15 de outubro de 2021

3 Razões para o envio dois a dois: Companhia - Trabalho em equipa - Prestação de contas

Ao enviar os seus discípulos em Missão dois a dois, Jesus demonstra um grande conhecimento de psicologia: ninguém vive só, não somos ilhas, todos precisamos uns dos outros. Facilmente perdemos o ânimo, a esperança, necessitamos de companhia; com companhia, as tristezas diminuem as alegrias aumentam.

Sabia também muito de sociologia e do funcionamento das empresas e instituições. Neste sentido, o evangelista não deve ser um franco atirador, deve trabalhar em equipa, já que duas cabeças pensam mais e melhor que uma só. A evangelização é efetuada pela comunidade, em nome da comunidade e com a comunidade.

Por fim, era conhecedor da natureza caída do homem pelo que colocou a supervisão, ou o prestar de contas, como um antídoto da corrupção, ao evitar que um se converta num líder ditador e fanático que transforma uma comunidade cristã numa seita desligada dos outros cristãos.

O que levar para o caminho e o que não levar
Chamou os Doze, começou a enviá-los dois a dois e deu-lhes poder sobre os espíritos malignos. Ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser um cajado: nem pão, nem alforge, nem dinheiro no cinto; que fossem calçados com sandálias e não levassem duas túnicas. Marcos 6, 7-9

A lista de coisas a levar para o caminho é idêntica nos três evangelhos e denota simplicidade, humildade e pobreza. Muito embora vá como ovelha para o meio de lobos, o evangelizador não deve ir preparado nem ataviado com recursos materiais, nem sequer deve prover o próprio sustento. Em cada momento, em cada lugar, deve confiar plena e exclusivamente na providência divina, deve buscar primeiro o Reino de Deus que o resto lhe será dado por acréscimo (Mateus 6, 33) porque Deus bem sabe do que necessitamos antes de lho pedirmos (Mateus 6, 8), o trabalhador merece o seu salário (Levítico 19, 13, Mateus 10, 10, Lucas 10, 7; 1 Timóteo 5, 18).

Apenas há uma discordância, nos três evangelhos em relação a dois artigos – o cajado e as sandálias – que, no nosso entender e presumo que no entender de Marcos, não são artigos de luxo, mas antes “ajudas de custo”, na medida em que facilitam o caminhar do evangelizador.

Mateus deixa o evangelizador descalço, sem sandálias e sem cajado para se apoiar. Lucas, na missão dos doze (9, 1-6) proíbe o cajado e ignora as sandálias; ao contrário, na missão dos 72, ignora o cajado e proíbe as sandálias. Marcos difere dos outros dois evangelhos, deixando levar um cajado e quase exige que vão calçados com sandálias. Sendo Marcos o primeiro a ser escrito, e pelo que sei de peregrinações e caminhadas como missionário na Etiópia, posso ignorar Lucas e Mateus e seguir o que diz Marcos.

O cajado é o que levam todos os peregrinos nas suas peregrinações, é o que leva o pastor. Tem muitas aplicações: ajuda a subir e a descer uma montanha, ajuda-nos a não escorregar na lama e, ao atravessar um rio, serve de terceira perna, ou seja, transforma um braço que na travessia é inútil, em perna de apoio.

Descalços, podemos ter um cem número de acidentes, um simples pico ou espinha pode introduzir-se no nosso pé e atuar como uma espinha na carne que dói e incomoda a cada momento; obriga-nos a sentar para o retirar e podemos deixar de o ver ou deixá-lo dentro da carne. Na Etiópia, na estação seca, quem anda descalço agarra pulgas penetrantes que entram na carne e chegam mesmo a fazer ninho.

A Missão é de todos e para todos
Depois disto, o Senhor designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. Lucas 10, 1

Quanto aos enviados, tanto Marcos como Mateus só referem a missão dos doze; Lucas tem dois envios, um dos doze e outro dos setenta e dois para nos dizer que a Missão não é só dos doze de quem os clérigos gostam de dizer que são descendentes, mas de todo o discípulo de Jesus, porque o número 72 tem um sentido totalizante e de universalidade. Segundo W. Barclay, 72 era o número de anciãos escolhidos para ajudar Moisés com a tarefa de liderar e dirigir as pessoas no deserto (Num.11:16-17.24,25).

Era também o número de membros de que era composto o Sanedrim, o Conselho Supremo dos Judeus. Por fim, era também considerado o número de nações no mundo. Lucas era o homem com uma visão universalista e é bem possível que ele estivesse a pensar no dia em que todas as nações do mundo conheceriam e amariam o seu Senhor.

Também o número 12 tem sentido universal e totalizante e não restringido aos bispos e clérigos como eles pretendem. S. Paulo, como sabemos, não era um dos doze e reivindicou para si e para muitos dos seus colaboradores e colaboradoras o título de apóstolo, que era exclusivo dos doze. Com isto quis afirmar que não é apóstolo aquele que tem um diploma ou um pedigree ou a quem foi dado o título, mas aquele que se comporta como tal, como missionário evangelizador disposto a sofrer pelo evangelho, como aliás Paulo fez mais do que nenhum dos 12 como ele mesmo diz (2 Coríntios 11, 22-33).

Doze são as tribos de Israel que formam o povo de Deus, os meses do ano, doze são as horas do dia doze são as horas da noite; doze são os signos do zodíaco, doze são os cavaleiros da távola redonda, doze são as estrelas que coroam a coroa de Maria, Rainha do Céu e da Terra, e em referência a ela, 12 são as estrelas na bandeira da União Europeia, na qual cada estrela não representa um estado nem tem nenhum significado individual, representando em grupo a totalidade dos estados membros, para dizer que, tal como o povo de Deus é formado por 12 tribos, assim a União Europeia é um novo povo, uma nova Europa.

Porque Jesus não queria reformular ou restaurar Israel, não escolheu um apóstolo de cada tribo; porque Jesus queria fundar um novo povo que fosse o fermento do Reino de Deus neste mundo, escolheu aleatoriamente 12 apóstolos para usar o simbolismo totalizante do número 12. Tal como na bandeira da União Europeia, o que interessa não são as doze estrelas ou doze indivíduos, mas o significado totalizante do número 12, que permite que Paulo também seja um apóstolo.

Ite Missa est
É o que o sacerdote dizia na missa em latim e que significa “a missa terminou, estais em missão”, ou seja, “terminou a missa começa a missão”. A vida do cristão decorre entre a Missa e a Missão, ou seja, quando não está na missa, está em missão e vice-versa, quando não está em missão é porque está na missa, porque o cristão está chamado a celebrar em comunidade o que vive, e viver ou pôr em prática o que celebra.

Fazei isto em minha memória – Não foi a Igreja que inventou o preceito dominical. Foi o próprio Mestre que sabia muito bem que quando um grupo não se reúne para compartilhar a sua fé, deixa de ser um grupo. Não há Igreja sem Eucaristia, nem Eucaristia sem Igreja.

Cada domingo, dia de descanso semanal, dia do Senhor, o Mestre continua a chamar a Si os seus discípulos para estar com eles, os instruir e se dar a eles no pão eucarístico; depois, ao fim, envia-os para mais uma semana de vida de trabalho e Missão. É o mesmo movimento vital do coração que chama a si o sangue para o purificar nos pulmões e o encher de oxigénio e depois o envia de novo às células.

Natureza da missão - Esta missão não é exatamente ir para as ruas pregar ou ir de porta em porta. Devemos pregar o evangelho em todo tempo e lugar a propósito e despropósito, como dizia S. Paulo (2 Timóteo 4, 2) e quando for preciso, como dizem que disse São Francisco de Assis, “podemos usar palavras” ou, no entender de São Pedro, dar razões da fé e da esperança que nos anima a todo aquele que o solicite (1 Pedro 3, 15).

Mas isto só quando for necessário; a maior parte das vezes não vai ser, pois o cristão, no entender do seu Mestre, prega com o exemplo. Os símbolos do ser cristão, sal e luz, são silenciosos, “porque o bem faz pouco ruído e o ruído faz pouco bem”, como dizia o Beato José Allamano, e porque o exemplo tanto acredita como desacredita a palavra. A palavra sem o exemplo está vazia de conteúdo, não serve para nada. É o exemplo que autoriza a palavra como os cristãos viam em Jesus (Mateus 7, 29) e como os primeiros convertidos romanos viam nos primeiros cristãos (“vede como se amam”).

Dois a dois
A Missão dos 72 discípulos, assim como a dos 12 no meio do ministério de Jesus, são missões supervisionadas, algo assim como as aulas práticas de uma escola; nestas missões, por fazerem parte do currículo e por os discípulos ainda não estarem preparados para a grande missão universal, o campo de missão restringe-se exclusivamente às ovelhas perdidas da casa de Israel (Mateus 10, 6), o que em realidade era o mesmo campo que a Trindade (Mateus 15.21-28). Por o campo da missão estar bem limitado, os discípulos estavam proibidos de sair de Israel, de pregar aos pagãos e nem sequer podiam entrar em cidade de samaritanos. A missão universal vem mais tarde e já não é propriamente de Jesus, mas do Espírito Santo.

O dois a dois não foi só observado durante estas aulas práticas, mas também depois de Cristo. Já no contexto da missão universal, passou a ser uma caraterística distintiva do evangelizar cristão. Na primeira viagem missionária, o Espírito Santo enviou Paulo e Barnabé, (Atos 13, 1-3), na segunda emparelhou Paulo com Silas e, mais tarde, com Timóteo (Atos 16, 1; 1Timóteo 1, 2, 4, 14). S. Paulo fala frequentemente dos seus colaboradores aos quais chama apóstolos, tanto homens como mulheres.

Em Israel, o testemunho de uma pessoa não é considerado aceitável (1 Coríntios 14, 29, 2 Coríntios 13, 1). Já no Antigo Testamento, o testemunho de uma única pessoa não era considerado suficiente para condenar alguém por homicídio (Números 35, 30, Deuteronómio 17, 6). De facto, duas ou três testemunhas eram necessárias para determinar que uma pessoa cometeu um pecado merecedor de castigo (Deuteronómio 19, 15).

(…) o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram relativamente ao Verbo da Vida, de facto, a Vida manifestou-se; nós vimo-la, dela damos testemunho (…) o que nós vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também vós estejais em comunhão connosco1 João, 1-3

Os apóstolos são, perante tudo, testemunhas de Cristo, anunciam a experiência salvífica que tiveram como ele. Não anunciam tanto uma doutrina, mas o que Jesus fez por eles, como modificou as suas vidas, como lhes deu salvação, ou seja, a saúde do corpo e da alma e como lhes abriu as portas da salvação eterna.

O evangelho pregado por um solitário franco atirador é, por outro lado, menos credível que o que é pregado por um grupo de pessoas que afirma ter tido a mesma experiência. O dois a dois, portanto, também aumenta a credibilidade da mensagem pregada.

Em Mateus (10, 2-4), apresenta-se a lista dos 12 escolhidos por Jesus para serem apóstolos, dois a dois. Ou seja, chama-os a si dois a dois e envia-os dois a dois. No evangelho de João, dois são os discípulos que se sentem chamados a seguir o mestre, Tiago e André; nos sinópticos, Pedro e André são chamados a deixar a pesca e a seguir outro par de irmãos, Tiago e João, são convidados a deixar as redes e o pai para o seguirem.

Já no Antigo Testamento, a ideia de dois estava presente. Moisés não se apresenta sozinho perante o Faraó, mas sempre com Aarão. David não se teria dado conta da gravidade do seu pecado se não tivesse sido confrontado pelo profeta Natan. Somos um ser social já desde o momento em que duas meias células se unem, formando uma célula humana. São precisas duas pessoas de sexo contrário para haver um novo ser. Por isto concluímos que a ideia do par está inscrita já nos nossos genes. Não somos ilhas, não podemos nem devemos viver como tal ou atuar sozinhos.

COMPANHIA
Jesus subiu depois a um monte, chamou os que Ele queria e foram ter com Ele. Estabeleceu doze para estarem com Ele e para os enviar a pregar, com o poder de expulsar demónios. Marcos 3, 13-15

Jesus e os seus amigos
Vivemos numa sociedade que dá extrema importância às relações funcionais, colocando as relações afetivas em segundo lugar e até proibindo-as para maior eficiência. Segundo os teóricos desta sociedade, todos devíamos comportar-nos como robôs, só com mente e mãos para trabalhar, sem sentimentos e sem coração, mantendo as emoções controladas.

O afetivo a quem é efetivo, alguém disse… Não somos robôs por mais que nos digam que nos comportemos como eles; duas rodas dentadas encaixadas, rodando uma com a outra, não suscitam sentimentos uma pela outra porque são entidades materiais; não é assim entre duas pessoas que se relacionam: a sua relação não pode deixar de evocar e invocar sentimentos e emoções. Como diz o provérbio, “Barco, jogo e caminho, do estranho fazem amigo”.

“O amor nasce entre iguais ou faz as pessoas iguais” – Não há problema quando os sentimentos surgem entre pessoas iguais, do mesmo estrato, entre colegas de trabalho ou de tarefa. O problema surge quando estes sentimentos surgem dentro de relações de autoridade, como Pai-filho, professor-aluno, médico-paciente, sacerdote-fiel, psicoterapeuta-cliente. Estas relações, dizem os códigos de ética profissional, devem ser amistosas, mas não de amizade.

Não é fácil manter este equilíbrio, impedindo que relações amistosas se transformem em relações de amizade, mas é possível; um dos modelos para mim é a relação que se estabelece entre pais e filhos quando estes últimos já são adultos. O outro modelo é o de Cristo.

Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai. João 15, 15

A relação que Jesus tinha com os seus discípulos começou por ser uma relação de autoridade, Mestre-Discípulo mas, com o tempo e convivência, transformou-se em relação de amizade, tal como a de um Pai com um filho adulto. Nos últimos anos da sua vida, o meu Pai até para o sacramento de penitência me procurava e partilhava muito comigo.

Como diz Marcos, Jesus chamou os seus discípulos para que estivessem com Ele, para que vivessem com Ele, portanto para uma relação de amizade, para serem sua companhia e não só para se relacionar com eles de forma fria e profissional, para os instruir, preparar e enviar. De facto, mesmo entre os 12, havia um grupo de três mais chegados a Ele e, de entre os três, tinha um ainda mais chegado, o discípulo amado. Numa das horas mais amargas da sua vida no Jardim das Oliveiras, pediu-lhes para que velassem com ele (Mateus 26, 39-44).

Também havia um grupo de mulheres que O seguia e, de entre elas, tinha uma que era mais chegada a Ele que as outras. Maria Madalena era amiga íntima de Jesus, porém nem com ela a relação de Mestre-Discípula foi rompida. Quando Jesus lhe apareceu depois da ressurreição, chamou-a pelo seu nome, Maria, mas esta respondeu “Mestre”. E quando referiu este acontecimento aos demais apóstolos, não lhes disse que viu o amado da sua alma ou Jesus, mas sim que viu o Senhor. (João 20, 11-18)

A importância da companhia
Como dissemos são precisas duas pessoas para procriar um ser humano. Somos intrinsecamente seres sociais. A nossa personalidade constrói-se na interação que temos com os nossos educadores, pais, irmãos, professores, amigos etc. Neste sentido, o ser humano não nasce, mas faz-se. Entre o nascimento e a idade adulta do ser humano passam pelo menos 18 anos, e só aos 7 anos tem consciência de si mesmo.

A primeira necessidade verdadeiramente humana, para além das físicas que temos em comum com os animais, é a necessidade de amar e ser amado. Sem amor não há de facto vida humana pois somos o fruto do amor entre duas pessoas, não só no ato da gestação como também nos primeiros 18 ou 20 anos da nossa existência, ou até no resto da nossa existência, pelo que podemos dizer que viver é amar e ser amado.  

A prova mais evidente de que a amizade e a companhia são tão essenciais como o pão que comemos e o ar que respiramos é o facto de uma tristeza partilhada diminuir, mas uma alegria partilhada aumentar.

Nunca o mundo esteve tão em comunicação como hoje por intermédio da globalização das redes sociais na Internet, dos telemóveis e, no entanto, nunca houve tanta solidão como agora. No Verão de 2003, quando se calculou que na Europa tivessem morrido 70 000 pessoas por causa do calor, França, em especial Paris, foi muito afetada e muitas dessas pessoas eram idosos que viviam sozinhos e sozinhos morreram. A 3 de Setembro desse mesmo ano ainda havia em Paris 57 corpos que ninguém tinha reclamado, pais, mães, irmãos ou irmãs, tios, tias, primos ou primas de alguém, pois não há vida humana fora destes parâmetros e todos os partilhamos, somos pais ou tios ou sobrinhos ou primos de alguém.

Sou um crítico feroz de ter os cães, gatos ou outros animais de companhia em casa; porém, tenho de reconhecer que quando falta a companhia humana, a companhia de um animal é um remedeio a considerar como último recurso. Há cada vez mais pessoas que buscam companhia nestes animais domésticos porque não a encontram nos humanos.

A amizade na sabedoria popular
Amigo de todos e de nenhum, tudo é um – Uma coisa é ser conhecido e ter muitos conhecidos, mas não são amigos. Jesus a todos tratava amistosamente, mas nem todos ele considerava seus amigos. Quem muito abarca pouco aperta, diz o provérbio. Como já dissemos, Jesus também tinha os que lhe eram mais chegados, mesmo dentro dos 12.

Contigo em contradição pode estar um grande amigo, livra-te daqueles que estão sempre de acordo contigo – A grande questão que se coloca dentro da amizade, é a questão da fé e da confiança. São os nossos amigos verdadeiros ou falsos? Muitos são os testes para saber isto; nas horas amargas se conhecem os bons amigos. Os mais desconfiados dizem “livre-me Deus dos meus amigos que dos meus inimigos me livro eu”.

O vitorioso tem muitos amigos, mas é o vencido que tem os melhores amigos – Este provérbio mongol é uma boa solução para o nosso problema da confiança. Quando falhamos na vida, os verdadeiros amigos são os que, mesmo assim, ficam connosco, porque, na hora amarga, quando o barco está para se afundar, os primeiros a abandonar o barco são os ratos.

Quando se caminha ao lado de um amigo, um quilómetro tem dez passos – A companhia de um amigo torna tudo mais fácil, tanto a viagem como a tarefa. Uma prova mais de que o que é verdadeiramente efetivo é o afetivo. Aliás o que fazemos por amor e com amor é o que fazemos melhor. Aristóteles, que escreveu sobre a amizade, ao explicar o tipo de união que existe entre dois amigos, chegou a dizer que a amizade é uma alma em dois corpos.

A companhia no apostolado
Nesse mesmo dia, dois dos discípulos iam a caminho de uma aldeia chamada Emaús, (…) conversavam entre si sobre tudo o que acontecera. Enquanto conversavam e discutiam, aproximou-se deles o próprio Jesus. (…) Pararam entristecidos. E um deles, chamado Cléofas, respondeu (…) Nós esperávamos que fosse Ele o que viria redimir Israel. Lucas 24, 13-35

A imagem dos dois discípulos de Emaús é muito significativa é a que uso no cabeçalho da Missão Itinerante. São marido e esposa que se afastam de Jerusalém depois do que lá tinha acontecido. É o único lugar em todo o Novo Testamento que nos refere o feedback dos apóstolos sobre a paixão e morte do Mestre. Este texto refere-nos o que pensavam e sentiam os discípulos perante a paixão e morte do seu querido Mestre.  

A companhia, o poder chorar juntos os insucessos e celebrar os sucessos, é uma das vantagens da companhia. Quando o apóstolo evangeliza com um amigo, pode contar com ele para tudo, com a sua ajuda, com o seu encorajamento, com os seus conselhos, duplica a sua ação pois a sua companhia o energiza.

E para além disto pode também contar com a ajuda do próprio Mestre que nos diz, “onde dois ou três estão reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles”. E se o que diz o evangelho é verdade, com esta ajuda no seu apostolado não podem contar os que atuam sozinhos, os franco atiradores. (Mateus 18, 20)

Depois dos tempos apostólicos, sempre houve homens e mulheres que unidos na mesma tarefa, a de evangelização, uniram os seus esforços e caminharam juntos os caminhos do evangelho, como os discípulos de Emaús. A grande maioria é desconhecida, porém há alguns canonizados pela Igreja que viveram uma santa e produtiva amizade. Aqui fica uma lista destas amizades mais conhecidas na Igreja:

Entre pessoas do mesmo género:
•    Sta. Perpétua e Sta. Felicidade
•    S. Basílio e S. Gregório Nazianzeno
•    S. Cirilo e S. Metódio
•    S. Boaventura e S. Tomás de Aquino
•    S. Inácio de Loyola e S. Francisco Xavier

Entre pessoas de diferente género:
•    S. Jerónimo e Sta. Paula
•    S. Bento e Sta. Escolástica
•    S. Francisco de Assis e Sta. Clara de Assis
•    Sta. Teresa, de Ávila e S. João da Cruz
•    S. Francis de Sales e Sta. Jane de Chantal
•    S. Vicente de Paulo e Sta. Luísa de Marillac
•    S. Martinho de Porres e Sta. Rose de Lima

TRABALHO EM EQUIPA
É melhor dois do que um só: tirarão melhor proveito do seu esforço. Se caírem, um ergue o seu companheiro. Mas ai do solitário que cai: não tem outro para o levantar! E se dormirem dois juntos, dormem quentes; mas se alguém está só, como se há de aquecer? Se um só é oprimido, dois já conseguem resistir a isso; o cordel dobrado em três não se parte facilmente. Eclesiastes 4, 9-12

Dois bois puxando um carro ou um arado ilustram bem o pensamento do autor sagrado. Um único boi não conseguiria fazer o que dois podem fazer; a questão está em conseguir emparelhá-los. Vemos uma junta de bois a puxar em uníssono e pensamos que sempre foi assim, que nasceram um para o outro, mas não é assim.

O facto de colocarmos, neste texto, a companhia ou amizade antes do trabalho em equipa não é aleatório. Entre inimigos ou rivais a colaboração não se dá, pois um quer sobressair em relação ao outro; as ideias têm direitos de autor, a inveja envenena as relações, o diálogo transforma-se em discussão e polémica cujo objetivo já não é descobrir a verdade, mas ganhar a contenda, humilhando quem perde.

Tal como há um processo de emparelhamento dos bois assim deve existir a amizade entre os membros de um grupo ou equipa para que o trabalho em conjunto possa resultar. Muitos fogem do trabalho em equipa e até acham que é uma perda de tempo. “Fa per tre chi fa per se” diz um provérbio italiano, faz por três aquele que faz por si mesmo, sozinho.

Como alguém disse, um elefante é um cavalo desenhado por um grupo. Talvez não fique um cavalo perfeito, mas o facto de que todos participaram vai dar os seus frutos no futuro. “Se queres ir mais depressa, vai sozinho, mas se queres ir mais longe, vai acompanhado”.

“Libris ex libris fiunt” – Pode traduzir-se como “a conversa é como as cerejas: quando agarras uma, vêm outras atrás”. Só Deus cria do nada, nós criamos do criado. A ideia de uma colega suscita em mim uma outra ideia e juntos construímos o puzzle da verdade ou a solução do problema em questão.

Os valores que capacitam a pessoa para o trabalho em equipa
Tal como ninguém pode amar o próximo se não se amar a si mesmo, também não se pode ser membro ativo de um grupo sem ter adquirido os valores pessoais que estão orientados para a vida social e de grupo:

Comunicação – Capacidade de comunicar as tuas ideias com clareza, seja por escrito ou oralmente, de uma forma não impositiva, num tom cálido, profissional, amistoso. Há pessoas cuja arrogância se nota já no tom que usam na sua comunicação, feita ex cátedra e de forma intimidante. Isto não tem nada a ver com ser persuasivo e expansivo, com falar à vontade, com autoconfiança e assertividade.

Escuta – O silêncio faz parte da comunicação; enquanto um fala, nós prestamos atenção, absorvemos tudo o que o outro diz. É deprimente e muito desmotivante ver como há pessoas numa reunião que estão desatentas, a brincar com o telemóvel enquanto alguém fala. Esta é uma forma de humilhar quem fala, de o pôr de lado, de o considerar pouco importante.
 
Pacificador – É inevitável que surjam os conflitos e, quando surgem, devemos ser neutros em relação às pessoas, mas não em relação à verdade e à justiça. Não devemos colocar-nos nunca do lado de ninguém contra alguém, porque ambos são nossos irmãos ou colegas; colocar-se do lado de alguém, mesmo quando essa pessoa tiver razão leva à divisão do grupo em fações, em partidos contrários e em definitivo à guerra aberta. Devemos, porém, estar sempre do lado da verdade e da justiça, apoiando as posições que se coadunam com estas, sem louvar quem nelas se posiciona, assim como denunciar o que não se coaduna com a verdade e a justiça, sem acusar quem assim se posiciona.

Digno de confiança – Palavra de rei não volta atrás. Ser fiel ao que se prometeu e comprometeu, fiel às tarefas da nossa responsabilidade, cumprindo os prazos estabelecidos, ser pontual. Quem foi fiel no pouco, muito se lhe dará, diz o evangelho. Muitos projetos de grupo estão divididos em diferentes partes e cada um é chamado a fazer o seu trabalho de casa. Nestes casos, é como montar um airbus, Ele é montado em França, mas as asas são fabricadas na Inglaterra, os motores na Alemanha, outras partes em Espanha, etc.

Ser respeitoso – Pouca gente vê a falta de pontualidade como uma falta de respeito, mas eu assim a vejo. Quando não sou pontual, estou a dizer indiretamente que sou mais importante do que tu, que o meu tempo tem mais valor que o teu. Quando não escuto os outros, estou a pô-los de lado, quando não olho para eles quando falam, estou a ignorá-los; quando não sei o seu nome nem me preocupo em aprendê-lo e me dirijo a eles sem os chamar pelo nome, estou a pô-los de lado.

Quando cada membro do grupo não atua segundo estes valores, o trabalho torna-se mais árduo, perde-se muito tempo e criatividade porque as mentes e os corações lidam com temas como a inveja, a estima e autoestima, os conflitos, as rivalidades, a luta pelo poder, etc.

Como se trabalha em equipa
Para tudo há uma técnica a seguir, um acumular de conhecimentos operativos ou táticas que têm sido usadas ao longo dos tempos por muitos grupos e que têm resultado.

Dividir o trabalho em pequenas tarefas – Trabalho em equipa não significa que todos fazem tudo ao mesmo tempo. O trabalho deve ser dividido pelos elementos do grupo, segundo os talentos de cada um. Hoje uma empresa é contratada para determinado projeto, mas não vai fazer tudo; ela mesma contrata outras empresas em regime de subcontratos para completar o projeto.

Pedir ajuda – Quando estás focado na tua própria tarefa, podem surgir dificuldades: não é humilhante ser humilde e pedir ajuda perante a dúvida, a dificuldade e a falta de ideias. Ninguém sabe fazer tudo, ninguém é esperto em tudo.

Trabalhar em voz alta – Partilhar detalhes da tarefa que estamos a realizar, o que descobrimos, as dificuldades que estamos a ter com membros do grupo ou com os que vivem à nossa volta. Fazer reuniões de partilha do estado atual de cada tarefa, e assim permanecermos abertos a sugestões e a pormenores que não nos tinham passado pela cabeça.

Partilhar um protótipo – Com o mesmo intuito do ponto anterior, partilhar um protótipo, um rascunho, um exemplo do que estamos a fazer. Não ter medo de apresentar o projeto com os andaimes, com os erros de ortografia ou de concordância e deixar que os outros nos corrijam, nos apresentem alternativas.

Reuniões de revisão – Ainda em linha com o ponto anterior, realizar uma reunião de revisão quando cada um está ainda a meio da sua parte do projeto ou tarefa, e encorajar os outros membros a que encontrem defeitos, a que sejam o advogado do diabo para que possamos aperfeiçoar a nossa obra. Muitos autores de livros pedem a opinião a um amigo, pedem a algum perito que leia o rascunho e lhe apresente críticas antes do rascunho final e da publicação.

Objetivo comum – Um grupo, uma equipa, uma comunidade, uma família, são constituídas por diferentes pessoas de diferentes personalidades, géneros e com diferentes talentos, mas com um objetivo comum. É o objetivo comum que os mantém unidos num mesmo projeto dividido em diferentes tarefas. Neste objetivo comum, é importante que cada um saiba o lugar que ocupa no grupo.

Celebrar juntos os êxitos – Em conjunto se celebram os triunfos e em conjunto, como os discípulos de Emaús, se choram os fracassos. Deve celebrar-se não só o fim do projeto, mas também cada uma das etapas mais importantes; assim se revigora o ânimo e a motivação para continuar até o projeto ficar completo.

O trabalho em equipa no apostolado
A missão dos 12 e dos 72 era um trabalho em equipa entre Jesus e os apóstolos, pois o evangelho diz claramente que Jesus os envia a lugares onde ele tinha intenção de ir. Toda a evangelização é uma preparação do caminho para o Senhor, tal como o Batista fez. Depois da Ressurreição e Ascensão ao Céu do Senhor, os seus discípulos mantiveram a tradição de trabalhar em equipa. Vejamos algumas dessas equipas que se foram formando.

•    Pedro e João (Atos 3)
•    Filipe e, em seguida, Pedro e João (Atos 8)
•    Pedro e certos irmãos (Atos 10)
•    Paulo e Barnabé (Atos 13-14)
•    Judas e Silas – juntam-se a Paulo e Barnabé (Atos 15)
•    Barnabé e João Marcos (Atos 15)
•    Timóteo junta-se a Paulo e Silas (Atos 16)
•    Paulo leva Priscila e Aquila com ele (Atos 18)
•    Timóteo e Erastus são enviados para a Macedónia (Atos 19)
•    Indo para a Ásia, Paulo foi acompanhado por Sópatro, Aristarco, Secundo, Gaio, Timóteo, Tíquico e Trófimo (Atos 20)

A Igreja é uma assembleia, é um grupo de pessoas unidas na mesma fé. É o corpo místico de Cristo animado pelo Espírito Santo. É certo que na Terra tem de haver uma estrutura e esta estrutura, até ao Concílio Vaticano II, era graficamente representada por uma pirâmide. As democracias ocidentais superaram a monarquia e, nas que ainda têm uma monarquia, o Rei reina, mas não governa, não tem poder de decisão, é apenas um símbolo.

O Concílio Vaticano II apresentou uma outra estrutura para a Igreja. Substituiu a pirâmide pelos círculos concêntricos, estando no centro o sucessor de Pedro. O poder absoluto do Papa seria limitado pelos Sínodos dos Bispos, buscava-se uma maior colegialidade entre o Papa e os bispos como existe na Igreja Ortodoxa; com a morte de Paulo VI, condutor do Concílio, e a subida de João Paulo II à cátedra de Pedro tudo voltou ao mesmo.

O que acontece ao nível das altas esferas do poder eclesiástico – do Papa e dos cardeais da Curia – é reproduzido ao nível diocesano e paroquial. O Papa governa a Igreja Universal, o bispo governa a sua diocese e o pároco governa a sua paróquia, como o rei Sol governava a França antes da revolução francesa. Aliás, esta Revolução conseguiu acabar com o sangue azul da nobreza, mas nada conseguiu contra o sacerdócio veterotestamentário do tipo casta que temos na Igreja católica.

O vento sopra onde quer e tu ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito.» João 3, 8

Desde o Papa até ao pároco, ou do pároco ao Papa, o clero esqueceu-se de que não tem direitos de autor sobre o Espírito Santo. A terceira pessoa da Santíssima Trindade é que governa a Igreja como um todo e cada um dos cristãos que nasceu da água e do Espírito.  

O divino Espírito Santo a todos assiste, não só aos clérigos, pelo que muitas revoluções na Igreja não vieram do clero, mas sim dos leigos. Como exemplo, Francisco de Assis, que nunca foi clérigo nem quis ser, reformou a Igreja sem a dividir, ao passo que um clérigo, Lutero dividiu a Igreja sem a reformar.    

O Conselho Pastoral é uma das criações do Vaticano II. Deveria existir em todas as paróquias, mas não existe em muitas delas e, nas que existe, os seus membros não são escolhidos democraticamente numa assembleia ou nos diferentes grupos que representam, pelo contrário, são escolhidos a dedo pelo pároco e este escolhe os que não lhe fazem sombra nem oposição. A sua função é dizer ámen a tudo o que o senhor pároco decide. Quando alguém tem uma voz divergente, este recorda-lhe “o Pároco sou eu”, e acaba-se a contenda.

No meu entender abusa-se muito da figura do Pastor da Igreja. A Igreja não é um rebanho, mas sim uma assembleia de gente diferente, unida por uma fé comum. Eu fui pastor de ovelhas e de cabras na Serra da Estrela, em Portugal e, pelo que sei de ovelhas e cabras, acho que não se deve aplicar esta imagem à Igreja.

O clero tem-se relacionado com os féis adultos como se fossem crianças, como se nunca tivessem crescido, mantém-nos amarrados a normas, preceitos e leis, amordaçando a sua consciência moral de tal forma que o fiel tem que perguntar ao sacerdote se isto ou aquilo é ou não pecado. A Igreja não tem deixado o fiel decidir em matérias vitais como a sua sexualidade.

Num rebanho, as ovelhas e as cabras não pensam. De facto, borreguismo é uma palavra espanhola que se refere à atitude de quem, sem critério próprio, se deixa levar pelas opiniões alheias, neste caso do pastor. Eu vi como um rebanho se perdeu num precipício só porque a ovelha que ia à frente caiu e as outras acriticamente se precipitaram todas também.

O povo de Deus não é um rebanho, e o sacerdote não é um pastor. Tal como o Papa é servo dos servos de Deus, assim deve ser o sacerdote na sua paróquia, servidor do povo de Deus. Este título presta-se mais ao trabalho em equipa que ao de pastor.

PRESTAÇÃO DE CONTAS
“Accountability” em inglês, é um conceito muito usado nos dias de hoje e significa muitas coisas ao mesmo tempo:
•    Responsabilizar-se pelas próprias ações e suas consequências, perante si mesmo e os outros. “Denial” ou negação é, neste sentido, a atitude oposta: desculpar-se, ilibar-se das próprias responsabilidades.
•    Ser transparente, emitir relatórios periódicos da própria atividade, sem esconder nada debaixo do tapete nem ter esqueletos no armário. Estar sempre pronto para uma auditoria, como Domenico Sávio estava pronto para morrer, sem ter que fazer ajustes à sua vida no último minuto.
•    Ser disciplinado - manter-se no caminho certo sem se deixar descarrilar por prioridades ou desejos concorrentes, discordantes e contrários à nossa missão.
•    Ser íntegro – ser honesto, evitar a corrupção, dar o nosso melhor na execução dos nossos compromissos; reconhecer os erros e assumir a culpa quando algo não corre da melhor maneira.

Prestação de contas na política - “O poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente”; não se sabe quem disse isto, mas alude a uma grande verdade. Cedo no Ocidente se descobriu que não podia haver um só poder ou que este não podia estar concentrado numa só instância; daí a separação de poderes em três instâncias, ao mesmo tempo independentes e interdependentes entre si.

São estas o poder legislativo, o poder executivo e o poder judicial. Estes três poderes são equilibradamente interdependentes, porque um fiscaliza o outro. Todos se amparam e regulam por uma Constituição democrática – fonte de todo o poder popular.

Enquanto isto acontece, os poderes não se relacionam entre si, funcionam harmoniosamente como as rodas dentadas do mecanismo de um relógio. Quando, porém, um destes poderes excede as suas competências, um dos outros dois intervém, de forma a fazê-lo voltar ao funcionamento normal consagrado na Constituição do Estado. O mecanismo que as democracias têm para que isto assim funcione tem a ver com a prestação de contas e é designado como freio e contrapesos ou equilíbrio e controlo.

Prestação de contas na economia – Inspeções, auditorias, são os mecanismos de prestação de contas da utilização dos dinheiros públicos para evitar que vão parar ao bolso individual de algum funcionário.

Prestação de contas na sociedade – É feita pela polícia e pelos tribunais, quando alguém atua contra as normas que regem uma sociedade. Se não consegue governar e controlar os seus instintos básicos e viver em harmonia com o próximo, o Estado exerce um poder coercivo de prestação de contas sobre o indivíduo cuja conduta não se coaduna com a do cidadão adulto e responsável.

Prestação de contas em psicoterapia – Para evitar que os assuntos existenciais do psicoterapeuta, os seus próprios problemas psicológicos, a sua personalidade e caráter se misturem com os problemas do cliente, assim como para evitar que o psicoterapeuta se envolva afetivamente com o cliente, é necessária uma supervisão, ou seja, o psicoterapeuta deve estar em terapia com um outro psicoterapeuta.


Prestação de contas no apostolado
(…) cada um de nós terá de dar contas de si mesmo a Deus. Romanos 14, 12

Confessai, pois, os pecados uns aos outros e orai uns pelos outros para serdes curados. A oração fervorosa do justo tem muito poder. Tiago 5,16

Irmãos, se porventura um homem for apanhado nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão; e tu, olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado. Carregai as cargas uns dos outros e assim cumprireis plenamente a lei de Cristo. Gálatas 6, 1-2

O ferro com o ferro se aguça, e o homem afina-se no contacto com os outros. Provérbios 27, 17

Unus christianus, nulus christianus – Dizia Sto. Agostinho, um cristão sozinho é um não cristão. A Igreja é o povo de Deus em marcha pela história para transformar esta Terra no Reino de Deus e a própria história numa história de salvação. Esta Igreja tem um depósito da fé que são as escrituras e a tradição ao longo de 2 000 anos.

A Santa Inquisição que ao longo da história não se revelou tão santa e que hoje está representada pela congregação para a doutrina, exerce sobre os cristãos, sobretudos os teólogos, o poder de prestação de contas, não aconteça que estes ensinem contra as verdades da fé reveladas nos tempos apostólicos e ao longo da tradição da Igreja. Para nos mantermos unidos numa só fé é preciso que esta faculdade se exerça. Se deixasse de exercer-se, facilmente a Igreja se dividiria num cem número de seitas ou igrejas, como aconteceu depois de Lutero.

O poder do envio de dois a dois ajuda a evitar que os cristãos caiam no pecado. Se um comete um erro, o outro pode e deve corrigi-lo. Todos precisamos de alguém que se preocupe connosco, que nos conheça bem o suficiente para reconhecer as nossas falhas, que nos possa desafiar se nos desviarmos do caminho ou nos excedermos nas nossas competências. Cada um de nós precisa de alguém que nos desafie de vez em quando. Escusado é dizer que a melhor crítica vem de um amigo, de alguém que quer o nosso bem. Qualquer crítica, por mais verdadeira que seja, que não venha de um amigo ou que não seja feita para o bem, não será bem recebida.

Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles. (Mateus 18, 20) é a melhor garantia de que a Igreja não descamba fora da doutrina do Mestre, é a melhor garantia de que um evangelizador não cai na tentação de se isolar como franco atirador e se transforma no líder de uma seita.

Na igreja não deve haver franco atiradores, todos devemos manter-nos em constante diálogo de confronto dos nossos pensamentos e ações com quem caminha connosco, para nos mantermos em comunhão com a Igreja, corpo místico d’Aquele que é o único Caminho, Verdade e Vida, para O anunciarmos a Ele e não a nós mesmos e a doutrinas que não são a Sua.

Conclusão - Profundamente conhecedor da natureza humana, sob o jugo do Evangelho, Jesus emparelha os seus discípulos dois a dois, para que juntos possam chorar os fracassos, aprender com os erros e celebrar as vitórias do trabalho na Vinha do Senhor.

Pe. Jorge Amaro, IMC


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