15 de maio de 2012

Reiki e Cristianismo

13 comentários:

Voluntários de Reiki - Cenif - Guimarães
Quem não é contra nós é por nós. Marcos 9,40

Se Eu expulso os demónios por Belzebu, por quem os expulsam, então, os vossos discípulos? Por isso, eles próprios serão os vossos juízes Mateus 12, 27

Reiki é a união de duas palavras japonesas: Rei, que significa universal, total ou essência; Ki, que significa energia vital. Criado por um budista Japonês, Mikao Usui, o Reiki é uma terapia natural, não invasiva, que visa restabelecer a saúde e o bem-estar espiritual e psicofísico da pessoa. Pela imposição de mãos, o terapeuta, ajuda o paciente a ganhar acesso à energia vital, universal e divina, que alivia o stress e acelera o processo de cura natural do corpo e da mente. O terapeuta é só um catalisador ou facilitador; sendo o paciente que se cura a si mesmo, ao conectar-se à energia vital divina e sanadora.

Em todas as curas milagrosas de Cristo a fé do requerente era uma condição "sine qua non". Também no Reiki é o paciente, por meio do terapeuta, que se conecta com a energia vital e sanadora de Deus. Esta fé é catalisadora da energia salvífica que imana de Deus como vemos no episódio da cura da mulher que padecida de hemorragias: ela tocou na orla do manto de Jesus, sem Este se dar contra, e ficou curada. (Lucas 8 43-48)

O pensamento contemporâneo já não explica a realidade com base na física mecanicista de Newton, mas sim com base na teoria da relatividade e na física quântica. No entanto, a maior parte dos pensadores cristãos, os teólogos, ainda tem a mente formatada pela física newtoniana, sendo esta no fundo, uma das razões pelas quais rejeitam o Reiki como técnica de cura física e psicológica.

Sendo a fé, como diz o Concilio Vaticano I, um “obséquio razoável” no quadro de uma física mecanicista de Newton, onde a realidade é governada por leis fixas inalteráveis, torna difícil explicar os milagres e curas de Jesus, a ressurreição de Cristo e subsequentemente a nossa. Estes mesmos mistérios têm uma explicação mais razoável se os explicarmos com base na teoria da relatividade, da física quântica e do princípio de Heisenberg, para os quais já não se fala de leis da natureza mas sim de probabilidades estatísticas, que comportam um alto grau de incerteza e imprevisibilidade. Para Einstein a energia e a matéria são transmutáveis e equivalentes; a energia é uma forma de matéria, e a matéria, uma forma de energia.

A mentalidade maniqueísta, que entende que na criação há coisas boas e coisas más e que advoga Deus como o senhor das boas e o diabo como o senhor das más, esquece que Deus criou tudo do nada e tudo o que Deus criou é bom. Tudo na natureza são manifestações da sua bondade e não há forças supernaturais que não sejam manifestações do poder de Deus.Cristo tem ovelhas de outro redil (João 10, 16) e basta que elas não estejam declaradamente contra nós para estarem a nosso favor. (Marcos 9, 40)

Também há quem relacione Reiki com New Age e que por isso deve ser condenado. A New Age é um sincretismo de religiões e por esse motivo não deve ser considerada totalmente negativa. Rejeitando a ideia de que Deus não é um ser pessoal mas sim uma energia, tudo o resto pode ser adaptado ao cristianismo. Acaso, nós cristãos, não construímos igrejas, onde antes eram templos pagãos? E não substituímos o culto a deusas pela veneração a Maria a mãe do Senhor? Quem não gosta das músicas de Enya e da magia dos livros de Paulo Coelho? E no entanto são New Age. “Não deitemos fora o menino com a água da banheira”.

O Reiki, tal como o Yoga, o Zen, a meditação transcendental e outras terapias orientais, não são uma religião nem sequer uma filosofia, mas sim técnicas de cura e crescimento espiritual. O Reiki não proclama que Deus é uma energia cósmica mas que, essa energia cósmica é divina. Também não diviniza o seu fundador Mikao Usui, apesar de ele se ter inspirado em Jesus e nas suas curas milagrosas pela imposição de mãos. A sua técnica é seguida, mas o seu nome não é invocado durante a terapia. Não existe nenhuma normativa no Reiki que proíba terapeutas cristãos de invocarem o nome de Jesus ou o Espirito Santo, para obter a graça da cura.

Tirei um curso residencial de psycho-spiritual counseling, com a duração de dois anos, num instituto católico em Inglaterra, fundado pelo Cardeal Hume de Londres. Durante esse tempo, formei-me em várias técnicas de cura, entre as quais Reiki,. Os meus mestres, sacerdotes  como eu e algumas religiosas, não vemos nenhuma contradição entre a fé cristã e a prática de Reiki, pelo contrário, achamos que até se podem complementar.
Pe. Jorge Amaro, IMC

1 de maio de 2012

"Átrio dos Gentios"

2 comentários:


O Vaticano criou, um espaço para o diálogo entre crentes e não crentes, denominado “Pátio dos Gentios”. Este nome evoca o único lugar do templo de Jerusalém que podia ser frequentado por não judeus. Era, de facto, o local onde se compravam e vendiam os animais para os sacrifícios.

O Templo de Jerusalém estava dividido em átrios, que consistiam em rectângulos concêntricos, dispostos em função do nível “Sagrado”: desde o menos sagrado, o Pátio dos Gentios aberto a toda a gente, até ao mais sagrado, o Sancta Sanctorum. Seguindo esta escala, no primeiro entraria qualquer pessoa, no segundo só entrariam Judeus, no terceiro Varões, no quarto Sacerdotes e no quinto, unicamente, o “Santo dos Santos”, o Sumo-sacerdote.

Em concreto, o diálogo entre crentes e não crentes, ocorrido em Guimarães e Braga nos passados dias 16 e 17 de Novembro encheu-me as medidas; designá-lo “Átrio dos Gentios” faz sem dúvida sentido em termos históricos e metafóricos, mas não está imune à possibilidade de uma certa conotação pejorativa.

“Gentios” era o nome depreciativo que os Judeus davam aos não Judeus, havendo, até, Fariseus que, veementemente, acreditavam que Deus criou os gentios para alimentar o fogo do inferno (local onde iriam parar os “maus” Judeus). Nesta óptica, considero que, nos dias de hoje, chamar “gentios” aos “não crentes” é como chamar-lhes “infiéis”, nome que os muçulmanos dão a todos os que não professam a sua fé.

Quando eramos pequenos, se havia coisa que mais odiássemos era que os chamassem nomes; devemos evitar a tentação de apelidar os outros desde e em função da nossa cosmovisão – forma de ver e estar no mundo. Por esta mesma razão os Inuit do Norte do Canadá não gostam que lhes chamem Esquimós; esse é o nome que nós lhes damos não o nome com o qual se identificam. Duvido que os não crentes em geral ou os que simplesmente não professam a nossa fé, gostem de ser chamados “gentios”.

Sobre este monte, o Senhor do Universo há-de preparar para todos os povos um banquete de manjares suculentos, um banquete de vinhos deliciosos. Isaías 25,6

Se tivesse que encontrar no Antigo Testamento um nome metafórico para este espaço de diálogo entre homens e mulheres de boa vontade, eu chamar-lhe-ia o Banquete de Isaías. Isaías é, sem duvida, o profeta menos nacionalista e o profeta mais universalista do Judaísmo, um autêntico “cristão” avant la letre.

Pe. Jorge Amaro, IMC