15 de outubro de 2025

Ressureição de Jesus

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No primeiro Mistério Glorioso contemplamos a Ressurreição de Jesus.


Do Evangelho de São João (20, 1, 11-16):
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi de manhã cedo ao sepulcro, estando ainda escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada do sepulcro. (…) Maria estava de pé junto ao sepulcro, do lado de fora, a chorar. Então, enquanto chorava, (…) voltou-se para trás e viu Jesus de pé, mas não sabia que era Jesus. Disse-lhe Jesus: «Mulher, por que choras? A quem procuras?» Ela, pensando que era o jardineiro, disse-lhe: «Senhor, se foste tu que o levaste, diz-me onde o puseste, e eu irei buscá-lo». Disse-lhe Jesus: «Maria!». Ela, voltando-se, disse-lhe em hebraico: «Rabúni!» – que significa «Mestre».

Comentário de Santo Efrém
"Glória a Ti, Jesus Cristo, que fizeste da Tua cruz uma ponte sobre a morte, através da qual as almas podem passar da morte para a vida."

Meditação 1
A Ressurreição de Jesus prova que o mal não tem a última palavra. A morte já não é o fim da vida, mas sim uma passagem para a vida eterna. É a Ressurreição que dá sentido a toda a existência; se o nosso fim fosse o mesmo de todos os seres vivos, a vida humana não teria sentido, seria uma fadiga inútil.

Se Cristo não tivesse ressuscitado, seria vã a nossa existência: as alegrias não seriam verdadeiras alegrias, e as tristezas seriam ainda mais tristes e desprovidas de esperança. Seríamos os mais desgraçados de todos os homens, como disse São Paulo, mas mais do que isso, os mais desgraçados de todos os seres vivos.

Ao contrário dos outros seres vivos, os humanos têm consciência de viver e são livres para orientar a sua própria vida. Sem a Ressurreição, esta autoconsciência da nossa condição e fim seria uma constante tortura.

Nas metamorfoses de alguns animais, como a borboleta, ou nos três estados da água, onde esta, sem deixar de ser água, se torna invisível, a natureza oferece-nos exemplos que nos ajudam a acreditar que, tal como em Jesus, o nosso corpo material se transformará num corpo espiritual e glorioso, semelhante ao d'Ele.

Meditação 2
A Ressurreição de Jesus Cristo é importante por muitas razões. Primeiro, testemunha o imenso poder do próprio Deus. Crer na Ressurreição é crer em Deus. Se Deus existe, e se Ele criou o universo e tem poder sobre ele, então tem também o poder de ressuscitar os mortos. Se Ele não tivesse tal poder, não seria um Deus digno da nossa fé e adoração. Só Ele, que criou a vida, pode ressuscitar após a morte. Ao ressuscitar Jesus do sepulcro, Deus lembra-nos da Sua soberania absoluta sobre a vida e a morte.

A Ressurreição de Jesus Cristo valida quem Jesus afirmou ser, ou seja, o Filho de Deus e o Messias. A Ressurreição de Jesus foi o "sinal do céu" que autenticou o Seu ministério (Mateus 16, 1-4). A Ressurreição de Jesus Cristo, atestada por centenas de testemunhas oculares (1 Coríntios 15, 3-8), fornece uma prova irrefutável de que Ele, e só Ele, é o Salvador do mundo.

A Ressurreição de Jesus Cristo prova o Seu caráter sem pecado e a Sua natureza divina. As Escrituras diziam que o "Santo" de Deus nunca veria corrupção (Salmo 16, 10), e Jesus não experimentou a corrupção, mesmo após a Sua morte (Atos 13, 32-37). Foi com base na Ressurreição de Cristo que Paulo pregou: «Por Ele vos é pregado o perdão dos pecados... n'Ele, todo aquele que crê é justificado» (Atos 13, 38-39).

Oração
Senhor Jesus Cristo,
contemplamos com gratidão e reverência a Tua gloriosa Ressurreição.
Tu, que venceste a morte, trazes-nos a esperança de vida eterna e renovas a nossa fé.
Foste Tu que, com amor infinito, fizeste da cruz uma ponte sobre o abismo da morte,
para que todos nós possamos passar da escuridão do pecado para a luz da vida.

Senhor, ajuda-nos a viver à luz da Tua Ressurreição.
Que o poder da Tua vitória sobre o mal transforme as nossas vidas,
dando-nos força para enfrentar as dificuldades 
com a certeza de que a morte e o sofrimento não têm a última palavra.
Tal como Maria Madalena, que reconheceu a Tua voz no jardim,
que também nós possamos ouvir o Teu chamamento 
em cada dia e responder com amor e fidelidade.

Senhor, concede-nos a graça de viver com os corações cheios da Tua paz e alegria,
sabendo que, pela Tua Ressurreição, a nossa vida tem um propósito eterno.
Ajuda-nos a ser testemunhas vivas da Tua presença,
levando a esperança aos que sofrem e a luz aos que vivem na escuridão.

Que o nosso corpo, um dia, como o Teu, se transforme num corpo glorioso,
e que, pela Tua misericórdia, possamos estar Contigo na plenitude da vida eterna.
Nós Te louvamos e agradecemos, Senhor, por seres o nosso Redentor,
Aquele que ressuscitou e vive para sempre. Amém.

Pe. Jorge Amaro, IMC


1 de outubro de 2025

Crucifixação e Morte

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No quinto Mistério Doloroso, contemplamos a crucificação e morte de Jesus.


Do Evangelho de São João (19, 25-30)
Junto à cruz de Jesus, estavam de pé Sua Mãe, a irmã de Sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Então Jesus, ao ver a Mãe e, próximo, o discípulo que Ele amava, disse à Mãe: «Mulher, eis o teu filho». Depois disse ao discípulo: «Eis a tua Mãe». E, a partir daquela hora, o discípulo recebeu-a em sua casa.

Depois disto, sabendo Jesus que já tudo estava consumado, para que se cumprisse a Escritura, disse: «Tenho sede!». Estava ali um vaso cheio de vinagre; então, colocando uma esponja cheia de vinagre num ramo de hissopo, levaram-lha à boca. Quando tomou o vinagre, Jesus disse: «Está consumado!». E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.

Comentário de São Bernardo
Só Ele tinha o poder de dar a vida; ninguém lha podia tirar. E, depois de receber o vinagre, Jesus disse: «Tudo está consumado!», ou seja: nada mais havia a fazer, não havia mais nada a esperar. E, inclinando a cabeça, Aquele que foi obediente até à morte expirou. Morrer desta forma revela uma grande virtude. Assim devemos também nós morrer, dizendo: «Tudo está consumado», ou seja, após o arrependimento e a confissão, dizer: «Jesus, José e Maria, a vós entrego a minha alma».

Meditação 1
Abandonado pelo Seu povo, pelos amigos, discípulos e apóstolos, crucificado entre dois malfeitores, Jesus sentiu, no final, que até Deus O tinha abandonado, talvez por causa do peso dos pecados da humanidade que caíam sobre Ele. No entanto, manteve a Sua esperança em Deus e não desesperou. Foi ao mesmo Deus, que parecia ter-Lhe virado as costas, que Jesus entregou o Seu espírito.

Na Síndone de Turim podemos ver o resultado final de tudo isto. O rosto de Jesus, ali impresso, revela um homem que sofreu com resignação, paciência e fortaleza, aceitando tanto os desígnios do Pai quanto a condenação da humanidade.

Observamos o rosto de alguém acostumado ao sofrimento, mas que, mesmo no momento em que todas as razões para a esperança pareciam esgotadas, não desesperou. Foi nesse instante, no qual Jesus se sentiu abandonado até por Deus, que experimentou a mais terrível solidão que qualquer ser humano poderia vivenciar.

O aparente abandono do Pai foi experimentado por Jesus como uma prévia do inferno ao qual nós, pecadores, estávamos destinados. Ele viveu essa experiência para que nós não precisássemos passar por ela.

Contemplando este rosto na Síndone de Turim, o Papa Paulo VI exclamou: «O meu coração diz-me que é Ele, que é o Senhor!».

Meditação 2
Jesus gritou com uma voz forte: «Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?» (Marcos 15, 34). Foi a partir do cristianismo que se tornou possível afirmar que Deus é amor e que nos ama. “Quem se obriga a amar, obriga-se a padecer”.

Já desde os anos de adolescência, quando pela primeira vez vemos o nosso coração partido ao amar alguém que não nos corresponde, compreendemos que o amor é como uma moeda: de um lado, a alegria; do outro, o sofrimento. Se Deus nos ama, só poderia provar esse amor sofrendo e morrendo por nós. E assim foi: Jesus afirmou que «ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos».

«Se a Mim Me trataram mal», disse Jesus também a vós vos maltratarão (Mateus 10, 15) – Pelo que, se nunca sofreste pelo Evangelho, não és um cristão autêntico. Não haveria razão para sofrer pelo Evangelho se o mundo fosse justo, verdadeiro, pacífico e fraterno. Mas o mundo não é assim; não vive os valores do Evangelho. E aquele que os vive, mais cedo ou mais tarde, enfrentará o mundo e pagará o preço pela sua vivência, tal como Jesus.

Oração
Senhor Jesus,
ao contemplarmos a Tua cruz, 
sentimos o peso do Teu amor por nós, 
um amor que se entregou sem reservas, 
até ao último suspiro. 
Tu foste abandonado pelos Teus, 
suportaste a dor e a solidão, 
mas nunca deixaste de confiar no Pai. 
Ensina-nos, Senhor, a confiar em Ti nas horas mais sombrias, 
quando o peso da vida parecer insuportável 
e o desespero se aproximar.

Ajuda-nos a aceitar as nossas cruzes 
com a mesma serenidade e entrega que Tu aceitaste a Tua. 
Que possamos reconhecer, mesmo no meio da dor, 
que o Teu amor nunca nos abandona 
e que, como fizeste, podemos entregar tudo nas mãos do Pai.

Dá-nos a coragem de viver segundo o Evangelho, 
mesmo que isso signifique 
enfrentar a incompreensão e a rejeição do mundo. 
E quando sentirmos que estamos sozinhos, 
lembra-nos de que a Tua cruz está sempre presente 
como sinal de esperança e salvação.

Senhor, que a Tua morte na cruz seja para nós 
a certeza da vida eterna 
e da Tua misericórdia infinita. Amém.

Pe. Jorge Amaro, IMC

15 de setembro de 2025

A Condenação e caminhada com a cruz

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No quarto Mistério Doloroso, contemplamos a condenação de Jesus à morte e a caminhada para o Calvário com a cruz às costas.


Do Evangelho de São João (19, 16-17)
Então, Pilatos entregou-lhes Jesus para que fosse crucificado. Os soldados apoderaram-se, pois, de Jesus, e Ele, carregando a cruz, saiu para o lugar chamado «Lugar da Caveira», que em hebraico se diz «Gólgota».

Comentário de São Cirilo de Jerusalém
Amor infinito de Deus! Cristo, sendo inocente, foi trespassado por pregos nos pés e nas mãos e suportou a dor. A mim, que não sofri nem dor nem tormento, através da participação na Sua dor, Ele me dá gratuitamente a salvação.

Meditação 1
No julgamento de Jesus, também Pilatos foi julgado, condenado e manietado. Pilatos pagou pelos seus erros anteriores; já tinham sido tantos que agora, apesar de estar convencido de que Jesus era inocente e de procurar um estratagema para O salvar, não conseguiu fazê-lo. As acusações contra ele em Roma eram já muitas, e Pilatos não podia permitir-se mais uma.

O todo-poderoso Pilatos, afinal, tinha perdido todo o seu poder por causa dos seus erros de governação, e agora estava à mercê de ser chantageado pelas autoridades religiosas de Israel. Ninguém está acima da verdade, da moral e da justiça. Ele teria sido livre para libertar Jesus, se não estivesse aprisionado pelos seus próprios erros, já denunciados ao Imperador. Só a verdade, a justiça e o amor nos fazem verdadeiramente livres.

Meditação 2
“Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Lucas 9,23). - Se não afirmarmos o outro na nossa vida, não seremos verdadeiramente felizes. Mas não podemos afirmar o outro sem nos negarmos a nós próprios.

A razão de vida não é apenas sermos felizes — isso é uma visão pequeno-burguesa da vida. Raoul Follereau, o profeta dos leprosos, dizia no seu testamento aos jovens: "A maior desgraça que vos pode acontecer é a de não ser úteis a ninguém." Ser útil é a verdadeira razão de viver. A quem sou eu útil?

O caminho de Jesus até ao Calvário é uma oportunidade para contemplarmos o Deus Santo que, em Cristo, Se entrega à humanidade em fidelidade até ao fim. É o Deus compassivo, que a todos oferece a Sua misericórdia.

Quanto caminho ainda temos por percorrer! Quantas “cruzes” há para ajudar a carregar, pelo menos através da oração! O que me custa, neste momento, “levar até ao fim”? Ajudo a carregar as cruzes dos outros, ou fico sempre fechado na minha própria dor? Não é só o prazer que nos torna egoístas; a dor também o faz.

Oração
Senhor Jesus,
que carregaste na cruz às costas, 
o peso dos nossos pecados e de toda a humanidade, 
nós Te agradecemos pela Tua entrega incondicional. 
No caminho para o Calvário, enfrentaste a dor, o desprezo e a solidão, 
e fizeste de cada passo uma lição de amor e de fidelidade.

Ajuda-nos, Senhor, a carregar as nossas cruzes 
com paciência e coragem, lembrando-nos sempre 
de que Tu caminhas ao nosso lado. 
Quando as dificuldades parecerem insuportáveis, 
dá-nos a força de confiar em Ti, 
tal como Tu confiaste no Pai até ao fim.

Ensina-nos a ver as cruzes dos outros, 
a partilhar o peso daqueles que estão à nossa volta 
e a ser instrumentos da Tua compaixão e misericórdia. 
Não permitas que a dor nos torne egoístas 
ou fechados em nós mesmos, 
mas que, pelo contrário, possamos ser solidários 
e generosos no serviço ao próximo.

Senhor, que a Tua caminhada para o Calvário 
nos inspire a seguir-Te de coração aberto, 
prontos a negar-nos a nós mesmos 
e a abraçar o amor e a verdade que Tu nos ensinaste. 
Que o Teu exemplo de entrega e sacrifício nos guie em cada dia, 
para que possamos viver como verdadeiros discípulos, 
servindo e amando os outros como Tu nos amaste. Amém.

Pe. Jorge Amaro, IMC

1 de setembro de 2025

A Coroação de Espinhos

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No terceiro Mistério Doloroso, contemplamos a coroação de Jesus com uma coroa de espinhos.


Do Evangelho de São Marcos (15, 16-19)
Os soldados levaram-no para dentro, para o pátio do pretório, e convocaram toda a corte. Vestiram-no com um manto de púrpura, puseram-lhe uma coroa de espinhos, que tinham entrelaçado, e começaram a saudá-lo: «Salve, ó rei dos judeus!». Batiam-lhe na cabeça com uma cana, cuspiam-lhe e, pondo-se de joelhos, prostravam-se diante dele.

Comentário de Santo Ambrósio
Em Pilatos, temos o exemplo antecipado de todos os juízes que condenariam aqueles que sabiam estar inocentes. Esta é uma antecipação das mais cruéis perseguições aos verdadeiros discípulos de Cristo, de todos os tempos. É absolutamente correto que aqueles que exigem a libertação de Barrabás, um assassino, sejam os mesmos que clamam pela condenação de um homem inocente. Assim são as leis da injustiça: odiar a inocência e amar o crime.

Meditação 1
Cristo Jesus torna-se objeto de escárnio e insultos nas mãos dos servos do templo. Eis Ele, o Deus todo-poderoso, atingido por golpes afiados; o Seu rosto adorável, a alegria dos santos, está coberto de sangue e espinhos. Uma coroa de espinhos é forçada sobre a Sua cabeça; um manto púrpura é colocado sobre os Seus ombros como uma zombaria; uma cana é enfiada na Sua mão; os servos ajoelham-se diante d’Ele em zombaria. Que abismo de ignomínia! Que humilhação e desgraça para Aquele diante do qual tremem os anjos!

O covarde governador romano imagina que o ódio dos judeus será satisfeito com a visão de Cristo neste estado lastimável. Mostra-O à multidão: "Ecce Homo! - Eis o Homem!"

Contemplemos o nosso Divino Mestre neste momento, mergulhado no abismo do sofrimento e da ignomínia, e percebamos que o Pai também O apresenta a nós, dizendo: "Eis o Meu Filho, o esplendor da Minha glória, porém ferido pelos pecados do Meu povo". "Meu povo, que te fiz eu? Em que te ofendi? Responde-me."

Meditação 2
Ajoelhando-se diante dele, gozavam-no, dizendo: "Salve, Rei dos Judeus!" (Mt 27,29). - Cristo, durante toda a Sua vida, escondeu a Sua verdadeira identidade. Quando O quiseram fazer rei por ter multiplicado os pães, Ele fugiu. Nunca fez um milagre para ser visto ou para ganhar prestígio; pelo contrário, dizia para não contarem nada a ninguém. Nunca buscou o poder nem era vaidoso, enquanto nós não desejamos outra coisa.

Foi apenas quando se encontrava no ponto de não retorno que Jesus reconheceu e aceitou o título de Rei, embora não deste mundo, pois os reis deste mundo não montam jumentos como Ele montou, nem são crucificados como Ele foi. São coroados com coroas de ouro, não com coroas de espinhos como a de Jesus.

Tal como Jesus, que veio ao mundo para servir e não para ser servido, que está no meio de nós como quem serve, os grandes da nossa vida são aqueles que nos serviram: os nossos pais, familiares, professores e amigos. Da mesma forma, na história da humanidade, são grandes os que serviram a causa humana, não os que se serviram dos outros.

Não é rei aquele que conquista a nossa vontade e nos subjuga; é rei quem nos serve e conquista o nosso coração. Não é, portanto, rei aquele que se coloca acima da lei, da verdade, da justiça e da moral. É rei quem encarna a justiça, a verdade e o amor.

Oração
Senhor Jesus,
que aceitaste a coroa de espinhos em silêncio e humildade, 
nós Te adoramos e agradecemos pela Tua entrega. 
Foste humilhado, escarnecido e ferido, 
mas nunca deixaste de nos amar, 
e a Tua dor tornou-se para nós fonte de salvação.

Ensina-nos, Senhor, a suportar com paciência 
as injustiças e sofrimentos que nos possam sobrevir, 
tal como suportaste os espinhos cravados na Tua cabeça. 
Dá-nos a força de nos mantermos firmes na verdade, 
mesmo quando o mundo nos ridiculariza ou rejeita. 
Que a Tua coroa de espinhos nos lembre sempre 
da necessidade de humildade e de serviço, seguindo o Teu exemplo.

Ajuda-nos a ser reis, não pelos títulos ou poder, 
mas pelo amor e pelo serviço aos outros. 
Que possamos servir os nossos irmãos, assim 
como Tu nos serviste, com um coração cheio de compaixão e de humildade. 
Que a coroa de espinhos, sinal da Tua paixão, 
seja também para nós um sinal de fidelidade 
e entrega total à vontade do Pai.

Senhor, Rei do nosso coração, 
livra-nos da vaidade e da sede de poder. 
Concede-nos a graça de reconhecermos a Tua realeza 
em cada ato de amor, verdade e justiça. 
Que o Teu exemplo nos inspire 
a viver de acordo com a Tua vontade, 
servindo, amando e perdoando, 
para que um dia possamos participar do Teu Reino de paz e glória. Amém.

Pe. Jorge Anaro IMC

1 de agosto de 2025

A Flagelação de Jesus

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No segundo Mistério Doloroso, contemplamos a flagelação de Jesus preso à coluna
.

Do livro do Profeta Isaías (50, 6; 53, 4-8)
Aos que me feriam, apresentei as espáduas, e as faces àqueles que me arrancavam a barba; não desviei o rosto dos ultrajes e dos escarros. (…) Foi desprezado, foi a escória da humanidade, homem das dores, experimentado no sofrimento; como aqueles diante dos quais se cobre o rosto, foi amaldiçoado e não fizemos caso dele.

Em verdade, ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos; e nós o considerávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas ele foi castigado pelos nossos crimes e esmagado pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz caiu sobre ele, e fomos curados graças às suas chagas.

Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual o nosso caminho; mas o Senhor fez recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós. Ele foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro conduzido ao matadouro, e como uma ovelha muda diante do tosquiador. Ele não abriu a boca. Por um iníquo julgamento, foi arrebatado. Quem pensou em defender a sua causa, quando foi suprimido da terra dos vivos, morto pelo pecado do meu povo?

Comentário de Melito de Sarde
O Filho de Deus foi executado pelos seus carrascos como um cordeiro; a sua morte libertou-nos do modo de vida mundano. Ele marcou as nossas almas com o seu próprio Espírito e o nosso corpo com o seu sangue. Jesus tomou sobre si os sofrimentos da humanidade, sofrendo no corpo, sujeito à dor, e assim destruiu as paixões da carne.

Meditação 1
Se Pilatos tivesse condenado diretamente Jesus à morte, Ele não teria sido flagelado. A flagelação era o castigo aplicado àqueles cuja vida era poupada. Pilatos pensava que, após ver Jesus bem flagelado, o povo teria compaixão dele e O deixaria partir. No entanto, isso não aconteceu; o ódio dos escribas, dos anciãos, dos fariseus e saduceus contra Jesus era tão grande que, mesmo depois de O verem flagelado, não sentiram compaixão.

É irónico que o Filho de Deus não tenha sido condenado à morte pela autoridade civil; esta, na pessoa de Pilatos, desejava libertá-lo. Foram as autoridades religiosas que condenaram o Filho de Deus. Jesus morreu pelos nossos pecados, porque foram os nossos pecados — os de toda a humanidade, como os de Judas, Pedro, Pilatos, Herodes, dos fariseus, dos saduceus e do povo em geral — que O mataram. Esses pecados ainda hoje se cometem, e se Cristo viesse hoje ao mundo, seria morto pelo mesmo mundo que O matou há dois mil anos.

Meditação 2

"Vim ao mundo para ser testemunha da verdade. Quem é da verdade ouve a minha voz. O que é a verdade? Perguntou Pilatos" (João 18,38). Podemos responder a Pilatos que Cristo é o caminho, a verdade e a vida. Existe uma natureza humana que deve ser obedecida. Cristo viveu e pregou sobre essa natureza; veio ao mundo para nos ensinar a viver, para nos mostrar o caminho que Ele próprio trilhou.

Ensinou-nos a verdade da vida, e quem não vive segundo essa verdade é flagelado pela vida. Deus perdoa sempre, o homem às vezes, mas a natureza não perdoa nunca. Muitas vezes pecamos contra a natureza do nosso planeta e contra a nossa própria natureza. Muitos dos males que nos afligem, como doenças e cataclismos, são consequências desses pecados. Somos flagelados pela natureza porque infringimos as suas leis.

Somos livres de rejeitar este caminho, verdade e vida, que nos conduz ao Pai, mas não há alternativa igualmente viável a Jesus. Quem não junta com Ele, disse Jesus, dispersa… Não há outro modelo de humanidade além de Cristo.

Oração
Senhor Jesus,
na Tua flagelação, contemplamos o peso das nossas próprias faltas 
e a profundidade do Teu amor por nós. 
Foste açoitado, humilhado e ferido 
por aqueles que não Te compreenderam, 
e no entanto, aceitaste o sofrimento sem abrir a boca, 
como um cordeiro que se entrega ao sacrifício.

Nós Te pedimos, Senhor, que nos ajudes a reconhecer 
o valor da Tua entrega e a abrir os nossos corações à Tua verdade. 
Que, assim como Tu carregaste os nossos sofrimentos, 
também nós possamos carregar as nossas cruzes com paciência e fé, 
sabendo que as Tuas chagas nos curaram.

Dá-nos a força para seguir o Teu exemplo, 
suportando as injustiças e as dores da vida 
com humildade e confiança na vontade do Pai. 
Livra-nos do egoísmo e do medo que nos afastam de Ti 
e ensina-nos a ver, no nosso próximo, 
o reflexo do Teu sofrimento e do Teu amor.

Senhor, cura-nos das feridas 
que o pecado deixou em nós e no mundo. 
Que a Tua paixão seja a nossa salvação 
e que a Tua paz reine nos nossos corações. 
Ajuda-nos a viver em harmonia com a Tua criação, 
respeitando as leis da natureza e buscando sempre o bem comum.

Que, no meio das tribulações da vida, 
encontremos refúgio na Tua misericórdia 
e força no Teu exemplo de entrega total. 
Concede-nos a graça 
de sermos testemunhas da verdade que vieste trazer ao mundo, 
caminhando sempre contigo, que és o caminho, a verdade e a vida. Amém.

Pe.Jorge Amaro, IMC

1 de julho de 2025

A Agonia de Jesus

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No primeiro Mistério Doloroso, contemplamos a agonia de Jesus no jardim das Oliveiras.


Do Evangelho de São Marcos (14, 32-36)
Foram, então, para uma propriedade chamada Getsémani, e Ele disse aos seus discípulos: «Sentai-vos aqui, enquanto vou rezar». Levou consigo Pedro, Tiago e João, e começou a sentir-se apavorado e angustiado. Disse-lhes, então:

«A minha alma está numa tristeza de morte; permanecei aqui e vigiai». E, indo um pouco mais adiante, caiu por terra e começou a rezar para que, se fosse possível, se apartasse d’Ele aquela hora. E dizia: «Abbá, Pai! Tudo Te é possível: afasta de mim este cálice! Contudo, não se faça o que Eu quero, mas o que Tu queres».

Comentário de São Gregório de Nisa
"O mais importante encerrado no mistério da fé é contemplar a Paixão daquele que aceitou sofrer por nós. Olhar para a cruz de Cristo deve levar-nos a morrer para o mundo; crucificados em Cristo, por Cristo e com Cristo..."

Meditação 1
Jesus foi tentado toda a sua vida, não apenas no início; uma das últimas tentações ocorre aqui, quando Ele considerou a possibilidade de não beber do cálice que estava diante de Si: a sua paixão e morte. Bastava subir um pouco até ao cimo do monte e descer em direção ao deserto da Judeia, esconder-Se num dos vales profundos onde nunca mais ninguém O encontraria. Mas Jesus escolheu pagar o preço dos seus ideais contra um mundo corrupto e malvado. Se tivesse salvado a Sua vida, perder-Se-ia como Salvador do mundo inteiro.

O bispo salvadorenho Óscar Romero também podia ter escapado. Ele teve o seu Getsémani antes de ser assassinado. O Vaticano sabia que ele estava ameaçado de morte, pelo que lhe ofereceu a possibilidade de vir para Roma e escapar à sua morte iminente. Se Óscar Romero tivesse aceitado a proposta, salvaria a sua vida, mas morreria a sua causa: a defesa dos pobres e do povo em geral contra o fascismo.

"O espírito está pronto, mas a carne é fraca" (Mt. 26,41). Esta oração é o símbolo das nossas lutas interiores: lutas entre o que somos e o que deveríamos ser. Dominar os instintos e submeter a carne ao nosso projeto vital não é nada fácil. Cristo, que encarnou a nossa natureza humana, sentiu Ele mesmo a fragilidade da nossa condição. O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, mas, após o pecado de Adão e Eva, perdeu a semelhança, ficando apenas com a imagem.

Conta-se que, num país da América Latina, enquanto um padre celebrava a missa numa capela no meio da selva, um grupo de guerrilheiros irrompeu pela igreja adentro, apontando metralhadoras aos fiéis, e anunciou: "Quem não está disposto a morrer por Cristo pode agora mesmo deixar a igreja e salvar-se".

Imediatamente, a maior parte dos fiéis abandonou a igreja. Quando os guerrilheiros viram que mais ninguém se levantava para sair, fecharam as portas, depuseram as armas e, dirigindo-se ao celebrante, declararam: "Pode continuar a eucaristia, padre. Não conte com os que saíram, são uns covardes, não são cristãos."
Que farias tu?

Meditação 2
Ninguém vive para si mesmo; viver para si mesmo não é humano, pois o ser humano tem uma dimensão social, não apenas individual. Ninguém existe sozinho: o ser humano é familiar e comunitário. A causa que abraça, a pessoa ou as pessoas que ama, os valores humanos que cultiva, e a profissão que escolhe, tudo é exercido na sociedade, de tal forma que o bom desempenho dessa profissão e a autorrealização pessoal e felicidade coincidem.

Mais ainda, não há autorrealização e felicidade individual decorrente de um mau desempenho social; e vice-versa, quem é inútil para a sua comunidade, é inútil para si mesmo. Quem não tem valor social, não tem valor pessoal.

Assim como Cristo veio ao mundo para servir e não para ser servido (Mateus 20,28), também nós viemos ao mundo para deixar cá mais do que o que retiramos; para ser parte da solução dos problemas que afligem a humanidade, como a mudança climática, a justiça e a paz mundial, e não parte do problema. Se assim não for, a nossa vida não se justifica nem socialmente, nem pessoalmente.

Oração
Senhor Jesus,
na Tua agonia no jardim das Oliveiras, 
vemos o reflexo das nossas próprias lutas e fraquezas. 
Tal como Tu enfrentaste a tentação de escapar ao sacrifício, 
também nós somos muitas vezes tentados 
a fugir das nossas responsabilidades e desafios.

Abbá, Pai, tal como o Teu Filho orou, 
nós também pedimos que nos dês a força para aceitar a Tua vontade, 
mesmo quando o caminho é difícil e doloroso. 
Ajuda-nos a beber o cálice que a vida nos oferece, 
confiando que os Teus desígnios são sempre maiores que os nossos medos.

Que, tal como Jesus, possamos enfrentar os nossos "Getsémanis" 
com coragem, colocando as nossas vidas ao serviço dos outros, 
abraçando os pobres, os oprimidos e os que sofrem,
sem medo de sacrificar o conforto ou a segurança por uma causa maior.

Fortalece o nosso espírito, Senhor, 
para que, mesmo quando a carne é fraca, 
possamos permanecer vigilantes, 
fiéis aos ideais de justiça, paz e amor que nos ensinaste. 
Que sejamos capazes de, como Cristo, 
oferecer a nossa vida em benefício da comunidade, 
para que o mundo seja um lugar mais justo e humano.

Ampara-nos, Senhor, nas nossas lutas interiores 
e dá-nos a sabedoria para escolher sempre o bem, 
mesmo quando o mal parece mais fácil. 
Faz de nós instrumentos da Tua paz e luz 
no meio de um mundo cheio de trevas. Amém.

Pe.Jorge Amaro, IMC

15 de junho de 2025

Instituição da Eucaristia

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No quinto Mistério Luminoso contemplamos a Instituição da Eucaristia.


Do Evangelho de São Mateus (26, 26-28):
«Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, pronunciando a bênção, partiu-o e, dando-o aos discípulos, disse: “Tomai, comei, este é o meu corpo”. Tomando então um cálice e, dando graças, deu-lho dizendo: “Bebei dele todos, pois este é o meu sangue da aliança, derramado em favor de muitos para o perdão dos pecados.”»

Comentário de São Leão Magno:
"A nossa participação no Corpo e Sangue de Cristo visa transformar-nos naquilo que recebemos. Porém, não basta recebê-lo, devemos tornar-nos dignos, abandonando o pecado e trilhando o caminho da cruz."

Meditação 1
"Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: o Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou pão e, dando graças, partiu-o e disse: “Isto é o Meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim”. (1 Coríntios 11, 23-25)

Paulo escreve aos cristãos de Corinto para os advertir de que as divisões e desigualdades dentro da comunidade comprometiam o verdadeiro sentido da celebração da Eucaristia e ameaçavam a unidade da Igreja.

Sem Eucaristia, não há Igreja, e sem Igreja, não há Eucaristia. A Eucaristia é, antes de mais, a reunião dos cristãos, esta comunidade fundada por Jesus e chamada Igreja. Os cristãos, como membros do Corpo de Cristo, celebram a vida, morte e ressurreição de Jesus, conforme Ele nos ensinou.

Se um dia a Eucaristia deixar de ser celebrada, nesse dia a Igreja deixará de existir. Assim como uma associação cujos membros nunca se reúnem desaparece, da mesma forma a Igreja deixaria de existir sem a celebração da Eucaristia — a memória viva do nascimento, vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus.

A Eucaristia é o coração da Igreja. No corpo humano, o coração impulsiona o sangue, enviando-o às células e recebendo-o de volta. Da mesma forma, a vida do cristão é um constante movimento entre a Eucaristia e o mundo. Antigamente, no final da missa em latim, o sacerdote dizia “Ite, missa est”, que significava “podeis ir, a missa terminou”, mas também implicava: “A missa terminou, agora começa a missão.”

Meditação 2
"Se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só; mas, se morre, dá muito fruto. Quem se apega à sua vida, perdê-la-á" (João 12, 24-25). Jesus interpretou a sua própria morte como a de um grão de trigo que, para dar fruto, precisa morrer; tem de renunciar a si mesmo e entender que a sua vida não é para si, mas para os outros, para servir um valor maior.

“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos”, disse Jesus. Assim como uma mãe dá a vida pelo seu filho, no início, o alimento do bebé provém do corpo da mãe. A palavra "mamã" vem de "mama", o seio que nutre. E quando a criança cresce, o primeiro alimento sólido é a papa, feita dos cereais cultivados pelo pai, a quem o bebé aprende a chamar "papá".

A cadeia alimentar é composta por seres vivos que se alimentam uns dos outros. A vida só se alimenta de vida. Vivendo neste planeta, estamos sujeitos às leis da natureza. Assim, da mesma forma que temos de matar para manter o corpo vivo, precisamos morrer para encontrar sentido na vida, como o grão de trigo.

Ou seja, para viver com sentido, devemos gastar a nossa vida a serviço de algo maior que nós. Beethoven foi alimento para a música, assim como Gandhi foi para a não-violência e Nelson Mandela para a luta contra o racismo. E nós? De que somos alimento?

A Eucaristia, além de manter a Igreja como comunidade continuadora da missão de Cristo na terra, encerra também o sentido da vida humana. Participamos na Eucaristia para nos tornarmos mais eucarísticos, entregando a nossa vida em serviço e amor ao próximo.

Oração
Senhor Jesus,
que na Última Ceia nos deixaste o dom da Eucaristia,
o Teu Corpo e o Teu Sangue entregues por amor,
ajuda-nos a viver esta presença viva e transformadora no nosso dia a dia.

Que, ao comungarmos do Teu Corpo,
sejamos transformados à Tua imagem,
renunciando ao pecado e abraçando o caminho da cruz com humildade e gratidão.
Que, assim como o grão de trigo, saibamos morrer para nós mesmos,
para que a nossa vida frutifique em amor, serviço e entrega ao próximo.

Ensina-nos, Senhor,
a sermos mais eucarísticos,
tornando-nos instrumentos da Tua paz,
testemunhas da Tua justiça,
e sinais vivos do Teu Reino no mundo.

Que, ao participarmos na Eucaristia,
sejamos enviados em missão,
levando a Tua luz e o Teu amor a todos os que encontramos,
para que o Teu Reino de fraternidade, justiça e paz cresça entre nós. Amém.

Pe. Jorge Amaro, IMC


1 de junho de 2025

Transfiguração

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No quarto Mistério Luminoso contemplamos a Transfiguração de Jesus
 

Do Evangelho de São Mateus (17, 1-2) 
«Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e conduziu-os à parte, a uma alta montanha. Lá, transfigurou-se na presença deles: o seu rosto brilhou como o sol, e as suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura».

Comentário de Santo Agostinho 
"Jesus tornou-se tão brilhante quanto o sol para indicar que Ele é a luz que ilumina todo o homem; Ele é o Messias que a humanidade esperava; o único Salvador, o vencedor."

Meditação 1 
Envolvidos numa experiência de luz e sentido, que antecipa a Ressurreição do Senhor, os discípulos recebem um novo imperativo: “Escutai-O!”. Escutar e obedecer partilham a mesma raiz: é estar atentos, permitindo que todos os sentidos conheçam internamente e adiram à Verdade que é Jesus.

A Transfiguração do Senhor reflete o momento do Batismo de Jesus, onde, tal como no Monte Tabor, Deus fala e a essência divina de Jesus é revelada. Contudo, enquanto o Batismo marca o início da missão pública do Mestre, a Transfiguração assinala o culminar da sua missão, com a confirmação do Antigo Testamento representado por Moisés e Elias, testemunhando que Jesus está a cumprir as profecias antigas.

O objetivo da Transfiguração era preparar os apóstolos, fortalecendo a sua fé ao darem testemunho da essência divina de Jesus, em antecipação da sua paixão e morte como ser humano. Apesar desta visão extraordinária, a mesma não foi suficiente para impedir a fraqueza dos discípulos, como demonstrado pela negação de Pedro e pela fuga dos restantes apóstolos.

Meditação 2 
A Transfiguração de Jesus no Monte Tabor ensina-nos uma verdade espiritual profunda: a graça de Deus tem o poder de nos transfigurar, revelando a nossa verdadeira beleza e dignidade aos Seus olhos, enquanto o pecado nos desfigura, afastando-nos da nossa essência e obscurecendo a imagem divina em nós.

Neste episódio, vemos como a presença de Deus pode transformar-nos, iluminando-nos com a Sua glória, tal como Cristo foi iluminado diante dos apóstolos. Por outro lado, o pecado impede essa luz de brilhar, distorcendo o nosso ser e afastando-nos da plenitude de vida que Deus nos oferece. A Transfiguração convida-nos, assim, a permitir que a graça divina nos transforme, libertando-nos das sombras do pecado e conduzindo-nos à verdadeira luz de Cristo.

Oração
Senhor Jesus,
na Tua Transfiguração mostraste-nos a Tua glória divina,
luz que ilumina os nossos corações e nos chama à verdadeira vida.

Concede-nos a graça de Te escutarmos com atenção,
de aderirmos à Tua Verdade com todo o nosso ser,
e de sermos transfigurados pela Tua presença em nós.

Transforma-nos, Senhor, pela Tua luz,
para que, livres do pecado que nos desfigura,
possamos refletir a beleza da Tua imagem em tudo o que somos e fazemos.

Quando as sombras da fraqueza nos envolvem,
lembra-nos que a Tua graça é mais forte que o nosso pecado,
e que, contigo, caminhamos rumo à plenitude da vida.

Fortalece-nos, como fizeste com os apóstolos,
para que, mesmo nas provações, mantenhamos a fé firme,
sabendo que a Tua glória nos espera para além da cruz. Amém.

Pe. Jorge Amaro, IMC

15 de maio de 2025

O Reino de Deus nas palavras e nos milagres de Jesus

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No terceiro mistério luminoso contemplamos o Reino de Deus nas palavras e nos milagres de Jesus


Do Evangelho de São Lucas (11, 20)
"Se Eu expulso os demónios pelo poder de Deus, então chegou a vós o Reino de Deus."

Comentário de Cromácio de Aquileia
Para isto mesmo veio o Mestre da vida e Médico celestial, Cristo Senhor, isto é, para instruir os homens com os seus ensinamentos e curar, com a medicina divina, os males do corpo e da alma.

Meditação 1
No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus (…) Por meio dela todas as coisas foram criadas, e sem ela nada do que existe foi feito. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens (…) E a Palavra fez-se carne e habitou entre nós; contemplámos a sua glória, glória como do unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade. (João 1, 1-3, 14)

Jesus Cristo é a Palavra eterna do Pai que se encarnou no tempo e no espaço humanos. Além de ser a encarnação da Palavra, Jesus proclamou palavras de vida ao longo de toda a sua vida pública, especialmente no Sermão da Montanha, no Evangelho de Mateus, que resume a sua doutrina e é considerado a Magna Carta do Cristianismo.

Nas palavras de Jesus revela-se o coração do Reino de Deus: um Reino de justiça, amor, misericórdia e verdade. Ele veio anunciar que este Reino já está entre nós, manifestado na Sua pessoa, nos Seus ensinamentos e nas Suas ações. Cada palavra de Jesus, desde as bem-aventuranças até às parábolas, traça o caminho para viver neste Reino.

No Sermão da Montanha, Jesus afirma: "Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus" (Mateus 5, 3). Com isso, Ele não se refere a um reino distante ou apenas futuro, mas a uma realidade presente, acessível a todos os que vivem de acordo com os princípios de humildade, compaixão e justiça.

Meditação 2
Para o Homem como ser individual, Jesus apresenta-se como o único metro padrão de humanidade, aquele como quem nos temos que medir para ser genuinamente humanos, caminho verdade e vida (João 14, 3-6).  

Para o Homem como ser social, para a sociedade em geral, introduz como projeto social o Reino de Deus – uma sociedade mais justa mais fraterna mais inclusiva e pacifica, ou como se define no Pai Nosso, que se faça a vontade de Deus na Terra como já se faz no Céu.

O Reino de Deus já está no meio de nós desde o momento em que Cristo entrou na História humana. Contudo, ainda não está presente na sua plenitude. Compete-nos a nós como Igreja continuar a expansão do reino de Deus, até que Cristo seja tudo em todos. Neste sentido a Igreja está para o mundo como o fermento está para a massa. Transformar este mundo no reino de Deus.

Os milagres são os primeiros sinais do Reino de Deus, uma nova ordem em que a saúde, a justiça e a paz prevalecem. Manifestam a realidade do Reino, onde não há dor, sofrimento ou morte. Ao curar os enfermos, ressuscitar os mortos e realizar outras maravilhas, Jesus revela o que o Reino de Deus representa para a Humanidade.

Oração
Senhor Deus,
Vós que enviaste o Vosso Filho, Jesus Cristo,
como a Palavra encarnada,
agradecemos-Te pela revelação do Teu Reino entre nós.

Que os milagres que Ele realizou
nos recordem da Tua infinita misericórdia
e do Teu desejo de curar e restaurar cada um de nós,
tanto no corpo como na alma.
Que possamos ver em cada ato de amor e compaixão
a manifestação do Reino que já se faz presente entre nós.

Ajuda-nos, Senhor, a viver segundo os princípios do Teu Reino,
abraçando a humildade, a justiça e a paz.
Que as bem-aventuranças que Jesus proclamou
sejam a luz que guia os nossos passos,
 e que a nossa vida reflita a graça
e a verdade que só Ele pode dar.

Inspira-nos a ser fermento na massa,
promovendo a transformação nas nossas comunidades e no mundo,
a fim de que todos possam conhecer o Teu amor e a Tua vontade.

Senhor, que a Tua Igreja seja um sinal visível do Teu Reino,
um espaço onde todos são acolhidos,
e onde a justiça e a fraternidade possam florescer.

Confiamos em Ti,
pois sabemos que, com a Tua ajuda,
podemos ser instrumentos de paz e amor.
Que a Tua vontade se faça na Terra como já se faz no Céu.  Amém.

Pe. Jorge Amaro, IMC

1 de maio de 2025

Bodas de Caná

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No segundo Mistério Luminoso contemplamos as Bodas de Caná


Do Evangelho de São João (2, 1-5):
Houve uma boda em Caná da Galileia e a Mãe de Jesus estava lá. Também Jesus e os seus discípulos foram convidados para a boda. Tendo faltado vinho, a Mãe de Jesus disse-lhe: «Não têm vinho». Jesus respondeu: «Que há entre mim e ti, mulher? Ainda não chegou a minha hora!». A Sua Mãe disse aos serventes: «Fazei tudo o que Ele vos disser».

Comentário de Fausto de Riez, bispo do século V
"Em Galileia, pelas obras de Cristo, a água se transforma em vinho; desaparece a lei e surge a graça; a sombra se dissipa e a realidade aparece; as coisas materiais se confrontam com as espirituais; a velha observância cede lugar ao Novo Testamento."

Meditação 1
Nas Bodas de Caná, Jesus realiza a primeira transubstanciação ao mudar a substância da água para a substância do vinho, como um prelúdio da outra transubstanciação, na qual mudará a substância do vinho na substância do Seu Sangue.

O milagre de Caná é uma figura e um símbolo do que diariamente se opera sobre os nossos altares. Há uma admirável conexão entre o primeiro milagre, que inicia a Sua carreira, e aquele com que a termina: a Última Ceia.

O vinho, que em Caná se torna o melhor, é um símbolo do Sangue de Cristo na Eucaristia. Na Última Ceia, Jesus toma o vinho e o oferece como o Seu Sangue, estabelecendo a nova aliança. O milagre de Caná antecipa este sacrifício e a realidade da Eucaristia, onde o vinho se transforma no Sangue de Cristo, que nos purifica e redime.

Meditação 2
Embora Jesus tenha dito que ainda não era a Sua hora, a Sua Mãe não hesitou em intervir, sem ser solicitada, em nome do casal que estava em apuros no seu primeiro dia de casamento. Ela conhece antecipadamente as nossas necessidades e está pronta a pedi-las de forma subtil, mas vigorosa, ao Seu Filho: «Eis que não têm vinho». Em troca, ela apenas nos pede para "Fazer tudo o que Ele vos disser".

Maria revela-se nesta passagem como o protótipo de todo o crente: atenta às necessidades concretas, apresenta-as a Jesus e encoraja os que estão à sua volta a porem n’Ele a sua confiança. As Bodas de Caná são uma oportunidade para contemplarmos o Deus Santo, que acolhe com bondade as nossas preces e desejos: é o Deus do “tempo oportuno”, que sabe dar a cada um aquilo de que mais precisa.

Em Caná da Galileia, Maria vê uma necessidade e procura resolver o problema, empurrando Jesus para a Sua vida pública, quando Ele ainda não tinha programado começar. Jesus, obediente ao Pai do Céu, obedece também à Sua Mãe, mesmo já adulto. Esta obediência é importante para nós, pois institucionaliza Maria, Sua Mãe, como intercessora de todas as graças.

Oração
Senhor Jesus,
que nas Bodas de Caná transformaste a água em vinho,
revela-nos o poder da Tua presença nas nossas vidas.
Assim como Teu primeiro milagre trouxe alegria e esperança,
que possamos experimentar a transformação que só Tu podes operar.

Mãe Santíssima,
modelo de confiança e intercessão,
ensina-nos a olhar com atenção às necessidades dos outros
e a apresentá-las a Teu Filho com a mesma confiança que tiveste.
Ajuda-nos a ser instrumentos de paz e alegria
na vida daqueles que nos rodeiam.

Senhor, fazei de nós servos atentos, às necessidades dos outros
dispostos a seguir a Tua vontade,
a colocar em prática as Tuas palavras,
e a viver em comunhão com os nossos irmãos.

Que, nas nossas vidas,
a Eucaristia se torne o vinho novo da Tua graça,
purificando-nos e renovando-nos a cada dia,
para que possamos refletir a Tua luz no mundo.

Amém.

Pe. Jorge Amaro, IMC


15 de abril de 2025

Batismo de Jesus

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No primeiro Mistério Luminoso contemplamos o Batismo de Jesus


Do Evangelho de São Marcos (1, 9-11):
Naqueles dias, veio Jesus de Nazaré da Galileia e foi batizado por João no rio Jordão. E, imediatamente, ao sair da água, viu os céus abertos e o Espírito, como uma pomba, a descer sobre Ele. E dos céus surgiu uma voz: «Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo.»

Comentário de Santo Ambrósio
"Apenas um se submergiu; quando Ele desceu, toda a humanidade desceu com Ele... Um só tomou sobre si os pecados de todos, para que n'Ele os pecados de todos fossem perdoados."

Meditação 1
Pouco sabemos sobre a vida de Jesus antes do início do Seu ministério público. Não é verosímil que Jesus tenha começado do nada; é provável que Ele se tenha associado ao movimento de João Batista, que perdoava os pecados com um batismo de água, sem a necessidade de oferecer sacrifícios no Templo de Jerusalém.

Embora Jesus fosse sem pecado, ao submeter-Se ao batismo, identifica-Se com a humanidade pecadora. O batismo de João era um símbolo de arrependimento, e ao ser batizado, Jesus demonstra solidariedade com os pecadores, assumindo plenamente a condição humana.

O Filho de Deus na fila dos pecadores!  Ele, igual a nós em tudo, exceto no pecado (Hebreus 4, 15), deixa-se batizar. No batismo, Jesus revela-nos o Seu modo de ser: assumir a condição humana até ao extremo, descer sempre, para revelar ao mundo a Sua verdadeira identidade – ser o Filho muito amado de Deus.

Meditação 2
Depois de batizado, Jesus saiu da água, e eis que os céus se rasgaram. A seguir, dá-se uma manifestação explícita da Trindade:

  • O Filho: Jesus é batizado.
  • O Espírito Santo: Desce em forma de pomba, simbolizando a unção de Jesus para a Sua missão.
  • O Pai: Uma voz do céu declara: "Este é o meu Filho amado, em quem pus toda a minha complacência" (Mateus 3, 17). Esta revelação trinitária confirma a identidade de Jesus como Filho de Deus e Messias prometido.

Jesus, ao ser batizado, expressa plena submissão à vontade de Deus Pai. Ele declara publicamente que está pronto a cumprir a Sua missão redentora, aceitando o caminho do sofrimento e da cruz. Esta obediência será uma constante em toda a Sua vida, culminando na paixão e morte.

O batismo marca o início do ministério público de Jesus. A partir deste momento, Ele começa a pregar, a realizar milagres e a ensinar sobre o Reino de Deus. Este evento inaugura uma nova fase na Sua missão de redenção.

Oração
Senhor Jesus,
que Te submeteste humildemente ao batismo no rio Jordão,
mostrando-nos o caminho da obediência e do amor,
ajuda-nos a seguir o Teu exemplo,
identificando-nos com os mais necessitados,
com os pecadores, e com aqueles que mais sofrem.

Tu, que és o Filho amado de Deus,
revela-nos, no silêncio do nosso coração,
a nossa própria identidade como filhos e filhas de Deus,
e dá-nos a força do Espírito Santo,
para vivermos plenamente a missão
que nos confiaste no nosso batismo.

Que, como Tu, possamos descer,
servindo e amando com humildade,
para que, na nossa entrega,
também os céus se abram e se revelem àqueles que tocamos com amor.

Pai celestial,
que no batismo de Teu Filho proclamaste o Teu agrado,
que também nós possamos ser motivo de alegria para Ti,
através da nossa vida de fé, esperança e caridade.

Que a Tua vontade seja sempre o nosso guia
e que o Teu Espírito nos fortaleça
na caminhada rumo à Tua promessa de vida eterna. Amém.

Pe. Jorge Amaro, IMC

1 de abril de 2025

Perda e Encontro

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No quinto Mistério Gozoso, contemplamos a perda e o reencontro do menino Jesus no templo.


Do Evangelho de São Lucas (2, 41-47)
Os seus pais iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa e, quando Ele fez doze anos, subiram até lá, segundo o costume da festa. Completados os dias, quando regressavam a casa, o menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que os seus pais soubessem.

Pensando que Ele estava na caravana, percorreram um dia de caminho, procurando-o entre os parentes e conhecidos. Não o encontrando, voltaram a Jerusalém à sua procura. E aconteceu que, três dias depois, o encontraram no Templo, sentado entre os mestres, ouvindo-os e fazendo-lhes perguntas. Todos os que o ouviam estavam maravilhados com a sua inteligência e as suas respostas.

Ao vê-lo, ficaram perplexos, e sua mãe disse-lhe: «Filho, por que nos fizeste isto? Eis que o teu pai e eu estávamos aflitos à tua procura». Ele respondeu-lhes: «Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devia estar na casa de meu Pai?»

Comentário de Simeone Metafraste

A Virgem menciona São José como pai adotivo, mas Jesus aproveita a ocasião para se referir ao verdadeiro Pai, que é Deus. Esta passagem ensina que o olhar de Maria deve elevar-se das coisas terrenas para as celestiais. Ao permanecer no Templo, Jesus mostra que o amor a Deus deve ser mais forte que o amor natural que sentimos pelos nossos pais.

Meditação 1

«Por que me procuravas? Não sabias que eu devia tratar dos assuntos de Meu Pai?» Esta foi a resposta de Jesus à sua Mãe, depois de três dias de busca angustiante, quando o encontrou no Templo.

Estas são as primeiras palavras do Verbo encarnado registadas no Evangelho. Com elas, Jesus resume a sua pessoa, vida e missão. Revelam a sua filiação divina e testemunham a sua missão sobrenatural. Toda a vida de Cristo será uma explicação grandiosa do significado destas palavras.

São Lucas continua a dizer-nos que Maria "não compreendeu a palavra que Ele lhe disse". Apesar de não entender o pleno significado, Maria sabia que Jesus era o Filho de Deus e submeteu-se em silêncio à vontade divina, aceitando o sacrifício que o seu amor exigia.

"Maria guardava todas estas palavras no seu coração", onde, como num tabernáculo, adorava o mistério que nelas estava contido, esperando a luz do entendimento.

Meditação 2
Quantos perderam Jesus e não vivem aflitos, como deveriam! Muitos acreditam na existência de Deus, mas vivem como se Ele não existisse. Em suas casas, não há qualquer objeto ou imagem religiosa, e o pensamento de Deus nunca lhes ocorre. Muito menos o amor a Deus ou ao próximo. Vivem para si mesmos, como se nunca tivessem de morrer, e correm o risco de morrer sem jamais terem vivido.

O caminho para a vida humana autêntica passa por Jesus, pois Ele é o único Caminho, a Verdade e a Vida. Só quem semeia felicidade à sua volta é verdadeiramente feliz. A felicidade individual surge como reflexo de um bom desempenho na sociedade e da realização pessoal. Quem não é útil aos outros, não encontra propósito.

O católico apenas de nome é aquele que "perdeu Jesus no Templo", ou seja, deixou de participar na Eucaristia Dominical. Assim, o lugar onde o perdeu é o lugar onde o pode reencontrar. Sem a Eucaristia, não há Igreja; sem a Igreja, Cristo desaparece da face da Terra.

Oração
Senhor Jesus,
Tal como os teus Pais, aflitos, Te procuraram no Templo,
nós também buscamos a Tua presença
quando nos sentimos perdidos no caminho da vida.
Ajuda-nos a recordar que o verdadeiro encontro contigo
acontece quando voltamos o nosso coração à Tua casa,
à Tua Palavra e à Tua Eucaristia.

Dá-nos a graça de não viver como se estivesses distante,
mas de reconhecer-Te em cada momento,
em cada gesto de amor e serviço ao próximo.
Que o nosso amor por Ti
seja mais forte do que qualquer apego terreno,
que saibamos ouvir a Tua voz e seguir o Teu caminho.

Maria, Mãe Santíssima,
que guardaste as palavras do Teu Filho no silêncio do coração,
ensina-nos a aceitar a vontade de Deus,
mesmo quando não compreendemos completamente os Seus planos.
Que, como tu, possamos sempre confiar
e guardar a fé em cada circunstância da nossa vida.

Senhor, reacende em nós o desejo de Te procurar sempre,
e que, ao encontrar-Te, sejamos renovados
no amor, na paz e na alegria que só Tu nos podes dar.
Que nunca percamos a certeza
de que és o Caminho, a Verdade e a Vida,
 e que, Contigo, encontramos a verdadeira felicidade.

Amém.

Pe. Jorge Amaro, IMC

15 de março de 2025

Apresentação

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No quarto Mistério Gozoso, contemplamos a apresentação do Menino Jesus no templo.


Do Evangelho de São Lucas (2, 22 – 32)
"Quando se cumpriram os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentar ao Senhor, como está escrito na Lei do Senhor: 'Todo o primogénito macho será consagrado ao Senhor', e para oferecer um sacrifício, como está dito na Lei do Senhor: 'um par de rolas ou duas pombas novas'.

Ora, havia em Jerusalém um homem chamado Simeão, um homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel. (…) Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ver o Cristo do Senhor. (…) Tomou o Menino nos braços, bendisse a Deus e disse: 'Agora, Senhor, podes deixar partir em paz o Teu servo, segundo a Tua palavra, porque os meus olhos viram a Tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para revelação aos gentios e glória do Teu povo, Israel'."

Comentário de Santo Atanásio
"O Verbo, tomando sobre si o que era nosso, ofereceu-o como sacrifício e destruiu-o com a sua morte. Depois, revestiu-nos com a sua condição."

Meditação 1
Jesus não rompe com as tradições dos antigos, submetendo-se às leis da terra onde habita e do povo em que encarnou como homem. No entanto, ao obedecer ou cumprir essas leis, fá-las passar pela sua consciência moral, pois a lei foi feita para o homem e não o homem para a lei.

Maria, sendo ao lado de Jesus a mais pura entre os seres viventes, também se submete à tradição de purificação ritual. Ao referir-se a esta segunda parte do mistério, é necessário incluir a palavra "ritual", pois Maria foi sempre pura, antes, durante e depois do parto.

O Filho de Deus sujeitou-se à Lei e aos seus preceitos! Na vida da Sagrada Família, o respeito pela Lei nasce da certeza de que é Deus o seu Fundamento. Por isso, o cumprimento rotineiro do estabelecido, do aparentemente imutável, torna-se também lugar de revelação de Deus.

Meditação 2
A Apresentação de Jesus no Templo é uma oportunidade para contemplarmos o Deus Santo, que assume o ritmo dos homens: é o Deus de Amor, que se revela na história humana sem se impor. Quanta verdade e quanta revelação de Deus no cumprimento fiel dos deveres de cada dia!

Simeão, ao olhar para Jesus, reconhece que o Cristo, pelo qual esperava, chegou, conforme a promessa de Deus. Ele levanta os olhos ao céu em agradecimento, mas também adverte Maria de que o seu coração será trespassado. Apesar disso, Maria continua a confiar em Deus, sem saber o que o futuro lhe reserva. Que a nossa oração peça confiança no plano de Deus e paciência para esperar que ele se desenrole.

No dia da Apresentação, Deus recebeu infinitamente mais glória do que em todos os sacrifícios e holocaustos oferecidos no templo até então. Neste dia, é o próprio Filho de Deus que lhe é apresentado, oferecendo ao Pai uma homenagem infinita de adoração, ação de graças, expiação e súplica.

Esta oferta, tão agradável a Deus, é recebida das mãos da Virgem, cheia de graça. A fé de Maria é perfeita. Cheia da sabedoria do Espírito Santo, ela tem uma clara compreensão do valor da oferta que está a fazer a Deus naquele momento. O Espírito Santo harmoniza a sua alma com as disposições interiores do coração do seu Divino Filho.

Assim como Maria deu o seu consentimento em nome de toda a humanidade quando o anjo lhe anunciou o mistério da Encarnação, também neste dia ela oferece Jesus ao Pai em nome de todo o género humano. Ela sabe que o seu Filho é "o Rei da Glória, a nova luz que se acendeu antes da aurora, o Mestre da vida e da morte".

Oração
Senhor, nosso Deus,
Tu que revelaste a Tua salvação a Simeão no Templo,
dá-nos olhos para reconhecermos a Tua presença nas simplicidades do dia a dia,
e corações abertos para acolher a Tua vontade, como Maria e José.

Que, como a Sagrada Família, saibamos viver em obediência às Tuas leis,
mas também com a consciência de que a verdadeira Lei nasce do Teu Amor.
Ajuda-nos a cumprir com alegria e fé os deveres de cada dia,
sabendo que neles se manifesta a Tua presença e a Tua vontade.

Senhor, dá-nos a confiança de Maria,
que, mesmo ao ouvir sobre a espada que trespassaria o seu coração,
continuou a confiar em Ti sem hesitar.
Que possamos, como ela, oferecer-Te o melhor de nós mesmos,
sabendo que és o fundamento da nossa esperança.

Neste dia de Apresentação, lembramo-nos que o Teu Filho Jesus
se ofereceu a si mesmo ao Pai, por amor a toda a humanidade.
Que possamos também, nas nossas vidas, ser oferta de amor e adoração,
dando testemunho da Tua glória e da Tua salvação,
luz para todas as nações.

Amém.

Pe. Jorge Amaro, IMC

1 de março de 2025

Nascimento de Jesus

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No terceiro Mistério Gozoso, contemplamos o nascimento de Jesus.

Do Evangelho de São João (3, 16; 1, 14)
"De tal modo amou Deus o mundo que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que acredita n'Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. (...) E a Palavra fez-se carne e habitou entre nós, e nós contemplámos a Sua glória; glória como unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade."

Comentário de São Gregório Nazianzeno
"O Filho de Deus fez-se homem por amor ao homem. Quem dá a sua riqueza aos outros torna-se pobre. Ele implora que eu lhe dê a minha natureza humana para Ele me dar a Sua natureza divina."

Meditação 1
Deus Criador encarnou na criatura. Para muitas religiões, parece impossível que Deus possa encarnar num ser humano, tal como parece impossível que o mar possa caber numa pequena poça de água. Se pensarmos apenas na transcendência de Deus, sim, isso parece impossível, ilógico, improvável. Contudo, para Deus, não existem impossíveis.

Deus não é apenas transcendente, Ele também é imanente, já está presente aqui e agora, no coração de cada coisa e de cada pessoa. A expressão "Deus é-me mais íntimo a mim do que eu próprio" aplica-se a tudo; Deus é o coração tanto da matéria dos seres materiais como dos seres espirituais. Por isso, quando pensamos na Sua imanência, torna-se mais fácil compreender que Ele tenha assumido uma forma humana.

Deus "acampou" entre nós, ergueu a Sua tenda entre nós, como outrora, quando acompanhou o povo libertado do Egipto durante 40 anos no deserto. Essa tenda, onde Moisés se encontrava com Deus em colóquio, representando o povo de Deus, era chamada de "tenda do encontro". Jesus de Nazaré, o Emanuel, "Deus connosco", é a nova tenda do Encontro, pois n'Ele Deus e os homens se encontram. Por meio de Jesus, Deus vem ao Homem; por meio de Jesus, o Homem vai a Deus.

Meditação 2
"Deus fez-se Homem para que o Homem se fizesse Deus." Sto. Ireneu
Ao saírem de Jericó, uma grande multidão acompanhava Jesus (Mateus 20, 29).

Jericó é, ao mesmo tempo, a cidade mais antiga do mundo, com 8.000 anos de existência, e a cidade situada ao nível mais baixo da Terra, cerca de 500 metros abaixo do nível do mar. Na Bíblia, Jericó simboliza o pecado. Na parábola do Bom Samaritano, Jerusalém representa a graça, enquanto Jericó simboliza o pecado.

O homem que caiu nas mãos dos salteadores caiu em desgraça porque descia de Jerusalém, 800 metros acima do nível do mar, para Jericó. Ele viajava da Graça para o pecado; como diz o povo, "quem de Deus se esquece, todo o bem lhe falta". Para salvar o homem do pecado, Jesus também desce a Jericó, mas não fica lá. Ele sai de Jericó, e uma grande multidão segue-O, subindo com Ele do pecado de Jericó para a graça de Jerusalém.

O Filho de Deus nasce em suma pobreza: em circunstâncias inesperadas, sem lugar, sem conforto. À pobreza de Deus, Maria responde com a sua própria pobreza: oferece o melhor de si, envolvendo e aconchegando a fragilidade do Menino Deus, para que não lhe falte o mais importante – o Amor.

O Nascimento de Jesus é uma oportunidade para contemplarmos o Deus Santo, que Se entrega na debilidade: é o Deus Pobre, que desperta sempre o melhor de nós. Quanta fragilidade e impotência existem nas nossas vidas e nas daqueles que nos rodeiam! Quantas oportunidades temos, como Maria, de oferecermos o que temos e de nos centrarmos no Amor! Como enfrento as dificuldades e as
fragilidades da vida? Vejo nelas uma oportunidade para dar o melhor de mim?

Oração
Senhor Deus,
que enviaste o Teu Filho para nascer entre nós em humildade e pobreza,
faz com que, à semelhança de Maria, possamos oferecer o melhor de nós mesmos,
acolhendo o Teu amor em cada situação da nossa vida.

Ajuda-nos a reconhecer a Tua presença na fragilidade e nas dificuldades,
e a ver em cada desafio uma oportunidade para crescer no Teu amor.
Que, como Maria, saibamos centrar-nos no essencial,
oferecendo o que temos com generosidade e simplicidade.

Senhor, assim como Jesus nasceu num estábulo humilde,
faz com que o nosso coração seja uma morada digna para o Teu Filho,
cheia de paz, amor e esperança.

Que nunca nos esqueçamos da grandeza do Teu plano,
onde até nas circunstâncias mais inesperadas e difíceis,
Tu te manifestas em amor e misericórdia.
Que possamos, como a grande multidão que seguiu Jesus,
subir da escuridão do pecado para a luz da Tua graça.

Amém

Pe. Jorge Amaro, IMC

1 de fevereiro de 2025

Visitação

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No segundo Mistério Gozoso, contemplamos a visita de Maria Santíssima à sua prima Santa Isabel.


Do Evangelho de São Lucas (1, 39-43, 46)
Por aqueles dias, Maria levantou-se e foi apressadamente para a montanha, para uma cidade de Judá. Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança saltou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Levantando então a voz com um forte brado, disse: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! (...) Feliz aquela que acreditou, porque se cumprirá o que lhe foi dito da parte do Senhor!».

Comentário de Santo Ambrósio
"Bem-aventurada és tu que acreditaste", diz Isabel. Mas também vós sois abençoados porque ouvistes e acreditastes: toda a alma que crê e faz a vontade de Deus concebe e gera a Palavra de Deus, reconhecendo as suas obras."

Meditação 1
Se na Anunciação Maria está em oração, na Visitação Maria está em ação; se na Anunciação Maria escuta a palavra de Deus, na Visitação Maria põe essa mesma palavra em prática, como tantas vezes sugere o seu Filho; se na Anunciação Maria ama a Deus sobre todas as coisas, na Visitação ela ama o próximo como a si mesma.

Se na Anunciação Maria tem uma experiência de Deus como discípula, na Visitação, ao entoar o seu Magnificat e dar testemunho da sua experiência de Deus, ela age como missionária, relatando e testemunhando tudo o que Deus operou nela.

Nestes dois Mistérios Gozosos, encontramos o caminho de toda a vida cristã; por isso, Maria é para nós modelo de discípula e missionária. Nela se concentram todas as virtudes que o cristão deve cultivar. Maria é, portanto, não só a Mãe de Jesus e Nossa Mãe, mas também um exemplo de seguimento de Cristo.

Meditação 2
“Feliz és tu porque acreditaste”, foram as palavras de Isabel a Maria. Estas palavras recordam-nos que a fé é uma opção, uma aposta, uma decisão que tomamos livremente após esgotar o uso da razão. A fé é um salto no desconhecido, e só depois de o darmos saberemos se acertámos ou não. Maria encontrou a felicidade na sua fé na Palavra de Deus, dita pelo anjo. Também nós seremos felizes se acreditarmos, e infelizes se não o fizermos.

Maria deslocou-se de Nazaré até Ein Karen, percorrendo cerca de 150 km, para ajudar a sua prima. No entanto, Isabel reconhece nela algo mais que a sua prima Maria, pois esta já estava grávida do Filho de Deus. Ao responder às palavras de Isabel com o seu Magnificat, Maria mostra o que significa ser missionário. Não se trata propriamente de um pregador de doutrinas; a doutrina vem em segundo plano.

Tal como Maria no Magnificat, o missionário deve testemunhar as grandes obras que Deus operou na sua vida. Assim como a História se divide em antes e depois de Cristo, também a nossa vida muda quando encontramos Cristo, tal como aconteceu com Paulo.

No Magnificat, Maria relata as grandes coisas que o Todo-Poderoso fez na sua vida. Da mesma forma, o projeto de Jesus não é apenas individual, mas também social, chamando-nos a fazer deste mundo o Reino de Deus.

O missionário, tal como Maria narra no seu Magnificat, é aquele que ajuda a derrubar os poderosos dos seus tronos e a exaltar os humildes; é aquele que enfrenta as injustiças deste mundo, lutando para que o Reino de Deus se estabeleça aqui, numa sociedade mais justa, pacífica e fraterna.

Oração
Senhor, nosso Deus,
assim como Maria se levantou apressadamente
para servir e levar a Tua presença à casa de Isabel,
também nós, movidos pelo Teu Espírito,
queremos responder com prontidão ao Teu chamamento.

Faz de nós discípulos fiéis,
que escutam a Tua Palavra com o coração aberto,
e missionários generosos,
que a colocam em prática através do serviço e do amor ao próximo.

Que, como Maria,
possamos reconhecer e testemunhar
as grandes maravilhas que realizas nas nossas vidas,
e anunciar com alegria o Teu Reino de justiça, paz e fraternidade.

Senhor, ajuda-nos a derrubar as barreiras que nos separam dos outros,
a exaltar os humildes e a combater as injustiças
que impedem a Tua paz de reinar no mundo.
Que a nossa fé seja firme e confiada em Ti, como a de Maria,
e que saibamos encontrar a verdadeira felicidade
em acreditar nas Tuas promessas.

Assim como Maria entoou o seu Magnificat,
nós Te louvamos e bendizemos,
porque és fiel e misericordioso,
e em Ti depositamos toda a nossa confiança.

Amén.

Pe. Jorge Amaro, IMC

15 de janeiro de 2025

Anunciação

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No primeiro Mistério Gozoso, contemplamos a anunciação do anjo à Virgem Maria.

Do Evangelho de São Lucas (1, 26-31):
No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David. O nome da virgem era Maria. Ao entrar onde ela estava, o anjo disse: «Salve, cheia de graça, o Senhor está contigo!».

Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria esta. O anjo, então, disse-lhe: «Não tenhas medo, Maria, pois encontraste graça junto de Deus. Eis que conceberás no teu ventre e darás à luz um filho, e chamá-lo-ás Jesus».


Das Atas do Concílio de Éfeso:
A palavra que pronunciamos e de que nos servimos nos diálogos é incorpórea, impossível de ser apreendida pela visão ou pelo toque. Quando, no entanto, se reveste de letras e de formas exteriores, torna-se visível e acessível ao olhar e ao toque. Do mesmo modo, o Verbo de Deus, que por sua natureza é invisível, tornou-se visível; sendo também incorpóreo por essência, assumiu um corpo tangível.

Meditação 1
Como nos diz a carta aos Hebreus (1, 1-10): "Antigamente, por meio dos profetas, Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados. Mas, nestes últimos tempos, falou-nos por meio do seu Filho."

As comunicações dos profetas nos tempos antigos eram sempre imprecisas, imperfeitas e incompletas. Por isso, Deus decidiu intervir diretamente na história da humanidade, como tantas vezes fez ao longo da história de Israel. Jesus de Nazaré revela, ao mesmo tempo, a verdadeira natureza de Deus e a verdadeira natureza do homem, ensinando como Deus se relaciona com o homem e como o homem deve relacionar-se com Deus.

Meditação 2
Ao aparecer grávida após a sua visita à prima Isabel, Maria teve de enfrentar sozinha os seus pais, José e o povo da sua aldeia. A conceição milagrosa, obra do Espírito Santo, foi um evento único na história, sem precedentes, que soaria inverosímil para as gentes daquela aldeia.

Naquela época, Maria corria o risco de ser vista como adúltera, pois já estava prometida a José, e a punição para o adultério era o apedrejamento, como sabemos pelo episódio da mulher adúltera apresentada a Jesus para ser apedrejada. Decerto Jesus se lembrou da sua mãe naquele momento.

Maria sofreu silenciosamente com as calúnias durante toda a sua vida, algo sugerido em várias passagens do Evangelho. Para muitos da época, Jesus era visto como filho de pai desconhecido, o que era uma vergonha tanto para Ele quanto para Maria, especialmente numa sociedade patriarcal. Marcos refere-se a Jesus como "filho de Maria", enquanto Mateus diz que é filho de José. Lucas resolve não dizer nada.

Oração
Senhor Deus,
Tu que escolheste Maria, uma humilde serva,
para ser a Mãe do Teu Filho,
ensina-nos a ter a mesma confiança e fé
que ela demonstrou ao ouvir o Teu chamamento.

Dá-nos a coragem de responder "Sim" à Tua vontade,
mesmo quando não compreendemos os Teus desígnios,
assim como Maria aceitou, com humildade e entrega,
o plano divino que mudaria a história da humanidade.

Senhor, tal como o anjo Gabriel a saudou com a graça,
nós também pedimos a Tua bênção,
para que sejamos portadores
da Tua presença e do Teu amor no mundo,
e que, como Maria,
possamos levar a Tua luz e dar testemunho do Teu Filho Jesus.

Ajuda-nos, Senhor, a enfrentar as adversidades
e incompreensões que surgem no nosso caminho,
com a mesma paciência e silêncio de Maria,
que soube sofrer em paz e guardar tudo no seu coração,
confiando plenamente em Ti.

Que, como José, saibamos agir com justiça e misericórdia,
evitando o julgamento apressado
e acolhendo o próximo com amor e compreensão.

Ó Pai, ensina-nos a seguir o exemplo de Jesus,
que não procurou condenar,
mas sim trazer a reconciliação e a esperança de vida nova.
Que também nós sejamos instrumentos da Tua justiça reparadora,
desejando sempre a conversão
e a vida do pecador, e não a sua queda.

Senhor, faz-nos compreender que,
assim como Maria e o Teu Filho carregaram
o peso das calúnias e do sofrimento,
nós também devemos perseverar nas dificuldades,
confiando que Tu estás sempre connosco,
mesmo quando o mundo nos julga e nos condena.

Nós Te louvamos, ó Deus, por Teu amor incondicional
e pela promessa de salvação,
confiando em Ti, hoje e sempre.
Amém

Pe. Jorge Amaro, IMC

1 de janeiro de 2025

Contemplando os vinte mistérios do Santo Rosário

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"Rezem o Terço todos os dias para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra.
"
(13 de maio de 1917 - Aparição de Nossa Senhora em Fátima)

O que é o Rosário
Nossa Senhora não pediu apenas na primeira aparição que se rezasse o rosário todos os dias; insistiu nesse pedido em todas as suas aparições subsequentes até à última. O Rosário e Fátima são inseparáveis, mas o Rosário é também inseparável de outras aparições marianas.

O termo "Rosário" advém das 150 (agora 200) Ave-Marias entrelaçadas em grupos de 10 com a oração do Pai-Nosso e do Glória, além das meditações dos mistérios da vida de Jesus e da nossa redenção, formando assim uma "coroa de rosas" oferecida a Maria, Mãe do Senhor e nossa Mãe.

Os vinte mistérios da vida de Cristo estão divididos em quatro séries de cinco mistérios cada. Em cada Rosário, reza-se apenas uma dessas séries, que são: os Mistérios da Alegria, referentes ao nascimento e infância de Jesus; os Mistérios da Luz, que refletem Jesus como a luz do mundo durante o seu apostolado; os Mistérios da Dor, relacionados com a Paixão e morte de Cristo; e, por fim, os Mistérios da Glória, que contemplam a Ressurreição e Ascensão de Jesus ao Céu.

Inspirado no capítulo 12 do Livro do Apocalipse, que se refere a Maria coroada com uma coroa de 12 estrelas, concebi 12 mistérios marianos, refletindo como a vida de Maria está entrelaçada com a do Seu Filho, desde a sua conceção até à Assunção e coroação no Céu. Tal como os mistérios do Santíssimo Rosário, estes mistérios marianos também contemplam a vida de Jesus, porém sob a ótica de Sua Mãe.

A importância do Rosário na nossa vida espiritual
Rezar o Rosário é permitir que Maria nos guie na meditação dos mistérios da vida do Seu Filho. Esta prática ajuda a manter o coração e a mente focados nos ensinamentos do Evangelho, fortalecendo a nossa fé em Deus e a Sua presença no dia-a-dia.

O ritmo repetitivo e meditativo das orações proporciona um estado de calma e introspeção. Muitas pessoas encontram paz interior e conforto ao rezar o Terço, especialmente em momentos de dificuldade, ansiedade ou angústia.

No Santíssimo Rosário, a repetição das Ave-Marias, 50 vezes (10 vezes por mistério), tem a finalidade de evitar que a mente se distraia da contemplação do mistério. O objetivo não é focar-se em cada Ave-Maria e Pai-Nosso, mas sim usar estas orações como mantras, permitindo que a mente alcance um estado de contemplação do divino.

Como se reza o Rosário em Fátima
Ao fazer o sinal da cruz diz-se:
Deus vinde em nosso auxílio. /Senhor, socorrei-nos e salvai-nos.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. / Como era no princípio, agora e sempre. Ámen.

  • Enunciação do Mistério da vida de Cristo a ser contemplado.
  • Proclamação do texto bíblico referente ao mistério
  • Pausa por um período de tempo adequado
  • Recitação de 1 Pai-Nosso e 10 Ave-Marias.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. /Como era no princípio, agora e sempre. Ámen.

Ó Maria, concebida sem pecado, /rogai por nós que recorremos a vós.

Ó meu Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo do inferno; (morte eterna)
Levai as almas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem da vossa misericórdia.
 
No final do quinto mistério rezam-se 3 Ave-Marias pelas intenções do Papa

Salve-Rainha
Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve! A vós bradamos os degredados filhos de Eva. A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei, e, depois deste desterro, mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre. Ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém.

Distribuição dos Mistérios de Cristo pelos dias da semana

  • Domingo e quarta-feira: Mistérios da Glória (ou gloriosos)
  • Segunda-feira e sábado: Mistérios da Alegria (ou gozosos)
  • Terça-feira e sexta-feira: Mistérios da Dor (ou dolorosos)
  • Quinta-feira: Mistérios da Luz (ou luminosos)
  • Sábado: Mistérios Marianos

Mistérios Gozosos
Meditamos o início da redenção da humanidade, desde a Anunciação a Maria e a encarnação do Filho de Deus até à adolescência de Jesus.

Mistérios Luminosos
Os Mistérios Luminosos, introduzidos pelo Papa João Paulo II em 2002, visam preencher a lacuna entre os Mistérios Gozosos e Dolorosos, mas acabam por deixar de fora uma parte essencial da vida de Jesus, onde Ele se revela como modelo da Humanidade, Caminho, Verdade e Vida. Ele é aquele com quem devemos comparar-nos para sermos autêntica e genuinamente humanos, e, simultaneamente, é a nossa salvação, a fonte da nossa saúde espiritual aqui e agora, para além de ser o caminho para o Pai.

A vida de Jesus pode ser resumida nos milagres realizados e nos ensinamentos proferidos, sendo o Reino de Deus o objetivo primordial da sua vinda. Assim, proponho, no terceiro mistério, substituir a “Proclamação do Reino de Deus” por “O Reino de Deus nas palavras e nos milagres de Jesus”.

Com efeito, Jesus não apenas anunciou a vinda do Reino, mas também demonstrou que este já está presente no meio de nós através dos seus ensinamentos e dos seus milagres. O Reino de Deus iniciou-se com a vinda de Jesus ao mundo; ele está entre nós, ainda que não em plenitude. Cabe a nós, Seus discípulos, a tarefa de continuar a sua missão de transformar este mundo no Reino de Deus.

Esta alteração no terceiro mistério luminoso oferece uma visão mais completa da vida pública de Jesus e está alinhada com o propósito original dos Mistérios Luminosos.

Mistérios Dolorosos
Meditamos no processo da Paixão e morte de Jesus, desde a agonia no Jardim das Oliveiras até ao Seu último suspiro na Cruz. Ao dizer que Jesus morreu pelos nossos pecados, entendemos que Ele pagou a dívida que não podíamos saldar, refletindo o pecado de toda a humanidade.

Mistérios Gloriosos
Meditamos no triunfo de Jesus sobre a morte com a Sua Ressurreição. A morte foi vencida, assim como o pecado que a causava. Agora, a morte é uma passagem para a vida eterna, e a vida de Jesus, que começou com o "sim" de Maria, culmina com a glorificação daquela que é exemplo de vida cristã para todos nós.

Mistérios Marianos
Meditamos no reflexo da vida de Jesus na vida de Maria, que começa antes da do Seu Filho e continua após a Ascensão.

NB – Nos seguintes artigos um para cada um dos 20 mistérios apresento material para ajudar na meditação de cada mistério. Este material a ser usado depois da anunciação de cada mistério e antes da recitação das 10 Ave-Marias consta do seguinte:

  • O texto bíblico referente a cada mistério
  • Uma meditação dos Padres da Igreja
  • Uma meditação minha
  • Uma Oração inspirada em todos os textos

Consoante o tempo disponível, a pessoa que preside à recitação pode escolher só o texto bíblico ou o texto dos Padres da Igreja, uma das duas meditações, a oração, ou tudo quando o tempo de que se dispõe é muito.

Pe. Jorge Amaro, IMC

15 de dezembro de 2024

Cosmovisão Integral

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A minha reflexão este ano sobre a cosmovisão, enquanto o esqueleto ou estrutura onde assentam as nossas ideais ou a Magna Carta que rege o nosso pensamento e a nossa vida, foi inspirada na leitura de um livro intitulado “The Powers that be”, do teólogo protestante Walter Wink. O livro não é acerca da cosmovisão, mas sim dos poderes que governam este mundo. Porém, em cinco páginas deste livro, Wink descreve as 5 cosmovisões que têm governado o imaginário dos seres humanos até agora.

São elas a cosmovisão antiga, a espiritualista, a materialista, a teológica e a integral. Entendi que havia mais cosmovisões que as citadas neste livro e também muitas mais para além das que menciono nos textos deste ano. Como se pode observar, três das cosmovisões que Wink menciona fazem parte do meu estudo: a materialista, a espiritualista e a integral, objeto deste texto.

Como dissemos, a cosmovisão materialista é a que governa o mundo da cultura, da política, das artes, da ciência, da alta finança e da universidade. Estes ambientes foram completamente esterilizados de qualquer sentimento, manifestação, pensamento ou símbolo religioso. A cultura ocidental, filha do cristianismo, meteu a mãe na prisão e fez uma “limpeza étnica” de muitos elementos associados ao cristianismo.

Outros elementos, rouba-os sem os citar, como por exemplo os livros de registo dos batismos que a primeira república roubou às Igrejas para começar o registo civil. A outros elementos muda-lhes os nomes; os historiadores em vez de dizer antes ou depois de Cristo dizem antes ou depois da era comum.  

Tão materialista se tornou a sociedade ocidental que é quase desumana, fria, egoísta, ninguém se importa com ninguém; o individualismo e o egoísmo cresceram desmesuradamente; os ateus e agnósticos dizem que têm valores, mas não os vemos em ação em lado nenhum. Neste clima de tanta desumanidade materialista, muitos se refugiam no espiritualismo e, seguindo a lei do pêndulo, aderem a um espiritualismo que nega e demoniza toda a matéria. Constituem pequenas comunidades que são autênticos oásis neste deserto materialista.

A cosmovisão integral é uma cosmovisão que busca reconciliar o homem com a sua natureza. Como já dissemos, entendemos que o homem moderno reprime o sentimento religioso como uma sociedade puritana reprime o sexo. A cosmovisão integral visa também superar os dualismos próprios da cosmovisão espiritualista, buscar a síntese destas teses e antíteses: espírito vs matéria, alma, vs corpo, criacionismo vs evolucionismo, sagrado vs profano, puro vs impuro, etc.

Esta nova mentalidade, esta nova cosmovisão, esta nova ótica e forma de ver as coisas está a surgir das cinzas do materialismo, como uma Fénix renascida. Não é um espiritualismo tosco, ignorante e reacionário que tem a ciência como inimiga, mas a vivência do sentimento religioso à luz da ciência, em diálogo constante com ela. Trata-se de uma fé que se deixa purificar pela ciência de todos os mitos, superstições e irracionalismo, é uma ciência que se deixa guiar e inspirar pela fé, que não tem vergonha dela. Poucos são os que já vivem nesta dimensão, a maioria da população ou é materialista ou espiritualista.

História do materialismo
Da religião à anti-religião, a história do materialismo é a história da evolução, da vivência do sentimento religioso. Tudo começou com uma matéria impregnada de espírito, a respirar espírito por todos os poros: foi a etapa do animismo. À medida que o ser humano ia conhecendo as realidades materiais do mundo à sua volta, ia-lhes roubando a alma.

Ao passar do animismo ao politeísmo, o ser humano roubou a alma a um sem-número de realidades materiais, conhecendo apenas um punhado delas às quais atribuiu o estatuto de deuses, ou seja, de líderes de uma realidade como o tempo, o mar, o amor, a guerra. Por questões de simplificação, concentrou essas realidades numa única divindade, mas não ficou por aí.

Quando, pelas descobertas científicas do século XIX e respetivas aplicações práticas no seculo XX, o ser humano pensou que acabara de descobrir tudo o que havia para descobrir, orgulhoso e cheio de si mesmo como a soberba rã que se encheu de ar para ver se conseguia ser um boi, retirou ao sentimento religioso a carta de cidadania, declarando que afinal não tinha sido Deus a criar o homem à sua imagem e semelhança mas sim o homem que criou Deus à sua imagem e semelhança. Mais tarde, não contente com a sua criação, matou Deus e colocou-se a si mesmo no seu lugar.

Pouco a pouco, o Homem moderno está a dar-se conta de que o sentimento religioso, não é invenção da ignorância nem um a explicação para as coisas que não têm explicação. Que o facto de que por mais que o ser humano conheça, sempre haverá coisas que desconhece, prova que afinal a matéria parece ter certas propriedades comuns com o Espírito.

Alguns intelectuais do nosso tempo, não se definindo como religiosos, chegam a dizer que se Deus não existisse teria de ser inventado. Sim, porque reconhecem que este mundo, tal como está estruturado, pressupõe que a maioria dos seres humanos são crentes. Porque se fosse ao contrário as coisas não se passariam como se passam. Por isso, como disse eu algures, sorte têm os ateus e agnósticos de que a maioria seja crente. De facto, o mundo tal como está estruturado pode sobreviver com uma minoria agnóstica, desde que a maioria, como é o caso, seja crente.

A cosmovisão integral vai supor um devolver o roubado ao seu dono; devolver o Espírito à matéria, pois nem a matéria é tão material como pensam os materialistas, nem o Espírito é tão imaterial e incorpóreo como pensam os espiritualistas. A cosmovisão integral vai supor de alguma maneira o regresso ao animismo, mas não o mesmo animismo desinformado dos homens primitivos ou o nosso de quando somos crianças; será um animismo que colocará o espírito no centro de cada coisa. Hoje sabemos pela ciência que afinal a matéria visível é composta por partículas subatómicas invisíveis e intangíveis.

A física é a alma da ciência
Quando falámos de cosmovisão e ciência dissemos que as descobertas científicas fazem mudar a perspetiva que temos em relação a tudo o que nos rodeia, a forma como nos relacionamos com o meio, a nossa visão da vida; não é o mesmo pensar que a Terra é o centro do Universo que pensar que afinal não é a Terra, mas sim o Sol e, por fim, nem o Sol é o centro do Universo que provavelmente não tem centro. Não é a mesma coisa pensar que a matéria e a energia são duas realidades de natureza diferente que pensar que a matéria é uma forma de energia e a energia é uma forma de matéria, tal como a água existe em três estados físicos diferentes, e nenhum deles é semelhante ao outro, de tal forma que até parecem realidades completamente diferentes.

Todas as descobertas científicas podem provocar uma metanoia, uma conversão, um mudar de ideias, uma cosmovisão ou uma forma nova de ver as coisas. A nossa mente, a nossa fé e a nossa vida têm de se ir adaptando à evolução do conhecimento da realidade que nos envolve e com a qual nos relacionamos. A ciência que pode mexer mais com a nossa cosmovisão é a Física, pois é a que estuda as coisas mais básicas e fundamentais para a nossa vida, como a matéria e o cosmos.

É neste sentido que podemos afirmar que a cosmovisão materialista está fora de moda porque não acompanhou as últimas descobertas científicas no campo da física, sobretudo da física quântica. A cosmovisão materialista está certa e faz sentido no contexto da física mecanicista como é a de Newton, onde a realidade funciona com a precisão, cadência, ritmo e previsão de um relógio suíço.

Esta cosmovisão era já em si enganosa pois apresentava um relógio sem relojoeiro. Mas mais que isso, desde Einstein sabemos que a realidade nada tem a ver com a precisão de um relógio, mas se fosse um relógio não seria tão preciso como o suíço, pois seria relativo, ou seja, não marcaria sempre as mesmas horas.

A nova física quântica e a mecânica quântica
A mecânica quântica troca-nos as voltas, modifica-nos os paradigmas, atenta contra a lógica que tem governado a ciência e a nossa vida, pois pulveriza fronteiras que antes nos pareciam intransponíveis e acaba com os dualismos que opunham realidades que antes pensávamos bem diferentes e até contrárias, como a matéria/energia, estático/móvel, visível/invisível, tangível/intangível, previsível/imprevisível, material/espiritual, científico/filosófico.

Matéria/energia – O coração da matéria é intangível como a energia; o coração da matéria, o mundo dos átomos e partículas subatómicas é, de facto, energia.

Os átomos podem ser matéria, na medida em que tentamos pesá-los e medi-los; mas as partículas que os compõem têm cargas elétricas e movimentam-se, ou seja, exibem as propriedades da energia. Podemos concluir que são matéria na sua essência, descritíveis, qualificáveis e quantificáveis, mas que são energia na sua existência, porque exibem uma potência voltaica, reagem, criam ondas.

A matéria é energia em potência, a energia é matéria em potência. A combustão transforma matéria em energia: é o que acontece no centro do sol, onde átomos de hidrogénio se fundem, criando hélio e energia.

A matéria visível e sólida é composta por elementos invisíveis e, quanto mais viajamos ao centro da matéria, menos matéria (massa) e mais espaço vazio encontramos, pelo que a matéria parece reduzir-se a pequenas fibras vibratórias de energia. As partículas subatómicas são de facto manifestações de energia. Por isso, o que parecia tão visível e sólido, reduz-se agora a ondas eletromagnéticas. Assim sendo, podemos concluir que o nosso corpo e tudo o que materialmente existe se reduz a energia vibratória.

A matéria em si não existe, pois é somente o armazém de energia, não é mais que energia condensada, acumulada. Por exemplo, as plantas, por intermédio da fotossíntese, convertem a energia radiante do sol em energia química que é armazenada em moléculas orgânicas, como se uma planta fosse uma bateria, um armazém de energia.

Matéria/espírito – O materialismo não tem razão de ser, pois a matéria é formada por elementos invisíveis, quase espirituais e certamente não podemos compreender a matéria sem conhecer a sua alma. O átomo é a alma da matéria, por isso, não só os seres humanos têm alma, a matéria também a tem. A alma da matéria é tão invisível como a nossa no interior do nosso corpo.

Inerte/vivo – Já não é claro que só haja vida na matéria orgânica; já não existe uma tão grande diferença entre matéria orgânica e inorgânica ou inerte. As partículas subatómicas revelam-nos que a vida não existe só a nível das células, mas também a nível subatómico dos quarks. Claro que se trata de uma forma diferente de vida.

Visível/invisível – “Se a mecânica quântica não te chocou profundamente, é porque ainda não a entendeste. Tudo o que chamamos real é formado por coisas que verdadeiramente não podem entender-se como reais”. Niels Bohr

Rompe-se, também na matéria, a fronteira entre o visível e o invisível. A massa de um átomo é menos de 1% do seu tamanho, o resto é vazio, ou seja, o espaço entre o núcleo e o eletrão. Como acima foi dito, se o núcleo de um átomo fosse do tamanho de uma bola de basquetebol, os eletrões estariam a vários quilómetros de distância do núcleo.

Estático/móvel – A matéria que forma os objetos parece estática, parece parada, mas de facto, é uma ilusão: na realidade, tudo se move. Como se afirmou anteriormente, o eletrão orbita à volta do núcleo do átomo a uma velocidade de 2 200 quilómetros por segundo. A matéria não é, portanto, estática como parece, mas sim dinâmica.

Em mecânica quântica tudo é ilusão: a matéria visível é composta por elementos invisíveis, é aparentemente estática, quando na realidade está em movimento, é aparentemente muito diferente da energia, mas é de facto uma forma de energia.

Puro/Impuro – Nada há de material que faça o homem impuro (Marcos 7, 5). Não declares impuro nada do que Deus criou (Atos 10, 15).

Houve um tempo em que o ato sexual era visto com algo sujo, feio, pecaminoso e impuro; só era visto como um mal menor quando era realizado no contexto do matrimónio com a única finalidade de procriar. Mas, mesmo nesse caso, os casais cristãos eram aconselhados a não desfrutar do prazer do sexo e a abster-se por completo de relações sexuais durante a Quaresma. De resto, era visto como um “remedium concupiscência”, paliativo para a voluptuosidade, não como um ato de amor.

O amor é a alma do ato sexual, este é uma das expressões do amor na sua função de unir as pessoas num só corpo e numa só alma. E, sendo o ato pelo qual os dois serão uma só carne (Marcos 10, 1-12), resultando depois em três, não pode de maneira nenhuma ser um ato impuro a génese de um ser humano fruto do amor unitivo entre dois.

Sagrado/profano – Quando S. Paulo nos diz em 1 Coríntios que somos templo do Espírito Santo, e quando Jesus nos diz que em vez de rezarmos para seremos vistos pelos outros devemos fazê-lo no nosso quarto (Mateus 6, 5), devemos rezar dentro de nós em espírito e verdade, não no monte Gerasim ou no templo de Jerusalém (João 4, 23-54), onde está o profano? Não foi tudo criado por Deus? Se tudo e todos foram criados por Deus, não há nada de profano, tudo é sagrado.

Bem/mal – O amor como necessidade humana (amar e ser amado) não parece, à primeira vista, estar ligado com a moral, mas realmente está. Quando julgamos não amamos, quando amamos não julgamos; o amor universal, sobretudo o amor aos inimigos, supera o pensamento dualista do bem contraposto ao mal, o que nos leva para a eternidade que é Deus que faz chover sobre justos e injustos e ama a todos incondicionalmente. Somos chamados a ser como Ele.

Diz-se também que o amor é cego; que os amantes tendem a não ver os defeitos e deficiências um do outro e que se abstêm naturalmente de se julgar um ao outro. E também parece que quando o amor desaparece só se vêm defeitos e deficiências. Isto leva-nos a concluir que só o amor nos pode livrar de ser hipercríticos uns com os outros, levando-nos de volta ao Jardim do Éden.

Deus/Diabo - Só existe Deus, o diabo não existe, o seu mito foi criado para ilibar a Deus da criação do mal. O mal, ou os males individuais foram criados pelo homem quando usou mal a sua liberdade. A possibilidade de que isto acontecesse, ou seja, a possibilidade de que os homens pudessem pecar, escolher o mal, foi criada por Deus ao fazer o homem livre. Não existe uma alternativa igualmente viável ao bem, a Deus; quem não recolhe comigo, diz Jesus, dispersa, pois não há um diabo com quem possa recolher….

A mecânica quântica prova o poder da fé
Então, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe em particular: «Porque é que nós não fomos capazes de expulsar o demónio?» Disse-lhes Ele: «Pela vossa pouca fé. Em verdade vos digo: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: “Muda-te daqui para acolá” e ele há de mudar-se; e nada vos será impossível. Mateus 17, 19-20

Na mecânica determinista clássica, sabendo a posição inicial e o momento (massa e velocidade) de todas as partículas pertencentes a um sistema, podemos calcular as suas interações e prever como elas vão comportar-se.

Tal não acontece em mecânica quântica; o princípio de Heisenberg coloca em evidência que é impossível saber ao mesmo tempo a posição exata que um eletrão ocupa na eletrosfera de um átomo e a velocidade com que anda à volta do núcleo; quanto mais soubermos da sua velocidade, menos saberemos da sua posição e vice-versa.

Segundo Niels Bohr quando se mede uma partícula subatómica, o ato de medição, força a partícula a renunciar a todos os lugares possíveis onde poderia estar e (princípio da incerteza) seleciona a localização onde podes encontrá-la; é o ato de medição que força a partícula a fazer aquela escolha.

Ao contrário de Einstein, Bohr aceitou que a natureza da realidade era inerentemente confusa; Einstein preferia acreditar na certeza das coisas em si e em todo o tempo e não só quando são medidas ou observadas. Bohr chegou a dizer que “gostaria que a lua permanecesse no seu lugar mesmo quando não estou a olhar para ela”. Quando Einstein, já bastante aborrecido, disse que “Deus não jogava aos dados”, Bohr impassivelmente respondeu, “Para de dizer a Deus o que tem de fazer.”

“Considero a consciência como fundamental. Entendo a matéria como sendo um produto derivado da consciência. Não podemos estar por detrás da consciência. Tudo o que falamos, tudo o que consideramos como existente, requer a consciência.” Max Planck (1858-1947) Prémio Nobel, fundador da teoria quântica.

Cosmovisão integral
"Ninguém prega retalho de pano novo em roupa velha; do contrário, o remendo arranca novo pedaço da veste usada e torna-se pior o rasgão." Ninguém põe vinho novo em odres velhos; se o fizer, o vinho os arrebentará e se perderá juntamente com os odres; mas para vinho novo, odres novos. Marcos, 2, 21-22

Quem ainda tem a sua mente formatada nos princípios determinísticos e na precisão da física mecanicista, não pode entender a física e a mecânica quânticas. O seu odre materialista não pode entender uma matéria impregnada de espírito, bizarra, ilógica, criteriosa, mística; o dinamarquês Niels Bohr, um dos criadores da nova ciência, chegou a afirmar certa vez que só não se escandalizou com a Física Quântica quem não a entendeu.

A visão integral da realidade vê tudo como tendo um aspeto exterior e interior. O céu e a terra são vistos assim como os aspetos interno e externo de uma única realidade. O espírito está no centro de cada coisa criada. Esta realidade espiritual interior está indissociavelmente relacionada com uma forma exterior ou manifestação física.

O céu ou o espírito não é para cima e a matéria para baixo, mas dentro. É de certa forma a imanência de Deus que está no centro de tudo. Tudo está em Deus e Deus está em tudo. Isto não é panteísmo que tudo é Deus, mas panenteísmo: tudo está em Deus e Deus está em tudo. Esta visão de mundo é partilhada por religiões nativas americanas, que falam do pai céu e da mãe terra.

A alma ou espírito, tal como o descreve S. João, é também governada pelo mesmo princípio de incerteza que governa o interior da matéria nas partículas subatómicas de que é formada: "O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito". João, 3, 8.

A cosmovisão integral reconcilia a ciência com a religião, a matéria com o espírito, o mundo interior com o mundo exterior. O mundo encantado das partículas subatómicas provou ao cientista que afinal não pode apreender tudo com a sua razão e ser o senhor da realidade que pensava que era no tempo da física mecanicista de Newton. A nova física diz ao homem de hoje “cresce e aparece”! Grow up!

Conclusão: os materialistas agnósticos, desfasados da realidade da física quântica de hoje, continuam formatados segundo a física mecanicista de Newton; ao roubar o espírito à matéria, comem um pão que alimenta, mas não sabe a nada. Os espiritualistas, negando a corporeidade da matéria, vivem como almas penadas num mundo que, sendo em si um vale de prazeres e alegrias, se tornou num vale de lágrimas. Ao roubarem a matéria ao espírito, comem um pão que pode até saber bem, mas não alimenta. A cosmovisão integral é como um pão integral, que alimenta e sabe bem; dá saúde ao corpo e alegria à alma.

Pe. Jorge Amaro, IMC