1 de abril de 2012

"Terra, Sangue e Mortos"

Assim descrevia o Bispo do Porto o povo do norte e, em geral, o povo português, numa conferência a missionários. Este conhecimento tão profundo da idiossincrasia do povo português não parece ter sido bem traduzido pelos próprios bispos quando preferiram manter como feriado nacional a Assunção da Nossa Senhora em detrimento do dia de Todos os Santos.

O dizer isto não me faz suspeito de ser um desses clérigos que pensam que a expressão do amor e da gratidão à nossa Mãe do Céu nos faz menos Cristocêntricos. Rezo o terço todos os dias e sempre no fim da missa convido o povo, através de uma ave-maria, a agradecer àquela por quem nos veio o pão descido do Céu e a palavra incarnada de Deus, Cristo.

Já vivi e visitei muitos países do mundo católico e em nenhum povo vi um culto aos mortos como o dos Portugueses, tanto em Portugal como fora de Portugal, nas comunidades espalhadas pelo mundo inteiro. O nosso povo é tão generoso que, depois de mandar celebrar uma missa pelos seus entes queridos, acrescenta sempre mais uma missa pelas almas mais abandonadas do Purgatório - aquelas que não têm ninguém vivo que se lembre delas. Ao abolir este feriado não se estará a dar a Igreja um tiro no pé?

Fiéis defuntos e Todos os Santos que o feriado unia, por razões de conveniência do povo, são a expressão da Comunhão dos Santos expressa no Credo dos Apóstolos. Na minha terra, Loriga, e em muitas terras do nosso país, o povo expressa essa mesma Comunhão dos Santos na Romaria comunitária ao cemitério. Ir à terra pelos Santos é equiparado ao ir à terra pelo Natal e pela Páscoa.

A festa de Todos os Santos era a nossa festa… a única no calendário litúrgico que fazia jus e celebrava o esforço, não beatificado nem canonizado, de tantos cristãos que, no seu dia-a-dia, buscam configurar-se mais a Cristo respondendo ao apelo “sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste.” Mateus, 5, 48

No mundo civil em assuntos de interesse geral os governos consultam o povo em referendo; “Voz do povo, voz de Deus”. Celebramos este ano os 50 anos do Concílio Vaticano II: um concílio que fez da Igreja menos piramidal e mais circular; menos hierárquica e mais de comunhão,  menos eclesiástica e mais popular. Não podia o povo ter sido consultado de alguma forma? Afinal, a festa de todos os santos e santas de Deus era o nosso equivalente à tumba do soldado desconhecido que todos os países têm e mantêm com orgulho.
Pe. Jorge Amaro, IMC

1 comentário:

  1. Sabe foi num video sobre as cerimonias de finados em Loriga ,onde me chamou atençao as suas palavras(enquanto comtemplamos estas vidas acabadas ,vamos pensando na nossa ) como as dizia de facto maravilhoso ouvir fez-me pensar como seria a minha vida ,o simples facto de poder escolher entre a vida interna ou a morte interna .Pois essas palavras me deram uma certeza do que quero para a minha vida ,escolhas que faço pondero sempre antes de as tomar ,sei que nem sempre e facil neste mundo ,mas acredito com a ajuda de Deus tudo sera mais facil .Quanto ao feriado acabar acho simplesmente deploravel quem o fez nao pensou nem ponderou no que representa para todos que neste dia relebram de uma forma mais expressa os seus entes queridos que ja partiram ,acho que nem sequer se deveria fazer referendo porque no meu ver nao e por cortar feriados que o pais melhora .Mas sabe o que me choca nisto tudo foi o Vaticano concordar ,quando a principal razao de que esta medida vai contribuir para por o país a produzir mais riqueza ,como se olha para uma igreja onde se poe os bens materiais a frente do espriritual ,sera que nao e uma contradiçao aos seus ensinamentos

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