15 de janeiro de 2021

3 Coordenadas do espaço: Vertical - Horizontal - Diagonal

Horizontal, vertical e diagonal é a direção ou orientação que uma linha pode tomar. O estudo da direção ou orientação de uma linha faz parte da geometria que é um ramo da matemática. Como o próprio nome indica, geo+metria significa Terra e “metria” ou medição; por esse motivo, tudo o que aqui diremos terá a ver com o espaço terrestre e não se aplicará fora dele no espaço exterior, no universo ou no cosmos.

Horizontal, vertical e diagonal são palavras essenciais, ricas de significado, usadas em vários e diversos campos do saber. Em cada um destes campos, vão adquirindo conotações diferentes sem nunca perderem a sua essência. Vejamos o seu uso e aplicação em alguns desses campos do saber.

Horizontal - Vertical – Diagonal em geometria
Vertical, horizontal e diagonal, referem-se à direção ou orientação de uma linha no espaço. Uma linha é o trilho visível criado por um ponto que se move no espaço. Em si mesma, é unidimensional e pode variar em forma, largura, comprimento e direção. Em forma, pode ser reta ou curva, em largura, pode ser fina ou grossa, em direção, pode ser vertical, horizontal ou diagonal.

Horizontal
Uma linha horizontal corre da esquerda para direita. Vem da palavra horizonte, a linha imaginária que os nossos olhos traçam quando olhamos ao longe numa planície ou num planalto. Todas as linhas horizontais são paralelas ao horizonte. Olhar para o horizonte é relaxante porque é sugestivo de um sentimento de repouso. Ao contrário das outras duas linhas, não sugere movimento, nem a favor nem contra a força da gravidade.

Vertical
É uma linha perpendicular à terra ou a uma linha horizontal e estende-se para cima, em direção ao céu. Implica um movimento ascendente ou descendente, dependendo do ponto onde estabelecemos o princípio e o fim da linha. Neste sentido, comunica um sentido de infinito para além do alcance humano. A linha vertical sugere, portanto, espiritualidade, abertura ao divino, autossuperação, elevação da condição humana.

Diagonal
Resulta da combinação de uma linha horizontal e de uma vertical. Não é perpendicular à terra, como a vertical, nem paralela ao horizonte, como a horizontal. Como a vertical, pode ser ascendente ou descendente. As linhas verticais e horizontais combinadas formam um ângulo de 90 graus e compõem estruturas estáveis e firmes. Ao contrário, a linha diagonal transmite um sentido de instabilidade, uma tensão não resolvida em relação à força da gravidade. O ângulo que forma ao encontrar uma linha vertical ou horizontal não é tão estável como o que formam a vertical com a horizontal.  

Triangulo e triângulos
A união da linha reta com a horizontal e a diagonal forma a figura geométrica mais simples - o triângulo – e, neste caso, um triângulo retângulo. Dois triângulos formam tanto um retângulo como um quadrado e um losango. Um pentágono é formado por 5 triângulos, um hexágono por seis; um círculo é formado por um número indeterminado de triângulos a partir do centro, como os raios da roda da bicicleta.

Vertical - Horizontal – Diagonal em geografia
Desde tempos imemoráveis que o Homem tem necessidade de se orientar no tempo e no espaço, de saber onde está e para onde caminha. O próprio verbo “orientar” provém da palavra oriente, o lugar no horizonte onde nasce ou se levanta o sol (por isso mesmo também pode designar-se como Levante ou Leste). Ao nascer, o sol ergue-se no horizonte, descrevendo uma linha circular, um arco no céu, desde o Oriente até ao Poente, Ocidente ou Ocaso, lugar onde desce abaixo da linha do horizonte e deixa de ser visto.

À medida que o sol sobe no horizonte, segundo o grau de inclinação que este tem em relação à Terra,  descreve uma linha horizontal, quando os seus raios estão paralelos ao horizonte no momento de nascer, seguida por muitas diagonais até ao seu zénite, momento em que descreve uma linha perpendicular em relação ao nosso planeta, descendo para o ocaso em linhas outra vez diagonais, até se colocar de novo na horizontal e em posição paralela à Terra no momento em que se põe.

Hoje sabemos que o “movimento do sol” é ilusório que não é o Sol que se move, mas sim a Terra. Porém, durante milhares de anos, foi este pretenso movimento que providenciou as coordenadas pelas quais o Homem se orientou e se situou, tanto no tempo (os relógios de sol, as doze horas do dia, os doze meses do ano), como no espaço (o Oriente e o Ocidente).   

Talvez por causa da oscilação do eixo da Terra, que o nosso planeta tem 68% de terra no hemisfério norte e só 32% no hemisfério sul, tal como tem 68% de terra no Oriente e só 32% no Ocidente. Por isso, do ponto de vista migratório, quando o Homo Sapiens saiu de África pelo Médio Oriente, uns foram para o Ocidente, para a Europa e outros para o Oriente, para a Ásia e, mais tarde, para a América pelo estreito de Bering.

Também do ponto de vista civilizacional, a primeira cultura surge no Crescente Fértil, desenvolvendo-se depois para Ocidente, até ao Império Romano e só depois para Norte; a segunda na Ásia, Índia e China e a terceira na América Central, com os maias, astecas e incas. Do ponto de vista do comércio, a primeira rota comercial estabelecida - a Rota da Seda - vai do Ocidente ao Extremo Oriente, Índia e China.

Perto do Equador, todas as estrelas se levantam no Oriente e se deitam no Ocidente. As estrelas que estão na perpendicular em relação ao eixo da Terra, entre elas a Estrela Polar, oscilam muito pouco durante a noite, por isso nem se levantam nem se deitam. A Estrela Polar, relativamente fixa em relação à Terra, foi designada como o Norte celestial e assim nasceu a outra coordenada de orientação no espaço terrestre, sendo o Sul o seu contrário numa linha vertical.

Norte celestial – O lugar onde se encontra a Estrela Polar, na constelação da Ursa Menor, é hoje a nossa Estrela do Norte. Como o eixo da Terra tem um movimento parecido com o de um pião, no ano 7 500, será Alpha Cephei na constelação de Cepheus; no ano 11 500, será Delta Cygni na constelação de Cygnus a estrela que aponta ao Norte; no ano 14 000, será a estrela Vega na constelação Lyra; no ano 23 000, será a estrela Thuban na constelação Drago; finalmente, no ano 26 000, a Estrela Polar será o nosso Norte outra vez.

O Norte polar ou geográfico - ou Polo Norte é o lugar do nosso planeta onde convergem todas as linhas de longitude a norte, sendo o Polo Sul o lugar onde estas mesmas linhas convergem a sul. É o centro do hemisfério norte, assim como o Polo Sul é o centro do hemisfério sul. Desde o espaço por cima do Polo Norte, a Terra move-se em sentido contrário aos ponteiros do relógio; vista do Equador, move-se de Ocidente para Oriente, ou seja, da esquerda para a direita. O movimento de rotação da Terra faz com que esta seja achatada nos polos e dilatada no Equador.

O Norte magnético – Durante muito tempo pensou-se que o norte geográfico e o norte magnético eram um só. Em 1831, o explorador inglês James Ross verificou que não coincidiam. Enquanto que o norte geográfico resulta do movimento de rotação da Terra, como vimos, o norte magnético é um campo magnético formado por ferro líquido por baixo da superfície da Terra; a agulha da bússola aponta para esta massa de ferro fundido que dista 22 graus do polo geográfico. Como o Norte celestial muda, assim também muda o Norte magnético, por ser constituído por ferro fundido; atualmente, a norte do Canadá está a mover-se para a Sibéria.

Norte – Sul – Este - Oeste
A linha vertical Norte-Sul, com a linha horizontal Este-Oeste, formam a cruz dos quatro pontos cardeais pelos quais nos orientamos no nosso planeta. O ponto de encontro das duas linhas define o lugar preciso onde nos encontramos, seja este no cimo de uma montanha ou no fundo do mar.

Todos os lugares no nosso planeta se identificam pelo ponto de encontro da linha vertical Norte-Sul com a linha horizontal Este-Oeste; pelos graus de latitude que distam em relação ao Equador, a norte ou a sul deste, e pelos graus de longitude que distam em relação ao meridiano de Greenwich, a Leste ou a Oeste deste. A linha do Equador é real pois corresponde ao centro da Terra; a linha ou meridiano de Greenwich é convencional.

Aos quatro pontos cardeais, na chamada Rosa dos Ventos, juntam-se outros quatro pontos intermédios (entre os pontos cardeais), também chamados de colaterais, formados por duas linhas diagonais: Nordeste-Sudoeste, Noroeste-Sudeste.

GPS – Sistema de posicionamento global
Este sistema que nos facilita tanto a vida, para quem anda na cidade ou mesmo no campo, não nasceu para nos guiar automaticamente, mas sim para guiar mísseis e drones até ao lugar onde deviam atuar. O Homem sempre foi mais inventivo para criar artefactos de guerra ou para o negócio e acumular de riqueza do que para criar artefactos de paz, para a saúde e harmonia entre os povos. Tal como o GPS, a energia atómica foi inventada para fazer bombas e não para produzir eletricidade, como hoje acontece.

O Departamento de Defesa dos Estados Unidos criou e vem mantendo o sistema GPS desde 1978, embora o tenha declarado totalmente operacional apenas em 1995. O GPS entrou em ação pela primeira vez num campo de batalha na Guerra do Golfo (1990-1991).

O funcionamento do GPS segue o nosso refrão da tridimensionalidade; funciona por um processo chamado de triangulação. Ou seja, para funcionar, o nosso aparelho de GPS precisa de captar o sinal de três satélites; com os sinais dos satélites, o recetor de GPS calcula a distância entre eles pelo intervalo de tempo entre o instante local e o instante em que os sinais foram enviados; o lugar onde o aparelho se encontra na Terra corresponde à intersecção dos três sinais.

Para que a posição do recetor seja sempre atualizada, uma vez que nos movemos continuamente ao viajar de carro, os envios desses sinais ocorrem constantemente a uma velocidade de 300 mil quilómetros por segundo (velocidade da luz) no vácuo. Uma vez encontrado o lugar onde estamos, é fácil calcular a estrada e o tempo de percurso até ao destino, a partir de um mapa que funciona dentro do aparelho de GPS.

Somos seres espácio-temporais, ocupamos um espaço mutante e um tempo. O tempo e o espaço usam praticamente o mesmo vocabulário. No tempo, usamos horas, minutos, segundos; no espaço usamos graus, minutos e segundos. Agora são 17 horas, 16 minutos e 13 segundos; o lugar onde me encontro está a 43º44’34’’- Norte, 79º35’33’’- Oeste, ou seja, na cidade de Toronto, na província de Ontário, no Canadá.

Norte versus Sul
Norte e Sul não são só duas coordenadas geográficas, são também dois lugares que evocam um desigual desenvolvimento económico. O Norte é rico e o Sul é pobre, a fronteira entres os países pobres e os países ricos é o mar Mediterrâneo na Europa, onde tantos pobres se afogam fugindo da fome, da peste, da guerra. Nos Estados Unidos é a fronteira com o México, onde os que atravessam para o Norte podem ser alvejados como animais, ficarem detidos ou acabarem deportados.

O Norte explora o Sul de mil e uma maneiras: importa matérias primas a baixo custo, exporta produtos manufaturados no Norte a um preço elevado. Explora a mão de obra, pagando salários de miséria, como acontecia com a Nike que pagava um dólar por mês a crianças que trabalhavam clandestinamente em subterrâneos. Aproveitando-se da falta de identificação pessoal dos povos do Sul, o Norte mata e esfola jovens e adolescentes para lhes tirar os órgãos que depois se transplantam no Norte.

O fosso entre os ricos e os pobres tem hoje proporções abismais e impensáveis. 1% da população mundial possui 54% da riqueza mundial, enquanto que 99% da população mundial possui só 46%. Como é possível que este fosso exista num mundo que está globalizado? Num mundo globalizado deveria ser realidade a lei do princípio dos vasos comunicantes.

Ou seja, se eu tenho duas tinas de água, uma quase cheia e a outra quase vazia, ao existir comunicação entre as duas, deveriam de facto ficar com o mesmo nível de água. Por que isso não acontece a nível comercial e social quando os países ricos e pobres comunicam entre si? A comunicação é feita por intermédio de válvulas, ou seja, o movimento faz-se só num sentido. É isto que conseguem as leis do mercado: fazer com que os ricos sejam sempre cada vez mais ricos e os pobres sempre mais pobres.

A Greenpeace afirma que se a população mundial vivesse como vivem os povos do Norte, a Terra só poderia sustentar os seus filhos por um par de meses, antes de se esgotarem os seus recursos e acabar contaminada ao ponto de ser inabitável. Como os ricos não estão dispostos a abdicar do seu nível de vida, nem estão interessados em que a Terra seja habitável, tudo fazem para manter os pobres na sua pobreza, defendendo a sua riqueza com unhas e dentes e com todas as armas que têm.

Um outro problema que agrava ainda mais a diferença entre ricos e pobres é o racismo: o Norte é branco o Sul é negro ou moreno. Os povos do Norte pensam que são mais inteligentes, mais trabalhadores, mais poupados, mas na realidade isso não passa de um mito. Já noutro texto observámos que as características fisiológicas dos povos, como a cor da pele, dos olhos, do cabelo, a estatura, a forma do cabelo, dos olhos, do nariz, etc. se devem a pelo menos 25.000 anos de adaptação ao lugar em que cada um vive.

A necessidade aguça o engenho. No Sul o clima é mais ameno e a natureza dá tudo; por isso, o homem não precisa de se esforçar nem de poupar muito, pois a natureza está sempre a produzir abundantes frutos. O Norte é frio, a Natureza só produz uma vez ao ano com grande esforço do homem nos trabalhos agrícolas, pelo que é preciso poupar. Além disso, a vida é mais difícil e o desafio faz a inteligência funcionar para encontrar solução para muitos problemas.

Ocidente versus Oriente
Entre o Extremo Oriente e o Ocidente, temos o Médio Oriente que todos os dias está nas notícias. O conflito entre Israel e os Palestinianos parece não ter solução porque não se olha ou se ignora a História. Afirmações, como a da Unesco, de que Israel não tem nenhuma ligação histórica a Jerusalém só podem ser emitidas por um ignorante e, no entanto, foram feitas por este organismo.

Quem não tem nenhuma ligação histórica a Jerusalém é o povo palestiniano, os muçulmanos. A lenda de que Maomé viajou de Meca para Medina e de Medina para Jerusalém, de Jerusalém para o Céu e voltou, não era reconhecida nem pela principal mulher do profeta. Não passou de um sonho.

Todos os territórios que Israel ocupa fizeram parte daquele país durante os reinados que se seguiram a David e até aos tempos do Império Romano. O estado Palestiniano nunca existiu fora da Faixa de Gaza; foi para aí que imigraram os filisteus que provinham da ilha de Creta, a atual Chipre e se estabeleceram na Faixa de Gaza. Essa faixa sempre foi a Palestina.

Aproveitando a expulsão dos judeus pelos Romanos no ano 70, os palestinianos ocuparam o que tinha sido o estado de Israel, mas nunca constituíram uma união política, nunca formaram um país. O Médio Oriente foi passando de mão em mão, até cair na mão dos ingleses durante a II Guerra Mundial e daí passou para o estado de Israel, constituído depois da guerra.

Para além do conflito entre Israel e Palestina, o Médio Oriente tem sido o berço de organizações terroristas muçulmanas, como a Alcaeda ou o Estado Islâmico. Com o fim da guerra fria e do antagonismo entre comunismo e capitalismo, com o atentado às Torres Gémeas de Nova Iorque, começou uma guerra entre o Ocidente de tradição cristã e o Oriente de tradição muçulmana, uma guerra com escaramuças na Síria, no Iraque, no Afeganistão e com atentados terroristas em quase todo o mundo.

A razão, no meu entender, pode estar ligada à derrota dos muçulmanos pelos cristãos e à conquista da hegemonia mundial por parte destes. Uma outra razão pode ser o sentimento de inferioridade dos muçulmanos em relação ao ocidente, o que os faz agressivos; e uma outra ainda poderá ser o medo de perderem a fé numa religião que não se adapta aos tempos modernos nem à natureza humana do ponto de vista da verdade.

A religião muçulmana ficou para trás do ponto de vista psicológico, teológico, filosófico e social. A Idade da Razão não passou por ela, como aconteceu com o cristianismo. Por isso e como não fazem reformas, temem perder os fiéis e tornam-se agressivos.

Em termos culturais, as diferenças entre o Ocidente e o Oriente dizem respeito aos países da Europa, América e Austrália em relação ao Oriente composto pela China, Índia, Japão e Coreia. Em geral, o Oriente é mais contemplativo, o Ocidente mais ativo, o Oriente mais religioso e espiritual, o Ocidente mais tecnológico, mais materialista e consumista. Refletindo isto mesmo, as linhas ou faixas das bandeiras ocidentais são horizontais, terra a terra; as do oriente são verticais. A medicina no Ocidente é química, no oriente é energética. O calendário ocidental é solar, o oriental é lunar.

A alimentação ocidental é salina, a oriental é mais requintada, mais temperada, mais doce e agridoce. No Oriente, a comida é preparada e devidamente cortada na cozinha, no ocidente ainda vem em bruto pelo que se necessita de garfo e faca para a consumir; no oriente não há facas sobre a mesa.

A cor de luto no ocidente é o preto, no oriente é o branco; os orientais vestem roupas coloridas, de cores garridas; no Ocidente, as cores são mais escuras, opacas, sem beleza. O Ocidente escreve da esquerda para a direita, o Oriente da direita para a esquerda. O Oriente continua com a escrita pictórica, o Ocidente usa a escrita alfabética; as línguas orientais falam-se com sons guturais, produzidos na garganta e no nariz; as línguas ocidentais produzem-se na boca com a língua e com os lábios.

Vertical - Horizontal – Diagonal na comunicação
A direção da linha reta, vertical, de cima para baixo ou de baixo para cima, horizontal, da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, ou diagonal, ou seja, transversalmente de cima para baixo ou de baixo para cima, é importante para definir os diversos tipos de comunicação que existe no interior das organizações, associações, instituições ou empresas.

Comunicação vertical
A comunicação vertical é típica em organizações de estrutura piramidal, como o exército, a Igreja Católica. Este tipo de comunicação supõe que uns estão em cima, nos escalões superiores de comando e outros estão nos escalões inferiores e obedecem.

Desde o soldado raso, cabo, sargento, Aspirante, Alferes, Tenente, Capitão, Major, Tenente-coronel, Coronel, General, até ao Marechal, a comunicação nunca se faz horizontalmente de igual para igual, é sempre vertical. Mesmo quando um grupo de capitães se encontra, ou seja, pessoas do mesmo estatuto, a comunicação entre eles não é horizontal, continua a ser vertical: tem mais poder o capitão com mais idade. Por isso se diz que “na tropa a idade é um posto, porque se entende que os mais velhos têm mais experiência, que é ainda, segundo o ditado, a mãe da ciência, já que sabe mais o diabo por ser velho que por ser diabo”.

Na Igreja Católica, acontece o mesmo tipo de comunicação que existe nas forças armadas. O poder vem de cima para baixo, Papa, Cardeal, Bispo, sacerdote, diácono, leigo. O Concílio Vaticano II pretendia democratizar mais a Igreja, o que acabou por não acontecer, pois o Papa João Paulo II encarregou-se de o arquivar e neutralizar durante todo o seu pontificado que foi demasiado longo. Hoje, quando já precisávamos de um Vaticano III, ainda não aplicamos o Vaticano II.

Descendente - de cima para baixo
É a comunicação que flui da autoridade superior para o subordinado. Por muito democrática que seja uma organização, tem que haver líderes, pessoas responsáveis com um encargo e, quando isto acontece, a comunicação vertical reflete a diferença de cargos e responsabilidades entre as pessoas. Nenhuma organização sobreviveria sem comunicação vertical, porque seria uma autêntica anarquia. Esta comunicação assume diversas formas orais e escritas, instruções, ordens, cartas, memorandos, discursos.

Ascendente - de baixo para cima
É o inverso da primeira, fluindo em direção contrária, de baixo para cima. Usada pelos empregados ou subordinados que manifestam a obediência ao que lhes foi pedido; quanto mais democrática é a organização, mais as sugestões, ideias e palpites dos subordinados são admitidas pelos superiores. Esta comunicação adquire a forma de relatórios do que foi ou não foi feito, das dificuldades e problemas encontrados, propostas e sugestões. Conselhos de especialistas em diferentes matérias do governo.

Comunicação horizontal
Refere-se ao tipo de comunicação que acontece entre pessoas do mesmo estatuto e nível, entre colegas. É importante para o trabalho em equipa e quando várias dependências, departamentos ou secções de uma instituição dependem de uma mesma chefia, mas são interdependentes entre si.

Ao nível das empresas e das organizações, poderíamos dizer que a comunicação vertical, de cima para baixo, inicia os trabalhos; de baixo para cima é a que apresenta o trabalho feito ou não feito; a comunicação horizontal é a que existe durante o tempo em que se executa um trabalho, uma missão, uma tarefa. É a comunicação entres os vários aspetos de uma mesma tarefa. É a comunicação que existe entre os membros de uma equipa e de outras equipas laterais e interdependentes.

Este tipo de comunicação assume a forma de reuniões, telefonemas, teleconferências, discussões, consultas, entre os membros de uma secção da empresa, assim como entre os chefes de secções interdependentes, na execução de uma tarefa comum.

Comunicação diagonal, transversal ou oblíqua
Os dois primeiros canais de comunicação são formais, institucionais; a comunicação em diagonal é informal, não institucional, decorre à margem das outras duas e quase poderíamos dizer que é “ilegal”, “clandestina”. São as conversas de corredor, enquanto se toma um café ou se fuma um cigarro: as pessoas encontram-se informalmente e como “a boca fala da abundância que vai no coração”, entre amigos fala-se do assunto que no momento ocupa a mente e o coração de todos.

Esta conversa flui, mas não entre colegas, por isso não é horizontal, nem entre patrões e operários, ou seja, não é vertical. Como a diagonal, não é uma conversa vertical nem uma horizontal, mas uma síntese das duas: o motor desta comunicação é a amizade; por isso, flui entre colegas se estes, e só se estes, forem amigos; entre patrões e operários, se estes forem amigos.

Este tipo de comunicação toma muitas vezes a forma de boato, de segredo por muitos partilhado, “dizem…” “ouvi dizer…” e tem um poder devastador numa empresa, embora também possa ser aproveitado positivamente.

Acontece muitas vezes que as reuniões “ad hoc” que ocorrem nos corredores, nas mensagens WhatsApp ou nos estacionamentos depois da reunião formal são mais importantes que as que acontecem na sala de reunião; e, muitas vezes desonestamente, é fora das reuniões formais e à revelia delas que se tomam informalmente decisões importantes que pouco ou nada têm a ver com o que se discutiu na reunião formal.

As pessoas não são máquinas de engrenagem, onde as relações funcionais permanecem funcionais e só funcionais. O relacionamento entre as pessoas dentro de uma mesma função ou entre funções diferentes cria atritos pessoais e também simpatias, amizades e inimizades. A comunicação diagonal usa estes canais. É impossível evitar que a comunicação diagonal ou informal se dê no interior das organizações e há formas de a aproveitar positivamente.

Por este tipo de comunicação, sabemos o que as pessoas realmente pensam e que não se atrevem a dizer numa reunião; conhecemos o estado emocional e a existência de problemas pessoais e familiares, que são importantes para  o bom ou mau desempenho no trabalho; como este tipo de comunicação é a mais fidedigna em termos de feedback, os superiores podem aproveitar as ideias que circulam nestes ambientes para tomarem decisões mais democráticas.

Jesus utilizou este tipo de comunicação com os seus discípulos quando lhes perguntou “Quem dizem os homens que eu sou?”. As pessoas não se atreviam a dizer diretamente a Jesus o que pensavam dele, mas aos discípulos diziam.

A unidimensionalidade ou horizontalidade da política
Desde o século passado que esquerda, centro e direita são as coordenadas pelas quais se têm definido a índole ideológica e a identidade de cada partido político em relação a si mesmo e aos seus congéneres. Antes de falarmos do espaço político, queremos fazer referência a outras coordenadas pelas quais entendemos o espaço físico em geral e que se referem às linhas vertical, horizontal e diagonal.

O espaço político entendido como esquerda, centro e direita, é unidimensional pois só acontece na linha horizontal. Se falássemos de uma monarquia ou de uma ditadura, teríamos que usar a linha vertical. Porém, como falamos de democracia, basta-nos a linha horizontal, pois neste sistema político, o soberano é o povo e os líderes que o representam são delegados temporais deste poder que sempre reside e permanece no povo. Dentro da linha horizontal, a esquerda é o lugar onde esta começa, a direita o lugar onde esta acaba e o centro o lugar equidistante entre o princípio e o fim da linha.

Espaço político do século passado
Quem não está comigo, está contra mim Mateus 12, 30

Durante grande parte do século passado, o mundo estava polarizado: os países pertenciam a um bloco ou a outro. É certo que determinados países, como a Jugoslávia, se diziam não alinhados, mas fundamentalmente seguiam as diretrizes ideológicas da União Soviética, tal como no ocidente, a Suíça sempre se proclamou país neutro, mas também estava ideologicamente alinhada com o Ocidente.

A um bloco pertenciam os países de orientação comunista ou socialista, com a União Soviética à cabeça e ao outro bloco os países de orientação capitalista, com os Estados Unidos à cabeça. A Europa, dividida pelo muro de Berlim (comunista a leste e capitalista a oeste), era símbolo e signo de uma divisão que não acontecia só no velho continente, mas em todo o planeta.

Como a desintegração da União Soviética só se deu no fim do século XX em 1991, vivemos durante o todo o século passado num clima de guerra fria, em que cada bloco procurava crescer, estendendo o seu espaço de influência. Esta guerra fria aquecia de vez em quando em confrontos indiretos entre os dois blocos, em campos de batalha extraterritoriais. Assim se explicam as guerras do Vietname, Coreia e a invasão soviética do Afeganistão. Com o mesmo intuito de estender os espaços de influência, para além destas escaramuças tivemos revoluções e golpes de estado na América Latina, na África e na Ásia.

Com a queda do comunismo soviético, o mundo deixou de estar ideologicamente dividido em dois blocos (capitalista e comunista). Durante a primeira década deste século XXI, vivemos um terrorismo de orientação islâmica radical contra os países de orientação cristã. Durante algum tempo, parecia que o biliteralismo ideológico comunismo / capitalismo ia ser substituído por um biliteralismo religioso entre o mundo cristão e o mundo islâmico. Esse era o objetivo de organizações como Alcaeda ou o Estado Islâmico.

Não sabemos como será a segunda década deste século que acaba de começar. Com a ascensão do “populismo”, tanto em países tradicionalmente comunistas, como a Polónia e a Roménia, como em países tradicionalmente capitalistas, como os Estados Unidos e a Inglaterra, parece que as coordenadas políticas de esquerda, centro e direita já não fazem sentido, pois os partidos populistas não se colocam em nenhum destes tradicionais espaços políticos: dizem estar com o povo, contra o sistema político vigente. Porém, como até à data não há outro critério pelo qual os partidos se identifiquem em relação a si mesmos e aos outros, esquerda, centro e direita continuam a fazer parte da geografia política.

Esquerda – Centro – Direita
Todo o espaço político se encontra numa linha reta que vai da esquerda à direita passando pelo centro. Há nuances à esquerda - a chamada extrema esquerda - e nuances à direita - a chamada extrema direita – e, como no nosso planeta uma linha reta contínua se transforma numa linha curva, há quem diga que em política os extremos se tocam.

As palavras esquerda e direita aplicadas à política nasceram com a revolução francesa e estão ligadas à disposição dos assentos dos parlamentares na Assembleia da República de França. Os que se sentavam à esquerda do presidente da Assembleia eram os apoiantes da revolução, os que se opunham à monarquia, defensores da democracia, do governo do povo; o lado esquerdo, em todos os países, ficou sempre associado às lutas dos trabalhadores organizados em sindicatos que visavam uma maior justiça social, menos lucros para os patrões, e salários mais justos.

Os que se sentavam à direita do presidente apoiavam o antigo regime monárquico. Queriam a todo o custo manter a estrutura social e o status quo de antigamente, não queriam perder os seus privilégios. Muitas vezes ou quase sempre se apoiavam na religião e no poder convincente desta para obter apoio popular; eram conservadores na sua forma de pensar em todos os aspetos sociais; tendiam a viver no passado e a rejeitar a mudança.

Superada a dicotomia entre monarquia medieval e democracia ou república, a filosofia económica e política de Karl Marx veio dar às palavras esquerda e direita a conotação que hoje têm. A direita é liberal, capitalista, acentua o valor da liberdade económica; a esquerda é socialista, comunista acentua o valor da igualdade económica. A estrela e insígnia do capitalismo mais liberal são os Estados Unidos; a insígnia do comunismo costumava ser a União Soviética (atual Rússia), mas é hoje a China, onde impera o chamado capitalismo de Estado.

Os restantes países alternam no seu governo partidos de direita e partidos de esquerda. Em geral, a Europa e o resto do mundo situam-se numa via intermédia entre a China e os Estados Unidos, com caraterísticas de ambos. Os socialismos históricos mais bem-sucedidos e os mais justos são os dos países da Escandinávia.

O centro é difícil de definir em política, por isso há um centro-direita e um centro-esquerda, consoante o partido em questão se incline mais para a direita ou para a esquerda ou faça uma síntese, ao utilizar políticas de direita num assunto e políticas de esquerda noutro assunto. A política na tradição inglesa é bipolar, o centro não existe. Nos Estados Unidos, a direita são os republicanos, a esquerda os democratas. No Reino Unido, a direita são os Tories, a esquerda, os trabalhistas. No Canadá, a direita é o partido liberal, a esquerda o partido trabalhista. Na Austrália, a mesma coisa.

A esquerda
Defende que o Estado deve regular a economia para evitar que uns poucos sejam muito ricos e os outros muito pobres. O Estado deve velar para que todos tenham acesso aos bens essenciais, saúde, educação e oportunidades. Para que isto seja possível, aplica impostos a toda a população: os que mais têm, mais pagam e os que menos têm, menos pagam, chegando até a receber se se encontrarem num estado de indigência.

O princípio de Karl Marx “De cada um segundo as suas possibilidades, a cada um segundo as suas necessidades” é o princípio inspirador onde assentam todas as políticas sociais socialistas e comunistas. Financiado pelos impostos que todos pagam, proporcionalmente aos seus rendimentos, o Estado socialista deve garantir a todos os cidadãos por igual a educação, a saúde e a segurança social, ou seja, uma reforma depois da vida laboral.

A direita
A ideologia da direita, baseada também num teórico malfadado e pseudomístico chamado Adam Smith, dizia que quando cada pessoa busca egoisticamente os seus interesses, uma mão invisível busca os interesses comuns. A mão invisível é tão invisível que nem existe, é um mito que nunca se verificou na realidade.

Somos por natureza desiguais e não vamos ao mercado com a mesma quantidade de dinheiro na algibeira para gastar. Ainda que fôssemos iguais, somos desiguais na personalidade e na inteligência. Uma total ausência de regulação, como preconiza o mundo capitalista, só serve para acentuar as desigualdades sociais e económicas.

Não é outra coisa que a lei do mais forte, a lei da selva aplicada à economia. Foi precisamente esta teoria que levou o mundo à atual situação global da humanidade, onde 1% tem mais riqueza que os restantes dos 99%. Até quando podemos continuar assim?

Segundo ele, o Estado não deve regular o mercado nem a economia porque estes se regulam a si mesmos.

A direita defende uma maior responsabilidade individual, autonomia e iniciativa privada das pessoas e das empresas, com menos impostos e regulamentação. O Estado não se responsabiliza por nada, não quer saber do bem-estar dos seus cidadãos, são eles mesmos que devem velar e prover pela sua saúde, educação e reforma quando já não puderem trabalhar. Num Estado assim, os ricos estão seguros no seu dinheiro, os que vivem de “chapa ganha chapa gasta” nunca levantam a cabeça e vivem inseguros na indigência.

Autocracia - democracia – anarquia
A democracia, ou a sua congénere política a república, tem os seus defeitos, mas é preferível à monarquia ou a qualquer forma de autocracia ou ditadura política. Dura lex sed lex, a lei é dura, mas é a lei, a arbitrariedade de um déspota seria bem pior. Tanto na autocracia como na anarquia, governa a lei do mais forte. Num Estado de Direito, ninguém está a cima da lei; por isso, como diz uma norma jesuíta, “guarda a regra que a regra te guardará a ti”.  

Vertical - Horizontal – Diagonal em religião
As três direções da linha reta, vertical, horizontal e diagonal têm também a sua expressão ou equivalência no campo da religião cristã, tanto na forma como nós nos relacionamos com Deus e com os outros, como na forma como Deus se relaciona connosco.

Na nossa relação com Deus e os outros
A linha vertical expressa o amar a Deus sobre todas as coisas, com toda a nossa mente e o nosso coração. Na hierarquia cristã dos afetos, Deus vem primeiro: é o amar a Deus sobre todas as coisas e sobre todas as pessoas que nos garante a nossa liberdade em relação às coisas e às pessoas. Enquanto Deus for o primeiro na nossa vida, seremos livres. Sem liberdade não há vida humana no sentido individual, não há pessoa humana, não há dignidade humana.

A linha horizontal manifesta o amor devido ao próximo; aquele que devemos considerar sempre igual a nós, em pé de igualdade para com ele. O amor não tem classes sociais pois ou nasce entre iguais ou faz as pessoas iguais. Se somos iguais perante Deus, somos iguais uns aos outros, não há estatutos nem hierarquias. O outro, como a própria palavra indica, é um “alter-ego”, ou seja, um outro eu, por isso tudo o que me é devido a mim é devido ao outro. O amor ao próximo é a garantia de igualdade, o valor da vida humana como seres sociais.

A junção das duas linhas forma uma cruz que é o símbolo do Cristianismo porque o filho de Deus morreu numa cruz. E como os dois amores se unem num só, não podemos amar a Deus sem amar o próximo e vice-versa. Os dois mandamentos pressupõem-se mutuamente. A linha diagonal, como é uma síntese da vertical e da horizontal, pode indicar que amando ao próximo já se está a amar a Deus e vice-versa: se o nosso amor a Deus é genuíno, decerto tem em conta o próximo.

Na relação de Deus connosco
As três pessoas divinas comunicam-se connosco de maneira diferente porque têm connosco uma relação diferente: 

Deus-Pai que tudo criou e que nos criou a nós também, comunica-se connosco verticalmente; 

Deus-Filho, o Emanuel, é Deus connosco, que habitou entre nós, é o nosso irmão maior o que disse aos seus discípulos “já não vos chamo servos, mas amigos”, comunica-se connosco de forma horizontal:

Deus-Espírito Santo, nem é horizontal nem vertical, mas sim transversal a toda a criatura, pois todos somos templo do Espírito Santo; o Espírito Santo sopra onde quer, por isso tanto guia e inspira o Papa como o último dos fiéis: é transversal a todos, desde o topo da hierarquia até ao último fiel.

Na vertical, Deus ama-me como Pai e eu amo-O como filho; na horizontal, Cristo filho de Deus ama-nos como irmãos e nós a Ele como irmão maior; na diagonal, o Espírito Santo é transversal a todos, pois a todos penetra, do maior ao mais pequeno, fazendo de nós um povo.

P. Jorge Amaro, IMC



 

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