«A minha alma engrandece o Senhor e o meu espírito exultou em Deus, meu Salvador, porque pôs o olhar na humildade da sua serva. Eis que, a partir de agora, me chamarão feliz todas as gerações, porque o Poderoso fez em mim grandes coisas. Santo é o seu Nome. Lucas 1, 47-55
Tal como Maria iniciou a Jesus neste mundo e o levou a todos lados de pequeno e o lançou na vida pública antes do tempo nas bodas de Caná, assim agora é Jesus que a leva para o Céu em corpo glorioso semelhante ao Seu e a introduz no Seu mundo onde Ele é Senhor do Universo.
A exaltação da humilde serva de Sião
Aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado. Mateus 23, 12 - A Assunção de Maria é a exaltação dos humildes da qual nos fala o evangelho, neste caso da humilde serva de Sião na qual o Senhor pôs os olhos já antes do seu nascimento, fazendo com que a sua conceição fosse imaculada.
Com humildade suportou o vexame de se achar grávida sem poder explicar a origem da gravidez; com humildade suportou os sofrimentos do seu filho quando este começou a encontrar a oposição nos líderes de Israel; com humildade e abatimento suportou a sua morte; agora, com mérito é exaltada e ascende ao Céu para estar sempre com Aquele que ela gerou, o Filho primogénito de Deus.
Assunção ou Dormição são a mesma coisa. O oriente celebra mais como Dormição, o ocidente mais como Assunção. Na minha terra é mais celebrada como Dormição. Desde criança que na minha terra se coloca o esquife ou caixão onde jaz uma imagem deitada da Nossa Senhora. No dia 15 de agosto, este esquife é colocado no lugar onde habitualmente se coloca o caixão dos mortos para a missa de corpo presente. Assim, a missa da Assunção de Maria ao Céu é como se fosse uma missa de corpo presente.
História do dogma da Assunção
Pela autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e em nossa própria autoridade, pronunciamos, declaramos e definimos como sendo um dogma revelado por Deus: que a Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, tendo completado o curso de sua vida terrena, foi assumida, corpo e alma, na glória celeste. Munificentissimus Deus, Pio XII 1 de novembro de 1950
A declaração do dogma da Assunção de Maria Santíssima ao Céu em corpo e alma, é bastante recente. No entanto, tanto este como todos os outros têm uma longa história de quase 2 000 anos de reflexão teológica, de piedade popular e espiritualidade e, em alguns casos, até de confirmação celeste, como acontece com o dogma da Imaculada Conceição nas aparições de Lourdes.
A primeira alusão à passagem de Maria deste mundo para o Céu acontece no século IV; Epifânio de Salamina, em 377, afirmou que ninguém sabia se Maria havia morrido ou não. A mais antiga narrativa é o chamado "O Livro do Repouso de Maria", do qual existe apenas uma tradução copta etíope, entendida como sendo do século IV, embora possa muito bem ser do século III.
A Assunção ao Céu da Nossa Senhora também aparece no livro “De Transitu Virginis”, uma obra do final do século V, atribuída a S. Melito. Este livro conta que os Apóstolos vieram transportados por nuvens brancas, cada um da cidade onde se encontrava no momento, para assistir à Dormição de Maria. Esta história tem uma continuação séculos mais tarde, com um apêndice segundo o qual Tomé, como sempre, não compareceu a este funeral de Nossa Senhora e, quando chegou mais tarde, fizeram abrir o túmulo que encontraram vazio.
Onde ocorreu esta Assunção ou Dormição não se sabe, uns dizem em Jerusalém, outros em Éfeso onde, segundo a tradição, viveu Maria os últimos anos da sua vida com S. João, na conhecida “Casa de Maria” que ali se encontra até aos dias de hoje e que pode ser visitada.
Com a sua Assunção ao Céu, Maria cumpre o que S. Ireneu disse: que Deus se fez homem para que o homem se fizesse Deus. Assim se cumpre o sonho de Eva que queria ser como Deus. Maria chegou a ser como Deus ao ser mãe. Pela obediência, o ser família íntima de Deus está aberto a todos nós: é “a minha mãe e os meus irmãos são os que ouvem a minha Palavra e a põem em prática.”
Assunção como união com Deus
"Fizeste-nos Senhor para ti e o nosso coração anda inquieto enquanto não repousa em Ti" Sto. Agostinho
Estamos no mundo, mas não somos do mundo. Ser e estar não são o mesmo verbo como em outras línguas. Estamos no mundo, mas somos do Céu, somos de Deus, de onde viemos e para onde voltaremos. A melhor forma de estar no mundo então é viver desprendidos e nós só conseguimos essa forma de estar no mundo se tivermos as nossas prioridades bem definidas, se Deus for a quem nós mais amamos, em teoria e na prática.
Sempre recordarei a experiência de atravessar os rios caudalosos na Etiópia: não se deve olhar para a água que corre com muita velocidade, mas sim para a margem do rio que não se move. A primeira vez que tive que atravessar um destes grandes rios, comecei a olhar para a água e comecei a ficar enjoado, atordoado e em perigo de ser levado pela corrente. Ao verificarem isto, os moços que me acompanhavam gritaram, “Abba, não olhe para a água, mas sim para a margem do rio”.
Isto pode ser uma metáfora da nossa vida. Tenhamos os olhos fixos não no que se move que é temporal e passageiro, mas no que não se move, em Deus que não muda e é eterno, para não sermos levados pela corrente do presente, para não nos deixarmos embriagar pelo prazer presente ou desesperar pela dor presente. Só atravessaremos bem o rio da vida se tivermos os olhos postos na outra margem, em Deus no Céu. Se não for assim, seremos levados pela corrente, qualquer que seja a tendência, moda, poder, riqueza, coisas do mundo.
Em busca da sua própria identidade, um boneco de sal viajou milhares de quilómetros por um deserto, até que, finalmente, alcançou o mar. Fascinado pela massa estranha e móvel, completamente diferente de tudo quanto tinha visto até então, perguntou:
- Quem és tu?
Com um sorriso, o mar respondeu:
- Sou o mar.
- Mas o que é o mar? inquiriu o boneco.
- Vem, toca-me e saberás.
O boneco de sal colocou o pé na água e imediatamente ficou sem ele.
- Que fizeste? perguntou assustado.
- Para me conheceres tens de te dar, respondeu o mar.
Então o boneco de sal foi adentrando o mar e, antes de uma onda o cobrir por completo, disse num suspiro:
- Finalmente descobri quem sou. Tony De Mello
Se queremos conhecer a Deus já aqui nesta vida, temos que nos envolver. Não podemos conhecer a Deus sem nos comprometermos. Não pode ser um conhecimento frio no qual não nos implicamos, como se fizéssemos aquela experiência do oxigénio com algas e sol. Neste caso, não estamos diretamente envolvidos, mas com Deus, se o conhecermos temos de O amar. O mesmo acontece quando começamos a conhecer uma pessoa que nos é estranha: pouco a pouco começamos a gostar dela até porque o conhecimento entre as pessoas e das pessoas é afetivo; assim é com Deus. Só o afetivo é efetivo, ou seja, é real e surte efeito.
Assunção como Levitação
Uma experiência interessante a realizar em Nova Iorque, se visitarmos o museu da NASA, é a experiência da falta de gravidade: é como voar, as batatas fritas voam, a água em gotas voa também. Voar sempre foi o sonho de todo o ser humano e, de facto, parece ser um sonho muito recorrente em cada um de nós. Eu, pessoalmente sonho muitas vezes que voo.
A Assunção é uma experiência espiritual que fazem aqueles que se desprendem das coisas e afetos deste mundo. Os santos levitavam porque as suas ataduras a esta Terra eram poucas. Sta. Teresa de Ávila dizia, “Vivo sem viver em mim e tão alta vida espero que morro porque não morro...” A Assunção é como levitar, quando nos desprendemos do que nos liga à Terra, dos afetos pelos bens temporais e até por pessoas.
O mistério da Encarnação e a emancipação da mulher
Nos primórdios da humanidade, quando os homens ainda não sabiam de onde vinham os bebés, (o efeito estava muito longe da causa: o ato sexual 9 meses antes do nascimento; o mesmo acontece com o melhor raticida cuja eficácia está precisamente em separar no tempo o efeito e a causa) quem reinava na sociedade era a mulher. Ela e só ela era o futuro e a esperança da espécie, ela e só ela trazia novos seres ao mundo.
Consequentemente, o primeiro deus a ser adorado era uma deusa: a deusa da fecundidade da terra e da mulher. Terra ainda hoje é um termo feminino em quase todas as línguas. Foi também a mulher que inventou a agricultura. Porque a mulher era vista como a origem da vida, deus era concebido com forma feminina.
Quando a conexão entre o coito e o nascimento de um bebé foi estabelecida, a mulher perdeu pouco a pouco todo o prestígio social. Ao princípio da deusa feminina foi acrescentado o homem consorte. Com o tempo, o consorte expulsou do céu a deusa e ficou sozinho. A mulher é só como a terra que o homem trabalha e domina, Deus manda a chuva como o homem semeia o sémen, todo o novo ser está contido no sémen do homem, a mulher é só o recetáculo.
Neste novo conceito de Deus, Yahveh é rei e senhor e os reis naquele tempo não tinham uma rainha, mas um harém de mulheres. A mulher foi então tratada como a terra na agricultura “Crescei e multiplicai-vos, dominai a terra... e a mulher desapareceu da cena social e do céu habitado por um rei, todo poderoso e sozinho. A mulher foi a última a ser criada e a primeira a pecar.
O cristianismo é um fator emancipador da mulher. Vejamos, nas sociedades não cristãs a mulher é maltratada. Ainda hoje, em África, a mulher é quem trabalha, o homem não faz nada; a mulher é vendida, obrigada a casar-se aos 15 anos com homens de 50 ou mais. No Japão, serve de prato nos restaurantes, ainda hoje. Na Ásia, e nas Filipinas que a mulher está mais emancipada. Os muçulmanos circuncidam a mulher de forma a que ela nunca tenha prazer sexual.
A anunciação foi o começo desta emancipação da mulher. Deus, para vir ao mundo, precisou de uma mulher e não de um homem. E não foi só o ventre que usou, foi também o óvulo. Com a vida de Maria, a mulher voltou ao Céu na Assunção, como mãe do Filho unigénito de Deus.
Nenhum homem nasceu sem o pecado original, só ela; Deus não precisou do espermatozoide do homem, mas do óvulo da mulher. Maria aponta para o rosto feminino de Deus, como Jesus de Nazaré, o seu Filho, para o rosto masculino de Deus.
Conclusão – A Assunção de Nossa Senhora ao Céu, é o desfecho lógico da sua vida na Terra. Concebida sem pecado original, deu à luz o autor da vida, tornando-se Mãe de Deus. Maria introduz Jesus no mundo, Jesus introduz a sua mãe no Céu.
Pe. Jorge Amaro, IMC
@Gratidão Sr..Padre Amaro por tão maravilhoso texto para a reflexäo do nosso Adevento maravilhas que nunca ouvi q ue sao dignas de correr mundo deixam nos de coração cheio e felizes Gratidão Gratidão Rezemos pelas vocações Sacerdotais MISSIONARIAS E RELIGIOSASHG
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