1 de março de 2023

Mistérios Marianos do Rosário

Porquê mistérios marianos? Porque os mistérios marianos fazem parte da vida de Jesus tanto como os gozosos, os luminosos, os dolorosos e os gloriosos. A vida de Maria está ligada à vida de Jesus, não se pode explicar ou escrever uma história biográfica de Jesus sem mencionar Maria, como os protestantes pretenderiam. Ela esteve na origem de Jesus, na sua vida pública, na sua morte e ressurreição, na vinda do Espírito Santo, no início da Igreja. Ela existiu antes e depois do verbo incarnado.

Os mistérios marianos são acerca de Maria na sua relação com Jesus. Seguem de perto a Jesus, são acerca do papel de Maria na história da salvação do seu filho. São acerca de Jesus pela ótica ou perspetiva de Maria. Tenho uma irmã que durante anos manteve um diário acerca das vivências com o seu filho, desde a sua conceção até à idade adulta. Os mistérios marianos são o diário de Maria, são aquilo que silenciosa e secretamente Maria guardava no seu coração.  (Lucas 2,16-21)

Não pretendo com isto dizer indiretamente que Maria seja corredentora, dogma que papa João Paulo II contemplou instituir, mas não o fez. Maria está ao serviço da história de salvação apesar de o seu papel ser o mais importante que o de qualquer um dos 12, pois ela foi e é mediadora de todas as graças e, portanto, da graça principal que é a vinda de Cristo ao mundo. Isto, porém, não faz dela corredentora ao lado do seu Filho. Ela própria foi redimida só que a sua redenção começou antes, na sua Imaculada Conceição. Se foi redimida não pode ser redentora.  

Apesar do seu papel importantíssimo na história da salvação, Maria não foi imprescindível nem o é agora. Se ela tivesse dito não ao anjo, Deus teria pensado noutra pessoa ou noutra forma de encarnar na humanidade, pois a Ele nada é impossível, como o mesmo anjo disse a Maria. Imprescindível na história da humanidade foi e é só uma pessoa: Jesus de Nazaré.

Aos que se riem de mim ou me questionam sobre quem sou para criar estes mistérios, “não és o papa nem nenhum bispo”, eu respondo que o Espírito Santo é democrático, não respeita as hierarquias eclesiásticas, sopra onde quer e sobre quem quer (João 3, 8). Os direitos de autor do Espírito Santo não pertencem a ninguém. Muito bem tem vindo à Igreja por intermédio de leigos e muito mal tem vindo à Igreja por meio de papas e clérigos.

Os 12 Mistérios Marianos
Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas. Estava grávida e gritava de dores, sentindo as angústias de dar à luz. Depois apareceu outro sinal no céu: um grande Dragão vermelho, com sete cabeças e dez chifres, e nas cabeças sete coroas.

Varria com sua cauda uma terça parte das estrelas do céu, e as atirou à terra. Esse Dragão deteve-se diante da Mulher que estava para dar à luz, a fim de que, quando ela desse à luz, lhe devorasse o filho. Ela deu à luz um Filho, um menino, aquele que deve reger todas as nações pagãs com cetro de ferro. Mas seu Filho foi arrebatado para junto de Deus e do seu trono
. Apocalipse, 12, 1-5

Já temos mistérios no santo Rosário que são pura e tecnicamente marianos, os primeiros três gozosos e os últimos dois gloriosos. De facto, a primeira vez que me vieram à ideia os mistérios marianos, eram precisamente estes cinco, para serem usados em dia de sábado, dia especialmente consagrado à nossa Mãe celestial. Mais tarde pensei ainda em sete por ser um número perfeito na Bíblia e, por fim, em 12 inspirado na mulher do livro do Apocalipse.

As dozes estrelas na coroa de Maria representam as 12 tribos de Israel, os 12 apóstolos, o novo Israel, a Igreja, os 12 contributos para a história da redenção de Jesus Cristo, seu filho segundo a carne. Maria está coroada com estas dozes estrelas, doze atributos, doze joias da redenção da humanidade.

Quais são estes doze mistérios:

1. Contemplamos a Imaculada Conceição e o Nascimento da Virgem Maria.
Maria é a nova Eva, como Cristo é o novo Adão, ou seja, o homem e a mulher como Deus os concebeu antes do pecado. O pecado não faz parte da natureza originária do ser humano. Por isso, quando Deus Pai pensou em enviar o seu Filho ao mundo, Ele não podia nascer da natureza pecaminosamente modificada do homem, mas da natureza original em que Ele o criou. A Imaculada Conceição da Virgem Maria é também o princípio da redenção de Maria, como o é para nós.

2. Contemplamos a Anunciação do Anjo à Santíssima Virgem Maria.
Comum com o primeiro gozoso, mas que, como dissemos, é puramente mariano. O Anjo Gabriel é o arauto da Nova Era que está para começar. Deus vai visitar outra vez o seu povo, como o fez no Egito, mas desta vez a libertação é mais espiritual que física e mais abrangente, ou seja, não só para o seu povo, mas para todos os povos. Faz-se realidade o sonho e profecia de Isaías.

3. Contemplamos a Visita da Virgem Maria.
De estar com Deus e consigo mesmo, a estar com o próximo, esta é a vida do cristão que Maria exemplifica muito bem na sua vida. Mal ouviu que a sua prima necessitava da sua ajuda, levantou-se e deixou a sua agradável contemplação do divino, a sua paz e quietude, para se ocupar das necessidades dos outros. Desde que Maria visitou a sua prima ainda não parou de nos visitar sempre que estamos em necessidade: Guadalupe, Lourdes, Fátima e tantas outras, são a prova de que Maria sabe das nossas vidas e do que necessitamos em tempo oportuno.

4. Contemplamos Maria dando à Luz Jesus.
O Mistério Gozoso fala do nascimento de Jesus, esquecendo-se de quem o deu à luz. Contemplar o nascimento de Jesus sem contemplar aquela que O deu à luz é, para mim, uma formulação um tanto ou quanto protestante deste mistério. Até porque a protagonista do Natal é Maria, não Jesus, do ponto de vista gramatical: Jesus é dado à luz, Maria dá à luz.

5. Contemplamos a Profecia de Simeão sobre Maria.
À exceção de “Uma virgem conceberá e dará à luz um filho” (Isaías 7,14), todas as profecias são sobre Jesus. O profeta Simeão profetiza sobre Jesus, mas também sobre a sua mãe. A vinda de Jesus ao mundo teve um preço e parte desse preço foi pago pela sua mãe que sofreu por Ele, desde a conceção do seu filho até à sua morte.

6. Contemplamos a vida da Sagrada Família.
A segunda pessoa da Santíssima Trindade fazia já parte de uma família no Céu; na Terra também é parte de uma família: Maria, o próprio Jesus e o seu pai adotivo José. O ser humano é um ser social porque é um ser familiar; fora da família, não há vida humana. A família divina da Santíssima Trindade é certamente modelo para a humanidade, mas fica muito longe de nós. Em Jesus, a Santíssima Trindade estabelece no mundo uma família para ser modelo de amor e harmonia para as nossas famílias.

7. Contemplamos a Mediação de Maria no casamento de Caná da Galileia.
Maria lança o Seu filho para a vida, não o retém para si, como muitas mães fazem. Lança-O para a sua vida pública quando Jesus pensava começar mais tarde. Jesus cede ao pedido da sua mãe como sempre cede a qualquer pedido. Neste mistério, Maria converte-se na mediadora de todas as graças concedidas pelo seu filho, ela que era já a mediadora da salvação, pois por ela nos veio o salvador.

8. Contemplamos a Maternidade e o discipulado de Maria.
Maria é mãe por que é discípula, ela ouviu a palavra e colocou-a em prática. Também nós, segundo o evangelho, podemos ser família íntima de Jesus, irmãos, se como ela ouvirmos a palavra e a colocarmos em prática.

9. Contemplamos Maria que se torna nossa mãe aos pés da cruz do seu filho.
Jesus sempre se preocupou pela sua mãe e, no término da sua vida, assegurou-se de que ela não fosse como a viúva de Naim, pois nem a viúva de Naim ficou só, sem o seu filho. Por outro lado, Cristo que já nos tinha dado tudo, deu-nos também a sua mãe, para que fosse também nossa para sempre na Terra e no Céu.

10. Contemplamos Maria que se torna na mãe da Igreja em Pentecostes.
Já sendo nossa mãe, Maria como perita em coisas do Espírito Santo, pois por seu intermédio concebeu, transforma-se em mãe da Igreja, mãe dos discípulos de Jesus, formadora em coisas do Espírito Santo, catequista do Espírito Santo, prepara a Igreja para Pentecostes e os discípulos para o seu Crisma.

11. Contemplamos a Dormição e Assunção de Maria.
Este é o penúltimo mistério glorioso que já de si é mariano, pois é exclusivamente de Maria, ainda que seja por Jesus que ela ascende ao Céu em corpo e alma, não por méritos próprios, de alguma maneira.

12. Contemplamos a Coroação de Maria como Rainha do Céu e da Terra.
A rainha-mãe é uma figura querida em todas as monarquias; Santa Helena foi uma rainha-mãe que muito influenciou o seu filho. Se Jesus é Rei do Universo, Maria é também Rainha do Céu e da Terra.

Conclusão
Como os Mistério, Gozosos, Luminosos, Dolorosos e Gloriosos não são só acerca de Jesus, também os Mistérios Marianos não são só acerca de Maria. As vidas de Jesus e de Maria estão entrelaçadas uma na outra como as duas espirais do ADN. Os Mistérios Marianos relatam como a vida de Jesus se repercute na vida de Maria.

Pe. Jorge Amaro, IMC


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