15 de março de 2022

Cristianismo, Islão e violência

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Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram: «Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma?» Mas Ele, voltando-se, repreendeu-os. E foram para outra povoação. Lucas 9, 54-56

(…) Há de chegar mesmo a hora em que quem vos matar julgará que presta um serviço a Deus! E farão isto por não terem conhecido o Pai nem a mim. João 16, 2-3

Vamos misturar essência com existência, ou seja, o que são em si mesmas estas duas religiões, com a História que ambas têm escrito ao longo dos séculos desde que nasceram. É claro que escrevo a partir da minha fé em Cristo, único Salvador, Caminho, Verdade e Vida para todo o ser humano, incluindo os muçulmanos; mas não uso a fé como argumento; espero argumentar exclusivamente a partir da razão.

Fanatismo e violência
Há dois conceitos que foram talvez mal interpretados, ou interpretados de forma a satisfazer, justificar e abençoar a sede de poder de alguns. O certo é que foi esta “má interpretação” dos conceitos que escreveu História e fez correr muito sangue. Refiro-me ao conceito de JIHAD, que significa esforço, luta, guerra santa, e o conceito de ISLÃO que significa submeter-se à vontade de Deus.

Como dizem os estudiosos, a JIHAD refere-se à luta que todo o ser humano deve travar dentro de si mesmo contra o mal. O caso é que, historicamente, a luta interior que devia permanecer interior, tornou-se numa luta exterior; na prática, essa luta traduziu-se, e ainda atualmente se traduz, na luta contra aqueles que o Islão considera infiéis, declarando-lhes uma guerra que se justifica a si mesma por ser santa, por ser por uma boa causa. Nesta época, não tinham ainda entendido que “Os fins não justificam os meios”.

O Cristianismo tem também a sua versão de guerra santa, as cruzadas. A primeira cruzada nasceu como resposta ao pedido do Imperador cristão do Oriente, Aléxis I para que o ajudassem a reconquistar a cidade santa de Jerusalém e a libertar os cristãos orientais do domínio muçulmano. No entanto, rapidamente se transformou numa forma de travar o avanço dos muçulmanos que ameaçavam acabar com o mundo cristão. Começou por ser um direito à autodefesa que rapidamente se transformou em agressão, conquista e massacre em nome de Cristo.

Islão significa submeter-se a Deus; a base da religião muçulmana reside nesta submissão simbolicamente representada pela postura física que os muçulmanos adotam quando rezam. Era este o propósito da Jihad, o esforço, a luta para submeter toda a personalidade de cada um a Deus; aliás, é mesmo isso que significa adorar a Deus: submeter-se à sua vontade.

Enquanto este princípio não passou da esfera pessoal, enquanto se manteve reflexivo e intransitivo, foi bom e não causou problemas; mas não é desta submissão que reza a História. Submeter-se a Deus rapidamente se transformou em submeter os outros a Deus. Por isso, tal como o judaísmo chama gentio a todo o que não é judeu, o Islão chama infiel a todo aquele que não é muçulmano.

Ao contrário do Cristianismo que nasceu num mundo adverso dominado pelos romanos e durante 5 séculos foi uma religião clandestina que se propagava pelo exemplo de vida e pela pregação, o Islão nasceu numa conquista bélica de Meca e na submissão à nova fé de cristãos e politeístas que lá viviam.

Rapidamente se confundiu com poder e continuou a propagar-se não pela pregação como o cristianismo, mas sim pela conquista bélica e pelo comércio. Os muçulmanos submeteram de facto à sua fé o mundo antes cristão: a zona sul e norte do Mar Mediterrâneo, invadindo a Europa pelo Ocidente até França e pelo Oriente até à Áustria. Durante toda a Idade Média, assolaram a Europa que se fechou sobre si mesma num regime feudal.

Depois do Imperador romano Constantino, o Cristianismo transformou-se na religião do Estado e, como tal, também usou a técnica de submissão não só pela via da tortura da Inquisição, mas também como forma de evangelização.

De facto, os latino-americanos ainda hoje nos acusam de termos evangelizado a América Latina mais pela espada que pelo crucifixo; como a espada no Ocidente sempre foi em forma de cruz, talvez venha daí a confusão. O Cristianismo abandonou há muito estas práticas de violência que ficaram na Idade Média; o Islão ainda as usa hoje. Porquê?

Ressentimento contra o mundo ocidental cristão
Com a vitória na batalha de Lepanto em 1571, entre cristãos e muçulmanos, a cultura e civilização cristã acabou de uma vez por todas com a constante ameaça do Islão e cresceu até ser hoje o que é, ao passo que a civilização muçulmana, cujo auge tinha sido atingido com Averróis e Avicena, estagnou numa mentalidade medieval.

O mundo muçulmano ainda não se recuperou do ressentimento e ódio que essa derrota causou. Este ódio motiva as ações da Al Qaeda, em especial contra os Estados Unidos que representam o mundo ocidental.

Atualmente não há nenhum país tradicionalmente cristão que persiga muçulmanos só pelo facto de o serem, enquanto nos países tradicionalmente muçulmanos os cristãos são sistematicamente perseguidos: Egipto, Paquistão, Irão, Iraque, etc.

Os muçulmanos no Ocidente estão amparados pela democracia e pelo direito à liberdade religiosa; os cristãos no mundo árabe não têm direitos, estão à mercê do fanatismo. Os muçulmanos no Ocidente podem construir as suas mesquitas; os cristãos no mundo árabe não têm direito a construir igrejas nem a reparar as que estão construídas e, na Arábia Saudita, nem podem usar um crucifixo ao pescoço.

Quem não deve não teme
Nunca somos tão violentos como quando lutamos pela nossa sobrevivência. Enquanto a religião cristã, posta em causa pela Revolução Francesa, pela idade da razão, pelo iluminismo e ultimamente pelas filosofias ateias, sobreviveu, a religião muçulmana opõe-se a todo o pensamento crítico vindo de dentro e de fora e ameaça quem o faça.

Quem não deve não teme: esta agressividade mais não é que uma forma de esconder as graves deficiências do ponto de vista filosófico, histórico e teológico. Alimentada pelo petróleo e pelo ódio contra o Ocidente, a expansão muçulmana é como um gigante com pés de barro – um dia que as deficiências venham à luz da razão, talvez não fique pedra sobre pedra.

Segundo Carl Jung, o fanatismo é uma forma de sufocar uma dúvida interior. Assim explicava Jung o fanatismo de S. Paulo contra os cristãos, antes da sua conversão. A dúvida de S. Paulo era entre a segurança que dá a lei, uma falsa segurança, e a liberdade da graça que Santo Estêvão oferecia.

S. Paulo encontrava-se dividido entre estas duas formas de viver a vida. Por um lado, atraído pela liberdade, ao dar-se conta de que nunca conseguia satisfazer as exigências da lei e que, mesmo que o fizesse, não tinha nenhuma segurança ou garantia de salvação que tornasse a vinda de Cristo prescindível se o homem pudesse salvar-se a si mesmo.

É evidente, até pela forma como tratam as mulheres, como seres humanos de segunda categoria, que a religião muçulmana estava bem para a Idade Média, mas não para o mundo de hoje. Como a forma de pensar de hoje se infiltra de muitas formas, mesmo nos países muçulmanos, pela TV, pela Internet, eles sentem-se intimidados e temem perder fiéis, temem que a sua religião não aguente o embate da razão, como o cristianismo teve que aguentar, reformulando-se.

Então tornam-se agressivos contra o Ocidente, que se governa pela razão e se infiltra por todo o lado porque a razão ~e a única via para o desenvolvimento e progresso. Como o Ocidente é de raiz cristã, voltam-se contra os cristãos nos seus países, chamando-os traidores e americanos, quando estes existiam antes da religião muçulmana. Chamam o Cristianismo de religião estrangeira, quando ele esteve implantado muitos séculos antes de a religião muçulmana chegar ao seu país.

Os animais mostram o seu máximo de agressividade quando sentem ameaçada a sua existência. Sob este ponto de vista, os humanos não são diferentes. Os gatos são animais pacíficos e nunca se voltam contra os seus donos a menos que estes os ameacem e não tenham forma de fugir. Assim se sente a religião muçulmana encurralada face ao mundo ocidental de tradição cristã.

Não há razões para matar
Como acima se citou, a tentação de impor a nossa crença ou idiossincrasia aos outros já era visível nos apóstolos. Jesus rejeita a violência como meio para chegar a algum fim. Rejeita também matar em nome de Deus, dizendo que quem o faz nunca o conheceu a Ele nem a Deus. Deus é Amor e Vida, não ódio e morte. Para Jesus não há razões para matar, só há razões para morrer.

A diferença entre o Islão e o cristianismo é simples: os cristãos seguem o seu Mestre que os ensinou a morrer por uma causa e que morreu Ele mesmo pela causa da justiça; os muçulmanos seguem o seu profeta que os exortou a matar por uma causa e que matou ele mesmo por uma causa.

Numa reunião de indianos contra o Império Britânico, antes da independência da Índia um Muçulmano incitava à violência, incitando os presentes à matança dos britânicos. Ao que Mahatma Gandhi respondeu “Por esta causa [independência da Índia], eu estou disposto a morrer; não há nenhuma causa, porém, pela qual eu esteja disposto a matar.”

Conclusão: Ao longo da sua História, o Cristianismo já conheceu momentos de violência, fanatismo e intolerância; o Islão, porém, ainda não descobriu a tolerância, o diálogo e a coexistência pacífica com a sociedade civil e as outras religiões.

Pe. Jorge Amaro, IMC

 

1 de março de 2022

Islão, razão e Jesus

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Deus criou-nos como seres racionais e, como tal, não pode pretender que nos relacionemos com Ele sem o uso da razão. Temos de ter um mínimo de garantia. A razão está para a fé como o sal para a comida. O sal dá gosto, dá sentido à comida; assim a razão dá sentido à fé.

Maomé, o último profeta, Jesus, o filho de Deus
O Islão aceita como válida a tradição religiosa judaica descrita no Antigo Testamento que eles consideram também seu. Maomé é, portanto, o último dos profetas que Deus enviou ao mundo, sendo o penúltimo Jesus.

Se a humanidade viver mais 10 000 ou 20 000 anos, que sentido faz que o último profeta tenha vindo no ano 524? Mais mudanças sofreu o mundo e a humanidade desde o ano 524 que em todos os milhões de anos anteriores. Por que motivo então antes desta data os profetas se sucediam uns aos outros com frequência e depois do ano 524 já não são precisos?

Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por meio de quem fez o mundo. Hebreus 1, 1-2

No caso do cristianismo, mesmo que a humanidade viva até ao ano 20 000, faz sentido que a revelação tenha acontecido no ano zero. Como explica o autor da carta aos Hebreus, o enviado não é mais um profeta, mas sim o próprio Deus que vem viver entre nós.

Há aqui um salto qualitativo; os profetas trazem mensagens para um tempo, a Palavra de Deus é eterna para todos os tempos e lugares, porque Deus não precisa de falar duas vezes. Por outro lado, Cristo não é só uma palavra proferida, é uma palavra vivida e só se vive uma vez.

Em que sentido é o último profeta? É porque o Islão tem uma doutrina mais refinada e em caminho ascendente, segundo a qual já chegamos ao topo? Mas o topo até parece pertencer ao cristianismo, que tem o amor como único mandamento; um amor que inclui até os nossos próprios inimigos.

O Islão, na sua prática e doutrina, até se assemelha mais ao Antigo Testamento que ao Novo. Prova disso o facto de que enquanto que Jesus, há dois mil anos, tratou as mulheres de igual para igual, e não deixou que uma mulher adultera fosse apedrejada, no mundo muçulmano as mulheres são tratadas como cidadãos de segunda categoria, e as adulteras ainda hoje são apedrejadas.

Se um observador imparcial comparasse a narrativa cristã, ou seja, o Novo Testamento com a narrativa muçulmana, ou seja, o Alcorão escrito quase 600 anos depois, teria necessariamente que concluir que há de longe muito mais humanismo no Novo testamento que no Alcorão.

O Islão é em si violento por natureza pois não se trata de amar a Deus que nos amou primeiro; não se trata de amor com amor se paga. Deus no Islão é o senhor do Antigo Testamento que ordena submissão. A palavra, Islão significa de facto submissão. Em termos humanos, ninguém ama aquele que nos exige submissão; onde há submissão não há liberdade nem amor. Em contraste com isto, Jesus diz aos seus discípulos: "Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai." João, 15, 15

Historicamente, Mohamed, o fundador do Islão era um guerreiro; a própria religião começou com a conquista violenta de Meca, espalhada e expandida por meios de guerra conquistas e submissões das populações conquistadas e não pregando como o cristianismo.

O sentido da Encarnação de Deus
Desde a perspetiva da religião muçulmana e demais religiões, eu posso queixar-me e dizer a Deus. “Ouve, porque não paras de mandar mensageiros e profetas e vens cá tu viver a nossa condição humana? É fácil dar conselhos; por que não nos mostras como se vive a vida humana sendo exemplo para nós? Vem cá a baixo e fala-nos com conhecimento de causa, isto é, a partir da nossa condição humana, depois de teres sentido na carne o frio, a fome, a dor, a tentação, o prazer, a injustiça, a traição?”

Da perspetiva do cristianismo, não posso defender este argumento na frente de Deus. porque Cristo, apesar da sua condição divina, tornou-se um de nós, em tudo igual a nós exceto no pecado, para nos mostrar na sua própria vida que é possível viver a vida humana tal como Deus a idealizou antes da queda de Adão.

Cristo não mostra o caminho, a verdade e a vida; é Ele mesmo o Caminho, a Verdade e a Vida. Na sua pessoa e vida, vemos o que Deus é e o que o homem está chamado a ser. Cristo é o peso e a medida do ser humano, a referência de humanidade, porque só Ele que era 100% Deus foi também 100% homem. Por isso, todo o indivíduo que queira chegar à felicidade e autorrealização como pessoa, é com Cristo que tem de se comparar.

Qualquer pessoa que queira avaliar o seu próprio nível de humanidade, e o quão genuíno ele ou ela é como pessoa humana, deve medir-se com Jesus, o único modelo para os seres humanos. Ao contrário, A vida do profeta Maomé está longe de ser exemplar. Na verdade, os próprios muçulmanos não o têm como santo nem como modelo a imitar. Como guerreiro e chefe militar exerceu violência e cometeu crimes de guerra quando mandou matar 600 judeus e escravizou as suas mulheres e crianças.

Permitia aos seus fiéis que se casassem até 5 vezes, mas ele mesmo casou-se 8 vezes e tinha concubinas, algumas das quais menores de idade; mandava cortar as mãos aos ladrões e flagelar as adúlteras. De alguma forma, mesmo para os muçulmanos, mais importante é Jesus o filho de Maria porque é Ele, e não Maomé, que vai voltar para julgar os vivos e os mortos, tal como nós acreditamos.

“Deus é amor” 1ª João 4,8
Nenhuma religião define tão bem a essência de Deus como a cristã. Mas ainda que a religião tivesse uma formulação próxima ou parecida com esta, sabemos que o amor é como uma moeda na qual uma das faces é alegria e prazer e a outra é tristeza e dor. “Quem se obriga a amar obriga-se a padecer”.

Como não há amor sem sofrimento, da perspetiva muçulmana, ou seja, da forma de conceptualizar o divino no Islão, como pode Deus provar que nos ama se nunca sofreu por nós? Em Cristo, Deus sofreu a tortura e a traição, o abandono dos amigos e até o abandono do seu Pai; sofreu por nós e no nosso lugar o que nenhum homem sofreu nem sofrerá: sentir-se condenado à morte eterna sob o peso dos nossos pecados.

Ao contrário de Maomé, Buda e os demais fundadores de religiões que morreram velhos depois de uma vida longa, Cristo viveu uma vida curta, foi condenado à morte, torturado e executado. Encarnou o homem novo na sua vida, sendo modelo de humanidade e pagou com a própria vida o ter enfrentado os poderosos exploradores do povo, dos mais pobres e humildes.

Deus é uno e trino, é comunidade
O Islão herdou o monoteísmo simples dos hebreus. Por isso, tanto judeus como muçulmanos, não têm forma de fundamentar teologicamente que o homem é feito à imagem e semelhança de Deus. Se Deus é amor e o amor que não sai fora de si mesmo é egocentrismo, Deus é mais que um; Deus é uma família: Pai, Filho e Espírito Santo e, através Dele, encontramos o modelo da família humana: pai, mãe e filho.

Deus é uno e trino, tal como uma família humana está chamada a ser uma unidade de três pessoas, onde a existência de uma só não é possível sem a existência das outras duas – um homem não é pai sem ter uma mulher e um filho; uma mulher não é mãe sem ter um filho e um marido; e um filho não existe por si mesmo sem ter um pai e uma mãe.

Como Cristo é o modelo para a vida humana individual, a Santíssima Trindade é o modelo para a vida humana social; um modelo de paz, harmonia e amor. O judaísmo e o Islão carecem de modelos, de pontos de referência teológicos para a vida em família e em sociedade, concebendo a Deus como um grande solitário.

Conclusão: Quem não deve, não teme… Se o Islão acha que não tem incoerências e inconsistências que ameaçam a sua própria existência que se submeta, já que é a religião da submissão, à crítica da razão, como o fez e faz o cristianismo. Uma fé que não se deixa confrontar pela razão não é fé, é superstição.

Pe. Jorge Amaro, IMC