15 de abril de 2012

Aldeia das Religiões - The Golden Rule

2 comentários:
Para promover a tolerância e o diálogo inter-religioso, visando o fim das “guerras santas” e a paz no mundo, realizou-se na aldeia de Priscos, Braga, entre os dias 25 e 28 de Outubro, a segunda Aldeia das Religiões (a primeira foi realizada no Brasil, em 1992).

“Não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti” é a versão mais conhecida de uma regra que um missionário canadiano baptizou como sendo a regra de ouro porque, com poucas variações, existe em todas as religiões do nosso planeta. Cito algumas:
  • Hinduísmo - Este é o supremo dever: não faças aos outros o que poderia causar dor se te fosse feito a ti. Mahabharata 5: 1517
  • Budismo – No tratamento dos outros não uses maneiras que seriam dolorosas para ti. O Buda, Udana-Varga 5.1
  • Confucionismo - Uma palavra que resume a base de toda a boa conduta: bondade. Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti mesmo.  Confúcio Analectos 15:23
  • Judaísmo - O que é odioso para ti, não o faças ao teu vizinho. Esta é a toda a Torá; tudo o resto é comentário. Vai e aprende-a. Rabino Hillel Talmud, 31
  • Islão - Não te consideres crente enquanto não desejares aos outros o que desejas para ti. Profeta Muhammad, 13 de Hadiths 40 de Nawawi
  • Cristianismo - Em tudo, faz aos outros, o que desejarias que os outros te fizessem a ti; esta é toda a lei e profetas. Mateus 7:12

Formulando a regra de ouro pela negativa estas religiões só nos dizem o que devemos evitar; enquanto o cristianismo na sua formulação positiva diz-nos o que devemos fazer. Apesar da formulação muçulmana ser também positiva (o que pode dever-se à inegável influência cristã nesta religião, que nasceu 600 anos depois de Cristo), esta expressa um desejo e não comanda uma ação. Não ultrapassa por isso o nível das boas intenções…

O que me faz bom não é o meu esforço para evitar o mal mas, sim, o meu esforço para fazer o bem. Enquanto as formulações negativas e a expressão de um desejo deixam-me no “dolce fare niente”, a formulação cristã, o mandamento de Cristo, tira-me da minha passividade, da minha inércia, da minha preguiça ou da minha zona de conforto, fazendo de mim um ativista pela justiça e pela paz.
Pe. Jorge Amaro, IMC

1 de abril de 2012

"Terra, Sangue e Mortos"

1 comentário:
Assim descrevia o Bispo do Porto o povo do norte e, em geral, o povo português, numa conferência a missionários. Este conhecimento tão profundo da idiossincrasia do povo português não parece ter sido bem traduzido pelos próprios bispos quando preferiram manter como feriado nacional a Assunção da Nossa Senhora em detrimento do dia de Todos os Santos.

O dizer isto não me faz suspeito de ser um desses clérigos que pensam que a expressão do amor e da gratidão à nossa Mãe do Céu nos faz menos Cristocêntricos. Rezo o terço todos os dias e sempre no fim da missa convido o povo, através de uma ave-maria, a agradecer àquela por quem nos veio o pão descido do Céu e a palavra incarnada de Deus, Cristo.

Já vivi e visitei muitos países do mundo católico e em nenhum povo vi um culto aos mortos como o dos Portugueses, tanto em Portugal como fora de Portugal, nas comunidades espalhadas pelo mundo inteiro. O nosso povo é tão generoso que, depois de mandar celebrar uma missa pelos seus entes queridos, acrescenta sempre mais uma missa pelas almas mais abandonadas do Purgatório - aquelas que não têm ninguém vivo que se lembre delas. Ao abolir este feriado não se estará a dar a Igreja um tiro no pé?

Fiéis defuntos e Todos os Santos que o feriado unia, por razões de conveniência do povo, são a expressão da Comunhão dos Santos expressa no Credo dos Apóstolos. Na minha terra, Loriga, e em muitas terras do nosso país, o povo expressa essa mesma Comunhão dos Santos na Romaria comunitária ao cemitério. Ir à terra pelos Santos é equiparado ao ir à terra pelo Natal e pela Páscoa.

A festa de Todos os Santos era a nossa festa… a única no calendário litúrgico que fazia jus e celebrava o esforço, não beatificado nem canonizado, de tantos cristãos que, no seu dia-a-dia, buscam configurar-se mais a Cristo respondendo ao apelo “sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste.” Mateus, 5, 48

No mundo civil em assuntos de interesse geral os governos consultam o povo em referendo; “Voz do povo, voz de Deus”. Celebramos este ano os 50 anos do Concílio Vaticano II: um concílio que fez da Igreja menos piramidal e mais circular; menos hierárquica e mais de comunhão,  menos eclesiástica e mais popular. Não podia o povo ter sido consultado de alguma forma? Afinal, a festa de todos os santos e santas de Deus era o nosso equivalente à tumba do soldado desconhecido que todos os países têm e mantêm com orgulho.
Pe. Jorge Amaro, IMC