Para falar destes três movimentos tão essenciais à vida no nosso planeta, precisamos de os enquadrar não só no âmbito do sistema solar, como já fizemos ao falar da interação entre o sol, a Terra e a lua, mas também no âmbito da nossa galáxia, a Via Láctea que pode muito bem conter 100 mil milhões de sistemas solares como o nosso. Segundo as observações feitas pelo telescópio Hubble que se encontra no espaço, pode haver de 100 mil milhões a 200 mil milhões de galáxias no universo.
É providencial sermos um planeta telúrico no contexto do sistema solar, no qual a maior parte dos planetas são gasosos; é providencial o lugar que ocupamos no conjunto dos 4 planetas telúricos, o terceiro lugar entre Vénus e Marte, nem muito longe do sol como Marte, planeta demasiado frio, nem muito perto do sol como Vénus, o planeta mais quente do sistema solar.
É providencial a grandeza do nosso planeta. A Terra (6 371 km de diâmetro) é apenas um pouco maior que Vénus (6 052 km). Vénus tem uma atmosfera de composição gasosa semelhante à da Terra, antes do aparecimento da vida; porém, como se encontra demasiado perto do sol não tem condições para desenvolver vida.
Se a Terra fosse mais pequena, como Mercúrio - (2 440 km) ou a nossa lua, não teria a força de gravidade suficiente para desenvolver uma atmosfera. Se fosse 6 vezes maior, como Neptuno (24 622 km), seria como é este planeta - um planeta gasoso. Por outro lado, bastava que fosse duas vezes maior para que a vida tal como a conhecemos não fosse possível: os corpos animais ou vegetais com a mesma estrutura e massa pesariam o dobro e colapsariam.
Por fim, também é providencial a posição de todo o sistema solar em relação ao centro da nossa galáxia. O sistema solar encontra-se a 27 000 anos-luz do centro da nossa galáxia. A Via láctea tem mais de 200 000 milhões de estrelas e um diâmetro de 100 000 anos-luz. Na nossa galáxia, há zonas de habitabilidade e zonas de inabitabilidade. A zona de habitabilidade forma um anel ao redor do centro da galáxia, estando o círculo interior a 13 000 anos-luz do centro e o exterior a 32 600 anos-luz do mesmo centro.
Esta é a zona onde podem aparecer sistemas que contenham planetas suscetíveis de albergar algum tipo de vida. Para além dos 32 600 mil anos-luz do centro da galáxia, a metalicidade das estrelas é muito baixa para permitir a formação de planetas telúricos como a Terra. Por outro lado, a menos de 13 000 anos-luz do centro, a exposição a ventos altamente energéticos, como as supernovas, seria muito hostil para a vida. Dentro da nossa galáxia, estamos, portanto, numa posição privilegiada.
As órbitas dos planetas são espirais não elípticas
Segundo o que nos ensinaram na escola, as estrelas estão imóveis, só os planetas se movem. Por isso, temos a ideia de que o sol é uma estrela fixa, estática, sem nenhum movimento e que a Terra, assim como os demais planetas do sistema solar, gira à volta do sol em órbitas elípticas. Na verdade, não é isso que acontece; os movimentos de translação dos planetas à volta do sol não formam elípticas, mas sim espirais.
A incrível verdade é que o sol se move num movimento de translação à volta do centro da galáxia, a uma velocidade vertiginosa de 828 000 km/h, 230 Km/s e leva 225 milhões de anos a completar uma volta. É, portanto, incorreto dizer que a Terra e os outros planetas se movem à volta do sol. A verdade é que o sol, nesta sua órbita à volta do centro da galáxia, arrasta consigo os planetas do seu sistema e estes seguem o sol, descrevendo no seu movimento uma espiral e não uma elíptica. A espiral é, portanto, a forma geométrica do movimento - combinação do círculo com a reta, duas formas de entender o tempo diametralmente opostas.
Os gregos entendiam o tempo como um círculo – primavera, verão, outono, inverno. Daí, nasceu o mito do eterno retorno. Por outro lado, os judeus entendiam o tempo como uma linha que vem do passado e passa pelo presente em direção ao futuro. Têm como paradigma a sua epopeia do êxodo do Egipto: o passado, representado pela escravidão, que passa pelo presente de sacrifício com a travessia do deserto, em direção à Terra Prometida de liberdade e progresso.
O sol move-se e, como consequência, os planetas seguem o sol, ou melhor, o sol arrasta consigo os planetas que se movem à sua volta, descrevendo uma espiral. Esta figura geométrica é-nos muito familiar pois é a forma da nossa galáxia, a Vida Láctea, a forma dos furacões e dos tornados, a forma das hélices que movem tanto os aviões como os barcos, a forma dos parafusos perfurando a madeira ou outro material, a forma geométrica do nosso código genético, o ADN, e até a forma que adquire o nosso cabelo no cimo da nossa cabeça, exibe a forma da via láctea.
Espiral é também a figura geométrica que a água forma ao ser absorvida num lavabo ou numa sanita; este remoinho gira para a esquerda em sentido anti-horário no hemisfério norte e para a direita em sentido horário no hemisfério sul, não se verificando nenhum remoinho no equador. Até os furacões e os tufões se movem em espiral em direção contaria dependendo do hemisfério onde ocorrem.
Ano litúrgico – conceção cristã do tempo
O tempo cristão é também uma espiral que gira à volta de um eixo que é Cristo. Como a Terra completa uma volta em redor do sol a cada 365 dias, assim também nós completamos uma volta em redor do nosso Sol que é Cristo, eixo da História: porque “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e pelos séculos.” (Hebreus 13, 8).
Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer. João 15, 5.
Como a Terra não pode viver sem o sol, também nós não podemos viver sem Cristo, dele recebemos a vida como os ramos da cepa da videira. Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não vos entregueis às coisas da carne, satisfazendo os seus desejos. Romanos 13, 14
Há uma canção popular portuguesa - “A primavera vai e volta sempre, a mocidade vai e não volta mais” - que resume as duas conceções antigas do tempo numa só. Nós vivemos as estações do ano uma e outra vez e as estações da Igreja, como o Advento a Quaresma etc. uma e outra vez; mas a primavera ou o Advento do ano passado não são os mesmos deste ano nem serão os mesmos do ano que vem.
A conceção retilínea do tempo revela que o tempo é um contínuo devir irrepetível: como dizia o filosofo grego Heráclito, não podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio. A conceção circular do tempo apela a uma constante, as estações do ano repetem-se uma e outra vez; a espiral é a combinação da constante com a variável. Cristo é o eixo da História, é a constante; a variável é cada ano à volta d´Ele, com a finalidade, como diz S. Paulo, de nos revestirmos d´Ele, ou seja, de sermos cada vez mais como Ele.
O movimento de translação dos planetas
Utilizando o nosso ano de 365 dias e o nosso dia de 24 horas como medida padrão, assim são os dias e os anos nos outros planetas do sistema solar:
Mercúrio: o ano dura 88 dias, o dia dura 58 dias e 16 horas
Vénus: o ano dura 225 dias, o dia dura 243 dias
TERRA: o ano dura 365 dias, o dia dura 24 horas
Lua: o ano e o dia duram o mesmo 29,5 dias
Marte: o ano dura 1 ano e 322 dias, o dia dura 24 horas e 37 minutos
Júpiter: o ano dura 11 anos e 315 dias, o dia dura 9 horas e 56 minutos
Saturno: o ano dura 29 anos e 167 dias, o dia dura 10 horas e 15 minutos
Urânio: o ano dura 87 anos e 7 dias, o dia dura 12 horas 14 minutos
Neptuno: o ano dura 164 anos e 280 dias, o dia dura 16 horas e 7 minutos
Os três movimentos da Terra
Na escola aprendemos que a Terra tem dois movimentos: o de rotação sobre si mesma ou sobre o seu eixo, de 24 horas, e o de translação à volta do sol, em 365 dias, que compõe o ano e as suas 4 estações, mais notórias a norte do Trópico de Câncer e a sul do Trópico de Capricórnio. Porém, a Terra tem ainda outro movimento menos percetível, mas também cíclico que varia no espaço de
26 000 anos.
Movimento de translação
Como dissemos, o sol juntamente com a Terra e os demais planetas do sistema solar giram ao redor do centro da nossa galáxia; mas este movimento não nos afeta, porque é um movimento conjunto, ou seja, de todo o sistema solar em relação ao centro da galáxia.
Mais importante é o movimento de translação que a Terra descreve à volta do sol, arrastada pela força gravitacional deste. A Terra completa uma volta ao sol em 365 dias, 5 horas e 57 minutos, ou seja, 365,2422 dias, a duração de um ano a uma velocidade de 106 000 km por hora o que equivale a 2 544,000 por dia. Por que vemos o sol andar e não a Terra? Porque nós acompanhamos o movimento, tal como quando vamos de carro não vemos o carro mover-se, mas sim as árvores que estão paradas.
Voltando à tradicional elíptica, para uma mais fácil compreensão deste movimento e dos seus efeitos, os equinócios (primavera e outono) correspondem ao centro da elíptica e os solstícios (verão e inverno) correspondem aos polos da elíptica.
O movimento de translação da Terra por si só não explica as estações do ano; estas ocorrem fundamentalmente porque a Terra não está vertical, ou seja, por o seu eixo estar inclinado 23,5 graus em relação ao polo eclíptico. Se o nosso polo norte fosse o polo eclíptico, ou seja, se a Terra não tivesse uma inclinação no seu eixo, não haveria estações e o clima seria sempre o mesmo.
Durante o equinócio da primavera (21 de março), no hemisfério norte é primavera, no hemisfério sul é outono. Durante o equinócio de outono (23 de setembro), no hemisfério norte é outono, no hemisfério sul é primavera. Nos equinócios equis noctis, o dia tem a mesma duração da noite, ou seja, 12 horas de luz e 12 horas de escuridão.
Em relação ao sol, a inclinação da Terra não faz nenhuma diferença quando está a metade da sua órbita ao redor do sol. Porém nos solstícios, quando a Terra se encontra no vértice da elíptica, mostra mais um hemisfério ao sol que o outro. Em 21 de junho mostra o hemisfério norte, pelo que os raios do sol incidem perpendicularmente sobre este hemisfério. No dia 22 de dezembro, o sol está do outro lado da elíptica, pelo que mostra o hemisfério sul no qual é verão e esconde o norte no qual é inverno.
Durante o solstício de inverno (22 de dezembro), no hemisfério norte é inverno e no hemisfério sul é verão. Durante o solstício de verão (21 de junho), no hemisfério norte é verão e no hemisfério sul é inverno. Durante os solstícios, o hemisfério que está no solstício de verão experimenta um acréscimo de horas ao dia, o hemisfério que está no solstício de inverno, uma diminuição de horas de luz de tal forma que, nos polos durante os solstícios, tanto a noite como o dia duram aproximadamente 24 horas.
É difícil imaginar a Terra sem as quatro estações, pois elas definem o seu equilíbrio. Na agricultura, haveria menos variedade de plantas e de animais, certos vírus e pestes nunca morreriam, como os mosquitos no inverno e a transmissão de doenças seria mais fácil. Portanto, não seria apenas a agricultura do planeta a ser influenciada, mas também a saúde do próprio planeta. Sem as quatro estações, o planeta seria sempre frio num lado e quente no outro e acabaria por se desintegrar.
Oscilação do eixo terrestre
O eixo da Terra está inclinado 23,5 graus; desta forma, o polo norte da Terra aponta atualmente para a estrela polar. Mas como o eixo da Terra também se move, o polo norte não apontará sempre para a estrela polar. Ao mover-se como um pião, a Terra descreve com o seu eixo um círculo que se completa a cada 26 000 anos. São precisos 72 anos para que a Terra se mova um grau neste círculo imaginário descrito pelo seu eixo.
A estrela polar na constelação da Ursa Menor é hoje a nossa estrela do Norte. No ano 7 500, será Alpha Cephei na constelação de Cepheus; no ano 11 500, será Delta Cygni na constelação de Cygnus a estrela que aponta ao Norte; no ano 14 000, será a estrela Vega na constelação Lyra; no ano
23 000, será a estrela Thuban na constelação Drago; finalmente, no ano 26 000, a estrela polar será o nosso Norte outra vez.
Se o eixo da Terra não tivesse uma inclinação de 23,5 graus como tem, o eixo perpendicular da Terra, chamado o polo norte eclíptico apontaria para a constelação Drago. Por isso mesmo, o centro da esfera que o eixo da Terra descreve a cada 26 000 anos tem esta constelação no centro.
Rotação da Terra
A Terra gira sobre o seu eixo (imaginário) e completa uma volta sobre si mesma em 24 horas. Este movimento que se faz em sentido contrário ao dos ponteiros do relógio está em desaceleração pela influência que a lua tem sobre a Terra; ou seja, no passado, os dias eram mais curtos e no futuro os dias serão mais longos. Na época dos dinossauros, o dia durava 22 horas.
Por que gira a Terra sobre si mesma? Para responder a esta pergunta, temos de recuar até ao próprio Big Bang, começo de tudo: tempo, espaço e movimento. Tudo o que ainda hoje no universo se move resulta do movimento inicial, ou seja, da grande explosão. O Big Bang, como sabemos, deu origem a uma grande nuvem de hidrogénio e pó.
Ao não ser esta nuvem uma massa homogénea, à medida que se expandiu, provocou forças assimétricas gravitacionais que segundo as leis da conservação do momento angular (custa mais mudar o eixo de rotação de uma roda em movimento que fazê-lo quando esta está em repouso) resultou em astros, tanto estrelas como planetas redondos.
Portanto, é ainda a inércia do primeiro movimento, a grande explosão, que mantém os astros e a nossa Terra em particular a rodar ininterruptamente, a menos que estes sejam submetidos a um outro movimento, como o impacto com um outro astro. Portanto, o nosso planeta já nasceu a rodar sobre si mesmo e é lógico que assim continue enquanto existir.
Fatores que influenciam a velocidade de rotação
Há fatores que influenciam o movimento dos planetas sobre si mesmos:
- A força da gravidade do sol – Quanto mais perto um planeta está da sua estrela, mais se nota esta influência; enquanto Mercúrio dá uma volta sobre si mesmo, a Terra já deu 58.
- Duração da formação do planeta – Quanto mais rápido tiver sido o colapso gravitacional que formou um planeta, maior é a conservação do momento angular, ou seja, maior será a sua velocidade de rotação.
- Impacto de meteoritos – O impacto de cometas ou meteoritos, consoante a sua grandeza, perturba a inércia inicial de um planeta e pode desacelerá-lo ou até projetá-lo para fora de órbita
- A influência da lua – Como já dissemos, a lua exerce sobre a Terra um efeito de desaceleração do movimento de rotação. A Terra perde velocidade à razão de um milésimo de segundo por ano. Por outro lado e em virtude, do efeito que a lua tem sobre as marés, a lua está-se a afastar da Terra à razão de um milímetro por ano. Daqui a milhões de anos, os dias terão 25 ou 26 horas.
O efeito mais notório é o dia e a noite. Se embarcarmos numa nave espacial e nos colocarmos centenas de quilómetros acima do polo norte, veremos a terra girar em sentido contrário ao dos ponteiros do relógio.
O movimento de rotação tem um efeito constante sobre o clima no nosso planeta, ou seja, um efeito que não varia de acordo com as estações do ano. Chama-se a este o efeito Coriolis: no hemisfério norte os sistemas de baixa pressão atmosférica giram para a esquerda e os de alta pressão para a direita; no hemisfério sul acontece o contrário.
A forma esférica imperfeita que a Terra tem sendo, algo achatada nos polos e bojuda no equador - é também uma consequência do seu movimento de rotação. Por esta razão, as rotas aéreas que vão de um lado ao outro do planeta passam pelos polos e não pelo equador.
O movimento giratório favorece ou tonifica o campo magnético que envolve o planeta e o protege dos raios do sol e, sobretudo, dos ventos solares ao desviá-los para os polos, como já vimos, dando origem às auroras boreais.
Por fim, ao longo do tempo, o facto de a Terra girar sobre si mesma provoca outras mudanças ou variações, como a profundidade dos mares e dos oceanos, a altura das montanhas e o movimento das placas tectónicas.
Habitamos um planeta que ao longo de milhões de anos tem favorecido a vida, mas que é um planeta vivo em constante mudança, ainda que impercetível. Tal como já houve um tempo em que não tinha vida, pode chegar a um tempo que não reúna as condições suficientes para a manter na forma que conhecemos hoje. Por agora, não é por acaso que a Terra é o terceiro planeta no sistema solar e se move em três formas diferentes; a vida assim o requer, foi o trinitário Deus da vida que assim o ordenou.
Pe. Jorge Amaro, IMC
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