15 de novembro de 2018

CNV - Gestão da ira & Resolução de conflitos

Sem comentários:
A ira é uma expressão suicida de uma necessidade  insatisfeita M. Rosenberg 

Se vos irardes, não pequeis; que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento, (…) Toda a espécie de azedume, raiva, ira, gritaria e injúria desapareça de vós, juntamente com toda a maldade. Sede, antes, bondosos uns para com os outros, compassivos; perdoai-vos mutuamente, como também Deus vos perdoou em Cristo. Efésios 4, 26, 31-32

São Paulo reconhece, no versículo 26, que a ira faz parte da nossa natureza, que há muitas situações existenciais no nosso dia a dia que a podem desencadear; mas aconselha-nos logo a seguir no mesmo versículo a não lhe dar espaço, ou seja, a não fazer nada motivados por ela. Não devemos atuar exteriormente com base na nossa ira porque a ira é um sentimento e, como todos os sentimentos ou emoções, aponta para uma necessidade insatisfeita.

A ira não é então mais que um alarme que dispara no nosso sistema e que nos pede um “intervalo” para parar, respirar fundo e fazer um exercício de introspeção que tem como objetivo descobrir a sua causa em nós e não nos outros. Desta forma, evitamos o ressentimento que naturalmente leva ao azedume nas relações, à raiva, gritaria e injúria, tal como adverte S. Paulo.

Quando a ira é desencadeada em nós, são várias as respostas possíveis. Responder agressivamente no âmbito do “olho por olho dente por dente”; ser passivo / passivo, ou seja, voltar a agressividade contra nós próprios reprimindo assim a ira; ser passivo / agressivo, procurar a vingança de uma forma sorrateira do tipo “dar uma bofetada e esconder a mão”; ser assertivo defendendo-nos, mas sem atacar o outro.

Distinguir entre o que desencadeia a ira e o que a causa
A linguagem não violenta tem uma nova abordagem à ira: não se reprime, por, ser má, nem se descarrega, dando murros em almofadas, pois isso só  faz com que aumente e, eventualmente, um ou outro murro pode acertar naquela que julgamos ser a causa da nossa ira.

O primeiro passo é ilibar o outro de toda e qualquer responsabilidade pela minha ira; ou seja, não dizer “irritas-me” porque nunca ficamos irritados pelo que o outro faz ou diz; o outro pode desencadear a nossa ira, mas não a causa. Num mundo violento, onde a culpa é uma tática de controlo, manipulação e coação, interessa confundir o estímulo dos sentimentos com a causa dos mesmos: “fazes-nos sofrer, ao teu pai e a mim, quando tiras más notas”. A mesma tática é usada entre namorados: “desiludiste-me ao não te lembrares do meu aniversário”.

Enganamo-nos a nós mesmos quando pensamos que os nossos sentimentos resultam do que os outros dizem ou fazem. Em vez de buscar em nós mesmos a causa da nossa ira ou de quaisquer outros sentimentos ou emoções, culpamos os outros, procuramos um bode expiatório e frequentemente descarregamos sobre ele a nossa ira em forma de vingança ou punição. A ira está para a sua causa como o fumo está para o fogo - onde há fumo, há fogo, onde há ira há uma necessidade nossa que não está a ser satisfeita. É esta necessidade que causa a ira e não o que o outro disse ou fez.

Rosenberg dá como exemplo o caso de um prisioneiro numa prisão sueca, a quem perguntam o que é que as autoridades da prisão tinham feito para provocar a sua ira; ele responde, “há já três semanas que fiz uma petição e eles ainda não responderam”. O prisioneiro fez uma pura observação sem misturar nenhuma avaliação, ou seja, sem qualificar o comportamento das autoridades prisionais; porém, o estímulo parece coincidir com a causa, ou seja, ele culpa as autoridades pela sua ira.

Identificar a causa da nossa ira na forma como julgamos o comportamento do outro
Ao voltar-se para si mesmo para encontrar a razão ou causa da ira, o prisioneiro descobriu que, de facto, o que sentia era medo de sair da prisão sem ter um curso, uma profissão para se poder sustentar. O que causa a nossa ira não é o que os outros dizem ou fazem, mas a nossa interpretação e avaliação negativa do que dizem e fazem, assim como o que nós dizemos a nós mesmos.

O prisioneiro descobriu que estava zangado por achar que não era justa a forma como estava a ser tratado, não era assim que se tratavam seres humanos. Sentimos ira porque interpretamos e julgamos como, mau, injusto, inumano, o comportamento do que desencadeia a nossa ira. O comportamento desencadeia a ira, mas o que a causa é a minha interpretação desse mesmo comportamento e o veredito que atribuo às pessoas, julgando-as egoístas, injustas, cruéis, etc….

A raiva resulta de concentrarmos a nossa atenção no que a outra pessoa "deve" ou "não deve" fazer e julgá-la como "errada" ou "ruim", “egoísta”, etc. A ira mantém-nos focados sobre o que não gostamos, em vez de nos ajudar a ligarmo-nos às nossas necessidades. Mudando o foco da nossa atenção, perguntando-nos pelas necessidades que ficam insatisfeitas enquanto acusamos os outros, o sentimento da raiva desaparece ou é substituído por sentimentos que servem a vida, como o medo, a desilusão a tristeza ou a dor.

Substituir o julgamento pela necessidade insatisfeita que lhe subjaz
As sentenças que pronunciamos ao julgar aquele cujo comportamento desencadeou a nossa ira são expressões alienadas e trágicas de necessidades nossas que se encontram insatisfeitas. Em vez de olhar para dentro de nós para nos ligarmos ao que necessitamos, saímos para fora de nós e acusamos e culpamos os outros pela insatisfação das nossas necessidades.

“Não é com vinagre que se caçam moscas” e esta não é certamente a melhor forma de as satisfazer. As acusações não provocam a cooperação dos outros para a satisfação das nossas necessidades, pelo contrário provocam defesa e retaliação. Mesmo que provocassem e conseguíssemos a sua cooperação por medo, vergonha ou culpa, mais tarde ou mais cedo pagaríamos esta forma de cooperação forçada.

Voltando ao prisioneiro sueco, Rosenberg perguntou-lhe que necessidades insatisfeitas estavam por detrás das acusações feitas às autoridades da prisão? Não foi fácil a resposta, pois estamos mais habituados a reagir e julgar os outros que a fazer exercícios de introspeção e ligação com o que verdadeiramente necessitamos; por fim, o prisioneiro disse “Bom, a minha necessidade é ser capaz de sobreviver conseguindo um emprego depois de sair da prisão; o pedido que eu fiz às autoridades era aprender um ofício durante o tempo de reclusão.

Perguntou Rosenberg, “Como te sentes agora?”; “com medo”, respondeu o prisioneiro. Ao ligar-se com a necessidade que provocava a raiva contra as autoridades, esta dissolveu-se por si mesma e deixou de se fazer sentir. 

Reunindo-se com as autoridades da prisão depois deste trabalho de introspeção, depois de descobrir as suas necessidades, já não necessitou de os acusar, pelo que ao referir as suas necessidades e o seu medo, provavelmente encontrou a satisfação do seu pedido.

Se hipoteticamente, enquanto esperava a resposta das autoridades, o prisioneiro tivesse acesso à Internet e conseguisse inscrever-se num curso, ao ter encontrado, por outra via, a satisfação da sua necessidade, deixaria eventualmente de sentir raiva contra as autoridades prisionais. Isto prova uma vez mais que o que provoca a ira não é o que os outros dizem ou fazem, mas a nossa interpretação do que eles dizem ou fazem; a génese, raiz ou causa da ira porém está numa necessidade insatisfeita.

Ligarmo-nos com as nossas necessidades é muito difícil na nossa cultura porque fomos educados para não as ter, ou para não estarmos cientes de que as temos, e assim poder colocar-nos dócil e subservientemente ao serviço da pátria, do rei, da bandeira, do patrão, dos filhos, dos alunos, da instituição, da empresa…. Reconhecer e expressar necessidades é associado com egoísmo.

Fazer o ponto da situação na partilha do processo
Por fim partilhamos com a outra pessoa o processo que seguimos no nosso íntimo:

1. Começamos por revelar o que desencadeou a nossa ira, o que a pessoa fez ou disse que estimulou a minha ira. Às vezes é bom escrever para vermos tudo com maior clareza.

2. Expressamos a ira, tomando consciência de que estamos irados e que esta ira resulta não do que o outro faz ou diz, mas sim do que nós dizemos a nós mesmos como interpretação do que o outro faz ou diz. Perguntamo-nos o que é que dissemos a nós mesmos que causou a nossa ira?

É o julgamento que fazemos do que o outro disse ou fez, qualificando-o como errado, cruel, insensível, preguiçoso, injusto, etc. que provoca a nossa ira. Nós e só nós somos os criadores da nossa ira quando julgamos o comportamento dos outros como errado.

3. Procuramos a necessidade que não estava a ser satisfeita e que estava escondida atrás da forma como julgámos a pessoa que desencadeou a nossa ira. Assim sendo, traduzimos ou substituímos a apreciação que fizemos da outra pessoa pela nossa necessidade não satisfeita.

Evitamos dizer “estou zangado porque tu…” (fizeste… ou disseste… ou és…) e dizemos, “estou zangado, porque eu necessito… (revelo a necessidade insatisfeita).

No exato momento em que nos ligamos a essa necessidade, reconhecendo que é ela a causa da nossa ira, deixamos de sentir a ira, esta é substituída por um outro sentimento mais positivo e fácil de lidar. No caso do prisioneiro foi substituída pelo medo de não ter um trabalho depois de sair da prisão. Também é importante ligarmo-nos aos sentimentos e necessidades da pessoa que desencadeou a nossa ira.

4. Agora estamos prontos e capacitados para fazer um pedido à pessoa que me pode ajudar na satisfação da minha necessidade.

No caso do prisioneiro, seria assim: “há três semanas, fiz um pedido para o qual ainda não obtive resposta; estou com medo, pois tenho necessidade de ganhar a vida quando sair desta prisão; sinto que sem tirar um curso ou aprender um ofício, vai ser difícil sobreviver lá fora”.

A tristeza facilita a introspeção que nos impulsiona a encontrar a satisfação das nossas necessidades. Ao contrário, a ira atira-nos para fora de nós e, num primeiro momento, leva-nos a culpar os outros pela insatisfação das nossas necessidades. A ira, que resulta da forma punitiva como julgamos os outros, distrai-nos de tal forma que ignoramos por completo a necessidade ou necessidades que são a causa dessa ira. - Neste sentido, pode servir como chamada de atenção de que estamos completamente desligados das nossas necessidades - só aplacaremos a ira se encontrarmos dentro de nós a sua causa e não nos outros.

RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. Mateus 5, 9

Todos conhecemos os efeitos nocivos dos conflitos mal resolvidos: violência destrutiva, ódio, vingança, ressentimento, ansiedade, insónia, depressão, medo. Por isso, temos uma tendência inata a evitar os conflitos e a fugir deles como o diabo da cruz. Porém, a arte de viver conjuntamente não é a arte de evitar os conflitos, mas sim a arte de os experimentar e vivenciar positivamente para todos os envolvidos. Tal como a ira que não deve ser reprimida, o conflito deve ser vivenciado porque é natural, normal e neutro.

O conflito é natural
Deus não nos criou iguais, mas diferentes: somos diferentes em género, dentro do mesmo género em preferência sexual, idade, fisionomia, personalidade e carácter, gostos, escolhas, valores. A convergência destas divergências, não é fácil nem naturalmente harmoniosa.

Muitas arestas devem ser limadas para que a divergência natural resulte em convergência harmoniosa e, eventualmente, em complementaridade. A unidade de facto acontece quando olhamos para as nossas diferenças como uma mais valia e não como um defeito, quando descobrimos que nos complementamos e que essa complementaridade só é possível na aceitação das diferenças entre nós.

O conflito é normal
O conflito é inerente ao ser humano, tanto no plano individual com os conflitos internos, como no plano social como conflitos externos; por isso, é também transversal a toda a atividade humana -onde quer que a pessoa esteja há conflitos, no lar, na fábrica, na empresa, na escola, no hospital, na Igreja, em todas as instituições.

Como a nossa cultura nos ensina que o conflito é mau, não nos capacita para o resolver de forma a procurarmos a satisfação das necessidades de todos. Pelo contrário, só nos oferece as três formas clássicas de reação do cérebro reptílico: luta, submete-te ou foge e evita o conflito. O confronto é normal. O mau, funcionamento da sociedade ou de qualquer instituição vem da incapacidade de gerir os confrontos.

O conflito é neutro
Em si mesmo, o conflito não é bom nem é mau, não é adequado nem inadequado, não é certo nem errado. Tudo depende da forma como lidamos com ele. Tal como no caso da ira, no início, o conflito faz soar um alarme, é um sintoma de divergência, de uma crise que, como todas as crises bem geridas, levam a um maior crescimento.

Quando o conflito é mal gerido ou evitado, por medo, serve para manter o “status quo” e ainda lhe acrescenta um clima de insatisfação e uma violência contínua que envenena e corrói as relações, levando eventualmente a uma perda maior para todos os envolvidos se, por uma razão ou por outra, o conflito deflagrar efetivamente.

Quando a gestão acontece depois de muito tempo de guerra fria, o problema assumiu proporções dificilmente difíceis de gerir até porque, nessa altura a guerra fria já vai demasiado longa e já não há vontade de resolver o conflito.

O teu inimigo esconde-se de ti porque te odeia, tu escondes-te dele porque o conheces – diz um provérbio africano. Numa comunidade religiosa, empresa ou instituição, cujos membros vivem em clima de guerra fria, vemos como estes se movem à volta uns dos outros, como peixes num aquário e, quando acidentalmente se tocam, fazem faísca e repelem-se mutuamente.

Algumas causas de conflitos
•    Não ouvir a opinião do outro porque não gostamos dele
•    Querer que todos sejam iguais
•    Não aceitar o outro como ele é
•    Inferir motivos por trás de comportamentos
•    Bloqueio de pessoas em papéis atribuídos
•    Preconceitos, encaixar o outro em papéis atribuídos, impedindo-o de crescer e mudar
•    Racismo, sexismo, chauvinismo
•    Rivalidade, inveja, autocracia
•    Crenças religiosas
•    Narcisismo e exagero das pequenas diferenças, ignorando o que temos em comum
•    Fixação nos pequenos detalhes, ignorando as grandes questões
•    Crítica destrutiva constante
•    Imposição de decisões a pessoas que não participaram na sua tomada
•    Medo de enfrentar e confrontar alguém
•    Negação e fuga de situações conflituosas
•    Usar o silêncio como arma para controlar os outros
•    Manipulação, insensibilidade
•    Falta de reconciliação ou reconciliação prematura sem resolver a questão
•    Ser tratado ou tratar os outros como crianças

Utilização das quatro etapas da CNV para resolver conflitos
Expressar a nossa vulnerabilidade, partilhando os nossos sentimentos, pode ajudar a resolver um conflito Marshall Rosenberg

Também na resolução de conflitos, como acontece na ira e noutros assuntos individuais e sociais, a CNV é como a varinha de condão que transforma os instrumentos de guerra em instrumentos de paz, a pedra filosofal que transforma em ouro tudo o que toca, a melhor matriz, o melhor paradigma ou modelo para resolver satisfatoriamente os conflitos que resultam e surgem da nossa vida em comum.

Ante um conflito ou sempre que nos encontramos no meio de um conflito nas nossas vidas, ou que presenciamos um, dos quatro passos da comunicação não violenta contribuem com uma clarividência que nos ajudará a comunicar com os outros compassivamente.

Observar e descrever objetivamente o que está a acontecer ou aconteceu; descrever os factos que compõem a situação que nos perturba, sem julgar, avaliar ou comparar com conflitos similares ou passados.

Ter consciência dos sentimentos e emoções que afloram em mim, tanto no meu corpo como no meu espírito; identificá-los e dar-lhes um nome, evitando palavras que contêm uma crítica velada aos outros e que me atiram para fora de mim e do meu sentir, como vítima, abandonado, rejeitado, incompreendido; estes não são sentimentos, mas sim palavras que avaliam a ação do outro. Ao nos responsabilizarmos pelos nossos sentimentos, evitamos lidar com a situação conflituosa como vítimas.

Ter consciência das minhas necessidades insatisfeitas e não dar por certo que os outros sabem do que precisamos, quando nem nós o sabemos. Esta forma de pensar provém da nossa infância, quando os nossos pais e educadores adivinhavam o que nos fazia falta sem que nós lho disséssemos ou mesmo sem que nós próprios tivéssemos consciência das nossas necessidades. Como adultos, é importante sermos capazes de identificar as nossas necessidades e fazer pedidos claros e diretos para as satisfazer. Assim, evitam-se os mal-entendidos e aumentam as possibilidades de que as nossas necessidades sejam verdadeiramente satisfeitas.

Quais são os nossos pedidos? Depois de identificar as nossas necessidades, o passo seguinte é fazer um pedido específico, viável, concreto e realista. Para estes pedidos, todas as respostas são “sim” e são positivas, mesmo quando há um “não” que só aparentemente é negativo.

Não devemos estar agarrados às nossas expectativas: a melhor resposta não é a que espero receber, mas a que o outro me dá. Todos precisam de se sentir livres para pedir o que precisam, assim como para dizer sim ou não às solicitações sem serem julgados, culpados ou criticados. Ao expressarmos as nossas necessidades, permanecendo abertos aos resultados, as relações tornam-se mais autênticas e satisfatórias. Como já sabemos, o “não” do outro corresponde a um “sim” às suas necessidades imediatas (que em CNV são também nossas) e a um adiamento das nossas.

Exemplo
Rosenberg fala de uma conferência que deu num campo de refugiados palestinianos; no exato momento em que foi apresentado como sendo americano ouviu-se uma voz estridente, “assassino”. Eis uma situação conflituosa que poderia resultar no insucesso da conferência e dificultar a sua segurança pessoal. Aplicando a CNV, eis o diálogo que se seguiu:

- O senhor está zangado porque gostaria que o meu governo usasse os seus recursos de forma diferente? (Não sabia se meu palpite estava certo, mas o que foi fundamental foi o meu esforço sincero para me ligar ao sentimento do meu interlocutor).
- É claro que estou zangado! O senhor acha que precisamos de gás lacrimogéneo? O que precisamos é de esgotos, casas, escolas, hospitais e uma pátria.
- Ou seja, está furioso porque em vez de gás lacrimogéneo, o senhor gostaria de ter do meu país um apoio para a melhoria das vossas condições de vida e para a independência política?

O diálogo continuou por mais tempo e Rosenberg pôs de lado os insultos e a linguagem dura para perscrutar os sentimentos e necessidades do palestiniano, ligando-se a elas empaticamente, sem concordar, discordar ou defender-se das suas afirmações. Rosenberg refere que, quando o homem se sentiu compreendido, conseguiu continuar a sua conferência, que terminou uma hora mais tarde com um convite para um jantar de Ramadão por parte do homem que lhe tinha chamado assassino.

Concluindo, para além de serem uma expressão dramática de necessidades insatisfeitas, tanto a ira como o conflito não resultam tanto daquilo que os outros dizem ou fazem, mas mais da forma como eu os julgo pelo que dizem ou fazem.
Pe. Jorge Amaro, IMC

1 de novembro de 2018

CNV - Educar sem prémios nem castigos

Sem comentários:
Qual de vós, tendo um servo a lavrar ou a apascentar gado, lhe dirá, quando ele regressar do campo: “Vem cá depressa e senta-te à mesa” Não lhe dirá antes: “Prepara-me o jantar e cinge-te para me servires, enquanto eu como e bebo; depois, comerás e beberás tu”? Deve estar grato ao servo por ter feito o que lhe mandou? Assim, também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer.Lucas 17, 7-10

Prémios e castigos fazem parte da linguagem violenta, que precisa de estímulos externos para que as coisas sejam feitas. O homem novo, o homem não violento, é autónomo, a motivação para o seu agir é intrínseca, não faz o que faz por medo ao castigo, nem na ânsia de ganhar um prémio. Faz o que faz porque gosta, porque dessa forma satisfaz as suas necessidades e as necessidades dos outros no meio em que vive, contribuindo positivamente para a sua família, instituição, empresa ou sociedade em geral.

O texto bíblico acima citado confere esta ideia: Deus não fica em dívida connosco por termos feito o que era nosso dever fazer. Rosenberg repete muitas vezes, não faças nada que não seja por puro gosto de o fazer; aparentemente esta ideia parece ir contra o princípio cristão de fazer algo por alguém, de se colocar ao serviço dos outros, mas não é assim.

Tudo o que fazemos, devemos fazê-lo por gosto, porque livremente escolhemos fazê-lo. Desta forma, ninguém fica devedor do que fazemos, não somos escravos de nada nem de ninguém, nem sequer do dever, não escravizamos ninguém, ou seja, não endividamos as pessoas com o que fazemos por elas, pois não é por elas que o fazemos é por nós, porque temos gosto em contribuir para o bem-estar dos outros.

Marshall Rosenberg, o fundador da CNV, não desenvolveu muitos dos temas do âmbito da filosofia que estão na base da sua técnica linguística. Mas o tema da educação, esse sim, desenvolveu-o em dois pequenos livros, “Teaching Children Compassionately” e “Raising Children Compassionately”. Estes mesmos vamos seguir para expor a sua forma de educar as crianças em casa e na escola.

Convencido de que a CNV tinha o potencial de criar um homem novo e um mundo novo, Rosenberg não descurou o tema da educação. Fez questão de que esta nova linguagem não só fosse ensinada aos mais novos, como também constituísse a filosofia da educação, tanto em casa como na escola. Ele próprio ajudou a criar muitas escolas chamadas escolas-girafa, onde o sistema de ensino, assim como as relações entre os alunos, entre os alunos e os professores, e entre os professores e os pais, seguissem a matriz da CNV.

As limitações à coação e ao castigo
Desde criança, o ser humano sente uma necessidade inconfundível de proteger a sua autonomia e liberdade. Resiste naturalmente a fazer aquilo que os outros desejam que ele faça, mesmo que seja algo bom, pelo simples facto de que não se trata de uma escolha pessoal e livre. É certo que sempre podemos pedir às crianças que façam isto ou aquilo, mas devemos estar claramente cientes da diferença entre pedir e dar uma ordem.

As ordens são coercivas, pois fazem-se acompanhar do medo, do castigo, da culpa e da vergonha e não dão possibilidade de escolha. Pelo contrário, os pedidos concedem essa possibilidade de escolha, de tal modo que se a resposta é “Não”, o que ouvimos é um “Sim” às suas necessidades, ou seja, só aparentemente respondeu “Não” ao nosso pedido.

Rosenberg é perentório em afirmar que basta fazer duas perguntas para chegar à conclusão de que os castigos ou os prémios não funcionam e são contraproducentes como meios para motivar o comportamento de uma criança.

O que é que queres que o teu filho faça?
Em resposta a esta questão, pode concluir-se que a coação e as recompensas parecem ser um atalho para levar uma pessoa a comportar-se como queremos. Esta estratégia pode funcionar a curto prazo; porém, quando a pessoa se dá conta de que os prémios são viciantes e manipuladores e de que a coação é um atentado à sua liberdade, a estratégia deixa de funcionar.

Quais são as razões que queres que motivem o comportamento do teu filho?
Rosenberg garante que ao fazer esta pergunta damo-nos imediatamente conta de que as recompensas e punições não funcionam. Um comportamento que é imposto, motivado pelo medo, culpa, vergonha, obrigação ou o desejo de uma recompensa é uma ameaça à necessidade de autonomia, liberdade e independência da criança. As motivações extrínsecas implicam o pagamento de um preço alto, tanto por quem cumpre como por quem impõe.

Certamente preferimos que as motivações de conduta do nosso filho ou de qualquer outra pessoa sejam intrínsecas e não extrínsecas, por imposição com castigo se não cumprir ou sedução com recompensa se cumprir. Para que assim seja, precisamos de nos ligar empaticamente ao outro, de forma que ele saiba que seus sentimentos e necessidades são para nós tão importantes quanto os nossos.

Através de um diálogo empático, ambas as necessidades - as nossas e as do outro - podem ser identificadas e conhecidas. Quando isto acontece, a natureza encontra estratégias para que as necessidades de ambos sejam satisfeitas de uma forma vantajosa para ambos. Empatia leva a gratuitidade, a fazer as coisas e a dar de coração, sem necessidade de recompensas.

É também o diálogo empático que transforma uma ordem num pedido. As ordens talvez sejam úteis no exército, mas não na educação, pois não têm em consideração as necessidades do outro, a sua autonomia e liberdade de escolha.

Castigo físico
Em quase todos os países do mundo ocidental já é ilegal bater nos próprios filhos e, no entanto, a grande maioria dos pais ainda acredita no valor da punição física - abdicar dela seria abdicar da implementação dos valores que pretendem ver encarnados nos filhos.

Ou seja, para muitos pais, abdicar da punição é abdicar de educar e deixar os filhos fazer o que querem. Por isto mesmo, porque a lei os obriga a abdicar da punição e eles não entendem a educação sem punição, acabam por abdicar das duas coisas: da punição e da educação, tornando-se permissivos e condescendentes. Isto é negativo não só para as crianças, mas também para os pais e para a sociedade em geral.

Castigado com prémios
O que é válido para a punição e coação é igualmente válido para os prémios; estes são tão coercivos como os castigos, com o intuito de obter uma determinada conduta das crianças. Em ambos os casos, estamos a usar o nosso poder sobre as crianças, forçando-as a comportarem-se como nós queremos. O prémio também rouba a liberdade aos outros, pois faz com que atuem por motivos exteriores a si mesmos, o que é também um atentado contra a sua autonomia.

Alfie Kohn, no seu livro Punished by rewards, diz que educamos as crianças em casa e na escola, e que gerimos os trabalhadores de uma empresa, da mesma forma que treinamos um cão - subornando-os com incentivos: “faz isto e obterás aquilo.” Motivações extrínsecas, em forma de louvores, dinheiro, prémios são ineficazes e contraproducentes porque quem as recebe depressa se dá conta de que a razão última é a manipulação e o controlo do comportamento do outro.

É notável como muitas vezes os educadores usam e abusam da palavra motivação quando o que querem verdadeiramente dizer é obediência e submissão. Com efeito, um dos mitos fundamentais nesta área é que é possível motivar alguém. Kohn aconselha os educadores a ignorarem os artigos, os seminários ou workshops com o título, "Como motivar os seus alunos": enquadrar a questão desta forma significa expor-se a um dispositivo e mecanismos de controlo. Por outro lado, se falarmos de uma motivação intrínseca, ela é desnecessária, pois ninguém consegue motivar ninguém.

Motivados pela culpa
A nossa ação ou a nossa dádiva, deve surgir do nosso coração, deve ser motivada a partir do nosso interior, deve ser auto motivada. Para além dos prémios e castigos, como motivação, coação ou incentivo que induz as crianças a fazer isto ou aquilo, muitos pais, especialmente os que deixaram de punir e castigar os seus filhos, encontraram uma técnica alternativa, no seu entender não violenta: a de instigar culpa nos seus filhos. Afinal não saíram do “triângulo das bermudas” de Karpman, apenas deixaram de ser perseguidores para serem vítimas.

Quando uma mãe diz ao seu filho “Magoas-me a mim e ao teu pai quando não limpas o teu quarto, quando não tiras boas notas, etc…” Como não há vítimas sem perseguidores, ao fazer-se de vítima, a mãe está a acusar e culpabilizar o filho de a perseguir com o seu comportamento, na esperança que o filho se sinta suficientemente culpado e que esta culpa o leve a compensar a mãe, completando assim o triangulo, ou seja, tornando-se no salvador da mãe e alterando o comportamento que supostamente a oprime.

É claro que as ações da criança não motivam o sentimento dos pais, mas sim o que eles dizem a si mesmos como resultado das ações do filho. A criança que muda o seu comportamento, para comprazer os pais, fá-lo por se sentir culpada e não porque positivamente quer contribuir para a sua vida e para a vida dos seus pais e da sociedade em geral. Se os pais, ao expressarem os seus sentimentos, referissem a seguir as suas necessidades, então o ato já não seria coercivo, nem violento, nem instigador de culpa na criança; pelo contrário, seria a CNV em ação: -  “A mãe sente-se frustrada quando não comes tudo o que tens no prato, porque quero (ou tenho necessidade de) que cresças forte e saudável”.

Criar laços
A solução entre a preservação da autonomia das crianças e o nosso desejo de que elas assimilem os valores que queremos transmitir-lhes por via da educação, é uma mudança de paradigma e objetivo. O que queremos é criar laços que permitam que todos satisfaçam as suas necessidades. Laços de respeito mútuo, onde as necessidades de ambos, tanto educadores como educandos, sejam igualmente importantes e interdependentes.

Neste novo paradigma de educação, aplicamos às crianças os mesmos princípios que usamos com os adultos: abdicamos de toda e qualquer avaliação em termos de certo ou errado, bom ou mau, substituindo estas avaliações por descobrir se vai ou não ao encontro das minhas necessidades, se está ou não em harmonia com elas. Na prática, isto deve ser feito de forma a não estimular ou provocar culpa ou vergonha nas crianças.

“Tenho medo quando te vejo bater no teu irmão mais pequeno, porque sinto necessidade de que a família seja um lugar seguro”, em vez de “Bater no teu irmão mais pequeno é mau, é covarde”. “Não limpaste o teu quarto, és um preguiçoso”. “Sinto-me frustrado quando me dou conta de que não fizeste a cama, tenho necessidade de que todos contribuam para manter a casa limpa e ordenada”.

Amor incondicional
Não vos deixeis tratar por “mestres”, pois um só é o vosso Mestre, e vós sois todos irmãos. E, na terra, a ninguém chameis “Pai”, porque um só é o vosso “Pai”: aquele que está no Céu. Nem permitais que vos tratem por “doutores”, porque um só é o vosso “Doutor”: Cristo. Mateus, 23-8-10

A autoridade autocrática não tem lugar em CNV nem no mundo novo que Jesus veio inaugurar; somos todos irmãos de facto e o que conta é a autoridade moral com a qual desempenhamos um serviço na comunidade. Todos os serviços são importantes para a vida comunitária, o desempenho de uma função, de um serviço, não nos dá nenhum poder sobre os outros; a única autoridade é a de Deus que é pai de todos. Portanto, o pai não tem autoridade sobre os filhos nem os mestres sobre os discípulos.

Este diálogo só funciona quando ganhamos autoridade moral sobre as crianças, no sentido de que estamos com elas quando elas mais precisam; muitos pais, pelo contrário, só se fazem visíveis ou presentes quando é ocasião de punir.

Uma criança pode um dia chegar a casa e desabafar “ninguém gosta de mim”; a tentação é negar que seja verdade ou dar conselhos. Nestes momentos, o mais importante é o silêncio empático que na prática se pode traduzir num olhar ou num gesto de apoio. Só depois se fazem perguntas que ajudem a criança a encontrar-se a si mesma.

O amor é incondicional e é certo que teoricamente, todos os pais amam incondicionalmente os filhos, mas na vida do dia a dia o que realmente comunicam em comportamentos e em linguagem corporal é precisamente o contrário, pois expressam tristeza e raiva quando as crianças não se comportam como eles desejariam e alegria quando estas fazem o que eles querem. Desta forma, o que as crianças gravam é a condicionalidade do amor dos seus pais, de tal forma que até podem fazer coisas elas mesmas não porque o desejam, mas para obter esse amor em forma de aprovação.

O uso da linguagem não violenta reduz os conflitos no seio da família assim como a rivalidade entre irmãos, pois substitui a luta pelo poder, pela cooperação e confiança. Para isso, os pais devem promover o crescimento emocional dos seus filhos e a autoestima, assim como proteger e alimentar a sua autonomia. Expressar frustração quando estes não fazem o que é para o bem de todos em vez de os julgar o culpabilizar. Fazer pedidos claros, concretos e viáveis e descobrir e escutar as necessidades por detrás da resposta “não.”

Quando uma criança diz ou faz algo que não é do nosso agrado
Não é raro, que uma criança diga ou faça algo menos positivo. É neste momento que devemos respirar fundo e gerir a situação dentro dos parâmetros da CNV, o que, a princípio, pode ser muito difícil e requerer algum tempo. Nestes momentos de crise, o mais certo é que o nosso cérebro reptílico tome conta de nós. Por isso, para nos ligarmos ao neocórtex, devemos dar tempo para que o cérebro reptílico se desligue e observar sem julgar, mesmo dentro da nossa mente. São quatro as nossas opções:
  1. Culpabilizarmo-nos – “Sou um mau pai ou mãe, o meu filho ou filha é assim por minha causa…"
  2. Culpabiblizamos a criança – “És egoísta. Mal-educado, não serves para nada, etc…”
  3. Conectamo-nos com os nossos sentimentos e necessidades – “Sinto-me desiludido, necessito que o meu esforço seja reconhecido.”
  4. Descobrimos os sentimentos e necessidades da criança – “Sentes-te relutante porque queres ter liberdade para fazer as tuas próprias escolhas?”
Quando conseguimos ligar-nos aos nossos sentimentos e necessidades, indiretamente estamos a ajudar o outro a fazer o mesmo e, desta forma, ambos encontram certamente uma saída airosa e satisfatória das necessidades de ambos, mesmo na pior das situações.

O objetivo é que o que quer que as crianças façam, seja porque elas mesmas o escolhem fazer e o fazem por gosto, cientes de que estão a contribuir para que a sua e a nossa vida sejam mais maravilhosas, já que o que fazem vai ao encontro da satisfação das nossas e das suas necessidades. Assim sendo, um pedido pode soar mais ou menos assim: “Gostaria que fizesses isto, satisfaria a minha necessidade, mas se por acaso as tuas necessidades estão em conflito com isso, diz-me, para descobrirmos os dois a melhor forma de satisfazer as necessidades de ambos.”

Escola chacal
Para a sociedade violenta se manter como tal, precisa de ter escolas onde a violência é aprendida e faz parte do currículo. Não se trata apenas de a direção da escola fazer vista gorda em relação ao bullying e só atuar quando as consequências são catastróficas ou quando é demasiado tarde e a vítima se suicidou. A violência institucional é exercida sobre as crianças nos seguintes moldes:
  • Ensina as crianças a obedecer incondicional e acriticamente à autoridade, de forma a que, quando são contratados para um emprego, elas fazem o que lhes é mandado sem levantar questionar.
  • Treina as crianças a trabalhar por uma recompensa externa. A escola não está interessada em que a criança aprenda a enriquecer a sua vida e a vida dos outros, mas que se esforce por obter notas altas, goste ou não goste do tema de estudo, uma vez que estas notas vão traduzir-se no futuro num emprego com salário elevado.
  • Mantém as desigualdades sociais e um sistema de classes ou castas, fazendo-o parecer uma democracia.
Escola-girafa
As escolas em que pais e professores se relacionam como parceiros — onde a comunicação não violenta faz parte de cada interação — são comunidades de aprendizagem e não fábricas impessoais de cima para baixo. " Riane Eisler em As Crianças de Amanhã

Nas suas muitas viagens, por 50 países, Rosenberg ajudou a criar este tipo de escola, onde as relações entre professores, alunos e o resto do pessoal da ação educativa se faz nos moldes da comunicação não violenta.

As crianças têm um papel ativo no processo educativo – Neste sentido, Rosenberg inspira-se no antigo processo socrático da maiêutica, da psicoterapia não diretiva de Carl Rogers e das experiências do brasileiro Paulo Freire. O outro, seja criança ou adulto, não é um saco vazio que eu vou encher de conhecimentos. Os estudantes, os professores, os pais e o resto do pessoal da ação educativa aprendem juntos, uns com os outros, pois todos têm algo a aprender e todos têm algo a ensinar.

A motivação é interna, autónoma, não coerciva – A motivação para o que quer seja que as crianças façam, sai delas mesmas, não é imposta de fora por meios coercivos negativos, como castigos e punições, nem positivos, como prémios e galardões.  A autonomia das crianças é um valor respeitado em escolas-girafa, porém não se afirma a autonomia desligada da interdependência. A verdade é que somos tão autónomos quanto interdependentes uns dos outros; um valor não pode ser afirmado em detrimento do outro. Os alunos são motivados por valores, necessidades e desejos intrínsecos a si mesmos, e não impostos ou sugeridos a partir de fora.

A autodisciplina substitui a disciplina assente na obediência motivada pelo medo ao castigo – Nesta escola as crianças não são disciplinadas, mas autodisciplinadas; isto porque estão convencidas do valor da disciplina pelo que esta não é imposta a partir de fora, mas querida e adotada a partir de dentro. As regras de funcionamento da escola são discutidas e acordadas por todos os que são afetados por elas.

As crianças respeitam a autoridade em vez de a temer – A autoridade não é autocrática nem sequer democrática, mas é sobretudo uma autoridade moral que conquista o coração das crianças por intermédio da empatia e da compaixão; assim sendo, existe um respeito e compreensão mútuo entre professores e alunos e colaboração a todos os níveis.

As crianças numa escola-girafa aprendem a expressar-se com os colegas e professores de forma positiva, evitando qualificativos, preconceitos, comparações e críticas. Expressam os seus sentimentos quando algo não corre bem e procuram descrever esses sentimentos. Seguidamente, perguntam aos outros, sejam eles pais, colegas ou professores como gostariam que eles atuassem, fazem esses pedidos de uma forma positiva e clara. Por fim, fazem-se responsáveis pelas próprias ações e decisões.

Para Rosenberg, nem só a aprendizagem do currículo, as boas notas, e o sucesso académico em geral são importantes para o futuro das crianças; a relação que a criança estabelece com o professor e com os colegas faz parte da aprendizagem e é igualmente importante para uma vida bem-sucedida no futuro. As escolas devem preparar em geral para a vida e não só para o exercício de uma - profissão. Se uma criança aprende a resolver conflitos nos moldes da comunicação não violenta está a ser preparada não só para a vida profissional, mas também para a vida em geral.

O importante não é apenas o destino da viagem, o dia da formatura, mas também o processo que levou até lá - as relações vividas e a forma como foram vividas, os conflitos experimentados e resolvidos, a forma como se aprendeu - tudo isso faz parte da bagagem que a criança leva para a sua vida e não só um papel, um diploma.

As crianças resolvem os próprios conflitos – Algumas escolas têm na sala de aula um lugar chamado o canto da mediação; quando surge um conflito entre dois alunos, um terceiro faz de mediador entre os dois, usando com eles a técnica não violenta de resolução de conflitos.
Pe. Jorge Amaro, IMC