Senhor padre há uma coisa que não entendo; quando eu morrer, o meu corpo vai par a terra, a minha alma vai para o céu e eu? Para onde vou eu?
A morte não deveria preocupar-nos pois nunca coincidiremos; enquanto nós existirmos ela não existirá; quando ela existir não existiremos nós. Karl Marx
Com diz a lei de Lavoisier, na natureza nada se perde tudo se transforma. Em contínuo devir, nada permanece igual. Morte e vida são parte de um mesmo processo, não há vida sem morte nem morte sem vida. A morte não é um estado, em que se possa encontrar um ser vivo, mas sim a passagem de uma forma de vida para outra forma de vida. A morte é o meio, pelo qual a vida se diversifica e progride na evolução das espécies.
Cresce a erva verde dos campos até ao dia em que a gazela a come; a erva não morreu, progrediu e mudou de forma, transformou-se em gazela. A gazela pula e salta pelas ravinas, bebe água nos ribeiros e passeia pelos bosques até ao dia em que é comida pelo leão; ela não morreu, foi absorvida e assumida pelo corpo do leão. O leão como não tem predadores, morre de velho ou nalguma luta de supremacia de machos, os seus restos mortais são comidos pelas hienas e os abutres e o que resta, é comido pelas formigas e vermes que, por sua vez, ao morrer fecundam a terra onde volta a crescer a erva.
Aparentemente, tanto vale a vida como a morte pois nenhuma permanece, ambas se sucedem sucessivamente sem cessar. No entanto, se observarmos mais detalhadamente, damo-nos conta que não é assim. Apesar de serem duas partes ou etapas de um mesmo processo, a vida e a morte não estão em pé de igualdade; pelo contrário a vida está num plano superior porque não existe em função da morte mas a morte sim existe em função da vida. Não é portanto verdade o que diz o filósofo Heidegger: “Somos um ser para a morte”. A erva viveu durante meses antes de morrer; assim mesmo a gazela e o leão viveram durante anos antes de morrer; a morte foi um momento a vida foi anos; a morte foi uma passagem a vida é uma constante, somos portanto um ser para a vida.
O mesmo processo de vida-morte-vida, que acontece entre os seres vivos na cadeia alimentar, acontece no interior de cada ser vivo. O nossos corpo é formado por 100 trilhões de células; cada uma delas comporta-se como se fosse um ser vivo seguindo as regras que regem a vida neste planeta, ou seja, nascem crescem reproduzem-se e morrem (curiosamente só as células cancerígenas se recusam morrer); é desta forma que se explica o crescimento a transformação e envelhecimento do nosso corpo; cada 5 anos possuímos um corpo biologicamente novo.
A maturidade psicológica, que segundo Freud se dá na passagem do princípio do prazer para o princípio da realidade, também implica e supõe a morte. O mesmo, se pode dizer, para a maturidade espiritual: “Quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha causa há-de salvá-la”. Lucas 9, 24
Como o leão que não tem predadores, está no topo da sua cadeia alimentar e é o rei da selva, o Homem é o rei da criação. Páscoa significa passagem; a nossa morte ou a nossa Páscoa é semelhante à de Cristo. A passagem de uma forma de vida, espácio-temporal, para uma vida na eternidade de Deus, na qual não seremos apenas uma alma mas, como Cristo, possuiremos um corpo espiritual, um corpo glorioso. Por isso não desfalecemos, pois “Bem sabemos que, quando esta tenda, que é a nossa morada terrestre, for desfeita, recebemos nos Céus uma habitação eterna, construída por Deus e não pelos homens“ (2ª Coríntios 5, 1).
Pe. Jorge Amaro, IMC
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