15 de junho de 2020

3 Atitudes perante os outros: Introvertido - Extrovertido - Ambivertido

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Introvertido versus extrovertido são talvez as palavras mais populares da psicologia, aquelas que toda a gente conhece e aplica tanto a si como aos outros quando se trata de descrever-se ou de descrever o comportamento básico ou atitude básica dos outros.

Toda a gente sabe que uma pessoa introvertida é uma pessoa voltada para dentro, que fala com os seus botões; por outro lado, o extrovertido é uma pessoa voltada para fora, precisa da convivência como do ar que respira.

Quem primeiro cunhou estes termos foi o psicólogo suíço Carl Jung, discípulo dissidente de Freud. Vejamos em que difere não só de Freud como de outro grande contemporâneo, Adler, para depois nos centrarmos nestas tradicionais atitudes ou tendências perante a vida e os outros.

Freud, Adler e Jung
Sigmund Freud - É o grande mestre e fundador da psicologia moderna, entendida no seu tempo como psicanálise; Alfred Adler e Gustav Jung são os seus seguidores e discípulos que, a princípio, seguem fundamentalmente a teoria do mestre, mas mais tarde divergem consideravelmente, seguindo cada um o seu rumo.

Freud entende que a raiz de todo o problema psicológico é sexual, ou seja, a repressão de desejos sexuais no inconsciente leva a comportamentos neuróticos no consciente. Freud foi o primeiro pensador que tirou o tema sexual do escuro e do âmbito do pecado. Falar de sexo no seu tempo era tabu, e talvez tenha sido isto que de alguma maneira o levou a dar tanta importância ao sexo.

A divisão da personalidade humana em três instâncias foi o seu grande contributo para entender a natureza humana. O ID é a primeira instância e aquela que nos aproxima mais dos últimos primatas, nascemos com o ID e nunca o perdemos. O ID é inconsciente e assim permanece dentro de nós mesmos. O ID relaciona-se simbioticamente com o seu ambiente circundante, não se destacando muito dele. 

À medida que a criança cresce e se relaciona com o seu ambiente, começa a destacar-se e a diferenciar-se deste, chegando eventualmente à autoconsciência de si mesma: nasce assim o ser, o EGO. Mais tarde, a criança consciente do seu ser toma também consciência, por meio da educação, do dever ser, de que pode crescer, ser mais, ser melhor e assim nasce o SUPEREGO, a última instância da personalidade segundo Freud.

Alfred Adler – Menos introspetivo que Freud, interessou-se mais pelas relações que a criança estabelece desde o princípio e como ela se vê a si mesma perante os outros. Ao contrário de Freud, entende que a razão de todos os problemas psicológicos é o complexo de inferioridade que torna a pessoa ávida de poder.

Ao analisar o inconsciente, Freud descobre fantasias eróticas e desejos reprimidos, enquanto que Adler acha que este inconsciente contém sentimentos de inferioridade e desejos de poder e grandeza que vão tornar a pessoa agressiva na luta pelo poder, ou apática, se entender que não consegue alcançar o poder.

Na prática psicoterapêutica os dois também são diferentes. Adler não usa o divã porque entende que replica uma relação pai-filho e reforça o complexo de inferioridade do cliente. Pelo contrário, usa duas cadeiras frente a frente que fazem do cliente e do terapeuta participantes iguais no processo psicoterapêutico. Talvez este seja o percursor da terapia não diretiva de Carl Rogers.

Gustav Jung – Estende o inconsciente freudiano para além das fronteiras do indivíduo, criando o inconsciente coletivo, algo como uma base de dados à qual todos naturalmente se ligam, pois contém todos os arquétipos da humanidade.

Uma das razões da divergência entre estes três grandes psicólogos pode ser o facto de que, embora as suas teorias se destinassem a ser aplicadas ao homem em todas as suas etapas de crescimento, cada um dos três se inclina para uma etapa diferente deste crescimento. Freud está mais interessado na infância, Adler na adolescência e Jung na idade adulta.

Neste sentido, Jung abandona Freud porque entende que o nosso comportamento não depende só de eventos do passado, quer tenham sido traumáticos ou não traumáticos. A pessoa procura sempre atualizar-se, está orientada para o futuro e, neste sentido, toma as atitudes que acha que melhor resolvem os seus problemas e satisfazem as suas necessidades.

Neste contexto, Jung propõe duas atitudes, tendências ou abordagens em relação à vida: introversão e extroversão. Considera-se que estas ideias são o maior contributo de Jung para a teoria da personalidade. De facto, a visão dos tipos extrovertido e introvertido de Jung serve como base ao indicador de tipos Myers-Briggs (MBTI).

Sem se preocupar com o passado, a dupla Myers-Briggs estuda o comportamento da pessoa no aqui e agora e analisa-o na medida em que se situa entre duas atitudes ou tendências contrárias. Em relação à nossa motivação e à forma como adquirimos a energia, somos introvertidos ou extrovertidos. Em relação à forma como adquirimos e processamos a informação de que precisamos na nossa vida, somos sensitivos ou intuitivos. Em relação à forma como tomamos decisões, uns regulam-se mais pelo pensamento, outros pelo sentimento. Em relação à forma como nos situamos na vida a nível existencial e profissional, uns confiam mais na sua capacidade de julgar, outros mais na sua perceção.

Os resultados de um teste de MBTI nunca mostram uma pessoa como sendo 100% introvertida ou extrovertida, sentimental ou racional, sensitiva ou intuitiva, julgadora ou percetiva; indicam apenas em percentagem uma tendência ou inclinação mais para um lado que para o outro.

O objetivo deste texto não é estudar a teoria de Myers-Briggs, mas sim os comportamentos introvertidos e extrovertidos segundo Jung e segundo autores posteriores a ele. O título deste texto não se refere apenas à introversão e extroversão, mas também à ambiversão.

É certo que este termo era desconhecido por Jung mas ele próprio já entendia que não havia ninguém que fosse 100% introvertido ou extrovertido. Hoje os autores entendem que existem pessoas que não são nem um nem outro nem os dois ao mesmo tempo, dependendo das situações ou motivações do momento.

O que é ser introvertido - extrovertido – ambivertido? Uma atitude perante a realidade, perante os outros, perante a vida? Uma motivação, uma tendência, um tipo psicológico, um caráter, um tipo de personalidade, um temperamento?

Tive dificuldade em decidir-me por este título, pois cada autor usa a sua forma de entender estes comportamentos fundamentais da pessoa humana. Ficamos com a palavra “atitude” e se tivéssemos que escolher uma segunda escolheríamos “tendência”, para definir a forma como uma pessoa se situa na vida em relação a si mesma, à realidade e aos outros.

Qual é a orientação natural da nossa energia? O que mais nos motiva? Cada pessoa tem duas faces. Uma está voltada para o mundo exterior de atividades, entusiasmos, pessoas e coisas; a outra para o mundo interior dos pensamentos, interesses, ideias e imaginação.

Sendo estes lados da nossa natureza, complementares, a maior parte das pessoas tem preferência por um deles. Assim, um dos seus dois rostos - extrovertido ou introvertido - assume a liderança no desenvolvimento da sua personalidade e desempenha um papel mais dominante no seu comportamento.

Ultimamente, fala-se de uma terceira tendência - a ambiversão - que fundamentalmente é uma síntese das outras duas. Pessoalmente, sempre me entendi como introvertido; mas todos os testes que fiz sobre o assunto sempre me colocaram na fronteira entre o introvertido e o extrovertido, ou seja, introvertido, mas com facetas de extroversão.

Descobrir o termo ambiversão foi para mim o mesmo que descobrir-me a mim mesmo, um “eureka” sobre mim mesmo: afinal não sou introvertido como pensava nem extrovertido, mas uma síntese ou mistura das duas atitudes. Nem podia ser de outra maneira, sendo quem sou e sendo o meu trabalho lidar diretamente com pessoas mais que com coisas ou papéis.

Infância: introversão e extroversão
Jung entende que adquirimos bem cedo estas duas atitudes fundamentais perante a vida, a realidade e os outros que depois mantemos durante o resto da nossa vida. Estas atitudes aparecem quando o bebé corta o cordão umbilical que o liga ao seu meio ambiente e começa a diferenciar-se dele. Podemos dizer que o introvertido nasce ou emancipa-se antes que o extrovertido, na medida em que se diferencia mais fortemente do seu ambiente que o extrovertido que, de alguma forma, ainda se mantém por mais tempo em simbiose com ele.

Perante este dado, uma criança com tendência extrovertida demonstra prontidão para agir e responder aos estímulos e solicitações do meio ambiente; a sua atenção é dirigida ao mundo exterior e interage com os objetos sem reservas e sem medo, mesmo que os desconheça.

Por outro lado, a criança introvertida assume uma atitude reflexiva e até desconfiada diante daquilo que não conhece, sente medo e entende que deve proteger-se e defender-se da influência que os objetos possam ter sobre ela. Por isso mantém uma distância perante eles, com o intuito de os conhecer melhor e adquirir poder e autoconfiança nas suas ações sobre eles.

Pouco se sabe sobre a forma como nos transformamos em introvertidos ou extrovertidos. Inicialmente, atribuía-se muita importância aos fatores educativos, mas verifica-se muitas vezes que filhos da mesma mãe que foram teoricamente educados da mesma maneira, agem e reagem de maneiras diferentes na mesma situação.

No caso das atitudes psicológicas, o fator educativo não é aparentemente o mais determinante na aquisição das atitudes de introversão ou extroversão. É provável que haja uma predisposição genética ou biológica para se assumir uma ou outra atitude.

Atitude introvertida
A forma de conhecer do introvertido - O mundo do introvertido está dentro de si mesmo; é algo como o mundo das ideias da caverna de Platão. A nível filosófico, o introvertido, no ato de conhecer as coisas, não lida com os acidentes das coisas, ou seja, com as suas características, mas com a sua essência, com o que estas coisas significam em si ou para ele.

É claro que esta atitude fundamental pode levar a mal-entendidos pelo facto de o introvertido não se relacionar com o objeto em si, mas com a ideia ou imagem, sempre subjetiva, que tem do objeto, coisa ou pessoa em questão. A perceção da realidade do introvertido nunca é objetiva, porque ele não vê as coisas tal como elas são, mas como ele entende que elas são, ou seja, como elas são para ele.

Para o introvertido, a realidade psíquica é uma experiência relativamente concreta, algumas vezes chega a ser mais concreta que a realidade externa. O que conta não é o que a coisa ou pessoa é em si mesma, mas o que ela é para o sujeito que a conhece. O erro está, é claro, em confundir o que a coisa ou pessoa é em si mesma com o que é para mim. O sujeito que conhece é mais importante que a pessoa ou coisa a ser conhecida. As pessoas e as coisas não são o que são, mas o que são para mim.

Dizem ou diziam que os japoneses não desfrutam dos lugares que visitam por estarem atarefados a fazer fotografias e vídeos, desfrutando eventualmente desses lugares quando, já em casa, os revisitam através dos vídeos e fotografias que contemplam no ecrã da televisão, comodamente sentados no sofá, bebendo saque. Esta pode ser uma imagem caricata de um introvertido que desconsidera a realidade exterior, a favor da realidade interior.

A mente do extrovertido orienta-se e relata fielmente os factos objetivos e permanece sempre em contacto com a realidade a conhecer, podendo variar a sua conceção conforme esta varia. Pelo contrário, a mente do introvertido é como uma máquina fotográfica: abre-se o obturador num espaço curto de tempo, a realidade entra e depois fecha-se e não volta a abrir-se. Enquanto que o introvertido pode olhar o extrovertido como superficial e demasiado dependente da realidade, o extrovertido olha o introvertido como preconceituoso, egoísta e distanciado da realidade.

Introversão e timidez - Os introvertidos podem ser ou não ser tímidos; o tímido é inseguro, está apreensivo e nervoso quando está com pessoas; o introvertido pode até ter boas competências sociais, mas cansa-se de estar com os outros; precisa de estar sozinho para recarregar a sua energia.

Resumindo
  • Voltado para o mundo interior. Tem preferência por encontrar a energia e motivação no mundo das ideias, emoções, impressões e experiências pessoais. Prefere refletir antes de agir e, novamente, refletir. Precisa de tempo para pensar e recuperar a sua energia. Em geral, é pouco sociável, por opção, não porque seja tímido. Os ambientes muito agitados, com muitas pessoas cansam o introvertido.
  • Do ponto de vista energético, o introvertido produz a sua própria energia, motiva-se a si mesmo, é autónomo e independente; o extrovertido precisa de se ligar com o mundo exterior para se motivar, de se ligar aos outros para carregar as baterias.
  • O modo de aprendizagem do introvertido é pela observação, é uma pessoa mais pensativa e introspetiva. O introvertido precisa de estar sozinho. Não expressa muito, pensa e analisa.
  • Pensa e reflete e só depois atua, e dificilmente muda de opinião, podendo ser fundamentalista e intolerante quando negativo.
  • Precisa de uma quantidade de "tempo a sós" para recarregar as baterias.
  • Motivado a partir de dentro, a sua mente é, por vezes, tão ativa que tende a fechar-se ao mundo de fora do qual se protege. A sua mente é o seu castelo.
  • Tem preferência pela comunicação e relações de um-para-um. Os temas de conversa são profundos e giram em torno de ideias e conceitos; não perde o tempo a falar de assuntos triviais ou mexericos.
  • Prefere direcionar a sua energia estudando e analisando ideias, informações, explicações e crenças.
  • Parafraseando Descartes, o introvertido pensa, logo existe, e depois atua ou não; o extrovertido existe, depois pensa.
  • O introvertido é Platão, o extrovertido é Aristóteles.
  • O extrovertido é fácil de conhecer, o introvertido é difícil de conhecer.
  • O extrovertido expressa emoções, o introvertido controla-as ou reprime-as. O primeiro precisa de relações, o segundo precisa de solidão e privacidade. Um traz amplitude para a vida, o outro traz profundidade. O primeiro pode ser acusado de ser superficial, o segundo de ser uma ilha.
  • Uma pequena parte da população é introvertida. 
Profissões e formas de vida
Os introvertidos são bons investigadores, engenheiros, arquitetos, filósofos, escritores, psicólogos, professores, áreas onde a capacidade de refletir antes de agir é valorizada. Por exemplo, um soldado pode e deve ser extrovertido, enquanto que um estratega militar deve certamente ser introvertido; mas nem sempre isto acontece. Quando se trata de natureza humana, mais são as exceções que as regras.

Atitude extrovertida
O mundo do extrovertido é o mundo real, fora de si mesmo. Para o extrovertido, o mundo externo parece o sujeito e ele o objeto. O indivíduo deixa-se impregnar pelo exterior que o invade. Segundo Jung, o extrovertido vive de tal modo, que o objeto, como fator determinante, desempenha na sua consciência um papel bem maior que a sua opinião subjetiva. Sente e pensa no objeto pessoa ou coisa do seu conhecimento, perdendo nele a sua subjetividade ou individualidade.

Um extrovertido pode ser ou não ser uma pessoa amistosa e sociável. O que verdadeiramente o define é o precisar dos outros e do mundo exterior para ser ele mesmo; sente-se cheio de energia quando está com os outros, pois neles encontra a sua motivação e as suas ideias.

As considerações subjetivas do extrovertido existem, mas não são privilegiadas no plano da sua consciência, pois favorece o objeto e as suas circunstâncias em vez de se destacar a si próprio como sujeito. Isto pode levar o extrovertido a distanciar-se de si mesmo no âmbito dos pensamentos, avaliações, sensações e intuições subjetivas. Com este quadro psíquico, é bem mais provável que um extrovertido se aliene e perca a sua liberdade num comportamento aditivo que o introvertido que mantém uma distância segura em relação às coisas.

O extrovertido tende a viver dissociado e divorciado de si mesmo, dos seus sentimentos e pensamentos, refugia-se no objeto para afastar de si a dor e o sofrimento, e apercebe-se das suas necessidades quando a não satisfação das mesmas já é problemática. As necessidades subjetivas, de facto, são o seu ponto fraco, ignorando a saúde do seu próprio corpo em comportamentos pouco saudáveis. O não reconhecimento consciente das suas necessidades pode assumir proporções catastróficas a ponto de perder a referência e proporção das coisas em relação a si mesmo: está tão envolvido na realidade que se confunde com ela.

Resumindo
  • Precisa de estar e entrar em contacto com os outros para recarregar as suas energias de forma externa. É motivado ou tira a sua energia do mundo das coisas, das pessoas, das relações, das atividades. A forma de aprendizagem também é externa: precisa de conversar, de trocar ideias. Odeia fazê-lo por si mesmo, sem a interação com os outros e o mundo ao seu redor. Sente que lhe falta algo quando privado da interação com o mundo exterior, pois é este que o motiva. Procura inspiração pensando alto e em diálogo com os outros. Trabalha melhor em equipa que sozinho.
  • Obtém a sua energia através da ação; a sua energia psíquica e a sua atenção e interesse são dirigidos para fora de si, para as pessoas e para o mundo à sua volta. Real é o mundo à sua volta e é este, e não o seu pensamento, que determina o seu comportamento. O seu mundo interior é menos real e mais secundário na sua lista de prioridades e influencia menos o seu comportamento. Está mais interessado no que acontece à sua volta do que no que acontece no seu interior.
  • Gosta de realizar várias atividades; age primeiro e depois pensa. Quando inativo, a sua energia diminui, podendo até entrar em tédio e depressão. Em geral, é sociável. Enquanto o introvertido procura adaptar o mundo à sua mente, o extrovertido adapta-se, acomoda-se ao mundo. Neste sentido, facilmente muda de opinião como uma cana agitada pelo vento, como um camaleão e, quando é negativo, é uma pessoa sem princípios. Facilmente faz novos amigos ou se adapta a um novo grupo, e também facilmente rompe com relações indesejáveis. É aberto e diz o que pensa, e pode até não pensar no que diz.
  • Não é necessariamente altruísta, vai ter com os outros porque precisa deles. Os temas de conversa são triviais e superficiais, coisas do dia a dia e até mexericos. É aberto e falador, objetivo, uma pessoa de ação. É prolixo nos seus interesses e tem dificuldade em manter a atenção focada numa só coisa.
  • A maior parte da população é extrovertida. 
Profissões e formas de vida
Os extrovertidos são bons gestores, vendedores, treinadores, apresentadores, jornalistas entrevistadores, áreas onde é importante interagir com as pessoas e as coisas.

Ambivertidos
Ninguém é puramente introvertido nem puramente extrovertido ou estaria encerrado num manicómio.
Carl Jung

Os entendidos em ambiversão dizem que a maior parte da população é ambivertida. Ou seja, todos caímos nalgum ponto do espetro entre a extroversão e a introversão. É um conceito novo, desconhecido para Jung, o fundador da teoria da introversão e extroversão, embora ele mesmo entendesse que podia haver um grau intermédio entre estes dois contrários.

Esse grau intermédio é o ambivertido. Em meu entender, o ambivertido é fundamentalmente um introvertido, ou seja, está enraizado na introversão, mas também se dá bem fora da sua concha, à qual necessita de regressar. É versátil como um pato que tanto voa como anda ou nada.

Dá-se bem na solidão e entre a multidão. Na verdade, para ser ele mesmo necessita de alternar solidão com multidão, ou seja, estar a sós consigo mesmo e estar com os outros. Sente ambas as necessidades, pelo que tanto pode passar dias fora de casa, como passar dias sem sair à rua.

Perante um determinado estímulo, a reação de um introvertido e de um extrovertido é previsível; a reação de um ambivertido não é clara nem previsível, nem sequer para ele mesmo; depende de muitos fatores, entres os quais os interesses do indivíduo no momento.  Os ambivertidos podem ser excelentes conversadores e comunicadores e, por outro lado, também excelentes ouvintes.

O primeiro a usar o termo "ambivertido" foi o psicólogo americano Edmund S. Conklin, em 1923, segundo conta Ian Davidson, professor de Psicologia da Universidade de York, Canadá, num artigo datado de 2017. Davidson explica que um psicólogo da época dizia que Conklin "inventou a palavra" para descrever aqueles indivíduos que se encontram entre os introvertidos (que vivem na sua cabeça) e os extrovertidos (que vivem fora dela).

Os ambivertidos situam-se no meio do espetro entre a extroversão e a introversão; não são muito faladores nem vivem demasiado centrados em si mesmos; não têm uma necessidade forte e quase compulsiva de interagir com os outros, como o extrovertido puro, nem buscam a solidão para fugir à realidade, como os introvertidos. São flexíveis, tolerantes, ambivalentes, bilingues ou poliglotas, ecléticos, vivem com um pé em cada um dos dois mundos.

Resumindo
  • O ambivertido não tem medo de ser o centro das atenções, dependendo do contexto e da situação. Em muitas situações, prefere simplesmente observar tranquilamente sem participar ativamente.
  • Goza e diverte-se nas festas e eventos sociais durante horas a fio, porém, de repente, a energia esgota-se e precisa de se retirar para a sua zona de conforto.
  • Como os extrovertidos, gosta de conversar, mas não sobre assuntos triviais ou futebol.
  • Gosta de socializar, mas às vezes é reservado, sobretudo se não conhece alguém. E não será ele que toma a iniciativa de se apresentar como faria um extrovertido.
  • Alguns dos seus amigos pensam que é extrovertido, outros que é introvertido, isto porque se apresenta de diferentes maneiras em diferentes situações.
  • Em geral, pensa antes de falar; se alguém fala muito, ele escuta; se todos estão em silêncio, ele fala.
  • Os ambivertidos são os melhores a lidar com os extremos que provocariam o colapso dos introvertidos ou os extrovertidos, uma vez que têm um maior grau de tolerância tanto no extremo da introversão como no extremo da extroversão. 
Conclusão
Os introvertidos ficam em casa num dia de sol, os extrovertidos ficam na rua num dia de chuva, os ambivertidos aproveitam o sol e fogem da chuva.
Pe. Jorge Amaro, IMC

1 de junho de 2020

3 Atitudes perante a Ira: Agressiva - Passiva - Assertiva

1 comentário:
Qualquer pessoa pode enfurecer-se facilmente; porém, enfurecer-se com a pessoa certa, com a intensidade certa, no momento certo, por um objetivo certo, e de uma forma certa, não está ao alcance de todos e não é fácil. Aristóteles

A ira e o amor são as emoções mais básicas do ser humano. São o Eros e o Tanatos de Freud, os polos positivo e negativo da energia humana, o Yin e Yang, dos orientais, são a afetividade e a agressividade que permeiam toda a ação humana.

A agressividade é tão necessária quanto a afetividade e o doseamento das duas na vida do dia a dia é uma questão de aprendizagem. Tanto uma como a outra energia devem ser sublimadas para que delas possamos ter um bom aproveitamento, tanto a nível individual como social. O problema surge quando a educação nos primeiros tempos da criança não é adequada. Inadvertidamente os pais passam para os filhos a sua boa ou má gestão da ira.

Natureza e génese da ira
A ira é como o fogo, só pode apagar-se à primeira faísca, depois é tarde. Giovanni Papini

A ira nasce do medo, e este de um sentimento de fraqueza ou inferioridade. Se tiver coragem ou determinação, terá cada vez menos medo e, consequentemente, sentir-se-á menos frustrado e incomodado. Dalai Lama

Ira, raiva, cólera, fúria, são várias as palavras para designar o mesmo sentimento ou emoção reativa que sentimos diante da adversidade que pode manifestar-se nos acontecimentos, pessoas ou coisas que nos antagonizam. É um sentimento natural: sem a ira, a vida não seria possível, por isso em si mesma é moralmente neutra não é positiva nem negativa do ponto de vista natural pois é necessária à vida.

Dissemos que a ira era uma emoção básica, mas isso não quer dizer que seja uma emoção primária. Na verdade, ela é secundária, ou seja, é apenas a ponta do icebergue de muitas outras emoções que existem a baixo da linha de água. A ira é a resposta do indivíduo a essas emoções e, essas sim, são primárias.

Que sinto eu antes de sentir ira, ou seja, antes de me zangar? Sinto medo, ansiedade, vergonha, frustração, humilhação, desmotivação, tristeza. Todos estes sentimentos precedem e motivam a ira. O problema é que a ira substitui estas emoções primárias tão rapidamente que não chegamos a ter consciência delas; mas são elas que motivam a ira como reação, ou seja, a ira é uma reação a essas emoções primárias.

No entanto, estamos apenas cientes de que estamos zangados ou, muitas vezes, nem isso. Pode acontecer que os outros, ao verem-nos irados, nos confrontem e chamem a atenção para o facto de estarmos zangados. A nossa primeira reação é negar que estamos zangados, mesmo que a ira já tenha motivado uma má palavra, um insulto ou uma ação violenta.

A ira é uma emoção poderosa: ou a controlamos ou ela controla-nos a nós. A função da ira é proteger-nos do meio ambiente e dos outros. Os pensamentos negativos são o resultado de emoções primárias negativas como as que referimos; tudo o que precisamos em seguida é de um gatilho, de qualquer situação que nos fará explodir. Tudo acontece num ápice de tempo.

A gestão da ira só é possível se eu me der tempo para descobrir as emoções primárias que a motivam. Onde há fumo há fogo, toda a emoção primária já é uma reação a uma necessidade não satisfeita. As emoções primárias que atrás referimos como estando na origem da ira são elas mesmas uma reação ao facto de uma necessidade humana não estar a ser satisfeita. Uma vez descobertas essas necessidades, tudo o que temos de fazer é satisfazê-las de uma forma adequada e o sentimento de ira implode, como aquelas bombas que colocam nos edifícios e que os fazem cair sobre si mesmos em vez de explodirem em todas as direções.

Há dois tipos de ira: a ira justa ou justificável e a ira injusta ou não justificável que é uma ira pessoal e transferencial. As duas são parecidas ou podem até partilhar os mesmos métodos, força e violência, mas o fim não é o mesmo. Por outro lado, uma é controlada por quem a usa, a outra (a transferencial) controla geralmente quem a usa.

Ira justa
Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque fechais aos homens o Reino do Céu! Nem entrais vós nem deixais entrar os que o querem fazer. Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, que devorais as casas das viúvas, com o pretexto de prolongadas orações! Por isso, sereis mais rigorosamente julgados. Mateus 23, 13-14

Chegaram a Jerusalém; e, entrando no templo, Jesus começou a expulsar os que vendiam e compravam no templo; deitou por terra as mesas dos cambistas e os bancos dos vendedores de pombas, (…) E ensinava-os, dizendo: “Não está escrito: a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos? Mas vós fizestes dela um covil de ladrões”. Marcos 11:15-17

Jesus de Nazaré, como pessoa cem por cento humana, experimentou a ira muitas vezes na sua vida, precisamente porque encontrou muita adversidade e antagonismo, especialmente entre os escribas, fariseus e doutores da lei. Sentiu certamente raiva porque os seus compatriotas estavam obtusamente fechados à sua mensagem e, perante a impotência de os fazer mudar, chorou sobre Jerusalém (Lucas 19, 41-44). O choro é uma das melhores formas de nos desenvencilharmos de emoções negativas como a ira.

Acabámos de exemplificar as vezes que Jesus atuou motivado pela sua ira, ou seja, expressou-a na acusação que várias vezes fez contra os líderes do povo e na limpeza do comércio que fez no Templo. Nestas duas ocasiões podemos ver as marcas que distinguem a ira justa da que não o é:

Adequada e proporcional - A ira justa é controlada por quem a usa, ou seja, a pessoa que a usa nunca perde as estribeiras, pois não tem a intenção de infringir danos no outro. É controlada e adequada como a ira que os pais usam com os filhos: não lhes querem mal, pelo contrário, temem que o seu comportamento seja destrutivo.

Não tem relação com o passado – Ao contrário da ira transferencial que provém do passado individual da pessoa irada, o que motiva e suscita a ira justa pertence ao presente e está patente aos olhos de todos.

Ira altruísta – O objetivo da ira é restaurar a harmonia, a justiça, a paz. Assim foi no caso de Jesus. Jesus nunca se irou por motivos pessoais, mas irou-se para defender os pobres dos seus opressores; é neste sentido que lhe chamo uma ira altruísta, em contraposição com a ira transferencial que é egoísta.

Ira transferencial
Anger is never without a reason, but seldom with a good one. (A ira nunca é desprovida de razão, mas raramente tem uma boa razão). Benjamin Franklin

Ao definirmos a ira transferencial, percebemos que serve o contrário de tudo o que dissemos sobre a ira justa. Não é adequada nem proporcional ou controlada: pelo contrário, é frequentemente desproporcional, inadequada, não tem como fim o bem do outro, mas algum motivo egoísta ou até mesquinho. Muitas vezes, é a ira que controla a pessoa irada e não o inverso.

A génese desta ira está no passado, ou seja, a pessoa já a contém, vive irada e só precisa de uma situação ou acontecimento que a faça espoletar; por isso se chama ira transferencial, porque foi gerada num acontecimento passado e, como a pessoa naquele tempo não a exprimiu por estar numa situação de inferioridade, por exemplo, por ser criança, acabou por suprimi-la ou reprimi-la.

Um exemplo clássico de ira reprimida é a que é causada pelo patrão que repreende duramente o empregado; este, não podendo descarregar sobre o patrão a sua ira, chega a casa e fá-lo sobre a mulher por qualquer razão, a mulher fá-lo em seguida sobre o filho e o filho dá um pontapé ao cão ou ao gato, na esperança de que este último saiba lidar melhor com a raiva porque não tem ninguém abaixo dele sobre quem a descarregar.

Neste caso, a raiva saiu de dentro do indivíduo e não foi reprimida ou suprimida, apenas se usou outra pessoa como saco de pancada do pugilismo. A ira transferencial provém de um passado mais longínquo: o episódio ou episódios que a originaram foram graves abusos da autoridade sobre alguém indefeso e que não tinha forma de exprimir a ira que evidentemente se interiorizou. O tempo pode fazer esquecer os factos que originaram essa ira, mas não apaga a ira e muitas vezes até a faz fortalece.

Esta ira que se volta para dentro não desaparece e sempre que um acontecimento do presente apresenta semelhanças com aquele do passado, inconscientemente o nosso psiquismo vai buscar aquela ira, liga-se a ela e expressa agora aquilo que não expressou no passado. A raiva é desencadeada quando eventos ou pessoas do presente são interpretados de uma forma semelhante aos eventos e pessoas do passado.

Em cada infração do presente, inconscientemente, vemos os monstros do passado e reagimos como devíamos ter feito nesse tempo. É evidente que acaba por pagar o justo pelo pecador. A pessoa do presente sobre a qual descarregamos a nossa ira é somente um bode expiatório da ira que temos acumulada e que não foi descarregada na altura sobre o móbil que a originou.

Cervantes, o autor do livro Don Quixote de la Mancha, descreve muito bem este caso no famoso e emblemático episódio dos moinhos de vento. Iam Don Quixote e o seu escudeiro Sancho Pança trotando pela Mancha, quando viram uns trinta ou quarenta moinhos de vento. Don Quixote dirigiu-se ao seu escudeiro Sancho Pança, “Vês ali aqueles gigantes?”, “Que gigantes?” perguntou Sancho Pança, “Aqueles que vês ali, de braços compridos.”.

Apesar da advertência e do realismo de Sancho Pança que só via moinhos de vento, Don Quixote investiu contra os moinhos, pensando que eram gigantes. Don Quixote viu neles os seus inimigos do passado que eram gigantes para ele e o tinham derrotado; mas neste momento, achou-se com capacidade para os enfrentar.

Como a comunicação não-violenta vê a ira
A raiva é uma expressão suicida de uma necessidade não satisfeita M. Rosenberg

Enganamo-nos a nós mesmos quando pensamos que os nossos sentimentos resultam do que os outros dizem ou fazem. Em vez de buscar em nós mesmos a causa da nossa ira ou de quaisquer outros sentimentos ou emoções, culpamos os outros, procuramos um bode expiatório e frequentemente descarregamos sobre ele a nossa ira em forma de vingança ou punição. A ira está para a sua causa como o fumo está para o fogo: onde há fumo há fogo, onde há ira há uma necessidade nossa que não está a ser satisfeita. É esta necessidade que causa a ira e não o que o outro disse ou fez.

Rosenberg dá como exemplo o caso de um prisioneiro numa prisão sueca, a quem perguntam o que é que as autoridades da prisão tinham feito para provocar a sua ira; ele respondeu, “há já três semanas que fiz uma petição e eles ainda não responderam”. O prisioneiro fez uma observação pura sem misturar nenhuma avaliação, ou seja, sem qualificar o comportamento das autoridades prisionais. Porém, o estímulo parece coincidir com a causa, ou seja, ele culpa as autoridades pela sua ira.

Ao voltar-se para si mesmo na procura da razão ou causa da ira, o prisioneiro descobriu que, de facto, o que sentia era medo de sair da prisão sem ter um curso, uma profissão para poder sustentar-se. O que causa a nossa ira não é o que os outros dizem ou fazem, mas a nossa interpretação e avaliação negativa do que dizem e fazem, assim como o que nós dizemos a nós mesmos.

O prisioneiro descobriu que estava zangado por achar que não era justa a forma como estava a ser tratado, não era assim que se tratavam seres humanos. Sentimos ira porque interpretamos e julgamos como mau, injusto, desumano, o comportamento que desencadeia a nossa ira. O comportamento desencadeia a ira, mas o que a causa é a nossa interpretação desse mesmo comportamento e o veredito que atribuímos às pessoas, julgando-as egoístas, injustas, cruéis, etc.

A raiva resulta de concentrarmos a nossa atenção no que a outra pessoa "deve" ou "não deve" fazer e julgá-la como "errada", "ruim" ou “egoísta”, etc. A ira mantém-nos focados sobre o que não gostamos, em vez de nos ajudar a ligarmo-nos às nossas necessidades. Mudando o foco da nossa atenção, perguntando-nos pelas necessidades que ficam por satisfazer enquanto acusamos os outros, o sentimento da raiva desaparece ou é substituído por sentimentos que servem a vida, como o medo, a desilusão, a tristeza ou a dor.

As sentenças que pronunciamos ao julgar aquele cujo comportamento desencadeou a nossa ira são expressões alienadas e trágicas de necessidades nossas que se encontram por satisfazer. Em vez de olharmos para dentro de nós para nos ligarmos às nossas necessidades, saímos para fora de nós e acusamos e culpamos os outros pela insatisfação dessas necessidades.

Voltando ao prisioneiro sueco, Rosenberg perguntou-lhe que necessidades insatisfeitas estavam por detrás das acusações feitas às autoridades da prisão? Não foi fácil a resposta, pois estamos mais habituados a reagir e julgar os outros que a fazer exercícios de introspeção e ligação com o que verdadeiramente necessitamos; por fim, o prisioneiro disse “Bom, a minha necessidade é ser capaz de sobreviver conseguindo um emprego depois de sair da prisão; o pedido que eu fiz às autoridades era aprender um ofício durante o tempo de reclusão.”

Perguntou Rosenberg, “Como te sentes agora?”, “com medo”, respondeu o prisioneiro. Ao ligar-se à necessidade que provocava o medo como emoção primária e a raiva contra as autoridades, como emoção secundária, esta última acabou por dissolver-se por si mesma, implodiu como atrás dissemos e deixou de se fazer sentir.

Recapitulando, perante a raiva, a primeira coisa a fazer é contê-la com uma respiração profunda, contar até 10, depois verificar a emoção primária que subjaz à raiva respondendo à pergunta “por que estou irado?” Por fim, é nossa responsabilidade descobrir a que necessidade se refere essa emoção primária e verificar que a solução ou satisfação dessa necessidade não cabe à pessoa contra quem estamos irados.

Reativo versus proativo
A man in a passion, rides a mad horse (Um homem consumido por uma paixão, cavalga um cavalo louco) Ben Franklin

Muito do que dizemos neste capítulo refere-se a outras emoções e não só à emoção da ira, mas como esta é a mais reativa das emoções, tudo o que aqui dizemos pode aplicar-se à ira quando a vivenciamos de uma forma agressiva e explosiva ou seja, reativa.

Escusado será dizer agora que o comportamento reativo é o nosso comportamento animal, uma vez que provém dos cérebros límbico e réptil que foram concebidos para livrar os répteis e os mamíferos dos perigos que encontram nas suas vidas. Não foram concebidos para as situações que um ser humano encontra em si mesmo e nos seus semelhantes: nestas situações é o neocórtex que nos ajuda e não os outros dois. Isto que sabemos à priori a nível teórico não é o que na hora da verdade aplicamos no dia a dia das nossas vidas.

Forma de atuar – A pessoa reativa atua dentro de um padrão de causa-efeito, estímulo-resposta, enquanto que a pessoa pró-ativa tem consciência das suas emoções e decide livremente o que é adequado fazer com elas, assume conscientemente as rédeas do seu comportamento.

Perante o erro – O reativo diz que a culpa não foi dele e, se chega a admiti-la, diz que todos são assim e que errar é humano. O pró-ativo entende que “mal de muitos é consolo de tontos” e por isso aprende com o erro, encontra em todos os erros uma lição para aprender.

Perante a adversidade - O reativo sente-se vítima, desmotiva-se, perde o controlo, deprime-se, questiona a sua autoestima, teme o fracasso e não atua. O pró-ativo sabe que a adversidade é o melhor dos mestres; onde há uma crise, há uma oportunidade de crescer, de descobrir coisas novas e a necessidade aguça o engenho.

Perante o futuro - O reativo acha-se perseguido pelo azar ou acha que os que triunfam na vida não chegam lá pelo trabalho, mas sim pela sorte. É supersticioso e acredita no destino ou na predestinação. O pró-ativo entende que o futuro e o sucesso dependem dele, estão nas suas mãos, e que o que acredita que vai acontecer acontece mesmo com o seu esforço. 

Perante o uso do tempo – O reativo está sempre muito ocupado e não tem tempo sequer para os seus, vive ansioso e stressado por falta de organização, frequentemente usa mal o tempo, perde-o em coisas sem importância e depois falta-lhe para coisas importantes; boicota-se a si mesmo. O pró-ativo trabalha com organização e método, pelo que sempre encontra tempo para as coisas importantes da sua vida, para si mesmo e para os outros, vive sem stress e sem ansiedade.

Perante os desafios - O reativo foge com o rabo à seringa, contorna os desafios, não os enfrenta, esconde a cabeça debaixo da areia como a avestruz. O pró-ativo enfrenta os desafios um a um, com método, organização e coragem, acha que o touro é para pegar pelos cornos.

Perante o compromisso - O reativo faz promessas que não cumpre, é como o personagem do evangelho que diz ao pai que vai trabalhar na vinha, mas depois não vai, e encontra sempre justificações para o seu comportamento desleixado e preguiçoso. O pró-ativo é fidedigno e confiável pois não falta ao que prometeu. O pró-ativo tem uma visão mais ampla, consegue ver a parede na sua totalidade, enquanto que o reativo fixa-se apenas no azulejo que lhe cabe colocar nela.

Perante o espelho - O reativo diz “não sou tão mau como dizem, ainda há pessoas piores que eu”. O pró-ativo diz “sou bom, mas posso ser melhor”.

Em diálogo - O reativo não espera que chegue a sua vez para falar, interrompe e pensa que o que tem a dizer é mais importante, não é bom ouvinte e está sempre a pensar numa resposta, quer ganhar a contenda e não se importa de perder o adversário; por outro lado, resiste a todos os que sabem mais que ele e apenas se fixa nos defeitos deles para lhos atirar à cara. O pró-ativo é calmo, ouve, compreende, pensa e responde, encontra coisas positivas no que os outros dizem e começa a sua intervenção mencionando-as, respeita os que sabem mais que ele e procura aprender com eles.

Perante o progresso - O reativo resiste ao progresso, é apaixonado pelo “status quo” e pelas suas rotinas, acha que sempre se fez assim e sempre há de fazer-se assim, não há outra maneira. O pró-ativo quer crescer e acha que deve haver uma maneira melhor de fazer as coisas. Por isso, em resumo, o reativo é parte do problema, enquanto que o pró-ativo é parte da solução.

Gestão da ira
Ouvistes o que foi dito aos antigos: não matarás. Aquele que matar terá de responder em juízo. Eu, porém, digo-vos: Quem se irritar contra o seu irmão será réu perante o tribunal; quem lhe chamar “imbecil” será réu diante do Conselho; e quem lhe chamar “louco” será réu da Geena do fogo.

Se fores, portanto, apresentar uma oferta sobre o altar e ali te recordares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; depois, volta para apresentar a tua oferta. Mateus 5, 21-24

Como atrás vimos, o comportamento humano é precedido pelo pensamento e sentimento antes de chegar à ação. Se queremos travar a ação é mais sábio travá-la no sentimento ou no pensamento que travá-la mais tarde. Isto é verdade em relação a todo o pensamento ou emoção e duplamente verdade em relação à ira. Como acima se referiu, a ira é como o fogo que é relativamente fácil de apagar se o apanharmos no começo; mas se o deixarmos alastrar, não haverá nada a fazer.

Quanto mais tempo passamos a pensar num ressentimento, mais o nutrimos; no caso da ira, do ressentimento passamos ao ódio, do ódio ao insulto e do insulto à ação. Por isso, para Jesus, pecado não é só matar, mas todos os passos que levam a essa ação; como bom psicólogo que era, Jesus enumera esses mesmos passos: o sentir a ira, o insultar e castigar, esses passos são pecados tanto quanto o ato de matar.

Para reduzir em segurança a alta velocidade de um carro, é preferível reduzir as mudanças de 5ª para 4ª, de 3ª para 2ª, do que aplicar o travão a fundo, pois o travão só trava as rodas e não a inércia e a velocidade do corpo do carro. Por outro lado, há sempre uma roda que trava mais que a outra desequilibrando perigosamente o carro.

Ao reduzir as mudanças, estou a travar com o motor, ou seja, estou a obrigar o centro do carro a entrar  numa velocidade mais curta e assim reduzo a velocidade do carro em segurança. O mesmo acontece com o nosso comportamento: se dou azo aos pensamentos e sentimentos e procuro travar a ação, é como travar com as rodas; se, por outro lado, controlo os meus pensamentos e sentimentos, estou a travar ou a evitar a ação no meu centro, onde estes têm origem ou a partir de onde se projetam.

Há três formas de gerir a ira: o agressivo é violento, grita, explode, vinga-se por tudo e por nada e só se dá conta do mal que faz depois de o ter feito; é um Incrível Hulk. O passivo nega e esconde a sua ira dos outros e até de si mesmo, mais tarde explode sem ele nem os outros saberem porquê, ou dá bofetadas escondendo a mão; é um terrorista. O assertivo distancia-se da sua ira, separa o bebé da água do banho, denunciando o pecado sem acusar o pecador; é um diplomata.

AGRESSIVA
Nenhuma palavra desagradável saia da vossa boca, mas apenas a que for boa, que edifique, sempre que necessário, para que seja uma graça para aqueles que a escutam. Toda a espécie de azedume, raiva, ira, gritaria e injúria desapareça de vós, juntamente com toda a maldade. Sede, antes, bondosos uns para com os outros, compassivos; perdoai-vos mutuamente, como também Deus vos perdoou em Cristo. Efésios 4, 27, 29, 31-32
  • Speak when you are angry and you will make the best speech you will ever regret (Falai quando estiverdes zangados e fareis o melhor discurso do qual vos arrependereis para sempre). Ambrose Bierce 
  • Anger is one letter short of danger (À ira (anger) falta uma só letra para ser perigo (danger)).  Eleanor Roosevelt 
  • Mais penosas são as consequências da ira do que as suas causas. Marco Aurélio 
  • Agir com raiva é o mesmo que içar a vela na tempestade. Eurípedes 
  • If a small thing has the power to make you angry, does that not indicate something about your size? (Se uma pequena coisa tem o poder de vos enfurecer, será que isso não indica algo acerca do vosso tamanho?) Sydney J. Harris 
  • He who angers you conquers you (Aquele que te enfurece, derrota-te). Elizabeth Kenny 
A ira que existe naturalmente porque tem a função de nos proteger e de nos lançar na vida, usada agressivamente, vai contra a nossa vida e contra a vida dos outros, destrói a harmonia e só consegue a paz do cemitério.
Estar sob a influência da ira é como estar sob a influência do álcool: não sabemos o que dizemos nem o que fazemos. A ira envolve o nosso neocórtex num nevoeiro cerrado, chega a desativá-lo, a deixá-lo KO, ficando a pessoa fora de si, sem nenhum controlo sobre a ira, completamente possuída por este demónio que faz dela o que quer.

Uma ação não iluminada pela razão é uma ação instintiva e animalesca. O agressivo vive no passado interpreta erradamente o presente pois vê-o e analisa-o com o cérebro reptiliano que só serve para as cobras. Por isso se diz “é ruim como as cobras”. Ou então usa o cérebro mamífero que foi desenhado para lobos, não para humanos; por isso Thomas Hobbes afirma que o homem é lobo do homem. O agressivo é contra tudo e contra todos porque vive na crença de que tudo e todos lhe são antagónicos, não confia em ninguém.

Para o agressivo, o ataque é a melhor defesa, explode com facilidade, ferve em pouca água; controla os outros e procura ter poder sobre eles, porque não tem nenhum poder nem controlo sobre si mesmo; usa frequentemente a intimidação; está apaixonado pelo poder e nunca chega a descobrir o poder do amor. Gosta de tirar o tapete de baixo dos pés dos outros e tem prazer em desmascarar os hipócritas.

Diz obscenidades, insulta com facilidade, possui uma voz firme, dura e afiada, grita, subindo de tom no final do seu discurso. Tem um tom de voz sarcástico e frio, é loquaz, o seu discurso é fluente, sem hesitações; tem tendência a usar palavras acusatórias, o contacto visual é um olhar fixo no intuito de intimidar e dominar. Aponta com o dedo, bate com o punho, é impaciente

A vingança do agricultor
If you are patient in one moment of anger, you will escape a hundred days of sorrow (Se fores paciente num momento de ira, escaparás a cem dias de pena). Provérbio chinês
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Um agricultor, enraivecido com uma raposa que lhe roubara as galinhas, conseguiu depois de muito tempo apanhá-la e decidiu vingar-se matando-a, mas também fazendo-a sofrer por todo o ressentimento que lhe tinha causado. Amarrou ao rabo da raposa a uma corda grossa bem embebida em óleo e incendiou-a. A raposa, por uma fatalidade estranha ou ironia do destino, desatou a correr em direção aos campos de trigo louro e maduro do agricultor. Era tempo de colheita, mas nesse ano o agricultor não colheu nada.Quem mal quer fazer, mal lhe há-de acontecer. Voltou-se o feitiço contra o feiticeiro.

Bem mais positiva é a história de Buda, que ia passando de aldeia em aldeia com os seus discípulos, enquanto os aldeões o insultavam por entenderem que ele pervertia a juventude com as suas ideias. A determinada altura, um dos discípulos perguntou ao mestre, “mas tu não ouves os insultos que te dizem estes aldeões?”, ao que o mestre respondeu “ouço sim, eles insultam-me, mas eu não me sinto insultado”.

O efeito dominó da ira
Quando se responde com ira à ira, esta aumenta exponencialmente em intensidade e envolve cada vez mais gente; chama-se a este fenómeno a espiral da violência. Mas a ira ou violência tem também um efeito dominó, como o comprova a história seguinte:

Enquanto a família tomava o pequeno almoço, a menina por descuido deixou cair a chávena do café que manchou a camisa branca do pai. Este repreendeu-a severamente e esta começou a chorar. Em seguida, o pai culpou também a esposa por ter deixado a chávena muito perto da beira da mesa, e esta reagiu, dando início a uma batalha verbal.

Contrariado e resmungando, o pai foi mudar de camisa e quando voltou a menina continuava a chorar e acabou por perder o autocarro escolar. A esposa foi para o trabalho contrariada e o pai teve de levar a filha à escola. Como já estava atrasado para o trabalho, ultrapassou o limite de velocidade e foi multado pela polícia. Chegou por fim à escola e a menina não se despediu do pai.

Quando chegou atrasado ao escritório, ouviu um sermão do patrão e ainda por cima se apercebeu que, com os nervos, tinha deixado a pasta em casa. Teve de regressar a casa e de ouvir mais impropérios do patrão. Terminado o dia, voltou para casa onde reinava uma atmosfera de tormenta, silêncio frio e um ambiente de cortar à faca.

De quem foi a culpa de tudo isto? Dele e só dele. Acidentes como este são comuns, a culpa não é de ninguém, mas a forma como reagimos é da nossa total responsabilidade. Bastava ter dito “não faz mal, pode acontecer a qualquer um” e o dia teria sido diferente.

PASSIVA
Se vos irardes, não pequeis; que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento, nem deis espaço algum ao diabo. Efésios 4:26
  • Anger is an acid can do more harm to the vessel in which it is stored than to anything on which it is poured (A raiva é um ácido que pode danificar mais o recipient onde está guardado do que a superfície sobre a qual é derramado). Baptist Beacon 
  • Bitterness is like cancer. It eats upon the host. But anger is like fire. It burns it all clean (O azedume é como o cancro. Come o hospedeiro. Mas a raiva é como o fogo. Queima, até tudo ficar limpo). Maya Angelou 
  • Learn this from me. Holding anger is a poison. It eats you from inside. We think that hating is a weapon that attacks the person who harmed us. But hatred is a curved blade. And the harm we do, we do to ourselves (Aprendam isto comigo. Reter a raiva é veneno. Come-te por dentro. Achamos que odiar é uma arma que ataca a pessoa que nos magoou. Mas o ódio é uma lâmina curva. E o mal que fazemos, é a nós que fazemos).  Mitch Albom 
  • Segurar a raiva é como agarrar um carvão quente com a intenção de o atirar a outra pessoa, tu és o único que fica queimado. Buda 
  • Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra. William Shakespeare 
O mal fica com quem o pratica, diz o provérbio, a raiva faz mal sobretudo a quem a sente e não tanto a quem a recebe, a menos que quem a recebe seja uma criança. Suprimir ou reprimir a ira é enganar-se a si mesmo, suprimir ou reprimir a ira não a anula, ela não vai embora vai para o inconsciente porque o consciente a nega.

A ira não se perde, o que se perde é o controlo sobre a mesma. Para a saúde emocional e física da pessoa, melhor seria a explosão. Mesmo que tenhamos dito a nós mesmos que o que aconteceu não tem valor nenhum, o nosso inconsciente dá-lhe o devido valor e defende-nos, de alguma forma, de nós mesmos.

A supressão pode fazer apagar os nossos sentimentos em relação às pessoas, pode colocar minas que em dado momento explodem e apanham as pessoas que vivem à nossa volta. A ira crónica não resolvida pode originar problemas de saúde, como úlceras e depressões.

A pessoa passiva cede às exigências exageradas dos outros. Padece de apatia, cede aos outros o controlo da sua vida, é acriticamente submissa. Nunca oferece o seu parecer antes de os outros darem o seu. Nunca critica nem emite um parecer negativo, culpabiliza-se sem ter culpa nenhuma. A voz é, por vezes, frágil, com um tom monótono, excessivamente tímido ou cálido e, tão silencioso, que muitas vezes cai no final. O fluxo da fala é hesitante e cheio de pausas e dúvidas; aclara a garganta com frequência, sorri falsamente quando está irritada ou é criticada, levanta o sobrolho sempre à espera de uma repreensão, etc. O contacto visual é evasivo e abatido.

O que leva a pessoa a ser passiva? Provavelmente todos na família eram tão atenciosos e prestáveis que a criança nunca teve a oportunidade de praticar o dizer que não. A obediência pode ter sido tão enraizada na criança que ela não consegue repensá-la como adulta.

Passiva agressiva
A pessoa passiva agressiva é uma espécie de combinação entre a agressiva e a passiva. Muitas das pessoas passivas, são passivas agressivas. Para as definir, temos de as comparar com as agressivas. A pessoa agressiva é frontal, declara e luta numa guerra aberta; a passiva agressiva é mais parecida com a atitude de covardia do terrorismo - uma combinação de agressividade com medo de expressá-la abertamente.

Em grande parte, a pessoa não tem consciência deste comportamento, de dar bofetadas escondendo a mão, ou de ter comportamentos negativos em relação à pessoa de quem procura distanciar-se. Por exemplo, a dona de casa que está furiosa com o marido sem o demonstrar, faz a comida de que ele não gosta ou coloca sal a mais na mesma.

A pessoa passiva agressiva esquece compromissos e coisas que têm um impacto na vida das pessoas, confunde tudo acidentalmente. Tem afirmações sarcásticas, não é pontual, é teimosa, costuma ter dores de cabeça ou das costas ou inventa-as. Fracassa de propósito ou executa mal as suas tarefas para que a substituam. Fica contente quando as coisas correm mal.

ASSERTIVA
“Porque me interrogas? Interroga os que ouviram o que eu lhes disse. Eles bem sabem do que Eu lhes falei.” Quando Jesus disse isto, um dos guardas ali presente deu-lhe uma bofetada, dizendo: “É assim que respondes ao Sumo Sacerdote?” Jesus replicou: “Se falei mal, mostra onde está o mal; mas, se falei bem, por que me bates?João 18, 21-23

Postpone today's anger until tomorrow (Adia a raiva de hoje para amanhã). Provérbio filipino

O Sumo Sacerdote não estava a proceder bem segundo o Direito tanto romano como judaico, estava a infringir a lei ao interrogar diretamente o réu. Pelo contrário, deveria interrogar as testemunhas. Jesus na sua intervenção aludiu à lei e à prática da lei, mas fê-lo sem acusar o Sumo Sacerdote de estar a atuar ilegalmente.

A pessoa assertiva menciona o pecado, tendo o cuidado de não acusar o pecador, na esperança de que seja o próprio pecador a ver o pecado e os efeitos ou consequências sobre as suas vítimas e que acabe por se acusar ele mesmo e reconhecer o erro. Acusar o pecador do seu pecado tem geralmente um efeito contraproducente, uma vez que a tendência do pecador será defender-se por se sentir atacado e tentar justificar a sua falta.

Da mesma forma se comportou Jesus quando levou a bofetada do soldado. Não reagiu agressivamente por palavras nem por ações, obrigou o soldado a pensar, a deixar o seu cérebro de reptiliano e límbico e a usar o seu neocórtex, procurando nele uma justificação para a sua agressão ao perguntar-lhe “por que me bates?”

A pessoa agressiva visa punir, a assertiva procura ajudar a pessoa que errou. Tenta ser compreensiva, é flexível e está disposta a procurar alternativas. Reconhece que todos nós temos falhas, sabe que mesmo as melhores pessoas às vezes cometem erros. Sabe o valor do perdão, reconhece que sempre se pode melhorar, não diz basta, nunca dá ninguém por perdido, nem abdica de ninguém cortando relações para sempre.

É capaz de defender os próprios direitos sem violar os direitos dos outros. De expressar as próprias necessidades, desejos, opiniões, sentimentos e crenças, direta, honesta e adequadamente.

A pessoa assertiva tem presente que quando alguém se dirige a ela zangado, sem motivo aparente, essa ira é transferencial e, nesse momento, ela representa para essa pessoa uma outra do passado. Por isso, a raiva não é para si, mas para o monstro do passado, que nesse momento representa. Isto é particularmente verdade nas escolas, quando os alunos se revoltam contra os professores.

A pessoa assertiva responsabiliza-se pelos próprios sentimentos, revela as feridas que a ação do outro lhe causou, mas sem o acusar, na esperança de que o outro também tome consciência da sua ação. Nunca diz que os outros o irritam, nem lhes chama nomes, nem lhes coloca rótulos, mas responsabiliza-se pela própria ira quando a sente. Mesmo irada, reconhece virtudes e não só defeitos naquele que lhe espoletou a ira.

Utilizar o sujeito Eu em vez do sujeito tu
Agressiva – (Tu) Estás sempre a interromper as minhas histórias.
Assertiva – (Eu) Gostaria de contar histórias sem ser interrompido.
Agressiva – (Tu) Envergonhaste-me diante de toda aquela gente.
Assertiva – (Eu) Senti-me envergonhado quando disseste aquilo diante daquela gente toda.

Utilizar descrições factuais em vez de juízos de valor ou exageros
Agressiva – Este trabalho é uma porcaria.
Assertiva – A pontuação do teu relatório precisa de ser mais trabalhada. Além disso, os títulos estão espaçados de forma inconsistente.
Agressiva – Se não mudas de atitude vais ter grandes problemas.
Assertiva – Se continuas a chegar depois das 8 horas, terei de te cortar dois dias de salário.

Expressar pensamentos, sentimentos e opiniões assumindo a sua responsabilidade por eles
Agressiva – Ele deixa-me furioso (nega responsabilidade pelos sentimentos).
Assertiva – Zango-me quando ele não cumpre o que prometeu (responsável pelos sentimentos).
Agressiva – A única política aceitável é igualar a concorrência (afirma a opinião como se fosse um facto, agressivo e controlador).
Assertiva – Acredito que igualar a concorrência é a melhor política (assume responsabilidade pela opinião).

Como qualquer outro sentimento ou emoção, não é nossa responsabilidade sentir a ira em diferentes situações da vida, mas é nossa responsabilidade apropriarmo-nos dela, fazendo-nos responsáveis tanto por senti-la, porque surge do nosso interior, como pela forma como a gerimos.
Pe. Jorge Amaro, IMC