1 de março de 2022

Islão, razão e Jesus

Deus criou-nos como seres racionais e, como tal, não pode pretender que nos relacionemos com Ele sem o uso da razão. Temos de ter um mínimo de garantia. A razão está para a fé como o sal para a comida. O sal dá gosto, dá sentido à comida; assim a razão dá sentido à fé.

Maomé, o último profeta, Jesus, o filho de Deus
O Islão aceita como válida a tradição religiosa judaica descrita no Antigo Testamento que eles consideram também seu. Maomé é, portanto, o último dos profetas que Deus enviou ao mundo, sendo o penúltimo Jesus.

Se a humanidade viver mais 10 000 ou 20 000 anos, que sentido faz que o último profeta tenha vindo no ano 524? Mais mudanças sofreu o mundo e a humanidade desde o ano 524 que em todos os milhões de anos anteriores. Por que motivo então antes desta data os profetas se sucediam uns aos outros com frequência e depois do ano 524 já não são precisos?

Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por meio de quem fez o mundo. Hebreus 1, 1-2

No caso do cristianismo, mesmo que a humanidade viva até ao ano 20 000, faz sentido que a revelação tenha acontecido no ano zero. Como explica o autor da carta aos Hebreus, o enviado não é mais um profeta, mas sim o próprio Deus que vem viver entre nós.

Há aqui um salto qualitativo; os profetas trazem mensagens para um tempo, a Palavra de Deus é eterna para todos os tempos e lugares, porque Deus não precisa de falar duas vezes. Por outro lado, Cristo não é só uma palavra proferida, é uma palavra vivida e só se vive uma vez.

Em que sentido é o último profeta? É porque o Islão tem uma doutrina mais refinada e em caminho ascendente, segundo a qual já chegamos ao topo? Mas o topo até parece pertencer ao cristianismo, que tem o amor como único mandamento; um amor que inclui até os nossos próprios inimigos.

O Islão, na sua prática e doutrina, até se assemelha mais ao Antigo Testamento que ao Novo. Prova disso o facto de que enquanto que Jesus, há dois mil anos, tratou as mulheres de igual para igual, e não deixou que uma mulher adultera fosse apedrejada, no mundo muçulmano as mulheres são tratadas como cidadãos de segunda categoria, e as adulteras ainda hoje são apedrejadas.

Se um observador imparcial comparasse a narrativa cristã, ou seja, o Novo Testamento com a narrativa muçulmana, ou seja, o Alcorão escrito quase 600 anos depois, teria necessariamente que concluir que há de longe muito mais humanismo no Novo testamento que no Alcorão.

O Islão é em si violento por natureza pois não se trata de amar a Deus que nos amou primeiro; não se trata de amor com amor se paga. Deus no Islão é o senhor do Antigo Testamento que ordena submissão. A palavra, Islão significa de facto submissão. Em termos humanos, ninguém ama aquele que nos exige submissão; onde há submissão não há liberdade nem amor. Em contraste com isto, Jesus diz aos seus discípulos: "Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai." João, 15, 15

Historicamente, Mohamed, o fundador do Islão era um guerreiro; a própria religião começou com a conquista violenta de Meca, espalhada e expandida por meios de guerra conquistas e submissões das populações conquistadas e não pregando como o cristianismo.

O sentido da Encarnação de Deus
Desde a perspetiva da religião muçulmana e demais religiões, eu posso queixar-me e dizer a Deus. “Ouve, porque não paras de mandar mensageiros e profetas e vens cá tu viver a nossa condição humana? É fácil dar conselhos; por que não nos mostras como se vive a vida humana sendo exemplo para nós? Vem cá a baixo e fala-nos com conhecimento de causa, isto é, a partir da nossa condição humana, depois de teres sentido na carne o frio, a fome, a dor, a tentação, o prazer, a injustiça, a traição?”

Da perspetiva do cristianismo, não posso defender este argumento na frente de Deus. porque Cristo, apesar da sua condição divina, tornou-se um de nós, em tudo igual a nós exceto no pecado, para nos mostrar na sua própria vida que é possível viver a vida humana tal como Deus a idealizou antes da queda de Adão.

Cristo não mostra o caminho, a verdade e a vida; é Ele mesmo o Caminho, a Verdade e a Vida. Na sua pessoa e vida, vemos o que Deus é e o que o homem está chamado a ser. Cristo é o peso e a medida do ser humano, a referência de humanidade, porque só Ele que era 100% Deus foi também 100% homem. Por isso, todo o indivíduo que queira chegar à felicidade e autorrealização como pessoa, é com Cristo que tem de se comparar.

Qualquer pessoa que queira avaliar o seu próprio nível de humanidade, e o quão genuíno ele ou ela é como pessoa humana, deve medir-se com Jesus, o único modelo para os seres humanos. Ao contrário, A vida do profeta Maomé está longe de ser exemplar. Na verdade, os próprios muçulmanos não o têm como santo nem como modelo a imitar. Como guerreiro e chefe militar exerceu violência e cometeu crimes de guerra quando mandou matar 600 judeus e escravizou as suas mulheres e crianças.

Permitia aos seus fiéis que se casassem até 5 vezes, mas ele mesmo casou-se 8 vezes e tinha concubinas, algumas das quais menores de idade; mandava cortar as mãos aos ladrões e flagelar as adúlteras. De alguma forma, mesmo para os muçulmanos, mais importante é Jesus o filho de Maria porque é Ele, e não Maomé, que vai voltar para julgar os vivos e os mortos, tal como nós acreditamos.

“Deus é amor” 1ª João 4,8
Nenhuma religião define tão bem a essência de Deus como a cristã. Mas ainda que a religião tivesse uma formulação próxima ou parecida com esta, sabemos que o amor é como uma moeda na qual uma das faces é alegria e prazer e a outra é tristeza e dor. “Quem se obriga a amar obriga-se a padecer”.

Como não há amor sem sofrimento, da perspetiva muçulmana, ou seja, da forma de conceptualizar o divino no Islão, como pode Deus provar que nos ama se nunca sofreu por nós? Em Cristo, Deus sofreu a tortura e a traição, o abandono dos amigos e até o abandono do seu Pai; sofreu por nós e no nosso lugar o que nenhum homem sofreu nem sofrerá: sentir-se condenado à morte eterna sob o peso dos nossos pecados.

Ao contrário de Maomé, Buda e os demais fundadores de religiões que morreram velhos depois de uma vida longa, Cristo viveu uma vida curta, foi condenado à morte, torturado e executado. Encarnou o homem novo na sua vida, sendo modelo de humanidade e pagou com a própria vida o ter enfrentado os poderosos exploradores do povo, dos mais pobres e humildes.

Deus é uno e trino, é comunidade
O Islão herdou o monoteísmo simples dos hebreus. Por isso, tanto judeus como muçulmanos, não têm forma de fundamentar teologicamente que o homem é feito à imagem e semelhança de Deus. Se Deus é amor e o amor que não sai fora de si mesmo é egocentrismo, Deus é mais que um; Deus é uma família: Pai, Filho e Espírito Santo e, através Dele, encontramos o modelo da família humana: pai, mãe e filho.

Deus é uno e trino, tal como uma família humana está chamada a ser uma unidade de três pessoas, onde a existência de uma só não é possível sem a existência das outras duas – um homem não é pai sem ter uma mulher e um filho; uma mulher não é mãe sem ter um filho e um marido; e um filho não existe por si mesmo sem ter um pai e uma mãe.

Como Cristo é o modelo para a vida humana individual, a Santíssima Trindade é o modelo para a vida humana social; um modelo de paz, harmonia e amor. O judaísmo e o Islão carecem de modelos, de pontos de referência teológicos para a vida em família e em sociedade, concebendo a Deus como um grande solitário.

Conclusão: Quem não deve, não teme… Se o Islão acha que não tem incoerências e inconsistências que ameaçam a sua própria existência que se submeta, já que é a religião da submissão, à crítica da razão, como o fez e faz o cristianismo. Uma fé que não se deixa confrontar pela razão não é fé, é superstição.

Pe. Jorge Amaro, IMC



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