15 de setembro de 2025

A Condenação e caminhada com a cruz

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No quarto Mistério Doloroso, contemplamos a condenação de Jesus à morte e a caminhada para o Calvário com a cruz às costas.


Do Evangelho de São João (19, 16-17)
Então, Pilatos entregou-lhes Jesus para que fosse crucificado. Os soldados apoderaram-se, pois, de Jesus, e Ele, carregando a cruz, saiu para o lugar chamado «Lugar da Caveira», que em hebraico se diz «Gólgota».

Comentário de São Cirilo de Jerusalém
Amor infinito de Deus! Cristo, sendo inocente, foi trespassado por pregos nos pés e nas mãos e suportou a dor. A mim, que não sofri nem dor nem tormento, através da participação na Sua dor, Ele me dá gratuitamente a salvação.

Meditação 1
No julgamento de Jesus, também Pilatos foi julgado, condenado e manietado. Pilatos pagou pelos seus erros anteriores; já tinham sido tantos que agora, apesar de estar convencido de que Jesus era inocente e de procurar um estratagema para O salvar, não conseguiu fazê-lo. As acusações contra ele em Roma eram já muitas, e Pilatos não podia permitir-se mais uma.

O todo-poderoso Pilatos, afinal, tinha perdido todo o seu poder por causa dos seus erros de governação, e agora estava à mercê de ser chantageado pelas autoridades religiosas de Israel. Ninguém está acima da verdade, da moral e da justiça. Ele teria sido livre para libertar Jesus, se não estivesse aprisionado pelos seus próprios erros, já denunciados ao Imperador. Só a verdade, a justiça e o amor nos fazem verdadeiramente livres.

Meditação 2
“Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Lucas 9,23). - Se não afirmarmos o outro na nossa vida, não seremos verdadeiramente felizes. Mas não podemos afirmar o outro sem nos negarmos a nós próprios.

A razão de vida não é apenas sermos felizes — isso é uma visão pequeno-burguesa da vida. Raoul Follereau, o profeta dos leprosos, dizia no seu testamento aos jovens: "A maior desgraça que vos pode acontecer é a de não ser úteis a ninguém." Ser útil é a verdadeira razão de viver. A quem sou eu útil?

O caminho de Jesus até ao Calvário é uma oportunidade para contemplarmos o Deus Santo que, em Cristo, Se entrega à humanidade em fidelidade até ao fim. É o Deus compassivo, que a todos oferece a Sua misericórdia.

Quanto caminho ainda temos por percorrer! Quantas “cruzes” há para ajudar a carregar, pelo menos através da oração! O que me custa, neste momento, “levar até ao fim”? Ajudo a carregar as cruzes dos outros, ou fico sempre fechado na minha própria dor? Não é só o prazer que nos torna egoístas; a dor também o faz.

Oração
Senhor Jesus,
que carregaste na cruz às costas, 
o peso dos nossos pecados e de toda a humanidade, 
nós Te agradecemos pela Tua entrega incondicional. 
No caminho para o Calvário, enfrentaste a dor, o desprezo e a solidão, 
e fizeste de cada passo uma lição de amor e de fidelidade.

Ajuda-nos, Senhor, a carregar as nossas cruzes 
com paciência e coragem, lembrando-nos sempre 
de que Tu caminhas ao nosso lado. 
Quando as dificuldades parecerem insuportáveis, 
dá-nos a força de confiar em Ti, 
tal como Tu confiaste no Pai até ao fim.

Ensina-nos a ver as cruzes dos outros, 
a partilhar o peso daqueles que estão à nossa volta 
e a ser instrumentos da Tua compaixão e misericórdia. 
Não permitas que a dor nos torne egoístas 
ou fechados em nós mesmos, 
mas que, pelo contrário, possamos ser solidários 
e generosos no serviço ao próximo.

Senhor, que a Tua caminhada para o Calvário 
nos inspire a seguir-Te de coração aberto, 
prontos a negar-nos a nós mesmos 
e a abraçar o amor e a verdade que Tu nos ensinaste. 
Que o Teu exemplo de entrega e sacrifício nos guie em cada dia, 
para que possamos viver como verdadeiros discípulos, 
servindo e amando os outros como Tu nos amaste. Amém.

Pe. Jorge Amaro, IMC

1 de setembro de 2025

A Coroação de Espinhos

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No terceiro Mistério Doloroso, contemplamos a coroação de Jesus com uma coroa de espinhos.


Do Evangelho de São Marcos (15, 16-19)
Os soldados levaram-no para dentro, para o pátio do pretório, e convocaram toda a corte. Vestiram-no com um manto de púrpura, puseram-lhe uma coroa de espinhos, que tinham entrelaçado, e começaram a saudá-lo: «Salve, ó rei dos judeus!». Batiam-lhe na cabeça com uma cana, cuspiam-lhe e, pondo-se de joelhos, prostravam-se diante dele.

Comentário de Santo Ambrósio
Em Pilatos, temos o exemplo antecipado de todos os juízes que condenariam aqueles que sabiam estar inocentes. Esta é uma antecipação das mais cruéis perseguições aos verdadeiros discípulos de Cristo, de todos os tempos. É absolutamente correto que aqueles que exigem a libertação de Barrabás, um assassino, sejam os mesmos que clamam pela condenação de um homem inocente. Assim são as leis da injustiça: odiar a inocência e amar o crime.

Meditação 1
Cristo Jesus torna-se objeto de escárnio e insultos nas mãos dos servos do templo. Eis Ele, o Deus todo-poderoso, atingido por golpes afiados; o Seu rosto adorável, a alegria dos santos, está coberto de sangue e espinhos. Uma coroa de espinhos é forçada sobre a Sua cabeça; um manto púrpura é colocado sobre os Seus ombros como uma zombaria; uma cana é enfiada na Sua mão; os servos ajoelham-se diante d’Ele em zombaria. Que abismo de ignomínia! Que humilhação e desgraça para Aquele diante do qual tremem os anjos!

O covarde governador romano imagina que o ódio dos judeus será satisfeito com a visão de Cristo neste estado lastimável. Mostra-O à multidão: "Ecce Homo! - Eis o Homem!"

Contemplemos o nosso Divino Mestre neste momento, mergulhado no abismo do sofrimento e da ignomínia, e percebamos que o Pai também O apresenta a nós, dizendo: "Eis o Meu Filho, o esplendor da Minha glória, porém ferido pelos pecados do Meu povo". "Meu povo, que te fiz eu? Em que te ofendi? Responde-me."

Meditação 2
Ajoelhando-se diante dele, gozavam-no, dizendo: "Salve, Rei dos Judeus!" (Mt 27,29). - Cristo, durante toda a Sua vida, escondeu a Sua verdadeira identidade. Quando O quiseram fazer rei por ter multiplicado os pães, Ele fugiu. Nunca fez um milagre para ser visto ou para ganhar prestígio; pelo contrário, dizia para não contarem nada a ninguém. Nunca buscou o poder nem era vaidoso, enquanto nós não desejamos outra coisa.

Foi apenas quando se encontrava no ponto de não retorno que Jesus reconheceu e aceitou o título de Rei, embora não deste mundo, pois os reis deste mundo não montam jumentos como Ele montou, nem são crucificados como Ele foi. São coroados com coroas de ouro, não com coroas de espinhos como a de Jesus.

Tal como Jesus, que veio ao mundo para servir e não para ser servido, que está no meio de nós como quem serve, os grandes da nossa vida são aqueles que nos serviram: os nossos pais, familiares, professores e amigos. Da mesma forma, na história da humanidade, são grandes os que serviram a causa humana, não os que se serviram dos outros.

Não é rei aquele que conquista a nossa vontade e nos subjuga; é rei quem nos serve e conquista o nosso coração. Não é, portanto, rei aquele que se coloca acima da lei, da verdade, da justiça e da moral. É rei quem encarna a justiça, a verdade e o amor.

Oração
Senhor Jesus,
que aceitaste a coroa de espinhos em silêncio e humildade, 
nós Te adoramos e agradecemos pela Tua entrega. 
Foste humilhado, escarnecido e ferido, 
mas nunca deixaste de nos amar, 
e a Tua dor tornou-se para nós fonte de salvação.

Ensina-nos, Senhor, a suportar com paciência 
as injustiças e sofrimentos que nos possam sobrevir, 
tal como suportaste os espinhos cravados na Tua cabeça. 
Dá-nos a força de nos mantermos firmes na verdade, 
mesmo quando o mundo nos ridiculariza ou rejeita. 
Que a Tua coroa de espinhos nos lembre sempre 
da necessidade de humildade e de serviço, seguindo o Teu exemplo.

Ajuda-nos a ser reis, não pelos títulos ou poder, 
mas pelo amor e pelo serviço aos outros. 
Que possamos servir os nossos irmãos, assim 
como Tu nos serviste, com um coração cheio de compaixão e de humildade. 
Que a coroa de espinhos, sinal da Tua paixão, 
seja também para nós um sinal de fidelidade 
e entrega total à vontade do Pai.

Senhor, Rei do nosso coração, 
livra-nos da vaidade e da sede de poder. 
Concede-nos a graça de reconhecermos a Tua realeza 
em cada ato de amor, verdade e justiça. 
Que o Teu exemplo nos inspire 
a viver de acordo com a Tua vontade, 
servindo, amando e perdoando, 
para que um dia possamos participar do Teu Reino de paz e glória. Amém.

Pe. Jorge Anaro IMC