo contrário, entendia que o espírito era uma forma de matéria.

Se substituirmos espírito por energia (podemos de facto entender o espírito como uma energia porque tanto um como o outro são intangíveis), hoje diríamos com Einstein que os dois tinham razão, a matéria é uma forma de energia, assim como a energia é uma forma de matéria.

A título de apêndice, gostaria de acrescentar uma menção à tridimensionalidade da dialética de Hegel, subentendida na teoria socialista de Marx. Para ambos, a História desenvolve-se em conflitos entre forças opostas: Tese (Egito), Antítese (Deserto), Síntese (Terra Prometida). Isto aplica-se à luta de classes, como Marx fez, às nações, instituições, e assim sucessivamente até, na mente de Hegel, chegarmos ao Céu ou, na de Marx, à sociedade sem classes que seria, segundo ele, o fim da História.

O uso do arquétipo em todas as formas de luta contra qualquer adição, mau hábito ou vício
Egito – Deserto – Terra Prometida não é só um arquétipo da mudança social mas também é um arquétipo da mudança individual, da conversão, da saída de algum comportamento obsessivo, compulsivo, repetitivo, neurótico que nos dá a impressão de vivermos em piloto automático e não manual, de não estarmos ao comando das nossas próprias vidas e de sermos escravos de vícios, maus hábitos, atitudes ou substâncias.

Já a hora é tardia e não temos espaço aqui para desenvolver o tema como mereceria. No decurso da nossa vida caímos em situações de Egito e perdemos a liberdade perante os outros, como no caso da violência doméstica, mediante comportamentos obsessivos, compulsivos e repetitivos, no campo da ira, do sexo e tantos outros. De igual modo, também perdemos a nossa liberdade quando nos tornamos viciados e dependentes de substâncias que acabam desempenhando um papel psicológico ou existencial nas nossas vidas.

Apesar de ser tradicionalmente usadas pelos alcoólicos anónimos (AA), as 12 Etapas constituem a principal teoria para lidar com todo o tipo de adição, seja ela de natureza psicológica ou material de alguma substância. No nosso entender, esta teoria obedece também ao arquétipo e foi traçada consciente ou inconscientemente com base neste paradigma que descrevemos.

Egito - Admitir que perdemos o controlo sobre nós mesmos
Trata-se da primeira etapa. Enquanto o povo de Israel não se deu conta de que era escravo, nunca surgiu a sede de mudança, de sair daquela situação. Uma coisa é viver numa situação, outra é saber entender e interpretar essa mesma situação. Muitos adictos não se reconhecem como tal; muitos fumadores dizem que, se quiserem, deixam de fumar a qualquer momento; diz-se que um deles chegou a dizer anedoticamente que era fácil e que já o tinha feito 20 vezes.

Deserto – Purificação, desintoxicação, síndrome de abstinência
Os foragidos do Egito tiveram que constituir-se como povo, para juntos sobreviverem às agruras do deserto. Os alcoólicos anónimos são uma comunidade que se junta para todos lutarem contra um mal. Entre as 12 Etapas, algumas referem-se a esta relação que se estabelece com os outros e com o Outro Deus.

O deserto para os adictos é lugar de desintoxicação. Um fígado leva tempo a desintoxicar-se, os pulmões podem reter o carvão neles acumulado durante muito tempo. Neste tempo de desintoxicação, quando o corpo começa a sentir a necessidade da substância, o espírito lembra-se das panelas cheias de carne deixadas no Egito enquanto se passa fome no deserto. A síndrome de abstinência é a tentação de voltar atrás.

Terra Prometida – Libertação, harmonia, paz consigo mesmo e com os outros
Por fim, chega-se à Terra Prometida, onde voltamos a ser senhores do nosso nariz, onde voltamos a ter e exercer controlo sobre os nossos comportamentos. Segundo a teoria das 12 Etapas, é tempo de reconciliar-se com aqueles que magoámos quando estávamos fora de nós mesmos e possuídos pelas substâncias e comportamentos que podemos entender miticamente como espíritos impuros. Uma vez expulsos esses espíritos, voltamos a ser livres e a relacionarmo-nos em paz e harmonia connosco mesmos e com os outros.

CONCLUSÃO
Tanto a mudança, ou conversão individual face ao pecado ou ao vício, como a revolução ou evolução social com vista a um mundo onde reina a justiça, a paz e a integridade da criação, obedecem a este arquétipo, seguem este paradigma.
P. Jorge Amaro, IMC