1 de maio de 2020

3 Fases da ação individual: Pensar - Sentir - Agir

Quando abordámos os três tipos de personalidade, dissemos que ninguém é puramente cerebral, visceral ou emocional. Apesar de os cerebrais terem maior tendência para pensar, os emocionais para sentir e os viscerais para agir, nenhuma destas atividades é exclusiva de cada uma destas personalidades. A razão, a emoção e a ação são comuns a todos os seres humanos: todos pensamos, sentimos e agimos.

Ao delinear as linhas mestras deste texto, “Pensar – Sentir – Agir”, pensei numa outra tríade que também faria sentido: “Ver – Julgar – Atuar”. No processo de discernir entre a primeira ou a segunda, dei-me conta de que apesar de haver pontos em comum há também pontos divergentes entre as duas tríades.

Na primeira, as emoções têm um lugar preponderante e na segunda não. Na segunda, o pensar tem um lugar preponderante, pois é precedido do ver ou observar. No meu entender, a primeira tríade é mais adequada à pessoa, enquanto ser individual, como fator de mudança ou conversão, enquanto que a segunda é mais adequada ao ser humano como parte de uma sociedade, para instigar mudança social, revolução ou evolução.

Comportamento tridimensional
Somos seres trinitários ou tridimensionais porque a existência de um supõe a existência de outros dois: Pai – Mãe – Filho(a); e se assim é, com toda a franqueza, não podemos dizer que existimos porque a nossa existência não se justifica por si mesma nem depende de si mesma. Não deveríamos dizer “penso logo existo”, mas sim “penso logo coexisto”.

Como seres tridimensionais que somos, o nosso comportamento é tridimensional também, pois somos o que pensamos, sentimos e fazemos. É incompleto o nosso ser e não nos sentimos bem quando vivenciamos uma só destas vertentes descuidando as outras duas. O que pensamos afeta os nossos sentimentos e a nossa ação; o que fazemos influencia o que pensamos e sentimos; o que sentimos afeta o nosso pensamento e a nossa ação.

Sentimo-nos frustrados, ansiosos e desassossegados quando pensamos e construímos castelos no ar e não na terra, ou seja, quando pensamos e programamos obras que nunca veem a luz do sol. Também nos sentimos mal quando fazemos as coisas sem pensar e nos saem mal no fim. Por fim, também nos sentimos mal quando, ao acionar os nossos projetos, não temos em conta os nossos sentimentos nem os sentimentos dos outros, reprimindo-os ou ignorando-os.

Proativo ou reativo
Palavra fora da boca é pedra fora da mão.

Embora não gostemos de admitir, a natureza animal em nós não desapareceu, apesar dos mais de 5 milhões de anos de evolução que existem entre nós e o primata que nos deu origem. Do mesmo modo, a formação do neocórtex humano não anulou o cérebro límbico ou emocional dos mamíferos e este não anulou o primeiro cérebro, o reptiliano.

Tal como estes três cérebros funcionam em uníssono, um dentro do outro, também a natureza animal, desde o primeiro microrganismo que apareceu no planeta até aos nossos antepassados primatas, está assimilada na nossa natureza humana atual por um fenómeno que Konrad Lorenz chama de tradição -o que uma geração aprende, passa para a próxima e assim sucessivamente.

Konrad Lorenz fundou uma ciência, a Etologia, que estuda o comportamento dos animais e a sua completa correspondência ou transposição para os seres humanos. De facto, desde as experiências de Pavlov com cães, os psicólogos comportamentais estudam ratos ou pombas, como fez Skinner, e aplicam as suas descobertas aos humanos.

Como indica o provérbio acima indicado, falamos sem pensar e acabamos por ferir alguém; muito do nosso comportamento ou ação não é proativo ou reflexivo, mas instintivo, automático, rápido e reativo como o comportamento animal. 

A tríade que devia começar com o pensamento seguido do sentimento e ação, começa no sentimento seguido de ação e só no fim surge o pensamento. Às vezes a ação é a primeira, seguida da emoção e do pensamento. O nosso comportamento é tridimensional porque sempre envolve pensar, sentir e agir. Dependendo da situação, o pensamento pode não vir em primeiro lugar, porém quer comece na ação, quer comece no sentimento, todos os três são sempre protagonistas.

O nosso cérebro reptílico é rápido; o límbico não tão rápido como o reptiliano, processa os dados com relativa rapidez; o neocórtex é extremamente lento e possui uma característica que os outros dois não possuem e que o torna ainda mais lento - duvida de si mesmo e da veracidade dos primeiros pensamentos ou soluções para um determinado problema. Os outros dois cérebros nunca têm dúvidas, estão sempre certos.

Por fim, antes de entrarmos nos meandros do pensamento, convém notar que a natureza animal nunca é anulada pelo pensamento reflexivo. Continua ali, embora nem sempre esteja presente a nível consciente, dependendo da natureza do problema ou do tema sobre o qual se debruça a nossa mente. Contudo, a nível das motivações profundas do nosso pensar ou agir, é omnipresente.

Pensar
Pensar é o primeiro ato da sequência pensar – sentir – agir. Todos os atos autêntica e genuinamente humanos provêm ou devem provir do pensamento discursivo e reflexivo, algo exclusivo do ser humano. Nenhum animal tem esta capacidade, por mais próximo de nós que esteja na evolução das espécies.

Pensamento e linguagem
A linguagem não se desenvolveu primeiramente como um meio de comunicação, mas sim como um modo de formar conceitos. Noam Chomsky

Qual dos dois apareceu primeiro, a linguagem ou o pensamento, é uma questão de primazia do ovo sobre a galinha ou da galinha sobre o ovo. Um pensamento sem o uso da linguagem seria ininteligível. Mas, é provável que o pensamento tenha existido antes da linguagem e que esta, como diz Chomsky, não tenha surgido primeiramente como forma de comunicação entre indivíduos, mas sim como instrumento para a formação de conceitos.

Uma prova disto pode ser o alfabeto chinês que ainda é pictórico, ou seja, cada símbolo representa um conceito, muito mais que uma letra, palavra ou frase construída pelo nosso alfabeto latino. Uma outra prova pode ser as palavras onomatopaicas, que são palavras ou conceitos que surgem da reprodução de ruídos ou sons naturais. Neste caso, o conceito e a palavra formam-se da relação da pessoa com a natureza, ou seja, do esforço de compreender e conceptualizar o observado e não como forma de comunicar com os outros seres humanos.

Por outro lado, a inteligência e a linguagem, podem definir-se da mesma forma. Se a inteligência se define como a relação entre neurónios que podem estar em partes diametralmente opostas do cérebro, a linguagem define-se pela relação entre conceitos que podem aparentemente não ter nenhuma relação entre si. 

Por conseguinte e contrariamente ao que se pensava, as crianças poliglotas são mais inteligentes que as que aprendem só uma língua. A criança pode aprender ao mesmo tempo várias línguas e falar indistintamente cada uma delas sem se confundir.

Dar uma cana ou ensinar a pescar?
A educação básica e secundária e, em muitos casos, até a universitária são muito pouco críticas. Baseiam-se na aquisição de conhecimentos, em encher de uma forma acrítica o saco da memória que depois se despeja num exame para obter um diploma. Em seguida, tudo é esquecido e já não faz parte da nossa vida. É a isto que chamo “dar um peixe” em vez de espevitar a criatividade que seria ensinar a pensar; dar os elementos suficientes para depois a criança, o adolescente ou o jovem adulto descobrir por si mesmo.

Nisto se baseava a maiêutica de Sócrates - o professor é um facilitador e, como tal, não deve de maneira paternalista dar comida mastigada ao aluno que se limita a engolir. No mesmo princípio se baseia a psicoterapia não diretiva: o psicoterapeuta ajuda o cliente ou paciente a descobrir o que se passa com ele. É muito mais eficaz quando o cliente descobre com a ajuda de perguntas exploratórias por parte do psicoterapeuta, do que se fosse o psicoterapeuta a descobrir o problema e a solucioná-lo bombardeando o cliente com conselhos. O que nós descobrimos é nosso, o que outros descobrem por nós não é nosso, mesmo que nos envolva. A mesma técnica a aplicou o popular pedagogo Paulo Freire na sua ação social de alfabetização.

Por outro lado, em relação aos afetos e sentimentos, a educação pretende ser completamente assética, como se estes fossem vírus subversores do sistema. Educa-se para uma profissão, não para a vida; é mais importante a inteligência abstrata literária e matemática que a inteligência emocional. Os afetos estão proibidos, pois o que se pretende enfatizar é a frivolidade, a competência, o egoísmo e o individualismo, não a solidariedade.  

O âmbito cognitivo do nosso comportamento e da nossa vida
Quando estamos a funcionar no âmbito cognitivo, deixamos de olhar para o mundo e voltamos o olhar para dentro. O mundo está agora dentro de nós, de uma maneira simbólica e cognitiva, sob a forma de conceptualizações. Passa a contar menos o contexto, a existência dos objetos, e mais a sua essência. Esta é a nossa forma de dominar a realidade que nos rodeia, ou seja, de conhecer. Eis algumas das funções ou operações da nossa mente ou pensamento, e como as define o dicionário. 
  • Analisar – Separar um todo nas suas partes ou componentes, para as estudar individualmente e assim poder compreender melhor a sua função ou relação com o todo. Investigar, examinar minuciosamente, esquadrinhar, dissecar.
  • Relacionar - Comparar coisas novas com outras já conhecidas para estabelecer a diferença entre umas e outras. É o mesmo que comparar: quando algo novo se apresenta à nossa mente, procuramos algo já conhecido e parecido, que tenha pontos em comum, e só depois procuramos as divergências.
  • Experimentar – Submeter a uma experiência, a um teste prático e real para, pela reação obtida, a conhecer melhor.
  • Deduzir - concluir, inferir, chegar a uma conclusão lógica a partir de uma experiência feita, ou depois de um processo de raciocínio lógico, como um silogismo.
  • Imaginar – Formar uma imagem mental abstrata de algo que não está presente no momento. É muito importante para podermos criar, descobrir, idealizar, inventar, estabelecer uma hipótese.
  • Conceptualizar – Formar um conceito acerca de uma coisa ou realidade; é o mesmo ato de conhecer, é arquivar essa coisa ou realidade sob de um título ou nome no nosso arquivo mental. Definir a identidade de uma coisa, julgar, avaliar.
  • Sistematizar - Organizar diversos elementos num sistema, ou seja, reduzir (factos, conceitos, opiniões, etc.) a um corpo de doutrina e formalizar uma teoria.
Pensar – Sentir - Agir
Quando partimos do zero, ou seja, quando se trata de realizar um projeto, esta será a tríade usada: do pensamento ao sentimento e depois à ação. Existem, porém, outras situações onde esta mesma tríade acontece de uma forma inconsciente. Muitas vezes, os nossos pensamentos, as nossas crenças provocam sentimentos sem nos darmos conta.

Por exemplo, se acredito (pensamento) que o meu chefe não me valoriza como deveria, como acho que mereço, começo a sentir-me mal (sentimento), e se vejo que o meu chefe valoriza a outros, posso sentir inveja (sentimento); e se, no meu entender, estes outros merecem menos que eu, posso chegar a sentir raiva (sentimento). Tudo isto pode fazer com que eu seja mais competitivo (ação) ou desleixado, desmotivado e fazer ainda menos (ação).

A terapia cognitiva, como adiante veremos, baseia-se nesta tríade. Há certas crenças irracionais ou falsas que provocam sentimentos e ações indesejáveis. Se eu modificar a crença, esses sentimentos deixam de se fazer sentir, assim como as ações por eles motivadas.

Sentir
Tomamos as decisões a nível emocional e depois justificamo-las a nível racional.
Daniel Kahneman psicólogo israelita e Prémio Nobel da Economia 2002

Ao falar das nossas emoções e sentimentos, não estamos a falar exclusivamente do cérebro límbico. Como dissemos, os três cérebros atuam em uníssono, ou seja, não vamos falar das emoções dos mamíferos, mas sim das emoções humanas tal como o neocórtex as entende. Porque um mamífero, mesmo um primata, não está consciente do que sente, ou seja, não sabe que está a sentir ira, medo, fome ou sono ou o que quer que seja, apenas sente.

É o nosso pensamento que atribui o sentido às nossas emoções, que as decifra e entende. Tal pressupõe que temos mais controlo sobre as nossas emoções do que achamos ter, pois é a nossa mente que as conceptualiza. Isto não só torna possível a terapia cognitiva como nos permite dominar as nossas emoções. Isto significa que podemos ter não só uma inteligência abstrata como descrevemos, mas também uma inteligência emocional. Ou seja, podemos aproveitar, tirar partido e utilizar as nossas emoções em favor da vida e não nos deixarmos dominar por elas, como acontece na depressão, quando perdemos o controlo pela ira ou qualquer outra paixão.

É certo que não somos responsáveis pelas nossas emoções, pelo que sentimos, mas somos responsáveis pelo que fazemos com elas. Assim sendo, se nos sentimos insatisfeitos ou até aborrecidos com o nosso desempenho, com os nossos sentimentos ou pensamentos, com o nosso comportamento em geral, só nós podemos mudar essa situação e ninguém mais.

Antes de abordarmos as emoções, convém ter uma noção clara do que estamos a falar. Alguns autores mencionam, muitas vezes no mesmo texto, a palavra emoção e sentimento, entendendo-as como sinónimos; outros fazem uma distinção entre emoção e sentimento entendendo emoção como sinonimo de instinto.

Instinto e emoção
O instinto é mais primitivo e provém do cérebro reptiliano, embora se manifeste nas emoções; ou seja, pelas emoções, posso saber de que instinto se trata. Por exemplo, o cérebro reptiliano tem três comportamentos: lutar, fugir ou esconder-se. Perante a invasão do território, ou perante o perigo de vida, o animal julga o invasor pelo tamanho. Se é maior que ele, sente medo e foge, imobiliza-se ou esconde-se; se é inferior a ele em tamanho, sente raiva e ataca.

A emoção, neste sentido, é a manifestação de um instinto, é o modo como o instinto se faz presente e age. Por exemplo, no caso do instinto sexual, a emoção seria a atração sexual ou a paixão; no sentimento seria o amor.

No contexto da comunicação não violenta, onde emoções e sentimentos são sinónimos, aprendemos que cada sentimento ou emoção está intimamente relacionado com uma necessidade, ou seja, com um instinto. Por outro lado, todos os sentimentos ou emoções são positivos ou negativos - se a necessidade à qual determinado sentimento se refere está satisfeita, o sentimento será positivo; se não está satisfeita, será negativo. No contexto do estímulo - resposta, o instinto é a necessidade, o estímulo ou emoção é a resposta a essa necessidade.

Emoção e sentimento
As sensações ou emoções são inatas, mas os sentimentos são construídos a cada momento pela mente. As sensações e emoções têm mais a ver com o corpo, os sentimentos como o amor têm mais a ver com a mente.

A emoção é uma reação a um estímulo ambiental e provoca um movimento, uma série de reações em cadeia - altera o ritmo cardíaco e respiratório, a pressão arterial, o sistema endócrino com segregação de hormonas, o sistema imunológico, dores inexplicáveis, choro, etc.

As emoções são intrínseca e essencialmente físicas, os sentimentos que as mesmas originam podem existir de forma independente, sem o suporte do corpo físico e praticamente sem nenhuma manifestação física; como exemplo, podemos referir a vaidade, o egoísmo, a inveja.

A emoção da euforia corresponde ao sentimento da alegria, a emoção do choro ao sentimento da tristeza, a emoção do pânico ao sentimento do medo, a emoção da raiva ao sentimento do ódio, a emoção da paixão ao sentimento do amor. O sentimento é uma emoção iluminada pela mente ou, se quisermos, a humanização de uma emoção. Os animais têm emoções, mas não têm sentimentos.

Inteligência emocional
Emoções fora de controlo tornam estúpidas as pessoas espertas.A inteligência emocional representa 80% do êxito na vida. Daniel Goleman

O pensar racional e abstrato é o mais indicado para nos relacionarmos com as coisas materiais, para as conhecermos e dominarmos. É o tipo de pensamento de que a ciência precisa. Por outro lado, precisamos da inteligência emocional para a arte, para as relações humanas e para a relação que estabelecemos connosco mesmos.

É a inteligência emocional e não o raciocínio abstrato ou matemático que determina as ações e as decisões mais importantes na nossa vida. Determina o êxito ou o fracasso das relações humanas e muitas vezes também das relações profissionais, uma vez que não há profissão que não envolva relações humanas.

Na nossa profissão, no interior das associações, instituições, fábricas e empresas, as aptidões técnicas representam apenas um fator. É muitas vezes a inteligência emocional que sustenta a matéria prima destas empresas que são os seus funcionários. A inteligência emocional aplica-se a quem lidera e a quem é liderado, a quem coordena o trabalho em equipa tão importante nas empresas modernas.

É a inteligência emocional que governa a quase totalidade dos atos da nossa vida diária; possuí-la é garantia de felicidade, não a possuir é certeza de fracasso, como afirma Daniel Goleman, o autor do livro “A inteligência emocional” (o mais vendido do ano de 1996). Neste livro, o autor diz-nos que é possível criar uma interação equilibrada e harmoniosa entre o cérebro racional e o emocional e ensina-nos a desenvolver essa inteligência emocional.

É a inteligência emocional que nos ajuda a conhecer e a dar um nome aos nossos sentimentos. A maior parte de nós é emocionalmente iletrada: se nos perguntam como nos sentimos, dizemos “bem”, mas não conseguimos identificar mais de quatro ou cinco sentimentos, quando na verdade existem dezenas deles, como vimos no nosso estudo da comunicação não violenta.

Depois de identificar os nossos próprios sentimentos, devemos tentar identificar os sentimentos dos outros, pois só desta forma a empatia é possível e, com ela, uma relação harmoniosa e construtiva com os outros. 

Terapia cognitiva
De acordo com a teoria que fundamenta a terapia cognitiva, fundada por Aaron Beck, as emoções e comportamentos são causados pelo diálogo interno que mantemos connosco mesmos. Na base deste diálogo estão pensamentos, pressupostos, crenças e muitas destas crenças são falsas ou irracionais.

O fundador da terapia cognitiva entende que basta desafiar essas crenças, esses pensamentos equivocados e falsos chamadas “distorções cognitivas" e confrontá-los com a razão, para que desapareçam as emoções que eles provocam, assim como as ações neles radicadas.  A terapia cognitiva foi comprovada como eficaz por estudos empíricos.

O princípio é simples e no fundo diz respeito a um conceito muito anterior a Beck e muito conhecido por nós, religiosos: o conceito de conversão que em grego é metanoia, ou seja, mudança de mente. Geralmente, quando a pessoa diz que mudou de ideias, está a dizer que mudou também de comportamento e que tomou outras decisões contrárias às que tinha tomado antes.

Sentir - Pensar - Agir
Segundo alguns estudos atuais e como também afirma Daniel Kahneman, somos seres mais emocionais que racionais, por muito que o neocórtex tenha mais do dobro do tamanho do cérebro límbico. Fundamentalmente, somos seres emocionais que depois recorrem à razão para justificar, explicar ou sancionar e validar os sentimentos.

Num sentido positivo, o que fazemos assemelha-se muito ao mecanismo de defesa descrito na fábula da raposa e das uvas. A raposa vê as uvas e deseja-as (sentimento), decide apanhá-las (pensamento), começa a saltar mas não consegue apanhá-las e sente-se frustrada (sentimento). Para se livrar deste sentimento negativo, declara as uvas como verdes, racionalizando o sentimento (pensamento).

O cérebro emocional é muito mais rápido que o racional, pelo que a primeira reação a tudo o que os nossos sentidos captam é uma reação emocional e não uma reação racional; tudo o que os nossos cinco sentidos captam provoca sentimentos muito antes de provocar pensamentos.

Uma mãe que procure uma escola para o seu filho e visite uma onde veja sujidade e desorganização,
 já nem se preocupará em saber se o desempenho dessa escola no contexto das outras é bom ou mau: decidirá de imediato que o seu filho não vai estudar ali.

Agir
De boas intenções está o inferno cheio

Por fim, estamos no âmbito pragmático do comportamento humano tridimensional. Como vimos em relação aos três cérebros e às três personalidades básicas, há pessoas mais cerebrais, que vivem confortavelmente instaladas na “sala de cima”, com muito pouco contacto com a realidade.

Também há pessoas para quem o mais importante são as relações humanas e por isso vivem no meio da sociedade e fogem a estar sozinhas e até mesmo a estar com elas mesmas. Por fim, há pessoas para quem o fazer é o mais importante, vivem no meio da ação e estão sempre a fazer algo de prático, utilizando mais os pensamentos que as emoções. São pessoas enérgicas, aprendem fazendo e estão sempre envolvidas em algum projeto. Quando não estão envolvidas num projeto ou não têm nada que fazer, podem entrar em depressão.

O “cogito ergo sum” vai mudando de face, dependendo da personalidade básica a que diga respeito: para os cerebrais aplica-se “penso logo existo”, para os emocionais aplica-se “sinto logo existo”, para os viscerais, “faço logo existo”.

No crepúsculo das nossas vidas, seremos recordados, não pelo que pensámos nem pelo que sentimos nem pelo que dissemos, mas pelo que fizemos. O capítulo 25 do evangelho de São Mateus diz que seremos julgados pelos atos de amor que realizámos ou não realizamos ao longo da nossa vida, (Mateus 25).

A comunicação não violenta ensinou-nos que o amor, mais que um sentimento, é uma necessidade: todos os seres humanos necessitam de amar e ser amados. A importância de um homem mede-se certamente pelas suas obras, mas é igualmente importante o pensar e o sentir por detrás das obras. Somos o que pensamos, sentimos e fazemos.

Podemos dedicar-nos apenas a pensar, ser intelectuais e até vivermos afastados dos outros. No entanto, serão sempre as nossas obras que nos salvam e que justificam a nossa vida, através da investigação científica, da criação da tecnologia que nos facilita a vida ou da produção de literatura que deleita e ensina.

Também podemos ser emocionais e escrever poesia, dedicarmo-nos às artes, à música ou a estabelecer harmonia e paz entres as pessoas. Serão também as nossas obras, a forma como materializamos os nossos sentimentos que darão valor à nossa vida perante nós mesmos e perante os outros.

E por fim, para os pragmáticos, para os que vivem no meio da ação, se esta não for bem pensada, iluminada pela razão e orientada pelos sentimentos, de nada serve.

Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como um bronze que soa ou um címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas, se não tiver amor, nada sou. Ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me aproveita. 1 Coríntios 13, 1-3

Agir - Sentir - Pensar
Esta é a tríade menos conhecida no sentido positivo, mas muito popular e muito frequente no sentido negativo. “Colocar o carro diante dos bois” - a ação antecipa-se ao pensamento e ao sentimento. Já nos avisava o poeta popular António Aleixo na sua famosa quadra: “para não fazeres ofensas e/teres dias felizes, não digas tudo o que pensas/pensa em tudo o que dizes”.

No sentido negativo, quando uma ação é irrefletida e não sentida vai fazer-nos sentir mal connosco mesmos e com os outros e pode até levar-nos a tirar conclusões falsas sobre nós mesmos e os outros. Por que não usar este mecanismo no sentido positivo?

Suponho que esta é a base da terapia que advém do condutismo ou behaviorismo. Em vez de lidar com as atitudes estudando a sua raiz psicanalítica e nunca chegarmos a ser o que pretendemos ser, a terapia behaviorista defende que praticando um conjunto de atos repetidamente, estes acabarão por criar a atitude desejada.

Amy Cuddy da Universidade de Harvard defende que se exibirmos uma atitude de poder, segurança e liderança mesmo sentindo-nos inseguros, acabaremos por ser e sentir o que a nossa postura física ou linguagem corporal mostra. Segundo ela, as nossas posturas corporais afetam os níveis hormonais, neste caso sobe a testosterona, e fazem-nos sentir mais seguros. Como afirmou uma vez numa conferência, “fake it until you become it” ou “finge até de facto te tornares naquilo que agora só finges ser”.

Muitos atores de teatro e de cinema aludem a este fenómeno: depois de desempenharem um papel durante muito tempo, tiveram sérios problemas para se descondicionarem dele. As nossas ações e a nossa forma de comunicar podem mudar os nossos pensamentos e os nossos sentimentos. Suponho que as hospedeiras de bordo que no desempenho da sua profissão devem sorrir sempre, mesmo estando a chorar por dentro, se tornam em pessoas mais positivas e otimistas a longo prazo.

A expressão inglesa “count your blessings” exorta-nos a enumerarmos todas as bênçãos que recebemos em vez de contarmos as desgraças. Mais explícito ainda nesta terapia positiva para exorcizar a nossa negatividade, temos o provérbio castelhano, “Al mal tiempo buena cara”, ou seja, sorri à vida, insiste, persiste e não desistas até que a vida te sorria a ti.
Pe. Jorge Amaro, IMC

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