15 de setembro de 2017

Fátima: A terceira parte do Segredo à luz da profecia de Jonas

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Se atenderem a Meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim, o meu Imaculado coração triunfará” Aparição de 13 de julho de 1917.

O conteúdo da terceira parte do segredo, que, por décadas, manteve o mundo em “suspense”, era, de alguma forma já conhecido, pois estava implícito nas palavras da Senhora acerca da Rússia. Era, portanto, como aqueles tesouros bem escondidos por estarem onde as pessoas menos esperam que estejam.

O terceiro segredo, como se lhe chamou, é a terceira parte de um único segredo, e não é se não uma ilustração simbólica das palavras da Nossa Senhora, para o caso de a Rússia não ser consagrada ao seu Imaculado Coração. Tudo o que o segredo diz aconteceu, até ao dia em que de facto a Rússia foi consagrada.

A profecia de Jonas
Como o segredo de Fátima era fundamentalmente uma profecia, qualquer profeta do Antigo Testamento pode oferecer-nos uma chave de leitura hermenêutica. Entre todos os profetas escolhemos Jonas porque este, mais que os outros, é um claro exemplo do que em essência é uma profecia, e que função cumpre dentro da palavra revelada.

Como sabemos, depois de alguma relutância e até manifesta oposição, Jonas foi enviado por Deus a Nínive com a profecia de que a cidade seria arrasada se não se convertessem e fizessem penitência. Como a destruição da cidade era precisamente o que Jonas queria, podemos imaginar a pouca convicção com que pregou durante os três dias que levou a atravessar a cidade. Contra todas expectativas a cidade converteu-se e não foi destruída.

A profecia de Fátima
Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo com uma espada de fogo em a mão esquerda; ao cintilar, despedia chamas que parecia iam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O Anjo apontando com a mão direita para a terra, com voz forte disse: Penitência, Penitência, Penitência! Primeira cena da terceira parte do segredo

Examinemos agora cada uma das imagens que compõem a terceira parte da profecia:

O Anjo de espada flamejante em riste – Representa o juízo final, a possibilidade de condenar-se no caso de não se converter. Como a espada suspensa de Damocles, é uma fatalidade que pode acontecer. Faz recordar o discurso de Josué no livro do Deuteronómio (30, 15) ponho ante ti a vida e a felicidade e a morte e a condenação. A possibilidade de reduzir o mundo a um monte de cinzas já não é ficção, mas pura realidade. Como hoje o homem é senhor do seu destino, é ele, portanto, que forjou a mais destruidora espada flamejante a bomba atómica.

Penitência, Penitência, Penitência! - O sentido da visão não é mostrar o que irremediavelmente vai acontecer no futuro, mas sim o que pode acontecer, e os meios para que não aconteça, é um alerta. Se o intuito desta profecia fosse revelar o destino irreversível do mundo, não faria qualquer sentido que o anjo gritasse penitência três vezes, no sentido de evitar a catástrofe. Nem faria sentido esta ou qualquer profecia se não houvesse forma de evitar o destino. Ninguém tem interesse em saber nem o dia, nem a hora, nem a forma como vai morrer; e Deus seria sadista se o revelasse.

Ao lado esquerdo de Nossa Senhora – A visão mostra-nos o poder oposto à destruição, representada na imagem esplendorosa da Virgem Maria à direita do Anjo. Representando, portanto, o anjo de espada em riste a morte, e Nossa Senhora a vida, a visão apela à nossa liberdade. Ou seja, o que vamos ver na cena seguinte, não é a irreversibilidade de um futuro que não pode ser mudado e vai acontecer tal qual está descrito, mas sim o contrário a imagem de um futuro que pode ser evitado e, portanto, não acontecer se fizermos o que nos aconselha o anjo.

O propósito da visão não é mostrar em filme um futuro irrevocavelmente fixo, mas ao contrário, orientar, iluminar e guiar a nossa liberdade e as nossas energias e recursos no sentido oposto e evitar a catástrofe. Tal como a pregação da destruição da cidade de Nínive levou os seus habitantes a fazer penitência, o mesmo pretende esta visão.

E vimos n'uma luz imensa que é Deus: “algo semelhante a como se vêem as pessoas n'um espelho quando lhe passam por diante” um Bispo vestido de Branco “tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre”. Vários outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fora de sobreiro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trémulo com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho;

chegado ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés da grande Cruz foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns trás outros os Bispos Sacerdotes, religiosos e religiosas e varias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de varias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal em a mão, neles recolhiam o sangue dos Mártires e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus. Segunda cena da terceira parte do segredo

A cidade representa a história humana, a montanha, o caminho ascendente para a cruz, redenção para toda a humanidade. O Santo Padre, bispos sacerdotes, religiosos e religiosas e pessoas seculares, subindo uma montanha representam a Igreja na história da humanidade, no seu caminho ascendente para o Céu.  A história da salvação inserida na história da humanidade.

Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal em a mão, neles recolhiam o sangue dos Mártires e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus. – É uma clara referencia ao livro do Apocalipse, 7, 14 os que vêm da grande tribulação, lavaram as suas túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro. Salvam-se todos os que são regados pelo sangue dos mártires, em tanto em quanto que este sangue, como sempre se disse, é semente de cristãos.

Ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho - O caminhar pela história em direção a Cristo, representado pela cruz, é lento, e pelo caminho alguns vão caindo vítimas do mal. Em particular, a visão representa a via sacra de um século de perseguição e morte, que o nazismo, o fascismo e em especial o ateísmo militante moveram aos crentes. Nesta visão o papa é alvejado e morto como muitos mártires.

Quando, após a tentativa de assassínio em 13 de maio de 1981, o Papa João Paulo II na sua cama de convalescença no policlínico Gemelli pediu que lhe trouxessem o texto do segredo, era inevitável que ele não visse nele o seu destino, e um futuro que não aconteceu por um triz. E não aconteceu porque Maria não o quis; nas palavras do papa ela desviou a bala que passou a poucos milímetros de órgão vitais. Mais uma vez fica claro que o futuro não é imutável, e que a fé, a penitência e a oração podem influenciar a história, e que em definitiva a oração é mais poderosa que as balas e a fé, que move montanhas, mais poderosa que o poder destrutivo dos exércitos.

Podemos agora compreender a aflição da pobre Jacinta, que viu tudo isto sem saber qual seria o desfecho final. De certo ela fez o que o anjo, na mesma visão, a todos aconselha, penitencia e oração. De alguma maneira também ela sabia que este futuro tão negro, até mesmo a morte do papa que na visão se dá como certa, podia ser evitada com a sua oração e penitência pessoais; esta a razão pela qual nunca cessou de rezar pela Santo Padre. Se Jacinta tivesse a certeza de que o futuro, visto na visão, não podia ser evitado não teria rezado pelo papa como o fez o resto da sua vida.

Num encontro que a irmã Lúcia teve, no dia 27 de abril de 2000, com o Cardeal Tarcisio Bertone, Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, aquela refere que concorda plenamente com esta interpretação oficial da Igreja, segundo a qual, a terceira parte do segredo consiste numa visão profética, comparável a outras da bíblia, cujo conteúdo consiste na perseguição movida, à Igreja e aos crentes, pelo ateísmo militante inspirado e promovido pela Rússia durante o século XX.

Também concorda com a interpretação pessoal do Papa João Paulo II: Foi uma mão materna que guiou a trajetória da bala e o Santo Padre agonizante deteve-se no limiar da morte. Continua a Lúcia: Não sabíamos o nome do Papa, Nossa Senhora não nos disse o nome do Papa. Não sabíamos se era Bento XV, Pio XII, Paulo VI ou João Paulo II, mas que era o Papa que sofria e isso fazia-nos sofrer a nós também… em especial a Jacinta que dizia muitas vezes: Coitadinho do Santo Padre! Temos que pedir muito por Ele.

Já, mas ainda não…
Os acontecimentos, aos quais se refere a terceira parte do segredo, parecem ser agora parte do passado. Cardeal Sodano

O Reino dos céus está já presente no meio de nós, mas ainda não na sua plenitude, diz a teologia com respeito ao Reino de Deus e à sua presença na história da humanidade. Inspirados no Cardeal Sodano, assim como no então perfeito da Sagrada Congregação para a Fé, o Cardeal Ratzinger, podemos dizer que, por um lado, e contrariamente aos profetas da desgraça amantes de apocalipses e teorias da conspiração, esta terceira parte do segredo tal como as duas primeiras, é história.

Por outro lado, ao contrário, das duas primeiras partes do segredo, que visavam coisas concretas que não podem voltar a acontecer, a terceira parte do segredo é menos concreta e totalmente concretizável no tempo e no espaço e parece apelar a um arquétipo que se tem repetido, continuamente se repete e pode repetir; o anjo de espada flamejante está ainda aí; a liberdade humana exortada a escolher entre o caminho do bem e da vida, o mal e a morte sempre estará aí; a Igreja caminhante num mundo adverso e o martírio de alguns dos seus membros é uma realidade que se repte em todo o tempo e lugar.

Por fim, o meu Imaculado coração triunfará …
Anunciei-vos estas coisas para que, em mim, tenhais a paz. No mundo, tereis tribulações; mas, tende confiança: Eu já venci o mundo!» João 16, 33

Um coração aberto a Deus, purificado pela penitência e oração, é mais forte que as armas e os exércitos de toda a espécie; Foi o coração de Maria purificado do pecado original no momento da sua conceição, e comprometido na anunciação do anjo com o projeto de salvação de Deus, que trouxe o redentor à humanidade. A semente desse Reino já está presente no meio de nós desde a vinda de Cristo à dois mil anos. Quando o nosso coração é purificado como o de Maria, também nós damos à luz a Cristo no nosso ser na nossa forma de viver e atuar, e desta feita fazemo-lo presente no nosso tempo e lugar, com toda a sua potência de saúde, paz e amor entre os homens.
Pe. Jorge Amaro, IMC




1 de setembro de 2017

Fátima: Segredo ou Profecia?

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Quando vedes uma nuvem levantar-se do poente, dizeis logo: 'Vem lá a chuva'; e assim sucede. E quando sopra o vento sul, dizeis: 'Vai haver muito calor'; e assim acontece. Hipócritas, sabeis interpretar o aspeto da terra e do céu; como é que não sabeis reconhecer o tempo presente?»
Lucas 12, 54-56

Incultos como eram, os pastorinhos de Fátima, desconheciam o conceito de profecia por isso, chamaram segredo ao que a Senhora lhes comunicou sobre o futuro, assim como as duas visões que tiveram na aparição do dia 13 de julho de 1917. Portanto, o que popularmente é conhecido como “O segredo de Fátima” deve entender-se como a Profecia de Fátima. É neste sentido que o ainda Cardeal Joseph Ratzinger se referiu a Fátima, como sendo a mais profética das aparições modernas.

Profecia e sinais dos tempos
Seguindo o evangelho de Lucas, acima citado, os profetas eram pessoas que estavam bem despertos e atentos aos sinais dos tempos. Ou seja, ao presente impregnado de um futuro que já se antevia aqui e agora. Uma coisa é ver, outra coisa é interpretar e ver sinais do futuro incrustados no momento presente.

Por exemplo, muita gente ao longo dos séculos, tem visto como o vapor de uma panela de água a ferver pode atirar com o testo, e não viram mais que isso mesmo, uma panela de água a ferver; o Senhor James Watt, porém, olhou mais além do fato insignificante, e na tentativa de aproveitar o poder do vapor, construiu a máquina a vapor, que é a primeira máquina construída pelo homem.

A profecia liga o presente ao futuro - no sentido de que o futuro já dá noticia de si mesmo, e já se encontra no momento presente em forma de sinais dos tempos que só os de mente desperta podem perceber; os que olham para o mundo com olhos quem vêm por detrás e mais alem do que é obvio, e, por outro lado, estão sempre em contacto com o Senhor do Tempo: presente, passado e futuro que é Deus.

A profecia liga o futuro ao presente - no sentido de que o futuro não está irreversivelmente fixo, mas é de alguma maneira interativo e suscetível de ser mudado. de facto, o objetivo da profecia na bíblia, é alertar-nos acerca de um futuro que está nas nossas mãos evitar, pois temos liberdade e poder para o modificar e escrever a historia diferentemente. Neste sentido o futuro não é um comboio que perdeu os freios e não já há forma de o deter, mas sim um cavalo a galope perfeitamente domado cujas rédeas estão na nossa mão.

História do segredo
“O segredo da Senhora”, como as crianças lhe chamavam, consta de três partes claramente distintas; a primeira trata-se da visão do inferno, a segunda do ateísmo militante da Rússia, e a terceira de uma representação simbólica do ateísmo militante ao longo do século XX.

O segredo ou profecia, está composto por duas visões, que correspondem à primeira e a terceira parte do segredo, com um discurso intermédio da Virgem, a segunda parte, acerca do ateísmo militante da Rússia. Comunicado pela Senhora aos três pastorinhos no dia 13 de julho de 1917, literariamente o segredo foi escrito em duas épocas diferentes; a primeira e a segunda parte do segredo foram escritas no dia 31 de agosto de 1941, a terceira a 3 de janeiro de 1944.

Passaram-se, portanto, 24 e 27 anos respetivamente desde que em 1917 as crianças afirmaram pela primeira vez que eram depositárias de um segredo que não revelariam. Nos interrogatórios, aos que as crianças foram submetidas, por curiosidade que é inata à natureza humana, as perguntas sobre o segredo eram as mais repetidas. Primeiro ofereciam ouro, prata e dinheiro para as ludibriar a revelar tal segredo e quando não conseguiram seguiram-se as ameaças de morte e a tortura psicológica na prisão de Ourem. As crianças nunca cederam.

1ª Parte: Visão do inferno
Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fogo que parecia estar debaixo da terra. Mergulhados em esse fogo os demónios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras, ou bronzeadas com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que d'elas mesmas saiam, juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das faulhas em os grandes incêndios sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor.

Os demónios distinguiam-se por formas horríveis e ascrosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes e negros. Esta vista foi um momento, e graças à nossa boa Mãe do Céu; que antes nos tinha prevenido com a promessa de nos levar para o Céu (na primeira aparição) se assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e pavor.

A existência do inferno é um dado incontornável da nossa fé. Se arrancássemos da bíblia todas as páginas em que o inferno vem mencionado, ficaríamos sem dúvida com uma bíblia mais pequena, mas já não seria Bíblia Sagrada que relata a Palavra de Deus. Há cada vez mais teólogos, que negam a sua existência, alegando que existe só como o zero na matemática, para ajudar nas contas, em virtude de uma coerência lógica, mas que não há lá ninguém. Se há ou não há não sabemos nem nos interessa; o inferno é a possibilidade de não se salvar; é o lugar teológico do mal, assim como o Céu o lugar teológico do bem.

Na morada dos mortos, achando-se em tormentos, ergueu os olhos e viu, de longe, Abraão e também Lázaro no seu seio. Então, ergueu a voz e disse: 'Pai Abraão, tem misericórdia de mim e envia Lázaro para molhar em água a ponta de um dedo e refrescar-me a língua, porque estou atormentado nestas chamas.' Lucas 16, 19-31

Na parábola do Rico e do pobre Lázaro temos uma visão do inferno que, no contexto da parábola, tem a mesma função pedagógica que a visão dos pastorinhos de Fátima. Na visão do Inferno a Nossa Senhora quis reafirmar que ele existe e que é real a possibilidade de não se salvar. A descrição pormenorizada deste, com todos os detalhes das almas a caírem lá dentro e do sofrimento das mesmas no meio do fogo, mais a presença dos demónios que tanto apavorou os pastorinhos, tem um intuito pedagógico e funciona como um alerta, para os que nesta vida não seguem a Cristo como caminho, verdade e vida.

Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma. Temei antes aquele que pode fazer perecer na Geena o corpo e a alma. Mateus 10, 28

Na Bíblia há duas formas de representação do inferno; o inferno como tortura eterna e o inferno como morte eterna. A visão mais comum, a que aparece mais vezes, é a do inferno como morte eterna, ou seja, regressar ao nada quem nada foi, nada fez na vida, não serviu a nada nem a ninguém, e, em vez de acreditar em Deus e na vida eterna, não acreditou em nada para além da morte.

É inconcebível que, o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, condenasse a uma eternidade de sofrimento e tortura a quem na temporalidade, por mais longa que fosse, tenha vivido no pecado; nem os tribunais humanos são assim tão severos. Não haveria nenhuma proporção entre o crime e a pena.

As poucas vezes, portanto, em que na Bíblia o inferno aparece como sofrimento eterno, tem um intuito meramente pedagógico, baseado na realidade de que os seres humanos temem mais o sofrimento que a morte. Pelo que, o inferno como tortura eterna, tem uma força motivacional para mudar de vida muito superior ao inferno concebido como morte eterna, que se coaduna mais com o que realmente será.

Como visão profética do inferno é mais apelativa a visão deste como tortura eterna. Os pastorinhos, portanto, não viram o inferno conforme ele é, mas sim como o imaginavam, inspirados no que lhes foi dito em inúmeras pregações, naqueles tempos, nas quais o inferno como sofrimento era tema quase obrigatório.
   
2ª Parte: A II Guerra Mundial e o ateísmo militante da Rússia
— Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores, para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção a meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu disser salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior.

Quando virdes uma noite, alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir virei pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados.

Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz, se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas, por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz.

A Nossa Senhora propõe a devoção ao Imaculado Coração de Maria como antídoto para combater o mal em todas as frentes, individual e social. Se Salvação é a visão real de Deus, que supera a visão beatifica à qual alguns nesta terra têm acesso, a proposta desta devoção não é outra coisa que o eco do evangelho de São Mateus 5, 8:  Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. Um coração que se purgou e purificou de todo mal e corrupção vê a Deus.

Um coração assim limpo, não está dividido, e está pronto a comprometer-se unilateralmente e incondicionalmente; é, desta forma, uma réplica do coração Imaculado de Maria que como ela diz, “Eis a serva do Senhor faça-se em mim segundo a sua Palavra”. O coração é o centro motor da atividade humana, onde os pensamentos ganham motivação e impulso para se transformarem em obras ou comportamento. Quando o nosso coração pertence a Cristo, tarde ou cedo poderemos dizer como o apostolo, Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim.
Pe. Jorge Amaro, IMC