15 de março de 2021

3 Formas de vida: Vegetal - Animal - Humana

Segundo a universidade de Hawai em 2019, há no nosso planeta 8,7 milhões de espécies de seres vivos; destes, cerca de dois milhões são animais, os restantes são plantas, vírus ou bactérias. Dos 8,7 milhões, 6,5 milhões vivem em terra, 2,2 milhões vivem nos oceanos. Estes números são estimativas, pois há muitas espécies de seres vivos ainda desconhecidas.

O que é a vida?
Depois de ler muitas definições de variados autores, biólogos, astro-biólogos e filósofos, chego à conclusão que a vida é um conjunto de processos que ocorrem no interior de uma célula. Até que se prove o contrário, a célula é a unidade mais simples de vida. Em si mesma não é simples, pois é constituída por partes, mas cada uma das partes da célula não é vida; a vida são os processos que resultam da interação dos vários componentes ou partes de uma célula.  

Se considerarmos a célula no contexto do ambiente que a circunda, a vida é o conjunto dos processos que se desenvolvem dentro de uma entidade autónoma autocontida e autossustentada, separada do seu meio ambiente por uma membrana ou parede que lhe permite, ao mesmo tempo, ser livre e independente e também interagir com este meio ambiente, com capacidade para se adaptar a ele e nele proliferar, desde a bactéria, que é uma única célula, até ao corpo humano, formado por triliões de células.

¬A célula é a vida na sua manifestação mais microscópica, já que todos os seres vivos são constituídos por células e os que se reproduzem sexualmente começam por ser uma única célula germinal com poder para se replicar. À medida que se replica, diversifica-se para formar os diferentes órgãos e partes do corpo do animal. Todo este processo obedece a um código genético que se encontra no interior da célula e que se formou quando metade de uma célula masculina - o espermatozoide - se uniu a metade de uma célula feminina - o óvulo.

Quais os processos que acontecem no interior da célula? Crescimento, metabolismo, reprodução -fundamentalmente são os mesmos que ocorrem num corpo formado por triliões de células.

Crescimento – multiplicação celular, partindo de uma única célula mãe ou primigénia, que imediatamente se multiplica, replicando-se e, ao mesmo tempo, diversificando-se para formar os diferentes órgãos de um organismo.

Metabolismo – é uma série de reações químicas que acontecem no interior das células, importantes para a produção de substâncias específicas, como por exemplo, as proteínas.

Reprodução – é o processo pelo qual uma célula origina um descendente. Esta reprodução pode ser sexuada, com a troca de gâmetas, como acontece na maior parte dos animais ou assexuada, por partição, como acontece nas bactérias.

Sendo esta uma regra geral, nem todas as formas de vida obedecem a estes processos. A mula, por exemplo, é um ser vivo que não se reproduz; o vírus também é um ser semivivo porque também não se reproduz, necessita da máquina reprodutora de uma célula para se multiplicar.

Condições macro cósmicas da vida
A Via Láctea, a galáxia à qual pertencemos, formou-se há cerca de 13,6 mil milhões de anos. Dentro dela, o nosso sistema solar formou-se há cerca de 4 mil milhões, a partir de um remoinho de gás e poeira, semelhante ao remoinho dos furacões. O centro desse remoinho foi ficando cada vez mais denso, até se formar o sol. O resto de gás e poeira formou os planetas que compõem o nosso sistema solar.

Terra – Coincidindo com o nosso tema da tridimensionalidade do real, o nosso planeta Terra é, com efeito, o terceiro no sistema solar, ou seja, está no melhor lugar para o aparecimento e sustentação de vida - nem demasiado perto do sol, como Vénus, nem demasiado longe, como Marte, apesar de estes planetas terem quase as mesmas dimensões da Terra.

A Via Láctea pode muito bem conter 100 mil milhões de sistemas solares como o nosso. Segundo as observações feitas pelo telescópio Hubble que se encontra no espaço, pode haver de 100 mil milhões a 200 mil milhões de galáxias no universo.

É providencial sermos um planeta telúrico no contexto do sistema solar, no qual a maior parte dos planetas são gasosos; é providencial o lugar que ocupamos no conjunto dos 4 planetas telúricos, o terceiro lugar entre Vénus e Marte, nem muito longe do sol como Marte, planeta demasiado frio, nem muito perto do sol como Vénus, o planeta mais quente do sistema solar.

É providencial a grandeza do nosso planeta. A Terra (6 371 km de diâmetro) é apenas um pouco maior que Vénus (6 052 km). Vénus tem uma atmosfera de composição gasosa semelhante à da Terra, antes do aparecimento da vida; porém, como se encontra demasiado perto do sol não tem condições para desenvolver vida.

Se a Terra fosse mais pequena, como Mercúrio - (2 440 km) ou a nossa lua, não teria a força de gravidade suficiente para desenvolver uma atmosfera. Se fosse 6 vezes maior, como Neptuno (24 622 km), seria como é este planeta - um planeta gasoso. Por outro lado, bastava que fosse duas vezes maior para que a vida tal como a conhecemos não fosse possível: os corpos animais ou vegetais com a mesma estrutura e massa pesariam o dobro e colapsariam.

Por fim, também é providencial a posição de todo o sistema solar em relação ao centro da nossa galáxia. O sistema solar encontra-se a 27 000 anos-luz do centro da nossa galáxia. A Via Láctea tem mais de 200 000 milhões de estrelas e um diâmetro de 100 000 anos-luz. Na nossa galáxia, há zonas de habitabilidade e zonas de inabitabilidade. A zona de habitabilidade forma um anel ao redor do centro da galáxia, estando o círculo interior a 13 000 anos-luz do centro e o exterior a 32 600 anos-luz do mesmo centro.

Esta é a zona onde podem aparecer sistemas que contenham planetas suscetíveis de albergar algum tipo de vida. Para além dos 32 600 mil anos-luz do centro da galáxia, a metalicidade das estrelas é muito baixa para permitir a formação de planetas telúricos como a Terra. Por outro lado, a menos de 13 000 anos-luz do centro, a exposição a ventos altamente energéticos, como as supernovas, seria muito hostil para a vida. Dentro da nossa galáxia, estamos, portanto, numa posição privilegiada.

Informação – Energia – Tempo/espaço
Toda a forma de vida é constituída por estes três elementos, informação e energia que ocupam um espaço durante um tempo. Todos os sistemas vivos processam informação. Sem este processo de informação, o ser vivo deixa de ser vivo. Esta informação está contida numa molécula chamada ácido desoxirribonucleico, ou "ADN", que é o código genético da vida, ou seja, a informação essencial ou base de dados de uma determinada forma de vida.

O ADN é composto por um longo filamento duplo de pares de bases, com açúcar e moléculas de fosfato. Esta espiral forma uma dupla hélice, como uma escada torcida com os pares de bases formando os degraus, e as moléculas de açúcar e fosfato os dois lados verticais da escada. As informações para a construção de todas as proteínas que formam o nosso corpo estão codificadas em moléculas de ADN. Por outras palavras, é o ADN que ordena às células quais as proteínas a fazer.

Todas as informações sobre a nossa vida corporal, desde a cor da nossa pele à cor dos nossos olhos e cabelo, a nossa estatura e até mesmo doenças que podemos vir a desenvolver no tempo, estão contidas no ADN; precisamente porque contém em si tão preciosa informação, o ADN “está fechado a sete chaves”, dentro do núcleo de cada uma das nossas células.

A formação de proteínas, é um processo muito complexo. Quando uma proteína em particular é necessária, para manter o ADN seguro e inalterado, a instrução sobre a molécula do ADN para fazer essa proteína é copiada de dentro do núcleo para outra molécula chamada ácido ribonucleico, ou ARN, que é semelhante ao ADN, mas ao contrário deste, composto por dois filamentos em forma de hélice, o ARN é composto por um só filamento também em forma de hélice e pode ser encontrado tanto no núcleo como no citoplasma da célula.

Para que tudo isto funcione, é necessária uma fonte de energia; neste caso, essa fonte de energia é o sol, em última análise, pois toda a forma de energia provém dele. Pelo fenómeno da fotossíntese, as células transformam a energia solar na energia química que vai alimentar ou fazer com que todos os processos vitais se realizem.

Podemos agora definir biologicamente a vida como sendo o que distingue os reinos vegetal ou animal dos minerais e metais, o que distingue o mundo orgânico do mundo inorgânico, o mundo inerte do mundo animado. Um ser vivo é um organismo que se autocontém e mantém certa independência do meio em que habita. Mantém um equilíbrio interno ou homeostasia e é composto por uma ou mais células que possuem um metabolismo constituído por reações químicas que mantêm a vida; tem a capacidade de crescer, adaptar-se ao meio, responder a estímulos, reproduzir-se e morrer.

Acredito que a vida tenha surgido espontaneamente na Terra quando foram criadas as condições para que tal acontecesse. Deus deu o pontapé de saída com o Big Bang e o resto foi surgindo espontaneamente, numa continua sucessão de causa – efeito – causa… e assim sucessivamente até chegarmos à vida humana.

Porém, tudo aconteceu segundo os desígnios de Deus que sabia de antemão o resultado final da sequência de causa – efeito; ou seja, sabia que levaria ao surgimento de um ser, o ser humano, semelhante a Ele. De facto, tal como Deus, o ser humano tem também a capacidade de criar; a única diferença é que Deus cria do nada, enquanto que o ser humano mistura elementos já criados para os transformar em substâncias novas.

Todos sabemos que a matéria viva ou orgânica é composta por elementos inorgânicos, porém a passagem do inorgânico ao orgânico é, ainda hoje, o principal mistério da biologia. Muitos cientistas têm conseguido recriar as condições da Terra quando a vida começou, colocando neste ambiente os elementos fundamentais à vida, mas sem conseguirem criar a vida. A vida é criação de Deus, é propriedade Dele e é como o segredo da Coca-cola que não é revelado. Os seres vivos, e nós somos seres vivos criados por Deus, não criam vida apenas a transmitem.

Átomo – Molécula orgânica – Célula
A nível subatómico e atómico a matéria é sempre inorgânica; a nível molecular pode ser orgânica ou inorgânica; a vida começa quando um conjunto de matérias orgânicas agem entre si e com a ajuda de materiais inorgânicos, como a água e o oxigénio, por exemplo. Como o átomo é o tijolo da matéria, a célula é o tijolo da vida. Como existe vida vegetal e vida animal, as células dividem-se em vegetais e animais.

A combinação de dois ou mais átomos de diferentes elementos químicos forma um composto. A menor unidade que conserva as propriedades de um composto é uma molécula, que pode ser simples, como a molécula de água (H20) e do dióxido de carbono (CO2), ou grande e complexa (macromolécula), como uma molécula de proteína ou de ácido nucleico.

Cadeias de átomos de carbono associadas a hidrogénio, oxigénio, azoto e pequenas quantidades de enxofre (s) e fósforo (P), formam a maioria dos compostos orgânicos encontrados na matéria viva. Grande parte desses compostos são classificados em quatro grupos: proteínas, hidratos de carbono, lípidos e ácidos nucleicos, que constituem a matéria prima para a formação das estruturas supra- moleculares que compõem as células, como as membranas e os organelos.

Esta matéria orgânica precisa ainda de matéria inorgânica para se constituir em vida. Por isso, além das substâncias orgânicas, encontramos no corpo humano substâncias inorgânicas como a água (H20) e os sais minerais. As células dos animais são formadas quimicamente pelos compostos orgânicos e substâncias inorgânicas, em diferentes proporções:
17,8 % de proteínas
6,2% de hidratos de carbono
11,7% de lípidos
60,0% de água
4,3% de sais minerais.

Proteínas
As proteínas são macromoleculares, constituídas por muitas moléculas menores, os aminoácidos, compostos por carbono, hidrogénio, oxigénio e azoto; alguns possuem ainda pequenas quantidades de enxofre. Vinte aminoácidos diferentes participam na estrutura das proteínas, doze são sintetizados pelas células humanas e os nove restantes são obtidos dos alimentos ricos em proteínas, como a soja, os feijões e as carnes.

Hidratos de carbono
Os hidratos de carbono são substâncias constituídas por moléculas de carbono, oxigénio e hidrogénio.
A principal característica dos hidratos de carbono é a ação energética, ou seja, se quiser obter energia corporal é só fazer uso de uma alimentação rica neste composto. Estes alimentos são, na sua maioria, de origem vegetal, como cereais, raízes, tubérculos, leguminosas e frutas.

Lípidos
Os lípidos, também designados como gorduras, são biomoléculas orgânicas compostas, principalmente, por moléculas de hidrogénio, oxigénio e carbono. Fazem parte ainda da composição dos lípidos outros elementos como, por exemplo, o fósforo. Tal como os hidratos de carbono, fornecem energia às células, participam na composição das membranas das células e atuam como isolante térmico em alguns animais. Há dois tipos de lípidos: os saturados, de origem animal, e os insaturados, de origem vegetal.

Ácidos nucleicos
Existem dois tipos de ácidos nucleicos: o ARN (ácido ribonucleico) e o ADN (ácido desoxirribonucleico), ambos formados por unidades menores, os nucleótidos. Quimicamente, são formados por ácido fosfórico que confere a acidez a este elemento, açúcares e bases azotadas. O armazenamento e transmissão da informação genética é responsabilidade dos ácidos nucleicos que são, portanto, as biomoléculas mais importantes do controlo celular, pois contêm a informação genética.

Recapitulando o caminho seguido pela vida desde o átomo, a mais ínfima forma de matéria: partícula subatómica – átomo – molécula – macromolécula – organelo – célula – tecido – órgão – sistema de órgãos – organismo ou corpo.  

Os cinco reinos da vida
É universalmente aceite por todos os biólogos que existem 5 tipos de organismos vivos no nosso planeta. Este número tem a ver com a história da Terra e com a evolução dos ecossistemas. Não é possível pensar a vida sem fazer referência ao ecossistema que a produz e sustenta. A vida desenvolve-se sempre dentro de uma adaptação simbiótica ao meio onde surge e prolifera. Os cinco reinos de vida existem independentemente uns dos outros, mas também estão filogeneticamente ligados entre si. Não seria lógico que assim não fosse.

A vida vegetal difere da vida animal e esta da vida humana, mas as três formas de vida têm antepassados comuns e uma história comum, que começa com a criação de matéria orgânica a partir de matéria inorgânica, da união de moléculas orgânicas até formar uma célula, a unidade mais pequena sem a qual não há vida. Todos os componentes de uma célula em si mesmos são matéria orgânica, mas não vida. Chegados ao nível celular, os tipos de vida divergem porque a célula vegetal é diferente da célula animal.

Quanto à sua natureza – As células são procariontes, células primitivas simples sem núcleo nem organelos, ou células eucariontes, com núcleo onde reside o ADN ou código genético e com organelos ou órgãos em miniatura, pois dentro da célula realizam as mesmas funções que os órgãos no corpo de um animal.

Quanto à sua alimentação – As células autotróficas são autossuficientes e autónomas, pois produzem o seu próprio alimento por via da quimiossíntese, fermentação ou fotossíntese. As células heterotróficas são dependentes, não produzem o seu próprio alimento para sobreviverem e fabricarem a energia que lhes dá vida, pelo que dependem de outros organismos vivos no contexto de uma cadeia alimentar.  

Em geral, as células vegetais são autotróficas, pois contêm um organelo chamado cloroplasto que, por um processo químico chamado fotossíntese, fabrica alimento e oxigénio usando a água, o dióxido de carbono e a energia solar. As células animais, ao contrário, são heterotróficas, pois em vez de cloroplastos, têm um organelo chamado mitocôndria que usa o alimento produzido pelas células vegetais assim como o seu oxigénio para produzir a energia que as mantém vivas.

Monera – Exemplos do reino monera, são as bactérias e cianobactérias, procarióticas, com membrana celular; são seres unicelulares, autotróficos ou heterotróficos, vivem sozinhas ou em colónias.
Protoctista – Exemplos deste reino são os protozoários e as algas; são eucariontes, unicelulares ou multicelulares; podem ser autotróficos ou heterotróficos, pelo que podem ser produtores de energia e alimento, assim como consumidores e decompositores de matéria.
Fungo – Exemplos deste reino são os fungos, levedura, cogumelos, bolores; são células eucariontes, multicelulares, na sua maioria são heterotróficos, por isso são consumidores ou decompositores.
Plantas – Todos os tipos de plantas, são formadas por mais de uma célula eucarionte, e realizam a fotossíntese, ou seja, são autotróficas, portanto produtoras do seu alimento e respiração, assim como do alimento e respiração dos animais. Sem as plantas não haveria animais neste planeta.
Animália – Exemplos deste reino são todos os animais; são organismos multicelulares; estas células são eucariontes porque têm núcleo e organelos, são muito complexas e são heterotróficas pois não fabricam o alimento que ingerem nem o ar que respiram. Os animais vivem dependentes uns dos outros dentro de uma cadeia alimentar que tem como base a vida vegetal.

Os três domínios da vida
Em 1977, o microbiólogo Carl Woese descobriu que dentro do reino dos moneras existiam dois seres vivos completamente diferentes, pelo que entendeu que os organismos vivos deveriam dividir-se não em cinco reinos, mas em três domínios: Arqueia – Bactéria – Eucária.

Arqueia – É um organismo vivo autotrófico, unicelular e procarionte, vive em condições extremas em águas 7 a 10 vezes mais salinas que o oceano, ou de temperatura elevada.

Bactéria – As bactérias e cianobactérias, são organismos unicelulares procariontes autotróficos, pois fazem a fotossíntese, mas também podem ser heterotróficos, ou seja, podem ser produtores e consumidores.

Eucária – Exemplos: protozoários – fungos – plantas – animais. É eucarionte unicelular ou multicelular, autotrófico ou heterotrófico, produtor, consumidor e decompositor.

Origem química da vida
Sabemos que a força da gravidade foi a responsável pela aglutinação da matéria e da poeira espacial e pela formação de planetas e estrelas. Pode ter havido uma força análoga em biologia que levou diferentes moléculas inorgânicas a aglomerar-se para formar moléculas orgânicas que, por sua vez, se juntaram para formar moléculas orgânicas mais complexas, até formarem a primeira: o coacervado e daí a primeira arqueia, célula procarionte.

As condições atuais do nosso planeta são favoráveis à proliferação da vida em todas as suas formas, mas não ao começo desta. Uma das razões é a presença do oxigénio na atmosfera, numa percentagem aproximada de 21%, e do seu derivado nas altas camadas da atmosfera, o ozono, que não permite a entrada dos raios ultravioletas. A presença de oxigénio na atmosfera oxidaria os compostos orgânicos simples e evitaria que estes se combinassem em moléculas mais complexas.

Há 3 mil milhões de anos, a Terra era rica em CO2, metano, amoníaco, mas sem oxigénio. Também não havia ozono, pelo que os raios ultravioletas bombardeavam continuamente a Terra. Isso favoreceu a formação de moléculas mais complexas a partir dos compostos orgânicos simples.

Stanley Miller, da Universidade de Chicago, realizou em laboratório uma experiência. Colocou num balão de vidro: metano, amoníaco, hidrogénio e vapor de água. Submeteu-os a aquecimento prolongado. Uma centelha elétrica de alta tensão cortava continuamente o ambiente onde estavam contidos os gases.

Ao fim de certo tempo, Miller comprovou o aparecimento de moléculas de aminoácido no interior do balão. Pouco tempo depois, em 1957, Sidney Fox submeteu uma mistura de aminoácidos secos a aquecimento prolongado e demonstrou que eles reagiam entre si, formando cadeias peptídicas, com o aparecimento de moléculas proteicas pequenas.

Destas moléculas a uma célula de planta atual vai um longo caminho; não se pode dizer que o que os cientistas conseguiram em laboratório seja vida. Os cientistas chegaram até onde é possível chegar, porque há fatores importantíssimos que explicam o aparecimento da vida e que não podem ser testados em laboratório nem nunca poderiam ser. Um deles é a casualidade e as várias circunstâncias históricas dos ecossistemas ao longo de milhares e milhões de anos de História do nosso planeta; o outro é o mesmo fator tempo.

Os passos de matéria inorgânica a matéria orgânica, a associação de diferentes elementos orgânicos até formar moléculas mais complexas e por fim a associação destas até formar coacervados e arqueias, é um processo que levou milhares de milhões de anos. Isto não pode ser feito nem nunca poderá ser feito em laboratório, de modo a obter uma prova contundente da origem química da vida. Porém, tudo indica que assim tenha acontecido.

Sequência da vida
Os seres vivos mais primitivos surgiram nas profundezas do oceano nas fontes térmicas e eram arqueias autotróficas quimiosintetizantes, ou seja, bactérias que fabricavam a sua energia vital com sulfeto ferroso e gás sulfídrico. Sulfeto ferroso + gás sulfídrico = sulfeto férrico, hidrogénio e energia.  

Depois, surgiram seres vivos heterotróficos que viviam em lagos e mares, sem oxigénio para fazer a respiração celular. Produziam a fermentação, a mais conhecida das quais é a alcoólica: o açúcar transformava-se em metanol e dióxido de carbono, libertando energia que alimentava o crescimento dos primeiros seres vivos. 


Muitos microrganismos começaram a fazer fermentação, produzindo um aumento considerável de dióxido de carbono na atmosfera. Quando o caldo primordial que permitia esta fermentação começou a escassear, a vida teve de se adaptar à nova circunstância.

Surgiram assim as cianobactérias que tiraram partido da abundância de CO2 na atmosfera e começaram a fazer com este gás a fotossíntese. Assim começou a formar-se o oxigénio na atmosfera. Quando se verificou um aumento considerável de oxigénio na atmosfera, a vida adaptou-se de novo para aproveitar este oxigénio e assim nasceram as células com metabolismo, ou seja, as células heterotróficas e a vida animal. Recapitulando a sequência dos processos químicos que estão na origem da vida: quimiossíntese – fermentação – fotossíntese ¬¬– respiração ou metabolismo.

Evolução das procariontes em eucariontes
Os primeiros seres vivos eram muito simples, constituídos por uma única célula com organização procariótica, ou seja, desprovida de uma carioteca e dos organelos membranosos do citoplasma. Os cientistas imaginam que os seres atuais mais semelhantes aos primeiros seres vivos que habitaram o nosso planeta sejam as bactérias arqueias, capazes de sobreviver em ambientes extremos como fontes de águas quentes, lagos altamente salinos e pântanos. Acredita-se que esses ambientes tenham certas semelhanças com os que existiram na Terra primitiva, onde se desenvolveram as primeiras formas de vida.

As células mais complexas (eucariontes) surgiram há 2 mil milhões de anos, provavelmente como resultado da associação simbiótica entre células procariontes. As evidências de que as mitocôndrias presentes em praticamente todas as células eucariontes e os cloroplastos presentes em células de algas e de plantas descendem de bactérias endossimbióticas são, até ao momento, irrefutáveis.

Como aconteceu? Uma arqueia enredou uma outra bactéria com os seus tentáculos e engoliu-a. A bactéria engolida passou a trabalhar para a arqueia que a engoliu, transformando-se num organelo desta. Assim nasceu uma célula eucarionte de uma procarionte que ingeriu outra procarionte. Se uma arqueia autotrófica ingere outra autotrófica e a ingerida se transforma, no interior da primeira, em cloroplastos, temos uma célula vegetal por ação do organelo que produz a fotossíntese.

Se, por outro lado, uma arqueia heterotrófica ingere outra heterotrófica, a ingerida vai transformar-se no interior da que a ingeriu em mitocôndria que vai realizar a respiração celular, ou seja, o metabolismo e assim temos uma célula animal.

No âmbito dessa estratégia, as células resultantes da multiplicação de uma célula inicial passaram a viver juntas e a dividir as tarefas de sobrevivência. Com o tempo, surgiram organismos com células cada vez mais especializadas no desempenho de funções específicas, o que permitiu o aparecimento dos tecidos e dos órgãos.

Vida vegetal baseada na fotossíntese
As cianobactérias são a primeira forma de vida vegetal que existiu no nosso planeta. A sua vida é constituída por um único processo químico: a fotossíntese. Por este processo, estas bactérias, usam a luz solar para dividir a água nos dois gases que a compõem, usando o hidrogénio para produzir alimento e soltando o oxigénio como efeito secundário. Ao fazer isto, prepararam inicialmente o planeta para a vida animal. A vida vegetal está para a animal como João Batista está para o Messias: João Batista preparou o caminho do Senhor, a vida vegetal preparou o caminho da vida animal.

A alga Archaeanobacteria foi a primeira forma de vida, seguida pelas cianobactérias. As primeiras ainda se encontram hoje em ambientes parecidos com o da Terra há milhares de milhões de anos, nas profundezas hidrotermais do oceano. A cianobactéria é uma célula procarionte sem núcleo. As algas atuais são células eucariontes, ou seja, com núcleo. Estas formaram-se há 1,8 mil milhões de anos, quando o oxigénio da atmosfera já ascendia a 1%. A vida continuou bem simples até há 600 ou 700 milhões de anos.

Não se sabe como as primeiras plantas terrestres surgiram, mas acredita-se que foram obra de um grupo de algas verdes denominadas Chlorophytaque, com um genótipo e fenótipo bem diversos que permitiram a sua sobrevivência em áreas pantanosas sujeitas a períodos alternados de inundação e seca.

Da forma mais simples de planta, a cianobactéria, à forma mais complexa de planta aquática ou terrestre, tudo é uma questão de tempo, evolução e adaptação ao meio. A vida vegetal nasceu no mar e invadiu a terra, a vida animal, como veremos a seguir, também nasceu no mar e depois invadiu a Terra.

Vida animal baseada no metabolismo
Os vegetais são autónomos e não se comem uns aos outros, pois fabricam o próprio alimento e ainda nos dão o oxigénio que respiramos. As plantas são pacíficas, não têm uma cadeia alimentar, não precisam de se deslocar para buscar alimento, mas têm algum movimento: tal como os painéis fotovoltaicos modernos que acompanham o sol colocando-se sempre perpendicularmente a este, assim as plantas todas são como os girassóis, orientando as suas folhas para o sol, de modo a apanhar melhor os seus raios.

Os animais são violentos, sobrevivem primeiro comendo as plantas e depois comendo-se uns aos outros, numa cadeia alimentar que termina onde começa: nasce a erva que é comida pela gazela que é comida pelo leão, morre o leão que é comido pela hiena e pelos abutres, morrem estes e o seu corpo é comido por inúmeros vermes que, ao morrer, fecundam a terra onde volta a nascer a erva.

Ou seja, por um lado com a sua morte os animais fertilizam a terra onde crescem as plantas, retribuindo a estas o que destas receberam e assim recomeça o ciclo.  Seguem a lei de Lavoisier que diz que na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.

O mesmo acontece a nível celular: as células vegetais são livres, independentes, autónomas, dependem apenas de si mesmas para viver, pois são uma fábrica de alimento e oxigénio. Por outro lado, as células animais são dependentes, não autónomas, consomem o alimento das células vegetais e também o seu oxigénio.

A vida humana baseada no metabolismo e na sublimação
Embora com antepassados comuns, há saltos qualitativos entre estas três formas de vida. A vida das plantas baseia-se na fotossíntese e a dos animais no metabolismo. Em que se baseia a vida humana?  Fisicamente, em quase nada diferimos dos animais mais próximos de nós na evolução das espécies. Estudos mostram que partilhamos o mesmo ADN que o chimpanzé (entre 96% ou 98%).

Não é possível estabelecer a diferença entre a vida humana e a vida animal a nível físico, pois seria uma diferença quantitativa e reduzida. É a nível qualitativo que temos de estabelecer a diferença.

Há, de facto, um salto qualitativo entre os animais e os humanos, como o há entre as plantas e os animais. Este salto qualitativo é um triplo salto, formado por três caraterísticas que o ser humano possui e o animal não: autoconsciência – independência do meio ambiente – liberdade de escolha.

Utilizaremos a parábola do Filho Pródigo que é, provavelmente, a joia da literatura mundial, a história mais pequena em palavras e maior em conteúdo. Esta parábola fala da dignidade e identidade do Homem no confronto com a identidade e misericórdia de Deus.

A parábola demonstra que tanto a autoconsciência como a independência em relação à natureza e a liberdade de escolha não são dados adquiridos que não é possível perder. O mito de Tarzan prova que uma cria humana educada por animais tem aparência humana, mas fundamentalmente será um animal.

Autoconsciência
E, caindo em si, disse: ‘Quantos jornaleiros de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e vou dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus jornaleiros.’ E, levantando-se, foi ter com o pai. Lucas 15, 17-20

Debaixo do domínio das paixões o ser humano perde a noção de si mesmo, como se estivesse alcoolizado, não sabe o que faz nem o que diz. O filho pródigo estava de facto sob o domínio da riqueza e dos prazeres que esta lhe proporcionava. Só quando caiu em si, se deu conta do erro que tinha cometido.

Deus interior intimo meo – Deus está mais perto de mim do que eu de mim mesmo. Por isso, quando estou divorciado de Deus, também o estou de mim mesmo, pois Deus está mais perto de mim que eu estou de mim mesmo. Um divórcio de Deus é um divórcio de mim mesmo. Karl Marx disse que o Homem é o momento em que a Natureza ganha consciência de si mesma. É certo que ele o dizia no contexto do seu materialismo dialético e histórico, para reduzir tudo a matéria.

Mas, como depois de Einstein a energia é uma forma de matéria e a matéria uma forma de energia, o mesmo poderíamos dizer entre o físico e o espiritual. O Espírito tem manifestações materiais assim como a matéria tem manifestações espirituais. Uma das caraterísticas físicas entre o Homem e o animal é o movimento do polegar oponível em relação aos demais dedos. A autoconsciência é a oposição ou o confronto que o Homem faz perante si mesmo.

Independência face à Natureza
Então, foi colocar-se ao serviço de um dos habitantes daquela terra, o qual o mandou para os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. Lucas 15, 15-16

Os animais não têm nenhum poder sobre si mesmos, seguem os ditames da Natureza e a esta obedecem acriticamente. Não têm liberdade de escolha pois não estão livres da natureza, com a qual vivem em simbiose. No tempo em que os seres humanos eram animistas, entendiam que a Natureza era tão pessoal como eles próprios; as coisas tinham a sua própria alma. Esta etapa do desenvolvimento humano tem um paralelo no desenvolvimento da criança. As crianças dialogam com as coisas e se se magoam com uma delas chamam-na má.

Conhecer significa dominar; à medida que o ser humano foi conhecendo a Natureza e as suas leis, foi-se emancipando dela e também roubando a alma às coisas que conseguia conhecer e dominar. Acabou com um punhado de realidades que não conseguia dominar de todo e chamou-lhes deuses. Assim, havia um deus para cada realidade, o tutor dessas mesmas realidades. Vénus, a deusa do amor, Marte, o deus da guerra, Cronos, o deus do tempo, e assim por diante….

O domínio completo da Natureza deu-se quando o ser humano entendeu que havia um só Deus criador do Céu e da Terra, que cedeu a administração da Natureza a si mesmo, também sua criatura, mas criada à sua imagem e semelhança. Assim como Deus Criador mantém uma distância em relação às criaturas, assim o Homem se distancia delas também, como seu tutor e administrador.

O filho pródigo perdeu a independência da Natureza com o seu pecado, pois passou a entrar ao serviço de um dos habitantes daquela terra. Para um judeu, o serviço em causa não poderia ser mais humilhante: guardador de porcos, um animal impuro.

Em vez de amar a Deus sobre todas as coisas e assim se emancipar delas, manter-se livre e independente delas, o ser humano ama muitas vezes mais as criaturas que o Criador e faz-se dependente de substâncias e de realidades como o poder, a fama, as riquezas. Desta forma, perde a independência e a liberdade, como o filho pródigo e o jovem rico que não era livre para seguir o mestre que o chamava porque, as riquezas o tinham agrilhoado.

Liberdade de escolha
Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte dos bens que me corresponde.’ E o pai repartiu os bens entre os doisLucas 15, 11-12

Do ponto de vista físico, temos tudo em comum com os animais que estão mais próximos de nós na evolução das espécies. O que temos que eles não têm é a capacidade de dar sentido às nossas vidas, de ter as nossas vidas nas nossas mãos e de podermos fazer o que quisermos com ela... Então, se fisicamente estamos sujeitos ao metabolismo, espiritualmente temos o poder de direcionar a energia que obtemos dele por via da sublimação, para um objetivo, que pode não ser o natural. Por exemplo, podemos transformar a energia Eros em amor universal, enquanto os animais só podem vivê-la instintivamente de forma sexual e reprodutiva.

A liberdade do Homem é a impotência da omnipotência divina. É talvez a única coisa que Deus não pode fazer. Teoricamente pode desrespeitar a liberdade do Homem, mas não o faz e nunca o fará. De alguma forma ou na prática não pode fazê-lo. O pai do filho pródigo sabia muito bem que o filho ia errar e sofrer as consequências, mas deixou-o ir. O filho teria que aprender com os próprios erros, é assim que aprendem os seres humanos.

Repara que coloco hoje diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal. Assim, ordeno-te hoje que ames o Senhor, teu Deus, que andes nos seus caminhos, que guardes os seus mandamentos, preceitos e sentenças. Assim viverás, multiplicar-te-ás e o Senhor, teu Deus, te abençoará na terra em que vais entrar para dela tomar posse. Mas se o teu coração se desviar e não escutares, se te deixares arrastar e adorares deuses estranhos e os servires, declaro-vos hoje que, sem dúvida, morrereis; os vossos dias não se prolongarão na terra na qual ides entrar, passando o Jordão, para dela tomar posse. Deuteronómio 30, 15-18

Somos verdadeiramente livres? Talvez não, porque não há uma alternativa igualmente válida; como diz a leitura, a alternativa à vida é a morte. No mesmo tom, Jesus não disse que era um dos caminhos, verdades e vidas, mas sim que era o único caminho, verdade e vida. (João, 14, 6). E acrescentou: quem não recolhe comigo não é que recolha com outro, não porque não há outro, quem não recolhe comigo, dispersa. (Mateus 12, 30)

Anjos - Animais – Homem – Segundo a teologia rabínica judaica, Deus criou três tipos de criaturas, os anjos, os animais e os seres humanos. Os anjos, que ele fez a partir da sua palavra pura, não têm vontade de fazer o mal, não podem desviar-se por um momento do seu propósito. As bestas só têm os seus instintos para guiá-las. Elas também seguem as ordens do seu criador.

Então Deus tomou uma pequena quantidade de terra e fez homem e mulher. Este é um ser com o poder de desobedecer, só ele entre todas as criaturas, tem liberdade de escolha. Estamos suspensos entre a clareza dos anjos e os desejos das bestas. Deus deu-nos uma escolha que é, simultaneamente, um privilégio e um pesado fardo.

Alguns dizem que os anjos tiveram um período de prova; os que não a superaram são os demónios, os que superaram são os anjos atuais. Dizem que têm liberdade de escolha, mas não pecam porque vivem no Céu; se vivessem na Terra, poderiam pecar, dizem outros. Nada disto faz sentido: se têm liberdade de escolha, em teoria, podem pecar e, se podem pecar, não há nenhuma garantia de que não o farão, mesmo no Céu, pois no Céu estavam os que pecaram e que agora são os demónios.

Segundo a lei de Murphy, se algo é possível fazer-se, haverá alguém no decorrer da História que o fará. Se não podem pecar, então não têm liberdade de escolha e, se não a têm, nunca a tiveram. Desta forma se conclui que o demónio, ou diabo ou Satanás ou o que quer que seja, não existe, é um mito ao qual os autores bíblicos aludem. A descrição ou relato da queda ou desobediência dos anjos não se encontra na Bíblia.

Conclusão – A fotossíntese das plantas transforma a energia do sol em alimento; o metabolismo dos animais transforma esse alimento em energia vital; a sublimação do Homem canaliza essa energia para fins espirituais.

Pe. Jorge Amaro, IMC



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