1 de julho de 2025

A Agonia de Jesus


No primeiro Mistério Doloroso, contemplamos a agonia de Jesus no jardim das Oliveiras.


Do Evangelho de São Marcos (14, 32-36)
Foram, então, para uma propriedade chamada Getsémani, e Ele disse aos seus discípulos: «Sentai-vos aqui, enquanto vou rezar». Levou consigo Pedro, Tiago e João, e começou a sentir-se apavorado e angustiado. Disse-lhes, então:

«A minha alma está numa tristeza de morte; permanecei aqui e vigiai». E, indo um pouco mais adiante, caiu por terra e começou a rezar para que, se fosse possível, se apartasse d’Ele aquela hora. E dizia: «Abbá, Pai! Tudo Te é possível: afasta de mim este cálice! Contudo, não se faça o que Eu quero, mas o que Tu queres».

Comentário de São Gregório de Nisa
"O mais importante encerrado no mistério da fé é contemplar a Paixão daquele que aceitou sofrer por nós. Olhar para a cruz de Cristo deve levar-nos a morrer para o mundo; crucificados em Cristo, por Cristo e com Cristo..."

Meditação 1
Jesus foi tentado toda a sua vida, não apenas no início; uma das últimas tentações ocorre aqui, quando Ele considerou a possibilidade de não beber do cálice que estava diante de Si: a sua paixão e morte. Bastava subir um pouco até ao cimo do monte e descer em direção ao deserto da Judeia, esconder-Se num dos vales profundos onde nunca mais ninguém O encontraria. Mas Jesus escolheu pagar o preço dos seus ideais contra um mundo corrupto e malvado. Se tivesse salvado a Sua vida, perder-Se-ia como Salvador do mundo inteiro.

O bispo salvadorenho Óscar Romero também podia ter escapado. Ele teve o seu Getsémani antes de ser assassinado. O Vaticano sabia que ele estava ameaçado de morte, pelo que lhe ofereceu a possibilidade de vir para Roma e escapar à sua morte iminente. Se Óscar Romero tivesse aceitado a proposta, salvaria a sua vida, mas morreria a sua causa: a defesa dos pobres e do povo em geral contra o fascismo.

"O espírito está pronto, mas a carne é fraca" (Mt. 26,41). Esta oração é o símbolo das nossas lutas interiores: lutas entre o que somos e o que deveríamos ser. Dominar os instintos e submeter a carne ao nosso projeto vital não é nada fácil. Cristo, que encarnou a nossa natureza humana, sentiu Ele mesmo a fragilidade da nossa condição. O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, mas, após o pecado de Adão e Eva, perdeu a semelhança, ficando apenas com a imagem.

Conta-se que, num país da América Latina, enquanto um padre celebrava a missa numa capela no meio da selva, um grupo de guerrilheiros irrompeu pela igreja adentro, apontando metralhadoras aos fiéis, e anunciou: "Quem não está disposto a morrer por Cristo pode agora mesmo deixar a igreja e salvar-se".

Imediatamente, a maior parte dos fiéis abandonou a igreja. Quando os guerrilheiros viram que mais ninguém se levantava para sair, fecharam as portas, depuseram as armas e, dirigindo-se ao celebrante, declararam: "Pode continuar a eucaristia, padre. Não conte com os que saíram, são uns covardes, não são cristãos."
Que farias tu?

Meditação 2
Ninguém vive para si mesmo; viver para si mesmo não é humano, pois o ser humano tem uma dimensão social, não apenas individual. Ninguém existe sozinho: o ser humano é familiar e comunitário. A causa que abraça, a pessoa ou as pessoas que ama, os valores humanos que cultiva, e a profissão que escolhe, tudo é exercido na sociedade, de tal forma que o bom desempenho dessa profissão e a autorrealização pessoal e felicidade coincidem.

Mais ainda, não há autorrealização e felicidade individual decorrente de um mau desempenho social; e vice-versa, quem é inútil para a sua comunidade, é inútil para si mesmo. Quem não tem valor social, não tem valor pessoal.

Assim como Cristo veio ao mundo para servir e não para ser servido (Mateus 20,28), também nós viemos ao mundo para deixar cá mais do que o que retiramos; para ser parte da solução dos problemas que afligem a humanidade, como a mudança climática, a justiça e a paz mundial, e não parte do problema. Se assim não for, a nossa vida não se justifica nem socialmente, nem pessoalmente.

Oração
Senhor Jesus,
na Tua agonia no jardim das Oliveiras, 
vemos o reflexo das nossas próprias lutas e fraquezas. 
Tal como Tu enfrentaste a tentação de escapar ao sacrifício, 
também nós somos muitas vezes tentados 
a fugir das nossas responsabilidades e desafios.

Abbá, Pai, tal como o Teu Filho orou, 
nós também pedimos que nos dês a força para aceitar a Tua vontade, 
mesmo quando o caminho é difícil e doloroso. 
Ajuda-nos a beber o cálice que a vida nos oferece, 
confiando que os Teus desígnios são sempre maiores que os nossos medos.

Que, tal como Jesus, possamos enfrentar os nossos "Getsémanis" 
com coragem, colocando as nossas vidas ao serviço dos outros, 
abraçando os pobres, os oprimidos e os que sofrem,
sem medo de sacrificar o conforto ou a segurança por uma causa maior.

Fortalece o nosso espírito, Senhor, 
para que, mesmo quando a carne é fraca, 
possamos permanecer vigilantes, 
fiéis aos ideais de justiça, paz e amor que nos ensinaste. 
Que sejamos capazes de, como Cristo, 
oferecer a nossa vida em benefício da comunidade, 
para que o mundo seja um lugar mais justo e humano.

Ampara-nos, Senhor, nas nossas lutas interiores 
e dá-nos a sabedoria para escolher sempre o bem, 
mesmo quando o mal parece mais fácil. 
Faz de nós instrumentos da Tua paz e luz 
no meio de um mundo cheio de trevas. Amém.

Pe.Jorge Amaro, IMC

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