1 de março de 2019

3 Pessoas divinas um só Deus: Pai - Filho - Espirito Santo

Monoteísmo trinitário
Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor. 1 João 4,8

Se Deus é amor não pode existir em solidão, pois o amor implica relação, implica sair fora de si mesmo. Assim sendo, a divindade teria de ser constituída pelo menos por duas pessoas que se amam entre si. Porém, este tipo de amor não é perfeito; um matrimónio que não constitui família é um egoísmo a dois. O filho pode ter em sentido figurado ou físico, mas tem de haver um objetivo no matrimónio.

Cantai e dançai juntos, mas deixai que cada um de vós fique sozinho. Como as cordas de uma lira estão sozinhas embora vibrem ao som da mesma música. (…) E ficai juntos, mas não demasiado juntos: pois os pilares do templo estão afastados, e o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro. Khalil Gibran, O Profeta

O amor matrimonial não dever ser “eu dou-te, tu dás-me, toma lá dá cá”, mas sim os dois olhando na mesma direção. Como dizia Kalil Gibran, são como colunas de um templo que devem estar equidistantes entre si para sustentar o templo; estão juntas, mas não fundidas uma na outra, pois assim não sustentariam o templo. Se vivessem uma em função da outra, também não o sustentariam. Cada uma tem a sua função, sendo o objetivo comum sustentar o templo.

O movimento de vai e vem referente ao dinamismo do amor do esposo pela esposa e da esposa pelo esposo, não existe na natureza nem no universo. É um movimento artificial que, para ser possível, exige que duas rodas estejam unidas por um vetor: as rodas movem-se circularmente, mas o vetor que as une move-se em modo de vai e vem.

O movimento natural é sempre circular. Assim sendo, o amor matrimonial chega à sua perfeição quando supera o binómio e se transforma em triângulo. A família pai, mãe e filho(a) permite o movimento circular entre estas três pessoas distintas, mas um só amor. A família humana é uma metáfora da família divina e vice-versa. Deus é uma comunhão de três pessoas distintas unidas no amor pelo amor, por isso Deus é amor.

Concluindo, se Deus é amor e o amor implica uma relação cujo objetivo não é o olhar um para o outro, mas os dois na mesma direção, então, tanto o amor como Deus, não são “mono” nem “stereo”, mas sim tridimensionais.

O politeísmo refere-se à existência de uma pluralidade de deuses; o monoteísmo absoluto refere-se à existência de um único Deus (Judaísmo e Islão); o monoteísmo cristão ou trinitário refere-se à existência de uma só divindade em três pessoas distintas entre si: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

A Trindade implícita ou latente na Bíblia
A definição e formulação do dogma da Santíssima Trindade é o resultado de longos séculos de reflexão, meditação e oração de inúmeros cristãos. Foi definido em duas etapas, no primeiro Concílio de Niceia (325 d.C.) e no primeiro Concílio de Constantinopla (381 d.C.). Porém a Igreja viu já na bíblia, fonte primordial da revelação, uma Trindade latente ou implícita na qual se enraíza a reflexão teológica.

No Antigo Testamento
A Bíblia abre no primeiro capítulo e primeiro versículo dizendo que, no princípio, o Espírito de Deus pairava sobre as águas (Génesis 1, 1). Enigmaticamente, ao contrário da criação do resto das criaturas, na criação do Homem Deus apresenta-se como um criador plural ao dizer “Façamos o Homem à nossa imagem e semelhançaGénesis 1, 26.

Efetivamente, o Homem é tão uno e Trino como o é Deus. O mesmo acontece no episódio da Torre de Babel “Vamos, desçamos para lhes confundir a linguagem, de sorte que já não se compreendam um ao outro.” Génesis 11,7). Deus visita em pessoa a Abraão, apresentando-se em forma de três veneráveis senhores (Genesis, 18ss).

No Novo Testamento
Deus é proclamado como Pai em inúmeras passagens. Jesus revelou que Deus é Pai e revelou-se a si mesmo como seu Filho ao dizer “Ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar" Mateus 11,27.

São João diz no prólogo do seu evangelho que “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. (...) E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade” João 1,1.14.

São Paulo também apresenta a Deus como, “o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias, Deus de toda a consolação” 2 Coríntios 1,3.

Antes da sua Páscoa, Jesus anuncia aos seus discípulos que o Espírito Santo em ação desde a criação (Genesis 1, 1-2) lhes vai ser enviado como o defensor da verdade e que virá para junto dos discípulos para os ensinar (João14,16) e conduzir à verdade plena (João 16, 13). Assim o Espírito Santo é revelado como uma outra pessoa divina em relação ao Pai e ao Filho.

São Mateus termina o seu evangelho apresentando Jesus que envia os seus discípulos por todo o mundo: “Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos”. Mateus 28, 18-20

A Trindade na tradição da Igreja
A Igreja exprime a sua fé trinitária ao professar um só Deus em três Pessoas: Pai e Filho e Espírito Santo. As três Pessoas divinas são um só Deus porque cada uma delas é idêntica à plenitude da única e indivisível natureza divina. Elas são realmente distintas entre si pelas relações que as põem em referência umas com as outras: o Pai gera o Filho, o Filho é gerado pelo Pai, o Espírito Santo procede do Pai e do Filho”. Catecismo da Igreja Católica, 48

Não professamos três deuses, mas um só Deus em três pessoas. Um só Deus por ser uma só natureza, uma só substância, uma só essência em três pessoas distintas. A natureza é o que se é, a pessoa é quem se é.

É certo que o todo que é a Trindade é composto por três partes que é cada uma das pessoas divinas; o todo não é igual à parte nem a parte é igual ao todo. Porém na Trindade o todo contém a parte e a parte contém o todo. O mesmo acontece no nosso corpo humano: cada uma das nossas células é só uma infinitésima parte do nosso organismo, constituído por milhões delas; porém e apesar de ser só uma infinitésima parte cada uma das nossas células, contém em si todo o nosso organismo por via do ADN que está presente em todas elas.

É o nosso código genético que une milhões de células diferentes entre si, umas de osso, outras de sangue, outras de fígado, etc. num só corpo. O mesmo acontece com a divina Trindade: cada uma das pessoas divinas é um ser único, inteiro, autónomo por um lado, por outro faz parte de um desígnio maior - a Trindade - porque têm o mesmo código genético, ou seja, a mesma natureza a mesma essência.

Por isso, as três pessoas divinas não têm, cada uma delas, uma parte da divindade, ou seja, não há uma divindade a dividir por três, pois cada pessoa divina é Deus por inteiro. Também não são três deuses distintos, pois a única distinção que existe dá-se no interior da Trindade. São distintas na relação entre si e na relação ou compromisso com a humanidade, ou seja, no papel que desempenham na economia da salvação. Constituem uma multiplicação e não uma soma: 3X1=3 ou 1X3=3. 

As três pessoas partilham a mesma essência, portanto não representam uma volta ao politeísmo ou, neste caso, ao triteísmo. As três pessoas são eternas, sem começo nem fim, sempre existiram. O Filho foi gerado, mas não criado, o Espírito procede do Pai e do Filho, pelo que, não é gerado nem criado. Se perguntarmos o que é Deus, a resposta é: Deus é uno e trino, essa é a sua natureza e essência, o seu Ser. Se perguntarmos quem é Deus, a resposta é: Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.

Pai Criador – Deus sobre nós
Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis…

O Senhor disse: «Eu bem vi a opressão do meu povo que está no Egito, e ouvi o seu clamor diante dos seus inspetores; conheço, na verdade, os seus sofrimentos. Desci a fim de o libertar da mão dos egípcios e de o fazer subir desta terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra que emana leite e mel. Êxodo 3, 7-8

Deus sobre nós é a representação da transcendência de Deus. Deus é criador, Senhor de tudo e de todos, da vida que é o dom mais precioso que deu à humanidade. Não nos criou e abandonou à nossa sorte. Desceu ao Egito por intermédio de Moisés; mas ao Egito mais global e generalizado, em que se tinha transformado a sua criação, desceu ele mesmo, na pessoa do seu Filho.

Mas esta é uma longa história que ocupa na bíblia todo o Antigo Testamento; uma história de amor de Deus pelo seu povo e da infidelidade deste para com o seu criador e tantas vezes salvador das vicissitudes da História.

Deus escolhe para si um povo com o objetivo de salvar todos os povos. Há quem tenha entendido isto desde sempre - a corrente universalista do judaísmo representada pelo profeta Isaías - e quem nunca o tenha entendido, a corrente nacionalista xenófoba, representada pelo profeta Elias que pensava que Deus os escolhera para um privilégio.

Deus nunca escolhe ninguém para um privilégio, mas para um serviço. O povo de Israel e a sua cultura seriam o berço onde muitos anos mais tarde nasceria, para toda a humanidade, o seu salvador. Como sonhou Isaías, Jerusalém acabaria mesmo por ser o palco de um banquete para todas as nações. (Isaías 25, 5-12)

1. Una ciudad para todos. LEVANTAREMOS.
Un gran techo común.
Una mesa redonda como el mundo. LEVANTAREMOS.
Un pan de multitud. Un lenguaje de corazón abierto.
Una esperanza: VEN, SEÑOR JESÚS.

NO RECHAZAREMOS LA PIEDRA ANGULAR.
SOBRE EL CIMIENTO DE TU CUERPO
LEVANTAREMOS LA CIUDAD. (bis).

2. Suben los pueblos del mundo.
Suben a la ciudad.
Los que hablaban en lenguas diferentes.
Pregonan la unidad. Nadie grita. ¿Quién eres y de dónde?
Todos se llaman HIJOS DE LA PAZ (Cântico espanhol)

Filho Salvador – Deus connosco
Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigénito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos; Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial ao Pai…

Depois de ter deixado a família na Igreja para a Missa do Galo, um agricultor canadiano regressava a casa, fugindo da tempestade de neve que se avizinhava. De nada tinha valido a insistência da sua mulher para participar na missa. Para ele, a encarnação de Deus não fazia sentido. Enquanto dormitava ao calor da lareira, foi sobressaltado pelo embate de gansos na porta e nas janelas. Afastados pelo temporal da sua trajetória migratória para o Sul, estavam completamente desnorteados.

Movido de compaixão, abriu os portões do grande celeiro e começou a correr, a esbracejar, a assobiar, a gritar e a enxotá-los para que se abrigassem até a tormenta passar. No entanto, os gansos esvoaçavam em círculos, sem entenderem o que significava o celeiro aberto e os gestos dramáticos do desesperado agricultor (que nem com migalhas de pão espalhadas na direção do celeiro os tinha convencido). Derrotado no intento da salvação das pobres criaturas, suspirou: “Ah, se eu fosse ganso! Se eu falasse a linguagem deles!”. Ao ouvir o seu próprio lamento, recordou a pergunta que tinha feito à sua esposa: “Por que razão havia Deus de querer ser homem?”. E, sem querer, balbuciou a resposta: “Para o salvar!” ... E foi Natal.

Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas perdidas, cada um seguindo o seu caminho. Mas o Senhor carregou sobre ele todos os nossos crimes. Isaías 53, 6 Jesus o Filho de Deus veio mostrar-nos o caminho, a verdade e a vida, trilhando-o ele mesmo ao nosso lado, como fez com os discípulos de Emaús.

Como nos revela a carta aos Hebreus 1, 1-10, Deus falou ao longo da História de muitas maneiras através dos profetas. Mas deu-se conta de que a sua mensagem era sempre mudada, nunca chegava intacta ao seu destinatário. Por outro lado, como sugere Jesus na parábola dos vinhateiros homicidas, no capítulo 21 de Mateus, estes profetas eram todos liquidados.

Ele, que é de condição divina, (…) esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens (Filipenses 2, 6-7). Revelou-se em tudo igual a nós, exceto no pecado, para dizer na sua carne e pela sua carne que o pecado não faz parte da natureza humana, como não fez quando Deus criou o homem e o colocou no jardim do Éden.

Ao contrário do irmão mais velho na parábola do filho pródigo, Jesus, nosso irmão maior, veio devolver-nos a nossa antiga dignidade, fazendo com que Deus seu Pai e nosso Pai nos readmitisse como filhos, colocando-nos no dedo o anel de herdeiros, vestindo-nos a túnica e calçando-nos as sandálias de filhos. (Lucas 15, 11-32)

Espírito Santo – Deus em nós, defensor / consolador / inspirador
Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele falou pelos profetas…

"Ninguém pode dizer “Jesus é Senhor” a não ser no Espírito Santo" (1Coríntios 12,3). O mesmo Espírito é quem nos faz gritar dentro dos nossos corações Abbá Pai (Gálatas 4, 6). Isto mostra a união intrínseca das três pessoas da Trindade que não atuam sozinhas, por elas mesmas, como franco atiradores, mas indissoluvelmente unidas.

Porém, na economia da salvação, que está relacionada com a sua relação histórica com a humanidade, o Espírito Santo é Deus dentro de nós, sendo a representação da imanência de Deus, do Deus que é intimior intimo meo, como dizia Sto. Agostinho. Na sua transcendência, Deus está a cima de tudo e de todos, não se confunde com nenhuma criatura: na sua imanência, Deus é o coração de cada coisa e de cada pessoa.

É quem guia e governa a Igreja, que já estava formada na última Ceia e foi confirmada pelas aparições do Senhor Ressuscitado, mas à qual faltava o ímpeto e a coragem para sair de si mesma. Tal como no princípio Deus formou o Homem do barro e lhe insuflou a vida pelas narinas, assim agora à Igreja formada por Cristo é-lhe insuflado pelas narinas o ímpeto do Espírito Santo no dia de Pentecostes. A partir desse momento, a Igreja começou a viver e a estender-se, levando a mensagem de Jesus a todos os povos.

O mesmo Espírito Santo, sendo Deus dentro de nós, guia, consola e inspira cada um dos cristãos - inspira o que rega a palavra de Deus para o ajudar a interpretar e descobrir a verdade e aplicá-la ao aqui e agora do nosso tempo histórico, e inspira o que ouve para encontrar na pregação o que precisa no momento presente da sua vida e depois ajuda-o a colocar isso em prática.

A interpelação entre o Homem e a Trindade na segunda parte da oração do Pai Nosso
A oração que Jesus nos ensinou é como que um evangelho em miniatura: nela se resume o mais importante da sua doutrina, o que verdadeiramente interessa e devemos praticar. A segunda parte desta oração, a única que Jesus ensinou aos seus discípulos, trata das nossas necessidades: descreve as três principais necessidades humanas e as três dimensões do tempo nas quais a vida do homem decorre.
  1. O pão nosso de cada dia nos dai hoje - Primeiro pedimos pão que é necessário para sustentar a nossa vida na Terra, trazendo assim à presença de Deus as nossas necessidades do tempo presente.
  2. Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido – Em segundo lugar, pedirmos perdão a Deus pelo mal que fizemos, trazendo desta forma à presença de Deus o nosso passado para ser redimido.
  3. E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal – Em terceiro lugar, pedimos força e ajuda na tentação, pelo que confiamos na providência divina e pomos o nosso futuro nas mãos de Deus.
Nestas três breves petições. aprendemos a colocar nas mãos de Deus o nosso passado, o nosso presente e o nosso futuro. Mas esta não é só a oração que traz toda a nossa vida, passado presente e futuro à presença de Deus, também é a oração que traz a totalidade de Deus às nossas vidas.
  1. Quando pedimos pão para sustentar a nossa vida terrena, estamos a dirigir a nossa oração a Deus Pai, o Criador e sustentador da vida.
  2. Quando pedimos perdão, as nossas atenções dirigem-se diretamente a Deus Filho, Jesus Cristo, o nosso Salvador e Redentor.
  3. Quando pedimos ajuda para futuras tentações, este pedido leva-nos a pensar imediatamente em Deus Espírito Santo, o consolador, o guia, o guardião, o que dá força e alento.
De uma forma admirável, a segunda parte do Pai Nosso apresenta a totalidade do Homem no seu passado, presente e futuro à totalidade de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. Jesus ensina-nos a trazer toda a nossa vida à presença de Deus e a trazer a totalidade de Deus à nossa vida.
Pe. Jorge Amaro, IMC










1 comentário:

  1. Obrigada Padre Jorge!..
    Por esta excelente reflexão e explicação da mais bela oração que Jesus nos ensinou.
    No dia 17 de Março, os meus meninos
    vão celebrar a festa do Pai Nosso.
    Reze por eles.Bem haja por tudo que nos ensina.

    ResponderEliminar