1 de dezembro de 2014

A Imaculada Conceição da Virgem Maria

Origem do pecado e pecado original
Deus criou o homem à sua imagem e semelhança; com o pecado perdemos a semelhança de Deus, mas mantemos ainda a sua imagem. Já não somos como Deus nos criou; o pecado dos nossos pais alastrou-se no espaço e no tempo alterando profundamente a natureza humana. O homem construiu o seu próprio inferno, tipificado nas cidades de Sodoma e Gomorra. O dilúvio destruir tudo e começar de novo, com a família de Noé, foi o primeiro plano para salvar a espécie humana. A descendência de Noé depressa voltou ao pecado dos seus antepassados.

Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que ficaram embotados. (Jeremias 31, 29) Sem conhecer as leis da hereditariedade de Mendel os hebreus eram conscientes que certos males passavam de pais para filhos. De facto o pecado de Adão e Eva corrompeu-os, não só a nível existencial como pessoas mas também a nível genético, pelo que as consequências seriam sofridas por toda a espécie humana.

Usurpação do critério do bem e do mal
A pseudo emancipação do homem, o querer ser como deus, o ter usurpado a Deus a prerrogativa do bem e do mal, foi a origem do pecado ou pecado original que vai passando de geração em geração, pois modificou o ADN da espécie humana. O mal instalou-se dentro da espécie humana de tal forma que como dizia Jesus, em Mateus 15, 11, “Não é aquilo que entra pela boca que torna o homem impuro; o que sai da boca é que torna o homem impuro”. Não é portanto a má educação que leva o homem a ser mau; a maldade já está no interior.

Enquanto o critério do bem e do mal estava no centro do jardim do Éden, e pertencia exclusivamente a Deus, a terra era o Reino de Deus; havia paz, união, consenso, pois todos se submetiam a um critério único. Quando o Homem querendo ser como Deus se colocou no centro, roubando a prerrogativa do bem e do mal, instalou-se a divisão, a guerra, a subjectividade, a arbitrariedade, o relativismo, a divisão, a discórdia. Todos os indivíduos querem o centro. Não pode haver dois centros, se eu tenho o critério do bem e do mal tu não o tens ou eu não to reconheço.

Ninguém faz o mal pensando que está afazer o mal; Hitler ao matar 5 milhões de Judeus pensava que estava a fazer um serviço à humanidade; as bombas suicidas que se matam, matando pessoas inocentes, dizem que se estão sacrificando por um bem maior; os extremistas muçulmanos matam em nome de Deus….

Somos maçãs com bicho
Os pais que se esmeram na educação dos seus filhos ficam admirados quando estes começam a mentir, a roubar e a fazer outras travessuras que eles nunca ensinaram aos filhos. O mal está dentro de nós e não precisa de ser aprendido. Como diria o psicólogo Jung o mal pertence ao inconsciente colectivo da humanidade. Cada acto malvado, que um individuo leva a cabo, instala-se nesse coeficiente colectivo de tal forma que os indivíduos que nascem depois nascem com a capacidade de o voltar a realizar sem precisarem de nenhuma aprendizagem.

Muita gente ao ver uma maçã com um buraquinho pensa que o buraquinho foi feito pelo bicho, ao entrar na maçã, quando o contraio é que é verdade, foi feito pelo bicho ao sair da maçã. O bicho é um ovo que um insecto depositou na maçã, no momento da sua concepção, ou seja quando era ainda uma flor. Todos nós somos maçãs com bicho, o mal está dentro de nós e só precisa de uma determinada circunstancia para se revelar.

Não é portanto como diz o proverbio “A situação faz o ladrão”. Todos, tarde ou cedo, são confrontados com situações onde podem roubar; à partida todos somos capazes de roubar. Roubar ou não roubar vai depender do grau de educação, em valores humanos, que temos no momento da tentação. Só esse grau de educação, em valores humanos, pode contrariar a tendência inata em todos.

De Eva a Avé
Duas são as razões pelas quais Deus veio até nós em forma humana; a primeira para nos dizer, de uma forma definitiva, como é Deus, a segunda para nos dizer como é o ser humano e como deve ser. Cristo é de facto a medida do humano, o metro padrão da humanidade, aquele com quem todos os indivíduos se devem medir, pois Ele é a norma, ele é o modelo, o paradigma. Cristo é o homem que Deus criou em Adão, antes de este ter desobedecido, de facto Jesus mostra, pelas palavras e pelas obras que se mantem, toda a sua vida, obediente a Deus.

Como Cristo é o segundo Adão, Maria é a segunda Eva. Avé é de facto Eva ao contrário. Cristo, o filho de Deus altíssimo, não podia ter como mãe Eva, depois do pecado; por isso no momento da sua conceição, no momento em que meia célula de Joaquim se uniu à meia célula de Ana sua esposa, Deus actuou, evitando que os genes que desde o pecado de Adão e Eva tinham passado de geração em geração passassem também para Maria. Maria foi concebida sem pecado original, por ter sido destinada a ser a mãe do filho de Deus. Não faz sentido que Deus encarnasse na natureza humana que Adão e Eva modificaram com o pecado. Por isso Maria que ia a ser a mãe do Senhor foi preservada desta herança negativa comum a todos os mortais.

Na Etiópia não existe a figura negativa de madrasta. Muitas vezes uma é a mãe biológica e outra é a mãe que cria e educa. Chama-se a “Ingera enat” ou seja, mãe do pão. Quando estudava teologia tinha um colega que à sua tia biológica chamava mãe e à sua mãe biológica chamava tia. O meu colega tinha sido rejeitado pela sua mãe biológica e acolhida pela irmã desta que o criou, era tanto o amor que tinham um pelo outro que estando ela já doente, terminal de cancro, não faleceu enquanto não viu o seu filho (biologicamente sobrinho) ordenado sacerdote.

Eva é a mãe biológica de todos os viventes; Maria é a nossa mãe de pão, desse pão eucarístico que é o seu filho que nasceu num cidade chamada Belém, que literalmente significa casa de pão, e que ela depositou numa manjedoura, recipiente onde se come, para que nós nos alimentássemos dele.

Eva é a nossa progenitora, mas abandonou-nos à nossa sorte, Maria é aquela que provê às nossas necessidades quando em Caná diz “Não têm vinho” João 2, 2

Eva é a que nos ensinou a fazer o mal, Maria é a que nos educa e ensina a fazer o bem ao apontar para o seu filho e dizer “fazei o que ele vos disser” João 2, 5.
Pe. Jorge Amaro, IMC

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