Toda a gente sabe que uma pessoa introvertida é uma pessoa voltada para dentro, que fala com os seus botões; por outro lado, o extrovertido é uma pessoa voltada para fora, precisa da convivência como do ar que respira.
Quem primeiro cunhou estes termos foi o psicólogo suíço Carl Jung, discípulo dissidente de Freud. Vejamos em que difere não só de Freud como de outro grande contemporâneo, Adler, para depois nos centrarmos nestas tradicionais atitudes ou tendências perante a vida e os outros.
Freud, Adler e Jung
Sigmund Freud - É o grande mestre e fundador da psicologia moderna, entendida no seu tempo como psicanálise; Alfred Adler e Gustav Jung são os seus seguidores e discípulos que, a princípio, seguem fundamentalmente a teoria do mestre, mas mais tarde divergem consideravelmente, seguindo cada um o seu rumo.
Freud entende que a raiz de todo o problema psicológico é sexual, ou seja, a repressão de desejos sexuais no inconsciente leva a comportamentos neuróticos no consciente. Freud foi o primeiro pensador que tirou o tema sexual do escuro e do âmbito do pecado. Falar de sexo no seu tempo era tabu, e talvez tenha sido isto que de alguma maneira o levou a dar tanta importância ao sexo.
A divisão da personalidade humana em três instâncias foi o seu grande contributo para entender a natureza humana. O ID é a primeira instância e aquela que nos aproxima mais dos últimos primatas, nascemos com o ID e nunca o perdemos. O ID é inconsciente e assim permanece dentro de nós mesmos. O ID relaciona-se simbioticamente com o seu ambiente circundante, não se destacando muito dele.
À medida que a criança cresce e se relaciona com o seu ambiente, começa a destacar-se e a diferenciar-se deste, chegando eventualmente à autoconsciência de si mesma: nasce assim o ser, o EGO. Mais tarde, a criança consciente do seu ser toma também consciência, por meio da educação, do dever ser, de que pode crescer, ser mais, ser melhor e assim nasce o SUPEREGO, a última instância da personalidade segundo Freud.
Alfred Adler – Menos introspetivo que Freud, interessou-se mais pelas relações que a criança estabelece desde o princípio e como ela se vê a si mesma perante os outros. Ao contrário de Freud, entende que a razão de todos os problemas psicológicos é o complexo de inferioridade que torna a pessoa ávida de poder.
Ao analisar o inconsciente, Freud descobre fantasias eróticas e desejos reprimidos, enquanto que Adler acha que este inconsciente contém sentimentos de inferioridade e desejos de poder e grandeza que vão tornar a pessoa agressiva na luta pelo poder, ou apática, se entender que não consegue alcançar o poder.
Na prática psicoterapêutica os dois também são diferentes. Adler não usa o divã porque entende que replica uma relação pai-filho e reforça o complexo de inferioridade do cliente. Pelo contrário, usa duas cadeiras frente a frente que fazem do cliente e do terapeuta participantes iguais no processo psicoterapêutico. Talvez este seja o percursor da terapia não diretiva de Carl Rogers.
Gustav Jung – Estende o inconsciente freudiano para além das fronteiras do indivíduo, criando o inconsciente coletivo, algo como uma base de dados à qual todos naturalmente se ligam, pois contém todos os arquétipos da humanidade.
Uma das razões da divergência entre estes três grandes psicólogos pode ser o facto de que, embora as suas teorias se destinassem a ser aplicadas ao homem em todas as suas etapas de crescimento, cada um dos três se inclina para uma etapa diferente deste crescimento. Freud está mais interessado na infância, Adler na adolescência e Jung na idade adulta.
Neste sentido, Jung abandona Freud porque entende que o nosso comportamento não depende só de eventos do passado, quer tenham sido traumáticos ou não traumáticos. A pessoa procura sempre atualizar-se, está orientada para o futuro e, neste sentido, toma as atitudes que acha que melhor resolvem os seus problemas e satisfazem as suas necessidades.
Neste contexto, Jung propõe duas atitudes, tendências ou abordagens em relação à vida: introversão e extroversão. Considera-se que estas ideias são o maior contributo de Jung para a teoria da personalidade. De facto, a visão dos tipos extrovertido e introvertido de Jung serve como base ao indicador de tipos Myers-Briggs (MBTI).
Sem se preocupar com o passado, a dupla Myers-Briggs estuda o comportamento da pessoa no aqui e agora e analisa-o na medida em que se situa entre duas atitudes ou tendências contrárias. Em relação à nossa motivação e à forma como adquirimos a energia, somos introvertidos ou extrovertidos. Em relação à forma como adquirimos e processamos a informação de que precisamos na nossa vida, somos sensitivos ou intuitivos. Em relação à forma como tomamos decisões, uns regulam-se mais pelo pensamento, outros pelo sentimento. Em relação à forma como nos situamos na vida a nível existencial e profissional, uns confiam mais na sua capacidade de julgar, outros mais na sua perceção.
Os resultados de um teste de MBTI nunca mostram uma pessoa como sendo 100% introvertida ou extrovertida, sentimental ou racional, sensitiva ou intuitiva, julgadora ou percetiva; indicam apenas em percentagem uma tendência ou inclinação mais para um lado que para o outro.
O objetivo deste texto não é estudar a teoria de Myers-Briggs, mas sim os comportamentos introvertidos e extrovertidos segundo Jung e segundo autores posteriores a ele. O título deste texto não se refere apenas à introversão e extroversão, mas também à ambiversão.
É certo que este termo era desconhecido por Jung mas ele próprio já entendia que não havia ninguém que fosse 100% introvertido ou extrovertido. Hoje os autores entendem que existem pessoas que não são nem um nem outro nem os dois ao mesmo tempo, dependendo das situações ou motivações do momento.
O que é ser introvertido - extrovertido – ambivertido? Uma atitude perante a realidade, perante os outros, perante a vida? Uma motivação, uma tendência, um tipo psicológico, um caráter, um tipo de personalidade, um temperamento?
Tive dificuldade em decidir-me por este título, pois cada autor usa a sua forma de entender estes comportamentos fundamentais da pessoa humana. Ficamos com a palavra “atitude” e se tivéssemos que escolher uma segunda escolheríamos “tendência”, para definir a forma como uma pessoa se situa na vida em relação a si mesma, à realidade e aos outros.
Qual é a orientação natural da nossa energia? O que mais nos motiva? Cada pessoa tem duas faces. Uma está voltada para o mundo exterior de atividades, entusiasmos, pessoas e coisas; a outra para o mundo interior dos pensamentos, interesses, ideias e imaginação.
Sendo estes lados da nossa natureza, complementares, a maior parte das pessoas tem preferência por um deles. Assim, um dos seus dois rostos - extrovertido ou introvertido - assume a liderança no desenvolvimento da sua personalidade e desempenha um papel mais dominante no seu comportamento.
Ultimamente, fala-se de uma terceira tendência - a ambiversão - que fundamentalmente é uma síntese das outras duas. Pessoalmente, sempre me entendi como introvertido; mas todos os testes que fiz sobre o assunto sempre me colocaram na fronteira entre o introvertido e o extrovertido, ou seja, introvertido, mas com facetas de extroversão.
Descobrir o termo ambiversão foi para mim o mesmo que descobrir-me a mim mesmo, um “eureka” sobre mim mesmo: afinal não sou introvertido como pensava nem extrovertido, mas uma síntese ou mistura das duas atitudes. Nem podia ser de outra maneira, sendo quem sou e sendo o meu trabalho lidar diretamente com pessoas mais que com coisas ou papéis.
Infância: introversão e extroversão
Jung entende que adquirimos bem cedo estas duas atitudes fundamentais perante a vida, a realidade e os outros que depois mantemos durante o resto da nossa vida. Estas atitudes aparecem quando o bebé corta o cordão umbilical que o liga ao seu meio ambiente e começa a diferenciar-se dele. Podemos dizer que o introvertido nasce ou emancipa-se antes que o extrovertido, na medida em que se diferencia mais fortemente do seu ambiente que o extrovertido que, de alguma forma, ainda se mantém por mais tempo em simbiose com ele.
Perante este dado, uma criança com tendência extrovertida demonstra prontidão para agir e responder aos estímulos e solicitações do meio ambiente; a sua atenção é dirigida ao mundo exterior e interage com os objetos sem reservas e sem medo, mesmo que os desconheça.
Por outro lado, a criança introvertida assume uma atitude reflexiva e até desconfiada diante daquilo que não conhece, sente medo e entende que deve proteger-se e defender-se da influência que os objetos possam ter sobre ela. Por isso mantém uma distância perante eles, com o intuito de os conhecer melhor e adquirir poder e autoconfiança nas suas ações sobre eles.
Pouco se sabe sobre a forma como nos transformamos em introvertidos ou extrovertidos. Inicialmente, atribuía-se muita importância aos fatores educativos, mas verifica-se muitas vezes que filhos da mesma mãe que foram teoricamente educados da mesma maneira, agem e reagem de maneiras diferentes na mesma situação.
No caso das atitudes psicológicas, o fator educativo não é aparentemente o mais determinante na aquisição das atitudes de introversão ou extroversão. É provável que haja uma predisposição genética ou biológica para se assumir uma ou outra atitude.
Atitude introvertida
A forma de conhecer do introvertido - O mundo do introvertido está dentro de si mesmo; é algo como o mundo das ideias da caverna de Platão. A nível filosófico, o introvertido, no ato de conhecer as coisas, não lida com os acidentes das coisas, ou seja, com as suas características, mas com a sua essência, com o que estas coisas significam em si ou para ele.
É claro que esta atitude fundamental pode levar a mal-entendidos pelo facto de o introvertido não se relacionar com o objeto em si, mas com a ideia ou imagem, sempre subjetiva, que tem do objeto, coisa ou pessoa em questão. A perceção da realidade do introvertido nunca é objetiva, porque ele não vê as coisas tal como elas são, mas como ele entende que elas são, ou seja, como elas são para ele.
Para o introvertido, a realidade psíquica é uma experiência relativamente concreta, algumas vezes chega a ser mais concreta que a realidade externa. O que conta não é o que a coisa ou pessoa é em si mesma, mas o que ela é para o sujeito que a conhece. O erro está, é claro, em confundir o que a coisa ou pessoa é em si mesma com o que é para mim. O sujeito que conhece é mais importante que a pessoa ou coisa a ser conhecida. As pessoas e as coisas não são o que são, mas o que são para mim.
Dizem ou diziam que os japoneses não desfrutam dos lugares que visitam por estarem atarefados a fazer fotografias e vídeos, desfrutando eventualmente desses lugares quando, já em casa, os revisitam através dos vídeos e fotografias que contemplam no ecrã da televisão, comodamente sentados no sofá, bebendo saque. Esta pode ser uma imagem caricata de um introvertido que desconsidera a realidade exterior, a favor da realidade interior.
A mente do extrovertido orienta-se e relata fielmente os factos objetivos e permanece sempre em contacto com a realidade a conhecer, podendo variar a sua conceção conforme esta varia. Pelo contrário, a mente do introvertido é como uma máquina fotográfica: abre-se o obturador num espaço curto de tempo, a realidade entra e depois fecha-se e não volta a abrir-se. Enquanto que o introvertido pode olhar o extrovertido como superficial e demasiado dependente da realidade, o extrovertido olha o introvertido como preconceituoso, egoísta e distanciado da realidade.
Introversão e timidez - Os introvertidos podem ser ou não ser tímidos; o tímido é inseguro, está apreensivo e nervoso quando está com pessoas; o introvertido pode até ter boas competências sociais, mas cansa-se de estar com os outros; precisa de estar sozinho para recarregar a sua energia.
Resumindo
- Voltado para o mundo interior. Tem preferência por encontrar a energia e motivação no mundo das ideias, emoções, impressões e experiências pessoais. Prefere refletir antes de agir e, novamente, refletir. Precisa de tempo para pensar e recuperar a sua energia. Em geral, é pouco sociável, por opção, não porque seja tímido. Os ambientes muito agitados, com muitas pessoas cansam o introvertido.
- Do ponto de vista energético, o introvertido produz a sua própria energia, motiva-se a si mesmo, é autónomo e independente; o extrovertido precisa de se ligar com o mundo exterior para se motivar, de se ligar aos outros para carregar as baterias.
- O modo de aprendizagem do introvertido é pela observação, é uma pessoa mais pensativa e introspetiva. O introvertido precisa de estar sozinho. Não expressa muito, pensa e analisa.
- Pensa e reflete e só depois atua, e dificilmente muda de opinião, podendo ser fundamentalista e intolerante quando negativo.
- Precisa de uma quantidade de "tempo a sós" para recarregar as baterias.
- Motivado a partir de dentro, a sua mente é, por vezes, tão ativa que tende a fechar-se ao mundo de fora do qual se protege. A sua mente é o seu castelo.
- Tem preferência pela comunicação e relações de um-para-um. Os temas de conversa são profundos e giram em torno de ideias e conceitos; não perde o tempo a falar de assuntos triviais ou mexericos.
- Prefere direcionar a sua energia estudando e analisando ideias, informações, explicações e crenças.
- Parafraseando Descartes, o introvertido pensa, logo existe, e depois atua ou não; o extrovertido existe, depois pensa.
- O introvertido é Platão, o extrovertido é Aristóteles.
- O extrovertido é fácil de conhecer, o introvertido é difícil de conhecer.
- O extrovertido expressa emoções, o introvertido controla-as ou reprime-as. O primeiro precisa de relações, o segundo precisa de solidão e privacidade. Um traz amplitude para a vida, o outro traz profundidade. O primeiro pode ser acusado de ser superficial, o segundo de ser uma ilha.
- Uma pequena parte da população é introvertida.
Os introvertidos são bons investigadores, engenheiros, arquitetos, filósofos, escritores, psicólogos, professores, áreas onde a capacidade de refletir antes de agir é valorizada. Por exemplo, um soldado pode e deve ser extrovertido, enquanto que um estratega militar deve certamente ser introvertido; mas nem sempre isto acontece. Quando se trata de natureza humana, mais são as exceções que as regras.
Atitude extrovertida
O mundo do extrovertido é o mundo real, fora de si mesmo. Para o extrovertido, o mundo externo parece o sujeito e ele o objeto. O indivíduo deixa-se impregnar pelo exterior que o invade. Segundo Jung, o extrovertido vive de tal modo, que o objeto, como fator determinante, desempenha na sua consciência um papel bem maior que a sua opinião subjetiva. Sente e pensa no objeto pessoa ou coisa do seu conhecimento, perdendo nele a sua subjetividade ou individualidade.
Um extrovertido pode ser ou não ser uma pessoa amistosa e sociável. O que verdadeiramente o define é o precisar dos outros e do mundo exterior para ser ele mesmo; sente-se cheio de energia quando está com os outros, pois neles encontra a sua motivação e as suas ideias.
As considerações subjetivas do extrovertido existem, mas não são privilegiadas no plano da sua consciência, pois favorece o objeto e as suas circunstâncias em vez de se destacar a si próprio como sujeito. Isto pode levar o extrovertido a distanciar-se de si mesmo no âmbito dos pensamentos, avaliações, sensações e intuições subjetivas. Com este quadro psíquico, é bem mais provável que um extrovertido se aliene e perca a sua liberdade num comportamento aditivo que o introvertido que mantém uma distância segura em relação às coisas.
O extrovertido tende a viver dissociado e divorciado de si mesmo, dos seus sentimentos e pensamentos, refugia-se no objeto para afastar de si a dor e o sofrimento, e apercebe-se das suas necessidades quando a não satisfação das mesmas já é problemática. As necessidades subjetivas, de facto, são o seu ponto fraco, ignorando a saúde do seu próprio corpo em comportamentos pouco saudáveis. O não reconhecimento consciente das suas necessidades pode assumir proporções catastróficas a ponto de perder a referência e proporção das coisas em relação a si mesmo: está tão envolvido na realidade que se confunde com ela.
Resumindo
- Precisa de estar e entrar em contacto com os outros para recarregar as suas energias de forma externa. É motivado ou tira a sua energia do mundo das coisas, das pessoas, das relações, das atividades. A forma de aprendizagem também é externa: precisa de conversar, de trocar ideias. Odeia fazê-lo por si mesmo, sem a interação com os outros e o mundo ao seu redor. Sente que lhe falta algo quando privado da interação com o mundo exterior, pois é este que o motiva. Procura inspiração pensando alto e em diálogo com os outros. Trabalha melhor em equipa que sozinho.
- Obtém a sua energia através da ação; a sua energia psíquica e a sua atenção e interesse são dirigidos para fora de si, para as pessoas e para o mundo à sua volta. Real é o mundo à sua volta e é este, e não o seu pensamento, que determina o seu comportamento. O seu mundo interior é menos real e mais secundário na sua lista de prioridades e influencia menos o seu comportamento. Está mais interessado no que acontece à sua volta do que no que acontece no seu interior.
- Gosta de realizar várias atividades; age primeiro e depois pensa. Quando inativo, a sua energia diminui, podendo até entrar em tédio e depressão. Em geral, é sociável. Enquanto o introvertido procura adaptar o mundo à sua mente, o extrovertido adapta-se, acomoda-se ao mundo. Neste sentido, facilmente muda de opinião como uma cana agitada pelo vento, como um camaleão e, quando é negativo, é uma pessoa sem princípios. Facilmente faz novos amigos ou se adapta a um novo grupo, e também facilmente rompe com relações indesejáveis. É aberto e diz o que pensa, e pode até não pensar no que diz.
- Não é necessariamente altruísta, vai ter com os outros porque precisa deles. Os temas de conversa são triviais e superficiais, coisas do dia a dia e até mexericos. É aberto e falador, objetivo, uma pessoa de ação. É prolixo nos seus interesses e tem dificuldade em manter a atenção focada numa só coisa.
- A maior parte da população é extrovertida.
Os extrovertidos são bons gestores, vendedores, treinadores, apresentadores, jornalistas entrevistadores, áreas onde é importante interagir com as pessoas e as coisas.
Ambivertidos
Ninguém é puramente introvertido nem puramente extrovertido ou estaria encerrado num manicómio.
Carl Jung
Os entendidos em ambiversão dizem que a maior parte da população é ambivertida. Ou seja, todos caímos nalgum ponto do espetro entre a extroversão e a introversão. É um conceito novo, desconhecido para Jung, o fundador da teoria da introversão e extroversão, embora ele mesmo entendesse que podia haver um grau intermédio entre estes dois contrários.
Esse grau intermédio é o ambivertido. Em meu entender, o ambivertido é fundamentalmente um introvertido, ou seja, está enraizado na introversão, mas também se dá bem fora da sua concha, à qual necessita de regressar. É versátil como um pato que tanto voa como anda ou nada.
Dá-se bem na solidão e entre a multidão. Na verdade, para ser ele mesmo necessita de alternar solidão com multidão, ou seja, estar a sós consigo mesmo e estar com os outros. Sente ambas as necessidades, pelo que tanto pode passar dias fora de casa, como passar dias sem sair à rua.
Perante um determinado estímulo, a reação de um introvertido e de um extrovertido é previsível; a reação de um ambivertido não é clara nem previsível, nem sequer para ele mesmo; depende de muitos fatores, entres os quais os interesses do indivíduo no momento. Os ambivertidos podem ser excelentes conversadores e comunicadores e, por outro lado, também excelentes ouvintes.
O primeiro a usar o termo "ambivertido" foi o psicólogo americano Edmund S. Conklin, em 1923, segundo conta Ian Davidson, professor de Psicologia da Universidade de York, Canadá, num artigo datado de 2017. Davidson explica que um psicólogo da época dizia que Conklin "inventou a palavra" para descrever aqueles indivíduos que se encontram entre os introvertidos (que vivem na sua cabeça) e os extrovertidos (que vivem fora dela).
Os ambivertidos situam-se no meio do espetro entre a extroversão e a introversão; não são muito faladores nem vivem demasiado centrados em si mesmos; não têm uma necessidade forte e quase compulsiva de interagir com os outros, como o extrovertido puro, nem buscam a solidão para fugir à realidade, como os introvertidos. São flexíveis, tolerantes, ambivalentes, bilingues ou poliglotas, ecléticos, vivem com um pé em cada um dos dois mundos.
Resumindo
- O ambivertido não tem medo de ser o centro das atenções, dependendo do contexto e da situação. Em muitas situações, prefere simplesmente observar tranquilamente sem participar ativamente.
- Goza e diverte-se nas festas e eventos sociais durante horas a fio, porém, de repente, a energia esgota-se e precisa de se retirar para a sua zona de conforto.
- Como os extrovertidos, gosta de conversar, mas não sobre assuntos triviais ou futebol.
- Gosta de socializar, mas às vezes é reservado, sobretudo se não conhece alguém. E não será ele que toma a iniciativa de se apresentar como faria um extrovertido.
- Alguns dos seus amigos pensam que é extrovertido, outros que é introvertido, isto porque se apresenta de diferentes maneiras em diferentes situações.
- Em geral, pensa antes de falar; se alguém fala muito, ele escuta; se todos estão em silêncio, ele fala.
- Os ambivertidos são os melhores a lidar com os extremos que provocariam o colapso dos introvertidos ou os extrovertidos, uma vez que têm um maior grau de tolerância tanto no extremo da introversão como no extremo da extroversão.
Os introvertidos ficam em casa num dia de sol, os extrovertidos ficam na rua num dia de chuva, os ambivertidos aproveitam o sol e fogem da chuva.
Pe. Jorge Amaro, IMC
Sem comentários:
Enviar um comentário