O mundo é o meu país, toda a humanidade é minha irmã e fazer o bem é a minha religião, Thomas Payne
A primeira impressão, o que primeiro nos vem à mente é, em psicologia, o mais importante. No caso da diferença entre o conceito de cosmovisão e o conceito de religião, o que primeiro nos vêm à mente é que a cosmovisão parece englobar a religião e não vice-versa. Ou seja, toda a cosmovisão inclui uma religião.
Porém, quando estudamos a religião em si, damo-nos conta de que toda a religião tem uma cosmovisão, ou seja, uma forma de conceber e interpretar a realidade como um todo, e não apenas a parte que mais se refere ao sentimento religioso ou à natureza religiosa do ser humano. Por isto teremos de concluir que não há fronteiras definidas entre os dois conceitos porque um engloba o outro; ou seja, se toda a cosmovisão tem uma religião, toda a religião tem uma cosmovisão.
As religiões como o cristianismo, o judaísmo e o islamismo podem ser consideradas cosmovisões, assim como as ideologias ou anti-religiões que negam e reprimem a natureza religiosa do ser humano, como o marxismo ou o materialismo histórico e dialético, o ateísmo e o agnosticismo em geral. Estas também podem ser consideradas cosmovisões. Tanto a fé como a falta dela dão uma forma determinada à vida humana.
Uma cosmovisão procura responder a perguntas fundamentais como: Deus existe, como Criador de tudo e de todos, ou o Universo sempre existiu? Que há para além do Universo? De onde venho eu, para onde vou, quem sou e que sentido tem a vida? Onde estou? Como devo ou não devo viver a minha vida? Quais os valores a cultivar e os anti-valores a combater?
Tanto a religião como a cosmovisão dão resposta a estas perguntas. Se respondem às mesmas perguntas, têm o mesmo campo de estudo, pelo que poderiam ser consideradas sinónimos ou, melhor ainda, são uma e a mesma coisa.
As palavras ética e moral são uma e a mesma coisa, ou seja, ambas se referem ao comportamento humano; a primeira de origem grega e a segunda de origem latina. A palavra ética usa-se mais no mundo civil, a palavra moral mais no mundo religioso. Assim, entendemos cosmovisão como sendo o correspondente a ética, pois se usa mais no mundo civil, e religião como moral, pois, como é obvio, se usa mais no mundo religioso.
O fenómeno religioso: “Mysterium tremendum et fascinans”
Não há povo, por mais primitivo que seja, em que não se veja a religião. Bronislaw Malinowski (1884 – 1942)
Houve e há sociedades no passado e no presente sem ciência, arte sem filosofia, mas nunca existiu uma sociedade sem religião. Henri Bergson (1857-1941)
Religare – É um conceito cristão, ou seja, é a forma cristã de conceber o fenómeno religioso. Supõe o conceito de separação. O pecado separa-nos de Deus, a religião volta a ligar-nos a Deus pois, por esta, Deus nos perdoa.
Vale ainda hoje a definição latina de religião de Rudolf Otto: Mysterium tremendum et fascinans…. Tremendo porque invoca em nós sentimentos de medo, respeito e reverência. Fascinante porque provoca em nós sentimentos quase contrários aos primeiros, de atração, alegria e confiança. Na Bíblia, ou seja, na tradição religiosa bíblica do judaísmo e cristianismo, estes sentimentos traduzem-se no binómio tantas vezes repetido ao longo da Bíblia de temor de Deus e amor a Deus.
Quando a sociedade agrícola, sobretudo com o cultivo de cereais, permitiu uma certa estratificação social, a figura do sacerdote foi das primeiras a surgir, pois a religião nas sociedades primitivas englobava a cultura em geral, todas as outras atividades, ou seja, tudo o que não era agricultura.
O sacerdote era a pessoa que executava os rituais religiosos à divindade, lia e interpretava os textos sagrados e mantinha o local de culto. Era um intermediário entre a divindade e o povo. Em todas as religiões judaicas, da Suméria, Egito, Roma, no budismo, no hinduísmo, nas religiões tradicionais africanas ou latino-americanas esta é sempre a função do sacerdote.
Xamãs e médiuns seriam outras versões mais sofisticadas no buscar uma relação e comunicação entre este mundo e o mundo espiritual e divino dos espíritos e de pessoas que já faleceram. Há um ressurgir destas práticas com a religião Nova Era (New Age) que é um sincretismo de muitas religiões, incluindo as tradicionais americanas, asiáticas e africanas.
Nas sociedades primitivas, as lideranças civis e religiosas uniam-se numa mesma pessoa e num mesmo cargo. Vemos na Bíblia que Samuel não desempenhava somente as funções de profeta, mas também as de rei líder do povo e as de sacerdote, intercedendo pelo povo junto de Deus; o mesmo aconteceu com Moisés. Já no tempo de Jesus, o sacerdote tinha também a função de médico, ao poder declarar se alguém estava curado ou não de lepra, para ser reintegrado na sociedade. (Mateus 8,4)
A religião é o que faz com que os pobres não matem os ricos. Napoleão Bonaparte
“Se Deus não existisse tudo seria permitido.” Dostoievski
Os ateus não reconheceriam a veracidade desta afirmação vinda de alguém muito pouco religioso, que ironicamente confere à religião o estatuto de polícia. Um polícia mais eficaz que os polícias reais, porque as pessoas têm mais medo do inferno ou da morte eterna que dos sofrimentos e morte temporal.
Os ateus defenderão que existe uma ética que não precisa de se fundamentar na religião, mas a realidade, porém, parece apontar para o facto de que se os seres humanos tivessem um dia a certeza científica de que não há Deus nem vida para além da morte, as fronteiras entre o bem e o mal esfumar-se-iam. Está no inconsciente coletivo da humanidade que o bem leva ao Céu e o mal ao Inferno.
Se isto desaparecesse, se no inconsciente ou consciente coletivo isto não estivesse presente, decerto 1% da humanidade não poderia ter mais riqueza que os restantes 99%, como acontece hoje. Sorte têm os ricos, que mais de 80% da humanidade acredita na existência de Deus e na vida para além da morte. É a maior garantia para eles de que o “status quo” se mantém. Se assim não fosse, não haveria lei, nem polícia nem exército que conseguisse conter a fúria dos pobres. Por isso Napoleão até tinha razão no que disse…
Em todas as épocas, em todos os lugares onde o ser humano já viveu, o fenómeno religioso nasceu por geração espontânea: havendo seres humanos, há cultura, como forma de entender e viver a vida, e há religião como forma de responder às perguntas que não encontram resposta na ciência. Neste sentido, a ciência tem roubado campo à religião; mas conseguirá anulá-la por completo?
A laicidade ou a morte de Deus fez de nós bons consumidores, mas maus cidadãos, individualistas, pouco solidários e empáticos com a dor humana, pois era a religião que nos congregava em comunidade como filhos do mesmo Pai Deus. Faltando Deus, nada nos une como seres humanos e tudo passa a ser permitido, como diz Dostoievski. Não há ética social que se fundamente em si mesma sem o fundamento em Deus.
Os agnósticos desinteressam-se da religião porque não é possível conhecer Deus; Deus não pode conhecer-se pelo método científico porque é uma pessoa, e as pessoas também não são objeto da ciência. As pessoas não se dão a conhecer a quem não as ama. Conhecer uma pessoa sem amá-la, sem se envolver com ela, sem se dar a conhecer também, seria manipulá-la, tal como o método científico faz com as coisas.
Por outro lado, quanto ao mistério, este tanto envolve a religião como a ciência. Em toda e qualquer ciência há matéria conhecida e matéria desconhecida; por isso se continua a investigar e pesquisar para desvendar. Não se sabe tudo sobre biologia, física, química. Quanto mais se sabe, mais há para saber.
Por isso o mistério tanto envolve a religião como a ciência.
Mas a religião, consoante as respostas que nos dá sobre as questões fundamentais, também dá forma à nossa vida, diz como devemos ou não devemos viver. A ciência também sobre isto não tem opinião, nem nos diz qual é o sentido da vida nem como devemos vivê-la.
Religião, cultura e desenvolvimento
Cada cultura tem a sua forma de conceptualizar a Deus; daí o facto de haver diversas religiões. Para além do fator cultural, a diversidade das religiões tem que ver também com o nível de desenvolvimento ou progresso.
Com a globalização galopante que pretende colocar todos os homens em contacto uns com os outros, o que mais conta já não é a diversidade das culturas, mas o nível de desenvolvimento. Mais do que cultura ocidental ou oriental, fala-se de Norte e Sul. Só existe um modelo de desenvolvimento, como só existe uma natureza humana. Mais que diversidade de cultura, existem povos desenvolvidos, povos menos desenvolvidos e povos primitivos.
Tem-se conotado desenvolvimento com o mundo ocidental, mas eu conotá-lo-ia com a natureza humana. Não há nenhum modelo de desenvolvimento alternativo ao dito ocidental. O oriente (China e Japão) não apresenta um modelo de desenvolvimento alternativo ao ocidental porque não existe alternativa.
Não existe um modelo de desenvolvimento que não passe pela máquina a vapor, eletricidade, motores de explosão, comboios, aviões, carros, televisão, rádio, telefone, computador, Internet, papel, jornais, livros, escolas, universidades… A presença ou ausência destes e de tantos outros elementos define o nível de desenvolvimento de um povo e este nível de desenvolvimento influencia mais a vida das pessoas que as nuances culturais.
Por exemplo, a escrita chinesa e de outros povos asiáticos não é diferente da escrita dos povos ocidentais por um fator cultural, mas sim por um fator de desenvolvimento. Toda a escrita começou por ser pictórica, ou seja, por representar as coisas fazendo um desenho delas. Os hieróglifos egípcios e a escrita cuneiforme da Suméria e Mesopotâmia são antepassados pictóricos dos alfabetos grego e romano que vigoram hoje no mundo ocidental. No que respeita à escrita, o alfabeto é mais desenvolvido que a escrita pictórica, por ser mais simples na era do computador e por fazer o discurso mais fluido entre uma maior diversidade de conceitos e palavras.
Tal como há um desenvolvimento ou progresso científico, técnico e humano, também há um progresso ou desenvolvimento no campo da religião, ou seja, da conceptualização de Deus e da vivência do sentimento religioso inato no ser humano.
Animismo
É a primeira conceptualização do divino. Os nossos antepassados viviam na crença de que tudo era animado; tanto os objetos materiais, animais, plantas, rios, rochas, etc., como os fenómenos naturais, o trovão o raio, o vento, a chuva, etc. e até mesmo o próprio universo, possuíam uma alma, ou seja, qualidades, significados ou poderes espirituais ou sobrenaturais.
Em Portugal há uma frase muito repetida que dá conta deste tempo, “No tempo em que os animais falavam”. Não é que tal tempo alguma vez tivesse existido, mas a crença de que os animais falavam, tinham uma alma e uma personalidade sim existiu.
As religiões antigas pertencem a esta categoria; o animismo ainda existe hoje, mas só em povos que de alguma forma vivem apartados da civilização global como os aborígenes da Austrália, os indígenas da América do Norte, assim como os isolados na Amazónia e certas tribos da Africa.
A bruxaria, New Age, magia e tantas outras superstições são resquícios de animismo ou novas expressões deste na sociedade ocidental. O conferir poder espiritual a certos objetos como a chave, a ferradura, o cornito etc, são resquícios modernos de animismo que hoje não passam de superstições.
Politeísmo
Como dissemos, à medida que o ser humano foi conhecendo e dominando o ambiente que o rodeava, este foi-se materializando. Todas as realidades que o ser humano conhece, controla e domina perdem a sua alma, o seu poder, de alguma forma; este passa para ou é absorvido pelo espírito inventivo do ser humano. Desta forma, foi aumentando a esfera do material e diminuindo a esfera do espiritual. O que o ser humano domina deixa de ter poder sobre ele, sobretudo, deixa de ter poder espiritual, para ser um bem material controlável.
O ser humano com o progresso conseguiu dominar muitas realidades, mas não todas; aquelas que ainda resistiram a ser dominadas adquiriram a natureza de divindades. Ao animismo sucede o politeísmo, a crença de que as principais realidades, poderes e forças da natureza são dominadas por um deus. Com efeito existe um deus para cada realidade, sendo o senhor dessa mesma realidade. Vénus, a deusa do amor, Marte, o deus da guerra, Neptuno, o deus do mar, Cronos, o deus do tempo… O politeísmo existe ainda hoje em certas religiões como o hinduísmo.
Monoteísmo absoluto
A pré-história do monoteísmo acontece quando o ser humano agrupa todos estes deuses e lhes dá um líder – Zeus, na mitologia grega e Júpiter na mitologia romana. Daqui ao monoteísmo é um passo. O primeiro ser humano a proclamar que só havia um deus foi um faraó do Egito chamado Akhenaten, também conhecido por Amenhotep IV, que reinou no Egito no século XIV antes de Cristo, muito antes da cultura grega e romana.
Os povos sedentários têm tendência a ser politeístas; os povos nómadas, pelo contrário, são monoteístas. Os Turkana, um povo nómada do norte do Quénia, têm a mesma palavra para designar Céu e Deus. Os mongóis, os turcos e os tártaros, adoravam um deus comum chamado Tengri, o deus do céu azul.
Daqui a intuir que Deus é um ser espiritual, foi um passo muito curto dado pelos judeus, também eles nómadas. Para estes, Deus era espiritual e estava em toda a parte, dentro da nossa mente e sobretudo no nosso coração, em todo o tempo e em todo o lugar. Era um ser pessoal pois era um Deus de pessoas, de Abraão, Isac e Jacob. Intuíram também que era um Deus criador de tudo e de todos. Hoje, monoteístas absolutos são, portanto, os judeus e os muçulmanos.
Monoteísmo trinitário
É a versão cristã do monoteísmo ou, na era da teoria da relatividade, é a relativização do monoteísmo absoluto dos judeus e dos muçulmanos. Se o Homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, e Deus é amor, o amor implica uma relação de pelo menos duas pessoas; o objetivo de uma relação ou um matrimonio, não é o olhar um para o outro, mas os dois na mesma direção, o que frequentemente toma a forma de um filho. Então, nem Deus nem o Amor são “mono” nem “estéreo”, mas sim tridimensionais.
Este Deus que é uma comunidade de amor criou o homem à sua imagem e semelhança, pelo que também o ser humano é uno e trino, estando chamado a ser uma comunidade de amor; à Trindade de Deus corresponde uma trindade humana.
A pessoa humana é livre, autónoma, indivisível e independente e, no entanto, não se explica por si mesma, precisa de outras duas pessoas: o seu pai e a sua mãe, com as quais forma um triângulo. Pai, mãe, filho(a) são as únicas categorias de vida humana; todo o ser humano pertence sempre a duas delas.
Um homem não é pai sem ter uma esposa e um(a) filho(a); uma mulher não é mãe sem ter um marido e um(a) filho(a), todo o ser humano é filho(a) de um pai e de uma mãe; não existem mães solteiras. A Trindade consiste em que um indivíduo não existe sozinho, mas coexiste com outros dois; a existência de um implica sempre a existência de outros dois, com os quais tem laços afetivos, formando um triângulo de amor.
Ateísmo
Para o ateísmo, não existe nenhum Deus além do universo ou no universo. Afirma que o universo físico é tudo o que existe. Tudo é matéria autossuficiente. Pensamento de Feuerbach por parte da filosofia de Karl Marx – por parte da filosofia quanto ao seu materialismo dialético e por parte da economia quanto ao seu materialismo histórico. Outro expoente ateu por parte da psicologia foi Sigmund Freud.
Os crentes não podem provar cientificamente a existência de Deus, os não crentes também não podem provar cientificamente a sua inexistência. Pelo que o ateísmo é a crença na não existência de Deus. Uma crença que vai contra o sentimento religioso inato no ser humano.
A este sentimento religioso se refere de alguma forma a anedota que diz: o homem é comunista até ficar rico, feminista até se casar e ateu até o avião começar a cair. Ou ainda o que se concebe como ateu por estar na moda e porque ainda não adaptou o vocabulário à sua nova crença, chega a dizer, “Eu cá sou ateu, graças a Deus”.
Niilismo
De onde vimos, para onde vamos, que sentido tem a vida, são as três perguntas que todo o ser humano se faz quando, pelos 6 ou 7 anos, atinge a autoconsciência, ou seja, se conhece como pessoa. Se vimos do nada e vamos para o nada, como afirmam os ateus, que sentido tem a vida? Acaso algo que começa em nada e termina em nada pode ter algum sentido? Neste sentido, o niilismo é um fruto ou produto natural do ateísmo.
Sem futuro, o presente é nauseabundo por mais prazenteiro que seja. Assim o experimentou Sartre, Nietzsche antes dele e Camus depois dele: “se vens do nada, não há Fé, se vais para o nada, não há Esperança, o mais certo é que não haja Caridade pelo que a vida carece de sentido, é nauseabunda. Ante isto, ou cometes suicídio como Nietzsche, ou disfrutas dos prazeres do mundo material e morres de uma qualquer sobredose, ou tornas-te num filantropo e disfrutas da alegria que te proporciona o bem que fazes aos outros, porque há mais alegria em dar que em receber.
Agnosticismo
Como não se pode conhecer a Deus, ou conhecê-l´O totalmente, o agnóstico, como já dissemos, desinteressa-se do tema, coloca-o de parte. Porém, como dissemos também, não é só Deus que está meio envolto em mistério, toda a ciência também o está. Por isso, esta atitude de a-gnosis, ou seja, de negar o conhecimento aplicada às ciências paralisaria o progresso científico pois paralisaria a investigação. Como não posso conhecer tudo sobre a biologia, física e química, não me interesso, não quero conhecer.
Suspeito, por outro lado, que esta atitude do ponto de vista mais humano, é a de evitar responder às três perguntas fundamentais do ser humano: de onde venho, para onde vou e que sentido tem a vida, para evitar cair no niilismo. Ou seja, é a atitude da avestruz que, ao ver o perigo, esconde a cabeça debaixo da areia.
Prova contundente da existência de Deus
Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé e permaneceis ainda nos vossos pecados. Por conseguinte, aqueles que morreram em Cristo, perderam-se. E se nós temos esperança em Cristo apenas para esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Porque, assim como por um homem veio a morte, também por um homem vem a ressurreição dos mortos. E, como todos morrem em Adão, assim em Cristo todos voltarão a receber a vida. 1 Coríntios 15, 17-21
Parafraseando S. Paulo, se Cristo não ressuscitou, se não existe Deus nem vida para além da morte, somos os mais desgraçados de todos os seres vivos que habitam este planeta. A evolução da não consciência para consciência, ou como Karl Marx diz, somos o momento em que a natureza ganha consciência de si mesma, não teria sentido. Para que ganhámos nós consciência?
Para termos consciência da nossa miséria? Para, ao contrário dos outros seres vivos, sabermos que um dia vamos morrer? Para sentirmos tristeza sempre que fazemos anos e vemos como as forças vão definhando, a beleza vai desaparecendo e a doença vai ganhando terreno? Ao menos os seres vivos estão poupados a este sofrimento, pois não sabem nem que vão morrer nem sequer que existem, pois não são auto-conscientes.
Para que serve a possibilidade de optar? Para poder cair em mil e uma armadilhas e poder fazer da nossa vida um inferno? Ao menos os outros seres vivos vivem sempre felizes, não têm a capacidade de arruinar a própria vida e ser infelizes.
E para quê todo o trabalho e esforço, se terminamos todos de igual maneira? E se o fim do ser humano é o mesmo que o da pulga e da barata, em que pode este ser humano dizer que é superior a estes seres vivos? Só se for superior em sofrimento, em tristeza e em desespero se, de facto, o fim de todos é o nada.
Se há sede tem de haver água; se não, não haveria sede. Todas as experiências dos que estiveram entre a vida e a morte, entre o aqui e o além, falam de uma luz, de uma felicidade. Ninguém, até ao momento, falou do nada, do vazio, do deixar de existir.
Segundo o famoso argumento ou aposta de Pascal, suponhamos que dois amigos - um ateu e outro religioso – apostam uma quantia de dinheiro na hipótese da existência ou não existência de Deus e da vida para além da morte. O ateu aposta que Deus não existe, o religioso que sim, existe. À morte dos dois, se o ateu ganhar a aposta, ou seja, se não houver nada para além da morte, não vai poder receber o prémio, não vai sequer saber que ganhou e que o religioso perdeu.
Pelo contrário, se houver vida para além da morte e Deus que a sustém, o religioso ganhou essa vida eterna e o ateu perdeu-a. Concluímos que quem acredita tem tudo a ganhar e nada a perder; quem não acredita, tem tudo a perder e nada a ganhar.
Conclusão – Os conceitos de religião e cosmovisão englobam-se mutuamente. Todas as cosmovisões têm uma religião ou uma anti religião, e todas as religiões têm uma cosmovisão.
Pe. Jorge Amaro, IMC
Sem comentários:
Enviar um comentário