Pertencemos a uma Igreja que padece de verborreia, quando o seu fundador era uma Palavra encarnada. É sintomático que Jesus tenha comparado os seus discípulos com o sal e com a luz, cuja acção se desenvolve no silêncio. Quem entendeu isto foi Francisco de Assis ao afirmar: “Em todo o tempo e lugar prega o evangelho e quando for necessário usa palavras”. O evangelho encarnado faz melhor serviço à evangelização que o evangelho proclamado, porque as obras substituem as palavras; as palavras não só não substituem as obras como são desautorizadas pela ausência destas, ou por obras contrárias às palavras; as obras podem não precisar das palavras, mas as palavras sempre precisam das obras.
Poderíamos descarregar toneladas de bíblias, no centro de um continente bem povoado, que só por elas nem uma só pessoa se converteria ao cristianismo. Também poderíamos pregar aos quatro ventos a Palavra de Deus que pouco mais conseguiríamos, pois, “as palavras leva-as o vento”. A própria Palavra de Deus, depois de ser proferida por tantos profetas, teve de encarnar para se fazer credível.
O cristianismo propaga-se pelo contacto humano, pelo testemunho de vida. “Vede como se amam”, diziam os romanos observando o talento individual e social dos primeiros cristãos. Diz-se que a educação das crianças é aérea; o que é educativo não são tanto os conselhos ou mesmo as obras que os pais fazem ante as crianças, mas o seu comportamento diário e o ambiente que criam no lar; a forma de reagir ante as situações. O mesmo se passa com a evangelização, o que suscita a fé é o testemunho silencioso da nossa vida do dia-a-dia, por essa razão Jesus exortou os seus discípulos a ser sal e luz.
O sal derrete a neve – Nas cidades, em que a neve é uma constante no Inverno, é o sal que permite que as ruas permaneçam abertas ao tráfico. O cristão que é sal ajuda a reestabelecer a comunicação entre pessoas de relações cortadas; é pacifista nos conflitos. Lembremos o embate do Titanic contra um Iceberg, as avalanches de neve que sepultam pessoas vivas; a água em estado sólido está mais ao serviço do mal e da morte que da vida. Só em estado liquido a água é fonte de vida, pois só nesse estado pode ser absorvida pelos seres vivos e fazer parte integrante deles. O sal derrete o gelo, que faz escorregar as pessoas, e mantém a água em estado liquido; o cristão que é sal, desfaz as ratoeiras, as armadilhas, as intrigas e os planos que os malvados tecem para fazer cair os seus semelhantes.
O sal fixa a água no organismo – A água e o sal estão juntos; o mar é o grande reservatório dos dois. Sem sal no nosso organismo depressa nos desidrataríamos; de facto, os saquinhos de sais de reidratação eram a primeira coisa que dávamos em África a pessoas que facilmente se desidratavam, com as altas febres que a malaria ocasiona. Tal como a água é o princípio da vida física, a água do Baptismo é o princípio da vida cristã; o cristão que é sal permanece fiel às promessas do Baptismo. No antigo ritual do baptismo o sal era usado; com o baptismo formamos parte dos redimidos, dos que possuem a água que jorra até à vida eterna. Sem o sal foge-nos esta água.
O sal conserva e preserva – O sal conserva a carne e o peixe; nos tempos em que não havia refrigeração esta era a forma de evitar a corrupção. O cristão, que é sal, evita a corrupção no tecido social das famílias, instituições, empresas, organizações, governos, clubs etc. Nas instituições onde há cristãos autênticos não há degradação nem corrupção.
No âmbito da biologia quando se abre uma ferida o corpo pode ser invadido por vírus, germes e bactérias prejudiciais à saúde; o sal tem o poder de matar muitos desses agentes nocivos. Analogamente no tecido social, no âmbito das instituições, empresas e clubes, há situações que podem dar aso a que alguém prevarique. Os ladrões não nascem como tal, como diz o povo “A situação faz o ladrão”. A presença de cristãos numa instituição tem o mesmo efeito dissuasor que as penas no sistema judicial.
O sal dá sabor – Tal como o sal dá sabor à comida; assim o cristão dá sentido à vida humana. Só Cristo responde com logica às três perguntas que todo ser humano, que vem a este mundo, se faz. De onde vimos, para onde vamos e que sentido tem a vida: sem Cristo a vida humana não tem sentido, não tem sabor não te objectivo.
Pe. Jorge Amaro, IMC
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