No segundo Mistério Doloroso, contemplamos a flagelação de Jesus preso à coluna.
Do livro do Profeta Isaías (50, 6; 53, 4-8)
Aos que me feriam, apresentei as espáduas, e as faces àqueles que me arrancavam a barba; não desviei o rosto dos ultrajes e dos escarros. (…) Foi desprezado, foi a escória da humanidade, homem das dores, experimentado no sofrimento; como aqueles diante dos quais se cobre o rosto, foi amaldiçoado e não fizemos caso dele.
Em verdade, ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos; e nós o considerávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas ele foi castigado pelos nossos crimes e esmagado pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz caiu sobre ele, e fomos curados graças às suas chagas.
Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual o nosso caminho; mas o Senhor fez recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós. Ele foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro conduzido ao matadouro, e como uma ovelha muda diante do tosquiador. Ele não abriu a boca. Por um iníquo julgamento, foi arrebatado. Quem pensou em defender a sua causa, quando foi suprimido da terra dos vivos, morto pelo pecado do meu povo?
Comentário de Melito de Sarde
O Filho de Deus foi executado pelos seus carrascos como um cordeiro; a sua morte libertou-nos do modo de vida mundano. Ele marcou as nossas almas com o seu próprio Espírito e o nosso corpo com o seu sangue. Jesus tomou sobre si os sofrimentos da humanidade, sofrendo no corpo, sujeito à dor, e assim destruiu as paixões da carne.
Meditação 1
Se Pilatos tivesse condenado diretamente Jesus à morte, Ele não teria sido flagelado. A flagelação era o castigo aplicado àqueles cuja vida era poupada. Pilatos pensava que, após ver Jesus bem flagelado, o povo teria compaixão dele e O deixaria partir. No entanto, isso não aconteceu; o ódio dos escribas, dos anciãos, dos fariseus e saduceus contra Jesus era tão grande que, mesmo depois de O verem flagelado, não sentiram compaixão.
É irónico que o Filho de Deus não tenha sido condenado à morte pela autoridade civil; esta, na pessoa de Pilatos, desejava libertá-lo. Foram as autoridades religiosas que condenaram o Filho de Deus. Jesus morreu pelos nossos pecados, porque foram os nossos pecados — os de toda a humanidade, como os de Judas, Pedro, Pilatos, Herodes, dos fariseus, dos saduceus e do povo em geral — que O mataram. Esses pecados ainda hoje se cometem, e se Cristo viesse hoje ao mundo, seria morto pelo mesmo mundo que O matou há dois mil anos.
Meditação 2
"Vim ao mundo para ser testemunha da verdade. Quem é da verdade ouve a minha voz. O que é a verdade? Perguntou Pilatos" (João 18,38). Podemos responder a Pilatos que Cristo é o caminho, a verdade e a vida. Existe uma natureza humana que deve ser obedecida. Cristo viveu e pregou sobre essa natureza; veio ao mundo para nos ensinar a viver, para nos mostrar o caminho que Ele próprio trilhou.
Ensinou-nos a verdade da vida, e quem não vive segundo essa verdade é flagelado pela vida. Deus perdoa sempre, o homem às vezes, mas a natureza não perdoa nunca. Muitas vezes pecamos contra a natureza do nosso planeta e contra a nossa própria natureza. Muitos dos males que nos afligem, como doenças e cataclismos, são consequências desses pecados. Somos flagelados pela natureza porque infringimos as suas leis.
Somos livres de rejeitar este caminho, verdade e vida, que nos conduz ao Pai, mas não há alternativa igualmente viável a Jesus. Quem não junta com Ele, disse Jesus, dispersa… Não há outro modelo de humanidade além de Cristo.
Oração
Senhor Jesus,
na Tua flagelação, contemplamos o peso das nossas próprias faltas
e a profundidade do Teu amor por nós.
Foste açoitado, humilhado e ferido
por aqueles que não Te compreenderam,
e no entanto, aceitaste o sofrimento sem abrir a boca,
como um cordeiro que se entrega ao sacrifício.
Nós Te pedimos, Senhor, que nos ajudes a reconhecer
o valor da Tua entrega e a abrir os nossos corações à Tua verdade.
Que, assim como Tu carregaste os nossos sofrimentos,
também nós possamos carregar as nossas cruzes com paciência e fé,
sabendo que as Tuas chagas nos curaram.
Dá-nos a força para seguir o Teu exemplo,
suportando as injustiças e as dores da vida
com humildade e confiança na vontade do Pai.
Livra-nos do egoísmo e do medo que nos afastam de Ti
e ensina-nos a ver, no nosso próximo,
o reflexo do Teu sofrimento e do Teu amor.
Senhor, cura-nos das feridas
que o pecado deixou em nós e no mundo.
Que a Tua paixão seja a nossa salvação
e que a Tua paz reine nos nossos corações.
Ajuda-nos a viver em harmonia com a Tua criação,
respeitando as leis da natureza e buscando sempre o bem comum.
Que, no meio das tribulações da vida,
encontremos refúgio na Tua misericórdia
e força no Teu exemplo de entrega total.
Concede-nos a graça
de sermos testemunhas da verdade que vieste trazer ao mundo,
caminhando sempre contigo, que és o caminho, a verdade e a vida. Amém.
Pe.Jorge Amaro, IMC
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