Ter uma relação íntima e pessoal com Cristo – O que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram relativamente ao Verbo da Vida, (…) isso vos anunciamos. 1ª João 1, 1,3
O Teólogo Karl Rhaner disse que os cristãos do futuro ou são místicos ou não são cristãos. Ser cristão é fundamentalmente ter uma relação afetiva com Cristo como a tiveram os primeiros cristãos, os seus discípulos, que Ele escolheu primariamente não para serem continuadores da sua obra, mas para que vivessem com Ele. (Marcos 3, 14).
O cristianismo não é, portanto, uma doutrina ou uma filosofia de vida; é uma relação afetiva com Cristo que leva a uma relação afetiva com todos os que nos rodeiam. Para o cristão de hoje, como sempre, o afetivo tem de ser efetivo, ou seja, tem de mudar a vida e dar ao cristão de hoje autorrealização e felicidade.
O principal papel de um missionário é evangelizar, não é catequizar nem fazer caridade, mas sim testemunhar a relação pessoal e íntima de amor que tem com o Senhor e oferecer essa mesma experiência aos outros. Ninguém dá o que não tem; se não temos essa relação, não podemos nem devemos ser missionários.
O evangelizador que anuncia Aquele com o qual não tem uma relação íntima é como um papagaio; fala do que aprendeu e, em vez de se colocar ao serviço da Palavra, coloca a Palavra ao seu serviço, ou seja, usa-a subliminarmente para se pavonear e promover.
Dom de palavra
O missionário deve ser o que em inglês se chama um “motivacional speaker” (orador motivacional), empolgante, cheio de ardor e entusiasmo. Um bom comunicador até banha da cobra consegue vender. O nosso produto, a Palavra de Deus, já deu ao longo de mais de 2000 anos provas da sua excelência.
Uma Palavra de Vida comunicada sem vida desautoriza-se a si mesma. Nós, mais que ninguém, temos razões para estar alegres pois possuímos uma fé que dá sentido ao nosso existir aqui e agora e nos lança para o futuro, cheios de Esperança, sem nada que temer.
Conhecer a Bíblia
Todo o doutor da Lei instruído acerca do Reino do Céu é semelhante a um pai de família, que tira coisas novas e velhas do seu tesouro Mateus 13, 52.
O evangelizador do nosso tempo deve ser um bom conhecedor da Sagrada Escritura e ser capaz de trazer a realidade à Escritura para nela encontrar iluminação, respostas e soluções ou levar a Escritura à realidade para que a Palavra de Deus encarne em atitudes, comportamentos e ações concretas.
Muitas seitas cristãs e os coptas na Etiópia colocam o Novo Testamento ao lado do Antigo, dando igual importância a um e a outro. Isto é errado porque o Novo Testamento, a Nova Aliança, não pode ter o mesmo valor que a anterior; se assim fosse, não precisávamos dela. A Nova Aliança veio substituir e dar cumprimento à antiga. O Antigo Testamento deve ser lido a partir da perspetiva do Novo e na medida em que concorda com o Novo.
O Antigo Testamento contextualiza o Novo, por isso não se entende o Novo Testamento sem entender o Antigo; assim como não se entende o Antigo Testamento sem conhecer e entender a história do povo de Israel.
Conhecer a nossa cultura
O cristianismo começa com o Natal; o missionário é aquele que faz nascer a Cristo, ou seja, encarna a Palavra de Deus em cada momento e em cada lugar. Para este efeito, precisa de possuir um conhecimento profundo da cultura e do momento histórico que o povo atravessa. Ter “o jornal numa mão e a Bíblia na outra” como dizia o grande teólogo protestante Karl Barth.
Encarnar a Palavra é saber encontrar nela a salvação para o “aqui e agora” de um povo; ou seja, a resposta às questões e a solução para os problemas do momento presente. Neste sentido, o missionário está chamado a ser um profeta, o homem que sabe ler os sinais dos tempos; “the man of the year” (o homem do ano), o líder natural, um Moisés que pode guiar o povo pelo caminho da salvação, ou seja, da plena saúde espiritual, física, mental e moral.
Conclusão – Como o bispo diz na ordenação de um diácono ao entregar-lhe os Evangelhos, assim deve ser um missionário de hoje: “Recebe o Evangelho de Cristo, que tens missão de proclamar. Crê no que lês, ensina o que crês e vive o que ensinas.”
Pe. Jorge Amaro, IMC
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