Origem e função da Arca da Aliança
Como regra geral, o judaísmo rejeita manifestações públicas de espiritualidade, preferindo concentrar-se nas ações e crenças. Na verdade, a história do judaísmo começa com Abraão que, de acordo com fontes antigas, destruiu os ídolos que eram o método convencional da observância religiosa na época.
A adoração de imagens ou esculturas é severamente condenada em toda a Torá; o maior pecado que os israelitas, coletivamente, cometeram foi a construção do bezerro de ouro (Êxodo 32), destinado a servir como um intermediário material entre eles e Deus.
Mas na história do povo judeu, houve uma exceção a esta regra. Um objeto feito pelo homem foi considerado intrinsecamente sagrado – a Arca da Aliança.
Construída durante a travessia do deserto, foi utilizada até à destruição do primeiro templo. A Arca era o símbolo mais importante da fé judaica e serviu como manifestação material e concreta de Deus na Terra. As lendas associadas a esse objeto – e as penas severas atribuídas a quem abusasse dele – confirmam a centralidade da Arca para a fé judaica daquele período.
A construção da Arca é ordenada por Deus a Moisés, enquanto os judeus ainda estavam acampados no Sinai (Êxodo 25). A Arca era uma caixa de dois côvados e meio de comprimento, um côvado e meio de largura e um côvado e meio de altura. Feita de madeira de acácia revestida por lâminas de ouro puro, por dentro e por fora.
Na parte inferior da caixa, quatro argolas de ouro foram anexadas, através das quais as duas varas, também feitas de acácia e revestidas a ouro, eram colocadas. A família de Kehath, da tribo de Levi, levaria a Arca em ombros, usando dois varões.
A caixa estava coberta pelo kapporet, de ouro puro, de dois côvados e meio por um e meio. Fixados ao kapporet estavam dois querubins esculpidos, também em ouro puro. Os dois querubins estavam frente a frente, e as suas asas, que envolviam os seus corpos, tocavam-se.
A lenda diz que a Arca caminhava à frente do povo, queimando escorpiões, cobras e espinhos com jatos de fogo que surgiam dela, preparando assim o caminho para o povo de Deus. Também acompanhava os soldados para a guerra; de facto, foi uma vez tomada pelos Filisteus numa batalha.
Do ponto de vista espiritual, a Arca era a manifestação da presença física de Deus na Terra (a Shekhinah). Quando Deus falava com Moisés na Tenda do Encontro no deserto, fazia-o entre os dois querubins (Números. 7, 89). Depois de a Arca ser transferida para o espaço mais sagrado e privado do Tabernáculo, e mais tarde no templo, passou a ficar acessível apenas uma vez por ano e apenas por uma pessoa. No Yom Kippur, o sumo-sacerdote (Kohen Gadol) podia entrar nesse espaço para pedir perdão para si e para toda a nação de Israel (Levítico 16:2).
Maria é a nova Arca
A Virgem Maria é a Arca da Nova Aliança pois, "O Espírito Santo desceu sobre ela, e a força do Altíssimo envolveu-a com a sua sombra. Por isso o santo que nasceu dela foi chamado Filho de Deus." Lucas 1,35.
A descrição de que Maria foi coberta com a sombra e o poder de Deus é a mesma e única descrição encontrada na passagem sobre a Arca que lemos no Êxodo: Então a nuvem cobriu a tenda de reunião e a glória do Senhor encheu o tabernáculo. (Êxodo 40,34). Era no tabernáculo que se encontrava a Arca.
A Arca viajou para a região montanhosa de Judá para descansar na casa de Obede-edom (2 Samuel 6:1-11). Maria viajou para a região montanhosa de Judá para a casa de Isabel (Lucas 01:39).
David perguntou: “como é que a Arca do Senhor vem ter comigo?” (2 Samuel 6, 9). Isabel pergunta, “por que me foi concedido a mim, que a mãe do meu Senhor venha a mim?” (Lucas 1:43).
Vestido com uma estola sacerdotal, o rei David aproximou-se da Arca e dançou e pulou de alegria (2 Samuel 6:14). João Batista, filho de um sacerdote, pulou de alegria no ventre de Isabel aquando da aproximação de Maria, a nova Arca (Lucas 1:43).
A Arca permaneceu na casa de Obede-edom durante 3 meses (2 Samuel 06:11). Maria permaneceu na casa de sua prima Isabel por 3 meses (Lucas 1:56).
A casa de Obede-edom foi abençoada pela presença da a Arca (2 Samuel 6:11). A palavra abençoada é usada 3 vezes em Lucas 1:39-45 sobre Maria na casa de Isabel.
A Arca voltou ao seu santuário e eventualmente terminou em Jerusalém, onde a presença e a glória de Deus foram reveladas no templo recém-construído 2 Samuel 06:12; 1 Reis 8:9-11. Maria retornou a casa depois de visitar Isabel e eventualmente veio a Jerusalém, onde apresentou o filho a Deus, no templo (Lucas 01:56; 02:21-22).
O conteúdo da Arca
Prova final de que de facto Maria é a Arca da Nova e eterna Aliança é-nos dada pelo conteúdo da Arca. Que continha então a Arca da Antiga Aliança e que conteve Maria, a Arca da Nova e eterna Aliança?
Lei antiga e lei nova – Maria é a Arca da Nova Aliança, pois assim como a Arca guardava as tábuas da lei (Hebreus 9,4), Maria guardou Cristo, a nova lei. A antiga Arca continha as tábuas da lei, os dez mandamentos; Cristo é a nova lei, a lei do amor que resume os mandamentos e vai mais além destes, pois nos convida a amar sem medida enquanto, os mandamentos só nos diziam o que não fazer.
Jesus também é apresentado no evangelho de Mateus, especialmente no Sermão da Montanha (o novo Sinai) como o novo Moisés e aquele que diz: Ouvistes o que foi dito ao aos antigos ... mas eu digo-vos... (Mateus 5:21-22).
O Maná é o verdadeiro pão descido dos céus – Maria é a Arca da Nova Aliança, pois assim como a Arca guardou o Maná, o pão descido do céu (Hebreus 9,4), Maria guardou Jesus em seu ventre, o verdadeiro Pão que dá a vida eterna, pois os que comeram o maná, morreram.
O Maná é o pão que os judeus comiam para logo voltarem a ter fome. O verdadeiro pão é aquele que, uma vez comido, faz com que nunca mais se tenha fome; é o verdadeiro pão descido dos céus que é Cristo. Este pão foi semeado no seio de Maria, como diz um cântico de Fátima:
“O Trigo que Deus semeou no seio de Maria, tornou-se para nós o pão que nos dá vida e salvação eterna…. Maria é a terra onde germina essa semente a 100%. Ela é também o forno que o cozinhou por nove meses e o apresentou.
Os Pastores Moisés e Aarão e o Bom Pastor – Maria é a Arca da Nova Aliança, pois assim como a Arca continha o cajado de Aarão e de Moisés com o qual apascentaram o povo de Israel (Hebreus 9,4), Maria conteve no seu seio o novo e derradeiro Moisés, aquele que é o Bom Pastor, aquele que dá a vida pelas suas ovelhas.
Se a antiga Arca continha o cajado de Moisés com o qual guiava o seu povo e operava prodígios, a nova Arca contém o Bom Pastor, o que dá a vida pelas ovelhas e nos diz que só devemos reconhecer uma autoridade, um Pai, um Mestre, um Senhor que é Deus.
Conclusão: Se Arca da Aliança que apenas continha sinais da glória de Deus, foi venerada, duplamente venerada deve ser Maria, Nova Arca da Aliança, por ter contido o próprio Deus.
Pe. Jorge Amaro, IMC
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