1 de julho de 2023

V Mistério: A profecia de Simeão sobre Maria e o Seu Filho - 1ª Parte

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O seu pai e a sua mãe estavam admirados pelas coisas que dele se diziam. Lucas 2, 33

Grandes surpresas aguardavam Maria na apresentação do seu filho no templo. O evangelho diz várias vezes que Maria guardava tudo no seu coração. Em relação ao seu filho, Maria não compreendia muitas coisas. Caminhou a vida inteira na fé de que tudo correria bem, mesmo quando via que tudo se voltava contra ele e contra ela. O seu filho não parou de a surpreender e causar admiração, desde a sua conceição até à sua morte e ressurreição. Maria não compreendia, mas aceitava em silêncio e seguia fielmente o seu filho, de perto ou de longe.

A apresentação do seu filho no Templo deve ter deixado na boca de Maria um sabor simultaneamente amargo e doce. A alegria de Simeão e de Ana que tão pacientemente esperaram este momento de ver o libertador com os próprios olhos, deve ter causado alegria também no coração de Maria. A ambiguidade da profecia de Simeão que se apresentou como alguém que tinha boas e más notícias, deve ter causado bastante perplexidade e dor no coração de Maria que, que segundo Simeão, seria atravessado por uma espada.

Jesus de Nazaré convulsionou Israel e o mundo
Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: “Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda e de surgimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal de contradição, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações. E uma espada trespassará a tua alma. Lucas 2, 34-35

Jesus de Nazaré entrou na história da humanidade como um meteorito, que ao esbarrar com o oceano faz círculos concêntricos que se fazem sentir primeiro onde o mesmo cai e depois até aos confins da Terra. O maior impacto foi sentido em Israel há dois mil anos, porém a sua influência alastrou-se no tempo e no espaço, de tal forma que ainda hoje se faz sentir e se fará sentir até ao fim dos tempos, pois ele mesmo disse: Eu estarei convosco até ao fim dos tempos, (Mateus 28, 20)

Tal foi o impacto de Jesus no o mundo que dividiu a História da humanidade em duas eras. Antes de Cristo (AC) Depois de Cristo (AD), ano da graça de nosso Senhor… Cristo é, portanto, o centro da história da humanidade, pois tudo o que acontece neste mundo vem referenciado como acontecendo antes de Cristo ou depois de Cristo. Incomodados, os agnósticos e ateus do mundo ocidental têm substituído o AC por “antes da era comum” e o AD por “era comum”.

Porém, se alguém no espírito de querer saber, como as crianças no tempo em que questionam tudo e bombardeiam os adultos com perguntas, os questionarem, os senhores da “era comum” vão ter de explicar o que é isso da “era comum” e por que é comum, e quando começou. Se forem honestos, o que nem sempre acontece nos dias que correm, vão ter que mencionar o nome de Cristo. A “era comum” tem como ponto de partida o nascimento de Cristo. Não é, portanto, arbitrária ou convencional, como a escala Fahrenheit para medir a temperatura ambiente.

Jesus: causa de queda ou pedra de tropeço para muitos em Israel
Ide e contai a João o que ouvistes e o que vistes: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos pobres... Bem-aventurado aquele para quem eu não for ocasião de queda! Mateus 11, 4-6

A palavra grega “escândalo” significa pedra de tropeço. As palavras de Jesus são duras contra os escandalosos, porém Ele mesmo tem que admitir que escandalizou muita gente no bom sentido. Muitos não conseguiram digerir e aceitar muitas das suas ideias; mesmo quando estas eram provadas com atos prodigiosos. Contra factos não há argumentos, diz o povo. Porém, os judeus no tempo de Jesus encontravam argumentos até nos factos, ao dizerem que expulsava os demónios com o poder de Satanás. “Não há pior cego que aquele que não quer ver”.

Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Mas a todos aqueles que o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus… João 1, 11-12
 
Não é Deus que julga o homem, o homem julga-se a si mesmo. O seu julgamento é a sua reação a Jesus Cristo. Se, ao ser confrontado com Jesus a sua resposta for positiva, tem fé e aceita o seu amor, é salvo e entra no reino dos Céus. Se, porém, permanecer friamente indiferente e imóvel ou mesmo ativamente hostil, é condenado, ou seja, condena-se a si mesmo.

Em relação a Jesus de Nazaré não se pode assumir uma posição neutra. Ou temos fé n’Ele e nos rendemos a Ele ou estamos em guerra com Ele. Para muitos, o orgulho vai impedi-los de optarem pela rendição que os levaria à vitória.

Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no nome do Filho Unigénito de Deus. João 3, 18

No tempo de Jesus, os fariseus, os sumos sacerdotes, os ricos, os abusadores do poder, os exploradores dos pobres tropeçaram na pedra Jesus e pensaram que, retirando a pedra do caminho, como fizeram matando a Jesus, se veriam livres d’Ele. Mas isso não aconteceu, pois o mesmo Jesus, na pessoa dos seus seguidores, tornou-se para eles uma pedra no sapato que incomoda eternamente. Uma vez vindo ao mundo, veio para ficar.

Jesus:  causa de surgimento, pedra de degrau e pedra angular para muitos em Israel
Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou pedra angular. Atos 4, 11

Cristo, verdadeiro Deus, verdadeiro homem, é o único caminho de Deus para os homens e dos homens para Deus. Na Bíblia, Jericó representa o pecado, por isso, o que caiu nas mãos dos salteadores descia de Jerusalém para Jericó, caiu da graça para o pecado. Jesus visita Jericó e cura Zaqueu ao entrar e, ao sair, cura o cego Bar Timeu que se juntou à grande multidão que com ele subia para a salvação e graça, em direção a Jerusalém celeste.

Caminho, Verdade e Vida, Cristo é o modelo, o paradigma da vida humana. Cristo, nas suas palavras, obras e comportamento pessoal é normativo, pois possui 100% de humanidade. Quem quiser ser autêntica e genuinamente humano, é em comparação com Cristo e com nenhum outro que tem que se avaliar. O que é humano é cristão, o que é cristão é humano, pois não existe uma ética humana e uma moral cristã.

Quem não está comigo, está contra mim
“Mestre, vimos um homem que expulsava demónios em teu nome, e nós lho proibimos, porque não é dos nossos”. Mas Jesus disse-lhe: “Não lho proibais; porque, o que não é contra vós é a vosso favor”. Lucas 9, 49-50

Quem não está comigo está contra mim; e quem não se junta comigo, espalha. Mateus, 12, 30

Estes dois textos parecem estar em contradição; porém, se olharmos ao contexto em que Jesus diz duas frases opostas uma à outra, conseguimos entender. Jesus diz que tem outras ovelhas que não são deste redil, por isso é possível que pessoas fora da Igreja façam também o bem, os tais cristãos anónimos. Quem, por outras vias e sem ser do nosso grupo, contribui para a construção do reino, é cristão mesmo sem o saber porque são cristãs ou humanas as suas atitudes.

A segunda afirmação é feita no contexto de que ninguém vai ao Pai se não por mim (João 14, 6-14). Ou seja, como Cristo é a medida do humano e do divino, só quem se assemelha a Ele se salva, porque, como diz a seguir, quem não junta comigo espalha, dispersa, pois não há outro com quem se juntar. Não existe alternativa igualmente válida a Cristo.

Não a paz, mas a espada
Não julgueis que vim trazer a paz à terra. Vim trazer não a paz, mas a espada. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra, e os inimigos do homem serão as pessoas de sua própria casa. Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a mim não é digno de mim. Quem ama seu filho mais que a mim não é digno de mim. Mateus, 10, 34-37

O amor divide o que estava unido e une o que estava dividido. Tomemos como exemplo o amor clássico de Romeu e Julieta. As famílias destes dois amantes eram inimigas viscerais, em guerra uma contra a outra. Antes de se conhecerem, cada um dos amantes vivia em paz, harmonia e amor com as respetivas famílias.

Quando a chispa de amor surgiu entre os dois, também a divisão e a discórdia se instalou com as respetivas famílias por causa da união do que antes estava dividido. O mesmo acontece nas famílias onde alguns dos seus membros decidem seguir Jesus e os outros não. É neste sentido que Jesus, o príncipe da paz, sem querer, em vez de trazer a paz traz a guerra e a discórdia ao seio das mesmas famílias onde antes d’Ele reinava o amor e a harmonia.

Maldição de Deus?
Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se tivessem sido feitos em Tiro e em Sidónia os milagres que foram feitos em vosso meio, há muito tempo elas se teriam arrependido sob o cilício e a cinza. Por isso, vos digo: no dia do juízo, haverá menor rigor para Tiro e para Sidónia que para vós! E tu, Cafarnaum, serás elevada até ao céu? Não! Serás atirada até ao inferno! Porque, se Sodoma tivesse visto os milagres que foram feitos dentro dos teus muros, subsistiria até este dia. Por isso, te digo: no dia do juízo, haverá menor rigor para Sodoma do que para ti! Mateus, 11, 21-24

A maldição de Deus é um antropomorfismo, ou seja, uma forma de entender a Deus à maneira do homem. Deus é incapaz de amaldiçoar, Deus só sabe abençoar. A maldição é o voltar as costas à bênção de Deus. Muito milagre fez Jesus em Corazim, Betsaida e Cafarnaum, pois eram grandes cidades no tempo de Jesus. Hoje só existem restos arqueológicos destas cidades. Ao contrário, Nazaré e Belém eram pequenas e diminutas e hoje são grandes cidades.

“Quem de Deus se não lembra, todo o bem lhe falta”. No seu discurso ao povo depois da saída do Egito, Moisés colocou diante do povo a bênção e a maldição. A bênção para os que aceitam Deus e seguem os seus mandamentos, a maldição ipso facto para os que não seguem os desígnios de Deus. A bênção vem de Deus, a maldição resulta da rejeição da bênção, não de um castigo de Deus porque Deus não castiga.

Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas aqueles que te são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os teus filhos, como a galinha reúne os seus pintainhos debaixo das suas asas... e tu não quiseste! Pois bem, a vossa casa vos é deixada deserta. Mateus, 23, 37-38

Jesus chora de raiva, pena e impotência pela ruína que estava para cair sobre Jerusalém. Uma ruína causada pelos próprios moradores da cidade que não souberam reconhecer em Jesus o messias esperado pelas nações. O messianismo político e militar dos judeus trouxe-lhes a ruína, a invasão das hostes romanas, a destruição da cidade e do templo e a dispersão pelo resto do mundo durante séculos, até ao surgimento do estado de Israel em 1948, por pena e misericórdia das potências cristãs que ganharam a guerra.

Conclusão: sendo Cristo a medida do que é autêntica e genuinamente humano, não se pode ser neutro e indiferente a Ele; a indiferença, é já, em si mesma, uma rejeição.

Pe. Jorge Amaro, IMC