15 de novembro de 2022

O Reino de Deus

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Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo. Mateus 6, 33

Por haver já poucas monarquias e para tentar atualizar os antropomorfismos do evangelho, alguém sugeriu que, em sintonia com o mundo de hoje, devíamos dar a Jesus o título de Presidente em vez de Rei. “Pior a emenda que o soneto” – enquanto o Presidente normalmente é votado pelo povo, Cristo, como todos os reis, já nascem sendo-o.

O Presidente governa uma República que em latim significa coisa pública; Cristo Reina sobre o Universo porque é Dele. Tudo, incluindo nós próprios, é propriedade de Deus, pois foi Ele que tudo criou. Para a nossa vida como para a criação somos meros administradores, não proprietários.

Um rei sem sangue azul
Sabeis que os chefes das nações as governam como seus senhores, e que os grandes exercem sobre elas o seu poder. Não seja assim entre vós. Pelo contrário, quem entre vós quiser fazer-se grande, seja o vosso servo; e quem no meio de vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo. Também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão. Mateus 20, 25-28

Cristo é, portanto, o Rei soberano de tudo e de todos mas é um Rei sem sangue azul porque veio ao mundo para servir e não para ser servido. (Marcos 10,45; Lucas 22,27). Como Cristo não é Rei como os reis deste mundo, também o seu reino não é como os deste mundo (João 18, 36).

No dia em que foi aclamado Rei entrou na sua capital, Jerusalém, não montado num imponente cavalo branco, como os reis deste mundo, mas sim num ridículo jumento, pois o cavalo é usado para a guerra, o burro para o trabalho e comércio, para a paz, e Jesus é o príncipe da paz.

Montado num burro e aclamado Rei às portas de Jerusalém, Jesus ri-se dos enamorados do poder que o usam para subjugar os outros. Ao contrário, Jesus vem para servir, não para ser servido como os grandes deste mundo, mas para servir.

Eu estou no meio de vós como aquele que serve. (Lucas 22, 27) Os reis deste mundo, pelos impostos, sugam o sangue aos seus súbditos. Jesus dá a vida, dá o sangue pelos seus amigos e toda a humanidade. O seu trono não era de prazer, orgulho e ostentação, mas a Cruz da ignomínia e tortura; a sua coroa não era de ouro, com pedras preciosas incrustadas, mas de espinhos espetados no crânio.

Ao dizer, “Quem no meio de vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo” Mateus 20, 27, Jesus substitui o amor pelo poder, pelo poder do amor. Quem são as pessoas mais importantes na nossa vida? Não são as que mais nos serviram, a começar pelos nossos pais? E quem são as personagens mais importantes para a humanidade: os que mais poder tiveram e mais dominaram ou os que mais amaram e serviram desinteressadamente a humanidade?

Igreja e Reino na pregação de Jesus
Em flagrante contraste com a palavra IGREJA, que aparece 112 vezes e quase só nos Atos dos apóstolos e nas Cartas, a palavra REINO, aparece 162 vezes e, destas, só 35 vezes aparece no livro dos Atos e nas Cartas; as restantes 127 vezes aparecem nos evangelhos. Fica assim demonstrada a importância que o Reino de Deus tinha para Jesus e a pouca importância que este mesmo Reino tinha para a Igreja nascente e por Cristo fundada.

                                                       REINO                IGREJA
NOVO TESTAMENTO                   162                    112
EVANGELHOS                               127                         2
ATOS E CARTAS                              35                     110

Depois do Concílio Vaticano II, a Igreja deixou de olhar para o seu umbigo e começou a olhar para o mundo como Jesus olhou e a ver nele o Reino que já está no nosso meio desde que Jesus veio ao mundo, mas ainda não na sua plenitude. A Missão começou com Deus a enviar o seu filho primogénito ao mundo. O objetivo desta missão sempre foi o de transformar o mundo no Reino de Deus; antes deste momento, o mundo era do pecado dos nossos pais.

A Igreja, como corpo místico de Cristo, não pode ter outro objetivo senão continuar a obra de Cristo. Portanto, o objetivo da sua existência não é implantar-se em todos os cantos desta terra, mas sim levar a Boa Nova do Reino a todos os cantos da Terra.

O objetivo principal não é produzir cristãos, aumentar o número dos seus membros, mas sim juntar-se a todos os homens de boa vontade, de outras religiões, ateus ou agnósticos e, com eles, ajudar na construção de um mundo melhor, de uma sociedade mais justa e mais fraterna, onde reina a justiça, a paz e a harmonia e o amor entre os povos. Se este tivesse sido o objetivo da Igreja desde o início, tal como foi do seu fundador, não teria havido fundamentalismos como a Inquisição, nem guerras santas como a movida pelas cruzadas.

A Igreja não existe para si mesma nem deve pregar-se a si mesma, pois o seu Mestre e fundador não se pregou a si mesmo: a Igreja existe para a Missão, ou seja, para continuar a obra do seu fundador e o objetivo da Missão que é o Reino. Igreja é o que somos, é a nossa identidade, o Reino é a nossa missão, o que fazemos.

Reino de justiça, paz e integridade da criação
O Reino de Deus não é uma questão de comer e beber, mas de justiça, paz e alegria no Espírito Santo. E quem deste modo serve a Cristo é agradável a Deus e estimado pelos homens. Romanos 14, 17-18

O Reino de Deus é um reino onde o progresso económico não é o único fator do desenvolvimento, pois nem só de pão vive o homem (Mateus 4, 4). No reino de Deus, a economia é uma economia saudável pois cresce a par e passo com a justiça social, a paz e o bem da criação.

O desenvolvimento sustentável parte do princípio de que é possível um desenvolvimento económico suportável e viável sem destruir o meio ambiente nem comprometer a habitabilidade do planeta para as futuras gerações, nem a justiça e a paz mundial.

O desenvolvimento sustentável é aquele que harmoniza o crescimento económico com a realidade da biosfera ou a proteção do meio ambiente com as necessidades individuais e sociais de todos os povos que habitam o planeta, ou seja, com a inclusão social de todos.

O desenvolvimento visto unicamente como crescimento económico destruiu o meio ambiente e causou profundas desigualdades sociais. Para o desenvolvimento ser sustentável, tem de ser tridimensional, ou seja, os aspetos de justiça social e proteção ambiental devem ser tão importantes quanto o crescimento económico.

É um reino de inclusão não exclusão
Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus. Gálatas 3,28

O Reino de Deus é uma cidade sem muralhas, sem muros de separação, porque é uma cidade para todos; é uma mesa redonda como o mundo, é um pão para multidões. Não há diferenças entre as pessoas pois todos são filhos de um mesmo Pai.

Todos os humanos são criaturas de Deus e por Jesus Cristo resgatados a preço de sangue, tornados filhos adotivos de Deus. Unidos pela mesma natureza humana, a dignidade é devida a todos os seres humanos sem distinção de grupos étnicos.

Em clara oposição e contraste com S. Paulo, que em 1 Coríntios 11, 7-9 alude ao capítulo 2 do livro do Génesis para dizer que o homem é superior à mulher porque foi criada de uma costela deste, Jesus, ao falar do divórcio, citou Génesis 1, onde se diz “homem e mulher os criou”, afirmando assim a sua convicção da igualdade de género.

Jesus é o único fundador de religião que nunca fez uma afirmação depreciativa sobre a mulher, nem as prostitutas ele criticou. Não fez como os rabinos do seu tempo, nunca alertou ninguém sobre o perigo no trato com elas pelos seus truques sedutores. Pelo contrário, advertiu os homens contra a sua própria luxúria e exortou-os a assumir a responsabilidade pelos seus impulsos e instintos. (Mateus 5,28-29)

Não há acusação ou crítica do outro
No Reino de Deus ninguém acusa nem expõe ninguém. A verdadeira razão da acusação dos outros é que, quando apontamos para os outros e expomos o seu pecado, estamos a humilhá-los, o que é uma forma indireta de nos exaltarmos. Uma vez que gabar-se de como somos bons dá demasiado nas vistas e é mal visto socialmente, criticamos e denegrimos os outros para sobressairmos nós.

Como Jesus fez notar no caso da mulher pecadora apanhada em adultério, (João 8, 1-11) quem abunda na crítica dos outros é deficiente em autocrítica. Não é a criticar os outros que progredimos espiritual e humanamente, mas sim criticando-nos a nós próprios.

No episódio da pecadora apanhada em adultério, (João 8, 1-10) Jesus volta o bico ao prego dizendo que só o isento de pecado tem autoridade moral para julgar o que está em pecado. Seguidamente, exorta-nos à autocrítica, pondo mais atenção na trave que está à frente do nosso olho que no cisco que está no olho do outro (Mateus 7, 3-5)

A não-violência substitui a violência
Este Reino não conquista terreno nem pessoas pela violência. A violência subjuga o corpo não subjuga o coração nem a mente. A violência não é meio para conseguir nenhum bom fim pois só cria violência que vai sempre crescendo. A única paz que pode obter-se através dela é a paz das sepulturas.

Não é com ódio que vencemos os nossos inimigos; o nosso ódio só os faz mais fortes contra nós. Só o amor os conquista e consegue transformá-los em nossos amigos; só o amor os desarma. A entrada para a cidadania do Reino de Deus não passa pela conquista ou subjugação, mas sim pela conversão, pela metanoia; por isso a entrada é livre.

O fim da religião
O evangelho de São Mateus, o evangelho do Reino, recorda-nos no capítulo 25 que, ao fim, não seremos julgados pelo que somos, pela nossa identidade, por termos sido ou não cristãos, ateus ou muçulmanos, mas pelo que fizemos ou deixámos de fazer, se assistimos ou não assistimos os sedentos, os famintos, os nus, os peregrinos, os presos, os estrangeiros e os doentes. Porque a assistência a estes últimos foi o objetivo da vida de Jesus e da sua vinda ao mundo, este mesmo tem de ser o nosso objetivo.

A nível individual - Jesus substitui a religião pela psicologia ao dizer que o único mandamento é o amor; qualquer que seja a nossa religião ou ideologia ou a falta dela, sem amor não há vida humana. Também a nível individual se apresentou como o único Caminho, Verdade e Vida, ou seja, como referência da humanidade e de como viver como pessoa humana.

A nível social – O Reino também não é uma questão religiosa, mas sim uma questão de justiça e paz; é, portanto, uma questão civil que muito bem pode ser tratada em sociologia.

Por fim, no juízo final, segundo Mateus 25, não há nenhuma questão religiosa, todas as perguntas são civis. Como não há autorrealização pessoal ou felicidade sem amor e como não há justiça social sem amor ao próximo, no fim da nossa vida seremos julgados só e exclusivamente pelo pouco ou muito que amámos.

Quando Jesus apareceu a S. Paulo na estrada de Damasco, não lhe perguntou por que persegues os meus irmãos e discípulos, mas sim por que Me persegues. (Atos 22, 1-16). Em Mateus 25, aprendemos que tanto o bem como o mal como a ausência de ambos tem um preço e que desde que Jesus assumiu a natureza humana, nenhum ser humano vive desamparado sem ninguém que o defenda, pois tem a Jesus como irmão maior. Por este motivo, teremos que responder perante o rei por tudo o que fizemos ou deixámos de fazer a qualquer pessoa que se cruzou connosco no caminho da vida.

Conclusão - A Constituição ou Carta Magna que governa este Reino resume-se a uma palavra: o amor. É, portanto, cidadão do Reino de Deus o que ama a Deus sobre tudo, todos e sobre si mesmo; o que se ama a si mesmo como Deus o ama, e o que ama os outros como se ama a si mesmo.

Pe. Jorge Amaro, IMC

1 de novembro de 2022

O fim do mundo

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Durante séculos, a Igreja e a Bíblia foram ridicularizadas por afirmarem que o mundo vai acabar.

A ideia de que o mundo sempre existiu ludibriou até católicos que nem sequer se  deram conta de que, se o mundo não teve um começo e não terá um fim, a existência de Deus carece de sentido. A verdade é que o mundo, tal como o conhecemos, pode acabar de muitas formas.

Agentes patogénicos, armas bacteriológicas, um vírus
O homem tem usado venenos para fins de assassinato desde o início da civilização, não só contra inimigos individuais, mas também ocasionalmente contra exércitos. Desde que em 1155 o Imperador Barba-ruiva envenenou poços de água com corpos humanos, em Tortona, Itália até à I e II Guerras Mundiais, passando pelo seu uso na China pelos japoneses e, mais recentemente no Iraque, que as armas biológicas se tornaram “na bomba atómica do homem pobre", como escreveu Block, cientista americano.  

Com o aumento do nosso conhecimento da biologia de agentes causadores de doenças - vírus, como a sida, o ébola e o covid, agentes patogénicos como o tifo e a varíola e toxinas como o antraz e numerosos tipos de bactérias, é legítimo temer a possibilidade de uma guerra biológica em larga escala. As armas biológicas oferecem a grupos terroristas e a "estados desonestos" uma forma acessível de contrariar a esmagadora superioridade militar dos Estados Unidos e de outras potências nucleares.

A atual crise do covid-19 incluiu acusações de guerra biológica. A presença de um laboratório avançado de virologia em Wuhan alimentou algumas teorias e acusações de que a China tinha deliberadamente desencadeado um ataque. A premissa de que a virulência de um vírus como o de 1918, que matou 50 milhões de pessoas e o atual que já vai em mais de 6 milhões, tenha sido obrigatoriamente obra do homem é mais uma prova da arrogância antropocêntrica e da fé irracional na ciência.

Há muitos milhões de anos que a Natureza vem produzindo vírus e agente patógenos, como a peste negra que devastou a Europa na Idade Média, sem nenhuma necessidade da ciência do homem. A parca capacidade que o homem tem de criar vírus não tem mais de 10 anos e, até agora, os laboratórios não conseguiram criar nenhum tão destruidor como a mãe natureza.

Por outro lado, há uma guerra declarada entre os agentes patogénicos que a Natureza cria e os antibióticos para os combater, criados pelo ser humano. Até agora, os antibióticos têm resultado, mas já há agentes patogénicos resistentes aos mais fortes antibióticos, pelo que não sabemos para o que estamos guardados, como dizia a minha mãe.

Impacto de um meteorito
A lua com as suas grandes crateras é testemunha de um constante bombardeamento por estas rochas ou metais de grandes proporções, pedaços de estrelas e planetas que povoam o universo e se movem sem órbitas regulares, como alguns cometas.

Nós próprios somos testemunhas da queda destes corpos celestes sobre a Terra quando à noite os vemos como estrelas cadentes. A atmosfera da Terra protege-nos destes corpos. Ao entrar em colisão com a nossa atmosfera, a maior parte deles acaba por se incendiar e ficar pulverizada, caindo sobre o nosso planeta como pequenas partículas.

Porém nem sempre isso acontece e há vídeos destes meteoritos de dimensões superiores às de uma bola de futebol a caírem sobre a Terra. E também os há de enormes dimensões no museu da NASA, em Washington.

Todas as cargas nucleares da Terra poderiam não ser suficientes para desfazer um meteorito como aquele que extinguiu os dinossauros se, por azar, entrasse em rota de colisão com a Terra. Por outro lado, o impacto de cometas ou meteoritos, consoante a sua grandeza, perturba a inércia inicial de um planeta e pode desacelerá-lo ou até projetá-lo para fora de órbita, o qual seria fatal para a vida no nosso planeta. O perigo é real, já aconteceu e provocou a extinção dos dinossauros e pode voltar a acontecer, provocando o fim da vida no nosso planeta.

Conflito nuclear
No fim da guerra fria, o arsenal nuclear do planeta era suficiente para o destruir não uma, mas 10 vezes. Depois de tratados assinados, sobretudo entre os Estados Unidos e a Rússia, é provável que hoje existam muito menos armas atómicas.

Porém, estes dois países não são os únicos que as possuem. As guerras mundiais começaram por pouco e foram envolvendo cada vez mais países. A natureza da violência é aumentar exponencialmente. A Coreia do Norte, por exemplo, poderia iniciar uma guerra atómica que pouco a pouco envolvesse as potencias atómicas e que seria decerto imparável. Também existe o perigo de que algumas bombas atómicas caiam nas mãos de terroristas.

Suicídio ecológico
Não podemos condenar os nossos filhos e os filhos deles a um futuro que não conseguirão reparar. Não quando temos os meios – a inovação tecnológica e a imaginação científica – para começar o trabalho de reparação desde já. Como disse um dos governadores da América, “Somos a primeira geração a sentir o impacto das alterações climáticas e a última geração que pode fazer alguma coisa contra isso.” Por isso, hoje, estou aqui pessoalmente, como líder da maior economia mundial e do segundo maior emissor de poluentes, para dizer que estamos a começar a fazer alguma coisa.” Discurso de Barack Obama na Cimeira das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, 23 de setembro de 2014.

O solo – está depauperado de elementos essenciais à nossa saúde, por causa do mono cultivo; está também contaminado por pesticidas e fertilizantes químicos que alteraram a sua composição química e envenenam os lençóis freáticos de onde provém a água que bebemos.

Os oceanos – estão cheios de microfibras de plástico que saem das nossas máquinas de lavar roupa, desde que o plástico substituiu as fibras naturais, como a lã, algodão, linho e seda, juntamente com metais pesados, como o mercúrio e que são absorvidos pelos peixes que consumimos.

O ar – está contaminado por dióxido de carbono que produz o efeito de estufa, responsável pelo aumento global da temperatura que derrete os glaciares e as calotas polares, faz subir o nível do mar, altera o curso dos ventos, modifica o ritmo das estações do ano provocando furacões, inundações e secas de uma intensidade sem precedentes.

O ambiente social – também está empestado pelo facto de que hoje 1% da humanidade possui mais riqueza (54%) que os restantes 99% (46%). A brecha entre ricos e pobres não para de aumentar. Uns morrem de fome, outros morrem de fartura; se houvesse partilha, nem morriam uns nem outros.

Biodiversidade – outra área de capital importância é a biodiversidade. Além do facto de a biodiversidade proteger os humanos contra os efeitos das catástrofes agrícolas, como a fome da batata irlandesa, a perda de uma espécie resulta em alterações significativas nos habitats naturais que podem prejudicar-nos gravemente a curto, médio ou longo prazo.

Morte do Sol
Contrariando a lógica, aparentemente, o sol não vai morrendo aos poucos, produzindo cada vez menos energia. Quanto mais hidrogénio é convertido em hélio, mais o núcleo do sol se encolhe, fazendo com que as camadas exteriores se aproximem do centro, sob uma força gravitacional mais forte. Isto vai provocar mais pressão no núcleo, acelerando a fusão de hidrogénio e aumentando a produção de energia, o que conduz a um aumento de 1% na luminosidade a cada 100 milhões de anos. Nos últimos 4,5 mil milhões de anos, correspondentes à idade do sol, esta energia já cresceu cerca de 30%.

Dentro de 1 milhar de milhão de anos, o sol será 10% mais brilhante do que é agora. Este incremento de luminosidade levará ao aumento do calor e energia que a Terra e a sua atmosfera terão de absorver, provocando, por sua vez, um aumento da intensificação do efeito de estufa que pouco a pouco irá convertendo o nosso planeta no que é hoje Vénus: o planeta mais quente do sistema solar com uma temperatura que ronda os 500ºC.

Dentro de 3 500 mil milhões de anos, o sol será 40% mais brilhante do que é hoje. Nestas condições, a água do mar ferverá e o vapor perder-se-á no espaço, transformando o nosso planeta num planeta quente e seco como é hoje Vénus. Não terá temperaturas superiores a Vénus pelo simples motivo de se encontrar mais longe do sol.

Quando o hidrogénio do sol estiver para acabar, a cinza inerte em forma de hélio, resultado da sua combustão, acabará por colapsar. Isto vai fazer com que o núcleo do sol fique mais denso e mais quente, aumentando de tamanho e entrando na fase de gigante vermelha.

Nesta fase, as órbitas de Mercúrio e Vénus serão absorvidas, dois terços do nosso céu será ocupado pelo sol que, gradualmente, acabará por absorver o nosso planeta. Quando chegar a esta fase, o sol ainda terá 120 milhões de anos de vida ativa. Por fim, o hélio acumulado incendiar-se-á violentamente e, nos escassos 100 milhões de anos seguintes, queimará o hélio que resultou da combustão do hidrogénio.

O tamanho do sol continuará a aumentar até este se transformar numa anã branca. Neste estado, poderá sobreviver ainda triliões de anos, até finalmente se transformar num buraco negro.

Fim do Universo
Em 1927, o sacerdote católico belga Georges Lamaître, (representado na imagem que ilustra este texto) ao observar que o universo está em expansão, intuiu que o mesmo começou quando um ponto de matéria muito pequeno e extremamente denso explodiu (Big Bang). Os ateus reagiram afirmando que depois de atingir a sua expansão máxima iniciaria um movimento inverso de contração, terminando num grande colapso e dando origem ao ponto extremamente denso inicial, que voltaria a explodir.

As observações e os estudos feitos até agora, têm corroborado a teoria do Big Bang, mas não a do Big Crunch. A segunda lei da termodinâmica diz-nos que a transformação de matéria em energia não é possível sem o degaste irreversível da primeira; não existem máquinas perfeitas que se auto-alimentem, ou seja, que produzam toda a energia necessária para o seu funcionamento.

A eficiência de um motor a gasolina é de 25%; é de 40% a de um motor a gasóleo; ou seja, fazemos mais km com um litro de gasóleo que com um litro de gasolina; a eficiência da máquina a vapor é de 12% e a do corpo humano de 1%. O universo é extremamente ineficiente e desbarata a sua energia; na verdade, este vai expandir-se até à sua morte, que ocorrerá quando tiver gasto toda a sua energia nuclear.

A Bíblia tem então razão quando diz “Eu sou o Alfa e o Ómega, o primeiro e o último, o princípio e o fim.” Apocalipse 22,13. A ciência nunca vai provar, portanto, que a nossa fé está errada; pelo contrário, quanto mais o homem conhece, mais a fé se aproxima da razão e a razão da fé.

Conclusão - Finalmente a ciência descobre o que a fé sempre soube, que o universo teve um começo e terá um fim. Mas muito antes que a energia do Universo ou do Sol se acabe, o nosso pequeno mundo pode acabar de muitas outras formas, algumas delas causadas por nós.

Pe. Jorge Amaro, IMC