20 de outubro de 2024

O sentido da Vida

O ser e o nada
Todo o homem e mulher que vem a este mundo pergunta-se: de onde venho? Para onde vou? Que sentido tem a vida? O ateu diz que vem do nada e volta ao nada. Que sentido pode ter algo que começa no nada e termina no nada?

A ciência e a técnica melhoraram a nossa vida nos últimos anos, mas não nos dizem, nem podem dizer-nos, qual é o sentido da vida. Contudo, a necessidade de dar um significado à nossa existência é comum a todos os mortais. De uma forma consciente ou inconsciente, todos tratamos de encontrar um propósito para a nossa existência e, de alguma forma, justificá-la.

Os que perdem ou nunca encontram o sentido da vida acabam por deprimir-se, sentindo a náusea do vazio, e frequentemente buscam pôr termo à vida. Depressa se apercebem de que uma vida sem sentido não vale a pena ser vivida.

Caminhante sem caminho
"Caminante, son tus huellas el camino y nada más;
Caminante, no hay camino se hace camino al andar.
" – António Machado

Por um lado, cada homem e cada mulher, que vem a este mundo nasce com um código genético único, que nunca existiu antes ao longo dos cinco milhões de anos de existência da espécie humana, nem existirá depois, até ao fim da história da humanidade.

Neste sentido, cada ser humano que vem a este mundo inicia um caminho novo, uma vida nova, que é sua e só sua. É nisto que consiste a dignidade da pessoa humana e a sua liberdade: pode viver a vida como quiser, encontrar e seguir o seu próprio caminho, que não existe previamente, como se estivesse predestinado, mas que vai sendo feito ao caminhar.

Como é ele quem faz o caminho, como intuiu o poeta espanhol, o único caminho que existe são as suas pegadas, ou seja, o percurso que vai traçando. Tal como os caminhos que surgem formados pelo facto de muitas pessoas passarem pelo mesmo lugar, feitos sem máquinas e sem intenção de os criar.

Por outro lado, ninguém chega aqui completamente isolado do que o precedeu. Tal como o nosso ADN é composto por material genético do nosso pai e da nossa mãe, também somos herdeiros de tudo o que a humanidade já fez ao longo da sua história. Cada indivíduo da espécie humana, consciente ou inconscientemente, acede ao que Jung chamava de inconsciente coletivo, que funciona como uma espécie de base de dados que contém a idiossincrasia da raça humana.

Neste sentido, cada ser humano que chega a este mundo dá continuidade ao que veio antes. Tal como numa corrida de estafetas, recebemos um testemunho, uma herança, uns talentos e, com a nossa vida, damos continuidade aos projetos que já existiam, imprimindo-lhes o nosso cunho pessoal e elevando-os a um nível mais alto.

É nesta continuidade que se acrescenta o nosso toque pessoal. Einstein recebeu a física mecanicista de Newton e, com a teoria da relatividade, elevou-a a um novo patamar. Mozart dedicou a sua vida à música e levou-a a um nível elevado; no fim da sua vida, passou o testemunho a Beethoven, que a elevou ainda mais. Cada atleta, em cada modalidade, estabelece novos recordes com base nos anteriores.

Caminho, verdade e vida
Todo o ser humano que vem a este mundo tem em Cristo o caminho, a verdade e a vida (João 14:6); ou seja, somos chamados a viver em Cristo, por Cristo e com Cristo. Humanismo e cristianismo são uma e a mesma coisa; o cristão é a medida do humano, e o humano é a medida do cristão.

"Quem não está comigo está contra mim, e quem não junta comigo, dispersa." (Lucas 11:23). Não existem dois humanismos, duas formas de viver a vida humana. Não há alternativa igualmente válida a Cristo; não existe outra forma de autorrealização, de viver a vida humana em plenitude e alcançar a felicidade. Portanto, quem não está com Ele, não está com outro, pois esse outro modelo alternativo não existe; assim, quem não está com Ele, está contra Ele.

No entanto, isso não significa que, sendo Cristo o modelo para todos os que querem ser autenticamente humanos, nos transforme em clones que se comportam como marionetas ou autómatos, com o mesmo tipo de personalidade, que pensam, atuam e vivem a vida da mesma maneira.

Quando afirmamos que Cristo é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, estamos a dizer que, até agora, na humanidade, só Deus em Cristo conseguiu ser autenticamente, plenamente, 100% humano. Só Jesus de Nazaré conseguiu realizar plenamente o projeto de humanidade que Deus tinha para o homem quando o criou. Só Jesus de Nazaré conseguiu realizar plenamente o sonho de Deus e torná-lo realidade.

“Deus fez-se homem para que o homem se tornasse Deus” (Sto. Ireneu); eis a razão da Encarnação. Sem Deus, o homem nunca seria plenamente humano.

Diferentes na igualdade, ou iguais na diferença
Sendo 100% homem, Cristo representa a totalidade do ser humano; é o padrão pelo qual todos nos medimos, o horizonte, a meta, o objetivo simultaneamente alcançável e inalcançável da vida humana. Alcançável, porque está ao alcance de todos; inalcançável, porque ninguém jamais o igualará completamente.

Mesmo São Francisco de Assis, chamado por alguns teólogos de "alter Christus", não chegou a ser 100% como Cristo. Cada santo, ou seja, cada cristão que atinge o sucesso espiritual, vive uma parte da humanidade de Cristo, tanto em quantidade como em qualidade.

"Aqueles que recebem a semente em boa terra são os que ouvem a palavra, a acolhem, dão fruto e produzem a trinta, a sessenta e a cem por um." (Marcos 4:20). Em quantidade, porque, como sugere a parábola da semente que cai em boa terra, uns produzem sessenta, outros trinta por cento. Dependendo de um número ilimitado de variantes, vicissitudes e circunstâncias, alguns imitam Cristo em 60%, enquanto outros apenas em 30%. Não importa a quantidade, como parece sugerir a parábola, mas sim ter Cristo sempre como o único referencial da nossa vida.

"(…) Com medo, fui esconder o teu talento na terra. Aqui está o que te pertence." (Mateus 25:25). Em qualidade, porque Cristo possui a totalidade dos talentos; nós recebemos alguns talentos e não outros. Todos recebem talentos suficientes para tornar a sua vida viável, mas ninguém recebe todos os talentos. O importante é desenvolver e fazer frutificar os talentos recebidos, em vez de os esconder, admirar ou invejar os talentos dos outros, tentando viver a vida deles, o que nunca é possível.

Francisco de Assis e Francisco Xavier são ambos santos e até têm o mesmo nome, mas são bastante diferentes no caminho de santidade que seguiram. Francisco de Assis imitou Cristo na sua humildade, enquanto Francisco Xavier o imitou na sua impulsividade.

Existe uma teoria psicológica chamada Eneagrama, que defende que há nove tipos de personalidade diferentes e que cada ser humano pertence a um desses nove tipos. Cada um destes tipos desenvolve uma qualidade humana em detrimento de outras. Esta teoria sugere que Cristo, sendo 100% homem, incorpora a realização completa de todas essas qualidades.

Como Jesus é o modelo a seguir, o padrão da humanidade, a sua personalidade é formada pelo conjunto dos nove tipos. Na encarnação, Ele aceitou e viveu plenamente todas as formas da personalidade humana, por isso pode ser modelo e paradigma para todos os tipos de personalidade; caminho, verdade e vida para todos seguirem, cada um à sua maneira.

Conclusão - O sentido da vida reside em encontrar o nosso caminho único, inspirado por Cristo como modelo de plena humanidade, desenvolvendo os talentos recebidos e vivendo de forma autêntica e consciente.

Pe. Jorge Amaro, IMC


Sem comentários:

Enviar um comentário